1. Desafios à educação/ação climática global
O “impacto negativo da digitalização acelerada no bem-estar do planeta” (UNESCO, 2024a) leva a UNESCO a priorizar o alinhamento da transição digital e da ação ecológica por meio da educação [Leia: Alinhar a transição digital e a ação ecológica] – é vital que as tecnologias digitais apoiem o progresso e o desenvolvimento ambiental e sustentável.
“Os alunos não estão apenas nas salas de aula; eles estão online (…) Vamos usar isso como uma oportunidade para transmitir mensagens-chave e dar suporte aos alunos para explorar e se envolver com questões de mudança climática usando competências digitais”, diz J. Edwards, Diretor de Experiências de Aprendizagem da Minecraft (UNESCO, 2024d) no recente encontro mundial de balanço da TES (Transforming Education Summit/Cimeira Transformar a Educação, ONU, 2022).
O encontro lembrou que “historicamente, a educação climática foi esquecida ou negligenciada” (UNESCO, 2024d) e que o movimento pelo clima, liderado pelos jovens, continua a enfrentar resistência por quem define políticas.
Os jovens oradores lembraram outros desafios à educação climática global:
Aproximando-se a Cimeira do Futuro em Nova York (ONU, 22 a 23 set.) e a COP29 (11 a 22, nov.), os jovens criaram uma petição para “exortar os governos a priorizar ações para um futuro compartilhado e sustentável, fortalecendo a educação sobre mudanças climáticas”. Disponível em 22 idiomas, a petição conta com o apoio de várias organizações: Relatório GEM (Global Education Monitoring), projeto MECCE (Monitoring and Evaluating Climate Communication and Education), Take Action Global e Earth Guardians (UNESCO, 2024e).
2. Acelerar escolas e educação/ação climática
Respondendo ao apelo dos jovens para a educação climática, a Parceria para uma Educação Ecológica/Greening Education Partnership, resultante da TES e presidida pela UNESCO, lançou no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, 2 publicações que contribuem para reforçar 2 metas da Agenda 2030 (ONU, 2015):
Estas publicações apoiam e aceleram a ação e a monitorização do progresso dos países, de escolas e professores, adotando uma abordagem “orientada para a ação, holística, cientificamente rigorosa, dirigida para a justiça e a aprendizagem ao longo da vida” (UNESCO, 2024b).
Destacam a necessidade de ecologizar as escolas, os currículos, a formação de professores e as comunidades e capacitar os jovens para a ação climática, de acordo com uma estratégia que envolve parceiros e toda a instituição (whole-institution approach).
No mesmo contexto, o Relatório GEM introduziu uma nova série de relatórios para perceber a influência da educação (ODS 4) nos outros ODS. O primeiro foca-se nas mudanças climáticas e é em parceria com o MECCE. Propõe um novo indicador que mede o conteúdo da educação verde dos países, avaliando as estruturas curriculares nacionais e os programas de ensino (UNESCO, 2024f).
3. Norma de qualidade para Escolas Verdes
Norma de qualidade para uma escola verde/Green school quality standard (UNESCO, 2024c) promove uma abordagem orientada para a ação e estabelece, pela primeira vez, os requisitos para uma escola verde:
Define como meta até 2030 tornar verdes pelo menos 50% das escolas em todo o mundo.
Recomenda que todas as escolas criem comités de governança verde, que devem incluir alunos, professores e encarregados de educação, para supervisionar a gestão sustentável da escola. Apela a que se incentive a formação de professores, se realizem auditorias de energia, água, alimentos e resíduos. Solicita que a escola reforce os seus laços com a comunidade e que os alunos desempenhem um papel ativo nas questões ambientais locais.
A implementação da Norma “capacitará os alunos de todas as idades com os conhecimentos, as competências, os valores e a capacidade de ação para tomarem decisões informadas e ações responsáveis para adaptar e atenuar os impactos da crise climática, atuando como agentes de mudança. As escolas desempenham um papel crucial na prevenção e no combate às alterações climáticas e na promoção do desenvolvimento sustentável”.
4. Ecologizar todo o currículo para todas as idades
Como complemento à fixação de uma norma/padrão de qualidade comum a todas as escolas verdes, a Unesco publicou Orientação curricular ecológica: Ensinar e aprender para a ação climática (UNESCO, 2024b) que apresenta, pela primeira vez, um entendimento comum do que pode ser a educação climática nos currículos das diferentes faixas etárias - dos 5 até aos 18+ anos - e que resultados pode esperar.
