A leitora Ana Sequeira fotografou e filmou um “bichinho” em Sintra, no início de Novembro, e pediu para confirmar a espécie. Rui Rebelo ajuda.
“Venho pedir ajuda para identificar este lindo bichinho que encontrei hoje no meu quintal, debaixo de um tronco, no chão”, descreveu Ana Sequeira, numa mensagem enviada à Wilder. “Vivo em Sintra. Penso que seja um tritão marmoreado, mas gostaria de confirmação por favor”, acrescentou ainda.
Com efeito, trata-se de um tritão-marmoreado (Triturus marmoratus).
Espécie identificada e texto por: Rui Rebelo, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Sim, é mesmo um tritão marmoreado, em fase terrestre (pele com aspeto seco).
Quase todas as salamandras e tritões entram em atividade com as chuvas outonais. No entanto, aqui no Sul o tritão-marmoreado é a excepção e só se reproduz na primavera. Por isso, e apesar de já ter chovido, este animal continua na sua vida “terrestre”.
Na primavera mudará de aspecto, a pele ficará mais lisa e brilhante e migrará para os corpos de água.
Agora é a sua vez.
Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.
Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.
O conteúdo Que espécie é esta: tritão-marmoreado também está disponível em Wilder.
A leitora Sofia Silva encontrou este anfíbio a 27 de Outubro em São João das Lampas e pediu ajuda para saber a espécie. Rui Rebelo responde.
“Deparei-me hoje (27 de Outubro) com este réptil dentro da piscina, infelizmente estava sem vida. É possível ajudarem-me a identificar a espécie?”, perguntou a leitora à Wilder.
Trata-se de uma salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra). Esta espécie tem outros nomes comuns, como saramantiga, saramela e saramaganta. Ou salamandra-do-fogo.
Espécie identificada e texto por: Rui Rebelo, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Oh. É uma salamandra de pintas amarelas, Salamandra salamandra. Apesar de serem anfíbios, os indivíduos desta espécie podem morrer afogados. Podem estar algum tempo debaixo de água, mas a respiração através da pele não é muito eficaz e ainda por cima são maus nadadores. Por isso morrem muito em poços, tanques e piscinas, onde as paredes verticais não os deixam sair.
A salamandra-de-pintas-amarelas é uma espécie nocturna.
É ovovivípara (as fêmeas parem larvas já desenvolvidas, ao contrário da grande maioria dos anfíbios, que põe ovos). As larvas em desenvolvimento nos oviductos das fêmeas (equivalente ao útero dos mamíferos) podem variar entre pouco mais que 10 ou até 90! As fêmeas maiores podem parir muitas larvas.
Esta espécie é tóxica por ingestão, provocando vómitos violentos (mas não mata). Isso quer dizer que os cães e gatos que a tentam comer (alguns tentam) nunca mais têm essa ideia após a sessão de vómitos.
A secreção que cobre a pele desta espécie está impregnada com várias substâncias (incluindo a que provoca o vómito). Isso quer dizer que depois de lhe mexer é sempre prudente lavar as mãos com sabão.
De resto, a espécie é totalmente inofensiva.
Agora é a sua vez.
Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.
Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.
O conteúdo Que espécie é esta: salamandra-de-pintas-amarelas também está disponível em Wilder.
Outrora comum, a águia-caçadeira está agora reduzida a menos de 200 casais, alertou hoje o primeiro censo nacional desta espécie. Só medidas de emergência eficazes de conservação podem travar a sua extinção, alertam os investigadores.
Pela segunda vez este ano, a comunidade científica alerta para o risco iminente de extinção de uma ave em Portugal.
Depois do alerta para a situação dramática do sisão (Tetrax tetrax), em Junho passado, surgem agora evidências de que também a águia-caçadeira (Circus pygargus), também conhecida como tartaranhão-caçador, está no limiar da extinção, segundo os resultados do 1º Censo Nacional da Águia-caçadeira.
Em 2022 e 2023 a população portuguesa da águia-caçadeira foi estimada em 119-207 casais, segundo o censo que decorreu entre Abril e Julho por todo o país.
Os cinco distritos com mais casais desta espécie são Bragança (entre 45 e 50 casais), Beja (35 a 55), Portalegre (16 a 20), Guarda (5 a 19) e Vila Real (4 a 18).
“As estimativas anteriores mais recentes, de 2012, apontavam para uma população de 500 a 1000 casais”, referiu, em comunicado, João Gameiro, investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO), da Universidade do Porto, e coordenador nacional do censo. “Estas estimativas são grosseiras, mas a espécie era de facto muito mais abundante, sobretudo nas planícies agrícolas alentejanas.”
“Estamos perante um declínio muito acentuado, de 76 a 79% em apenas 10 anos (2012 a 2022-23), o que prova que a espécie se encontra a caminho da extinção caso não sejam implementadas medidas de emergência eficazes de conservação”, defendeu João Paulo Silva, também investigador do BIOPOLIS-CIBIO e coordenador sénior do projeto. “Este declínio é alarmante e está fortemente ligado às alterações nas práticas e políticas agrícolas em Portugal, como aliás já tem sido demonstrado para outras espécies de aves agrícolas prioritárias, como o sisão.”
Outrora comum nas paisagens agrícolas portuguesas, esta espécie de ave de rapina forma pequenas colónias e faz os ninhos no solo, sobretudo em campos de cereais. Está, portanto, dependente das práticas agrícolas.
“A substituição de cereais para grão por fenos para alimentar o gado resulta em ações de corte da cultura muito mais antecipadas, colocando em risco os ninhos”, explicou ainda.
Segundo o censo, é no Alentejo que se verificam os declínios mais acentuados, em comparação com os ATLAS de distribuição anteriores.
“Mesmo na zona de Trás-os-Montes é evidente a contração e fragmentação da população”, acrescentou Luís Ribeiro, técnico superior da Palombar. “Monitorizámos colónias grandes em 2022 que simplesmente desapareceram em 2023. Se morreram durante as ações de corte de fenos, ou se se deslocaram para outras áreas, como Espanha, é algo que ainda temos de aferir”.
“O forte declínio e contração da distribuição, associado à perda de habitat e destruição de ninhos, ameaça que ainda não foi revertida, coloca a espécie na categoria de conservação mais grave de Criticamente em Perigo”, alertou José Pereira, presidente da Palombar.
Os técnicos e investigadores pedem “medidas urgentes para a salvaguarda da espécie” como por exemplo “a disponibilização e proteção de searas para grão, que corresponde ao seu habitat de nidificação mais importante”.
O censo nacional da águia-caçadeira, que envolveu mais de 15 entidades e cerca de 200 observadores, é da iniciativa do projecto “Searas com Biodiversidade: Salvemos a Águia-caçadeira”, uma parceria entre o BIOPOLIS-CIBIO, a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, o Clube de Produtores Continente e a Associação Nacional de Produtores de Cereais (ANPOC), que pretende apostar na valorização das searas em Portugal. Teve como objectivo “gerar conhecimento de base para um projeto nacional de conservação da espécie, identificando os locais onde persiste e quantificando a sua abundância”. foi organizado o primeiro censo nacional que envolveu mais de . O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) contribuiu com mais de 100 técnicos/observadores, ajudando assim a cobrir a quase totalidade do habitat potencial para a espécie no território nacional.
Saiba mais.
Conheça aqui um projecto para conservar ninhos de tartaranhão-caçador em Castro Verde, desenvolvido pela Direcção Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo, do ICNF, e pelo BIOPOLIS-CIBIO.
O conteúdo No limiar da extinção: há menos de 200 casais de águia-caçadeira em Portugal também está disponível em Wilder.
Pedro Andrade, investigador no CIBIO-InBIO (Universidade do Porto), revela-nos o que os cientistas já descobriram sobre o incrível mecanismo que leva algumas aves a voarem milhares de quilómetros, todos os anos.
O outono está perto do fim e para muitas aves este período corresponde a uma das etapas mais importantes do seu ciclo anual. Ao longo destes últimos meses, milhões de aves fizeram viagens de milhares de quilómetros desde os locais de reprodução até aos locais onde irão passar o inverno.
Quando chegar o final do tempo frio, os sobreviventes tentarão fazer a viagem de regresso, enfrentando desafios como o cansaço, falta de habitat, predadores, ou tempestades. Este espetáculo natural repete-se de forma regular, ano após ano. Incrivelmente, e sobretudo nas espécies de aves mais pequenas, estes movimentos são feitos de forma isolada. Até os jovens que nasceram no próprio ano conseguem migrar, sabendo a altura certa do ano para viajar, a direção que têm que tomar, a velocidade a que voar, o período do dia no qual fazer a viagem… Tudo isto sem terem os pais a ajudar, ou um manual de instruções que lhes diga como, quando e para onde migrar.