O objetivo desta publicação é “integrar as alterações climáticas como uma componente curricular fundamental até 2030” em 90% dos currículos de todos os países (UNESCO, 2024b).
Baseia a educação verde em 4 princípios: Orientada para a ação; Promotora da justiça; Conteúdos de qualidade; Compreensiva e relevante.
Propõe que em todos os currículos se trabalhem 6 conceitos-chave obrigatórios e com graus de profundidade crescente (Currículo em Espiral/ Spiral Curriculum) - 1. Ciência climática; 2. Ecossistemas e biodiversidade; 3. Justiça climática; 4. Construção de resiliência; 5. Economias pós-carbónicas; 6. Estilos de vida sustentáveis – cada um com diversos tópicos.
Inclui um Glossário e sugere atividades práticas e criativas adaptadas aos grupos etários (pp. 158 e segs.) – exemplos:
A página (UNESCO, 2024b) inclui outras publicações para fazer chegar a educação climática a todas as disciplinas e níveis de educação. Lembramos o curso para professores Mudança climática em sala de aula com planos de aula e recursos didáticos em português focados na ação/participação e numa abordagem local e significativa dos alunos (UNESCO, 2014).
A propósito, no âmbito da prioridade temática Educação Verde da Estratégia de Acompanhamento da TES, a Rede de Bibliotecas Escolares lançou, no ano letivo 2023/2024, Transformar a Educação: das Ideias à Ação!, sugerindo 12 ações para jovens esboçadas pelos próprios e visando a aprendizagem e a transformação climática e sustentável.
5. Não há educação de qualidade para a ação climática
A decisão da UNESCO de fazer da educação ambiental uma prioridade decorre da constatação de que as escolas – e suas bibliotecas – não preparam ativamente os alunos para responder aos problemas ambientais globais, atuais e futuros.
A Norma refere que a UNESCO realizou, em 2022, um inquérito global a jovens no qual participaram 17 500 inquiridos, dos quais 70% afirmou que não sabia explicar as alterações climáticas. No inquérito os jovens exigem que as escolas promovam a ação climática e contribuam para mitigar os efeitos do clima nas comunidades locais.
Refere ainda que em 2021 investigou o currículo de 100 países e concluiu que “apenas 53% dos currículos educacionais nacionais do mundo fazem alguma referência às mudanças climáticas e, quando o assunto é mencionado, quase sempre recebe prioridade muito baixa”. Os países com maior probabilidade de incluir conteúdos sobre alterações climáticas nos currículos são os das regiões mais vulneráveis e não os dos maiores responsáveis pelas emissões (UNESCO, 2021a).
70% dos jovens inquiridos não conseguem explicar as alterações climáticas, expressando vontade em que o tema seja tratado em sala de aula e preocupação em como é ensinada atualmente (UNESCO, 2021b). Quase 95% dos professores considera que é importante ou muito importante trabalhar a gravidade das mudanças climáticas em sala de aula, mas apenas 23% consideram que têm os conhecimentos necessários para o fazer (UNESCO, 2021b).
6. A crise climática afeta toda a Agenda 2030
Com base na ciência (IPCC), limitar as alterações climáticas é fundamental “Não apenas para o ODS 13 - combater as alterações climáticas e os seus impactos - mas para muitos dos ODS” e “Apenas 12% dos 140 Objetivos estão no bom caminho” até 2030 (IPCC, 2022).
As “alterações climáticas são um multiplicador de ameaças” que se agravarão com o aumento do aquecimento global: fenómenos meteorológicos extremos, insegurança alimentar e hídrica, poluição e problemas para a saúde humana, diminuição da produtividade agrícola, fenómenos migratórios em massa, “aumento dos riscos de extinção de espécies e de perda irreversível de biodiversidade”, designadamente junto das populações e países mais vulneráveis (IPCC, 2022).
Muitos líderes mundiais (e.g. SGNU) e as 2 publicações divulgadas afirmam que alterará irreversivelmente o nosso estilo de vida, podendo constituir uma ameaça existencial.
A boa notícia é que “dispomos dos instrumentos e do know-how” e do capital global necessário para reduzir as emissões (IPCC, 2022).
7. Bibliotecas escolares verdes
Como estão as bibliotecas escolares:
Referências