Ou será que têm? Todos os seres vivos, grandes e pequenos, possuem em si um “manual de instruções”, passado de geração em geração, que os guia durante o seu desenvolvimento. Estou a falar naturalmente da informação genética, codificada por moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA) no núcleo das nossas células, que funcionam quer como o meio que transmite informação hereditária, quer como “livro de receitas” com as instruções para fazer proteínas essenciais para o organismo se desenvolver e se relacionar com o meio envolvente.
A observação de que, numa população, a maioria dos indivíduos têm um “programa migratório” muito semelhante entre si é uma sugestão muito clara de que não só a capacidade de migrar das aves é herdada dos pais, mas também traços mais específicos como a orientação ou a época do ano na qual migrar. Isto é confirmado por estudos em cativeiro, com espécies como a toutinegra-de-barrete ou a codorniz, que demonstraram que é possível, com cruzamentos controlados, e em poucas gerações, transformar uma população não-migradora em migradora (e vice-versa).
Existe então algo no DNA das aves que funciona como o “manual da migração”, mas o que é? E como é possível que algo tão simples como uma molécula de DNA, composta por uma alternância ordenada de quatro elementos básicos – que a ciência traduz como as quatro “letras” A, C, G e T – consiga conter informação que uma ave usa para executar um comportamento tão complexo como a migração?
Ninguém sabe ainda muito bem! É só mais um dos mistérios que os cientistas tentam descobrir sobre a forma como a natureza funciona. Do ponto de vista mais fundamental, sabemos que o DNA de um organismo é constituído por uma longa sequência de quatro moléculas mais simples, os nucleótidos – as tais quatro “letras” – que quando estão ordenados da forma correta permitem às nossas células transcrever a informação e traduzi-la em proteínas.
Um pouco como se tivéssemos um livro de receitas: cada “ingrediente” neste “livro” gigante é um gene, constituído por uma sequência específica de DNA. Num vertebrado típico, como uma ave ou uma pessoa, o seu “livro de receitas” é constituído por cerca de 20 mil genes. As muitas interações que se estabelecem entre eles, e entre cada um deles e o meio envolvente, são fundamentais para o funcionamento desse organismo. Os fundamentos disto são bem conhecidos, mas a sua aplicação ao funcionamento de um ser vivo na natureza está muito longe de ser bem compreendido.
Um dos aspetos fundamentais da migração que se sabe ser controlado pela informação genética é a capacidade de orientação. Em experiências antigas, aves migradoras colocadas em cativeiro, sem acesso a informação exterior que lhes permitisse saber como migrar, acabavam na mesma por ter não só o instinto migrador como também tentar voar na direção apropriada consoante o período do ano (por exemplo, tentavam voar para sul no outono, e para norte na primavera). Cedo se percebeu que esta capacidade estaria ligada a uma perceção do campo magnético natural da Terra, mas como funciona esta sensibilidade?
Uma das características fundamentais desta bússola natural das aves é a sensibilidade à luz, nomeadamente a alguns comprimento de onda de luz (mesmo que em baixas intensidades) – tanto que aves migradoras expostas à ausência de luz, ou a luzes do espectro do amarelo ao vermelho, perdem a capacidade de interpretar o campo magnético natural. Isto ajudou vários investigadores a identificar um grupo de proteínas (e os seus genes associados) como candidatos na condução deste processo: os criptocromos, um grupo bastante particular de moléculas que adquirem propriedades magnetorecetoras quando são induzidas pela luz, permitindo a deteção do campo magnético da Terra.
Em experiências conduzidas em laboratório, um grupo internacional de cientistas demonstrou recentemente que um destes criptocromos, designado CRY4, e que é particularmente ativo nas células fotorrecetoras, que captam a luz que chega à retina das aves, tem sensibilidade ao campo magnético. Mais: a versão da proteína CRY4 de uma espécie migradora, o pisco-de-peito-ruivo, tem maior sensibilidade magnética do que as versões equivalente da CRY4 em espécies não-migradoras como a galinha e o pombo-doméstico. Num próximo passo, será essencial demonstrar o seu funcionamento em aves durante a migração…
Em qualquer caso, estas experiências sugerem que modificações em pedaços muito específicos do “livro de receitas” das aves podem moldar a forma como estas migram. Ainda assim, a migração é um comportamento extremamente complexo que requer a integração de várias adaptações específicas: desde mudanças comportamentais como a maior propensão para voos longos, à capacidade de orientação e à otimização aerodinâmica da morfologia destas aves, sem esquecer as alterações fisiológicas que lhes permitem o aproveitamento dos nutrientes essenciais para o voo.
Caso precisem de modificar a sua estratégia de migração, mudar um só “ingrediente” da receita poderá não ser suficiente para estas espécies migradoras. Aliás, face ao panorama atual de alterações ambientais, que têm um grande potencial para afetar os padrões de migração, as aves poderão precisar de mudar drasticamente a forma como o fazem. Isto, caso as mudanças ultrapassem os limites de flexibilidade natural que cada estratégia já possui.
Mais uma vez, juntar os conhecimentos da ecologia e da genética ajuda-nos a perceber como alterações às instruções genéticas das aves poderão ajudá-las a responder às mudanças ambientais. Um bom exemplo é-nos dado pela codorniz, uma pequena ave que é sobretudo um migrador que passa os meses quentes na Europa e os meses frios em África. Nas regiões do Sul da Ibéria, como no Algarve, vários estudos demonstraram que nas últimas décadas aumentou consideravelmente o número de codornizes que “decidem” aí ficar durante todo o ano, em vez de encetar as longas migrações, talvez o reflexo de invernos cada vez mais amenos.
Ao comparar a informação genética destas codornizes com outras migradoras europeias, chegou-se à conclusão de que estas não-migradoras têm uma mutação genética particular – uma que não afeta apenas um gene, mas sim uma grande inversão num cromossoma que, de uma assentada, fez com que uma porção de 12% do genoma, com 7000 genes!, pudesse evoluir de forma diferente.
Dentro destes 7000 genes poderão estar genes que explicam várias das características que diferenciam as codornizes “residentes algarvias” das “migradoras europeias”, incluindo o comportamento migrador, tamanho, cor e forma da asa. Deslindar quais características são explicadas por que genes, e como estes exercem a sua ação no organismo, serão os próximos e difíceis passos.
Estas são só algumas das primeiras descobertas que se vão fazendo, que nos ajudam a perceber como é que as aves conseguem, de forma inata, executar migrações longas e complexas, e como poderão mudar no futuro para acomodar as mudanças ambientais, com base na informação genética que carregam nas suas células. Há 200 anos, nem certeza tínhamos de que as aves faziam migrações… O percurso do nosso conhecimento tem sido também muito longo!
Referências
– Justen, H., & Delmore, K. E. (2022). The genetics of bird migration. Current Biology, 32(20), R1144-R1149.
– Sanchez-Donoso, I., Ravagni, S., Rodríguez-Teijeiro, J. D., Christmas, M. J., Huang, Y., Maldonado-Linares, A., … & Vila, C. (2022). Massive genome inversion drives coexistence of divergent morphs in common quails. Current Biology, 32(2), 462-469.
– Xu, J., Jarocha, L. E., Zollitsch, T., Konowalczyk, M., Henbest, K. B., Richert, S., … & Hore, P. J. (2021). Magnetic sensitivity of cryptochrome 4 from a migratory songbird. Nature, 594(7864), 535-540.
A nova série “Está nos genes”, sobre a genética da vida selvagem, é da autoria de Pedro Andrade, investigador em biologia evolutiva no CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéricos (Universidade do Porto), onde trabalha sobretudo em projetos relacionados com a genética de animais selvagens e domésticos. Descubra aqui mais artigos deste cientista.
O conteúdo Está nos genes: conseguem as “letras” do DNA controlar a migração das aves? também está disponível em Wilder.
Conheça estas cinco visitas gratuitas ao Museu Nacional de História Natural e da Ciência e ao Jardim Botânico, organizadas para celebrar o Dia Nacional da Cultura Científica, a 24 de Novembro.
A 24 de Novembro – Dia Nacional da Cultura Científica instituído como homenagem ao professor, poeta, historiador e divulgador de ciência, Rómulo de Carvalho (nascido a 24 de Novembro de 1906) – o acesso ao Museu, ao Jardim Botânico de Lisboa e ao Jardim Botânico Tropical será gratuito.
Além disso, aqui ficam cinco visitas guiadas que poderá fazer. Estas actividades são gratuitas mas estão sujeitas à lotação máxima da atividade. As inscrições são presenciais no próprio dia.
11h00 – O Jardim Botânico de Lisboa
Visita orientada ao Jardim Botânico de Lisboa, pelo curador César Garcia.
Lotação: 20 participantes
11h30 – Visita orientada à exposição SPECERE
Um convite a “olhar” a diversidade do mundo natural representada nas coleções do MUHNAC.
Lotação: 20 participantes
14h30 – A coleção de briófitos de LISU
Visita à coleção de briófitos de LISU, pelo curador César Garcia.
Lotação: 15 participantes
15h00 – A coleção científica de insetos do MUHNAC
Visita orientada à coleção de insetos, pelo curador Roberto A. Keller.
Lotação: 15 participantes
15h30 – As coleções históricas do Herbário LISU da Universidade de Lisboa
Visita com as curadoras Ana Isabel Correia e Palmira Carvalho.
Lotação: 10 participantes
O Museu Nacional de História Natural teve a sua origem no Real Museu de História Natural e Jardim Botânico, criado na segunda metade do século XVIII, na Ajuda (Lisboa). Foi depois alojado, por um curto espaço de tempo, na Real Academia das Ciências e finalmente transferido para a Escola Politécnica (1858), tomando primeiro a designação de Museu Nacional de Lisboa (1861).
O Jardim Botânico de Lisboa foi inaugurado em 1878. A 11 de Novembro passado comemorou os seus 145 anos.
O conteúdo Cinco visitas gratuitas à sua espera no Jardim Botânico e Museu Nacional de História Natural também está disponível em Wilder.
Cerca de 400 crianças vão ajudar a semear mil bolotas do Sobreiro de S. Geraldo, de Veiros, – árvore centenária e classificada de interesse público em Estarreja – para celebrar o Dia da Floresta Autóctone, a 23 de Novembro.
Na manhã da próxima quinta-feira, dia 23 de Novembro, a Quinta do Marinheiro, em Avanca, receberá 400 crianças do ensino pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico que irão participar na sementeira de mil bolotas do Sobreiro de S. Geraldo, de Veiros, revelou hoje a autarquia.
O sobreiro de S. Geraldo é uma árvore centenária e classificada de interesse público em Estarreja. “Os descendentes deste ancestral com mais de 600 anos, serão mais tarde plantados em áreas verdes públicas”, acrescentou o município em comunicado.
Esta é apenas uma das várias iniciativas organizadas por Estarreja para celebrar o Dia da Floresta Autóctone em Estarreja para “sensibilizar para a importância e proteção das espécies autóctones”.
Em Estarreja existem quatro espécies autóctones de Quercus: carvalho-alvarinho (Quercus robur), carvalho-anão (Quercus lusitanica), carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e sobreiro (Quercus suber).
Os alunos vão ainda participar numa prova gastronómica de bolachas feitas com farinha de bolota, que estão a ser confecionadas por estudantes do Curso Profissional de Cozinha e Pastelaria da Escola Secundária de Estarreja, dando a conhecer as potencialidades dos produtos secundários provenientes da floresta autóctone.
Durante a tarde, no âmbito da cerimónia do hastear da Bandeira Verde da Eco-Escola Secundária de Estarreja, será promovida uma ação de controlo de espécies invasoras e plantação de uma árvore autóctone no recinto escolar. A ação passa pela remoção de um exemplar da espécie invasora erva-das-pampas (Cortaderia selloana), seguida de plantação de um sobreiro (Quercus suber) descendente do sobreiro de Veiros.
À noite, numa atividade aberta a toda a comunidade, e no âmbito do projeto “Plantar o Futuro”, a Associação Agora Aveiro organiza a 2.ª Edição do “Fórum de Partilha de Boas-Práticas”, este ano sob a temática “A Floresta do Futuro”. O encontro está marcado para as 21h00, na Biblioteca Municipal. A participação é gratuita e aberta ao público.
Este fórum procura a discussão de ideias e opiniões sobre a gestão sustentável da floresta e a sua conservação, sob diferentes perspetivas, com a presença de especialistas nas áreas de gestão florestal e políticas públicas para debater os desafios passados, presentes e futuros da floresta nativa portuguesa.
O público pode assistir às intervenções de João Torres, doutorado em Biologia e investigador sénior na ForestWISE – Laboratório Colaborativo para a Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, Luís Sarabando, diretor técnico e coordenador da Associação Florestal do Baixo Vouga e presidente do PEFC Portugal (Programa para o Reconhecimento da Certificação Florestal) e de Elisabete Figueiredo, doutorada em Ciências Aplicadas ao Ambiente e investigadora principal no projeto ShareForest, que procura promover o debate público sobre florestas e fogos rurais em Portugal.
O conteúdo Dia da Floresta Autóctone: crianças vão semear mil bolotas de sobreiros em Estarreja também está disponível em Wilder.
Uma equipa de investigadores descobriu na Austrália aqueles que serão os vestígios mais antigos de aves do Hemisfério Sul, há cerca de 125 milhões de anos, perto do Pólo Sul.
A descoberta de 27 pegadas de aves na costa Sul da Austrália – datando do início do Cretáceo, quando a Austrália estava ligada à Antárctida – abre uma nova janela para a evolução das aves e para as suas migrações.
A investigação, referente aos vestígios datados de há entre 120 a 128 milhões de anos, foi publicada na revista científica PLOS ONE.
“A maioria das pegadas e de fósseis de aves do Cretáceo é do Hemisfério Norte, em especial da Ásia”, explicou, em comunicado, Anthony Martin, principal autor do estudo e professor na Universidade de Emory (Georgia, Estados Unidos). Agora, “a nossa descoberta mostra que existiam muitas aves, e uma grande variedade delas, perto do Pólo Sul há cerca de 125 milhões de anos atrás.”
Martin é geólogo e paleontólogo dedicado à Icnologia, o ramo da geologia que lida com traços e rastos do comportamento dos organismos, tais como tocas, ninhos, marcas de dentes e pegadas.
As 27 pegadas de aves variam na forma e no tamanho e estão entre as maiores conhecidas do início do Cretáceo. Variam entre os sete e os 14 centímetros, o que é semelhante às pegadas das nossas actuais garças mais pequenas e ostraceiros.
Os rastos das aves foram encontrados na Formação Wonthaggi, a Sul de Melbourne. Esta zona marca o local onde o antigo supercontinente Gondwana começou a quebrar-se há cerca de 100 milhões de anos, quando a Austrália se separou da Antárctida.
Naquela altura, a região era um vale com uma rede de rios separados por ilhas pequenas e temporárias. Apesar de a temperatura anual média do ar ser mais alta durante o Cretáceo do que é hoje, durante os Invernos polares, os ecossistemas registavam temperaturas muito baixas e meses de escuridão.
Os rastos das aves encontrados em Wonthaggi foram feitos em vários níveis de profundidade, indicando uma presença recorrente de várias aves. Também sugere uma formação sazonal de marcas durante os Verões polares, talvez numa rota migratória.
“As aves terão, provavelmente, pisado areia fina ou lama”, disse Martin. “Depois, as pegadas podem ter sido enterradas por um rio de baixa corrente que depositou mais areia ou lama em cima delas.”
A Formação Wonthaggi é famosa pela sua variedade de ossos de dinossauros. Mas os fósseis de aves são extremamente raros. Naquela formação foi encontrado apenas um pequeno osso de ave e poucas penas.
“As aves têm ossos tão finos e pequenos”, comentou Martin. “Pensem na probabilidade de um pardal ser preservado em registos geológicos em comparação com um elefante.”
Além disso, acrescentou, as aves são muito leves e não deixam grandes pegadas.
Em 2013, Martin e os colegas descobriram dois rastos de aves com 105 milhões de anos na Formação australiana de Eumeralla. Na altura, eram as marcas mais antigas da Austrália.
Melissa Lowery, co-autora do artigo e uma caçadora de fósseis voluntária local, foi quem descobriu pela primeira vez algumas das pegadas, em 2020.
“A Melissa é incrivelmente competente a encontrar marcas de fósseis”, disse Martin. “Algumas destas marcas são subtis mesmo para mim e tenho muita experiência e formação.”
A maioria das pegadas apenas está exposta na maré baixa e algumas delas tinham vida marinha incrustada, como algas e moluscos.
Em 2022, Martin visitou o local onde foram encontradas as pegadas para as analisar. Esteve acompanhado pelos co-autores do artigo Patricia Vickers-Rich, da Universidade Monash, e Thomas Rich, curador no Instituto de Investigação dos Museus Victoria. Desde os anos 1970 que ambos estão dedicados a encontrar fósseis no estado australiano de Victoria e interpretar a biota da Gondwana.
A equipa ficou completa com os co-autores Mike Hall, geólogo da Universidade Monash, e Peter Swinkels, taxidermista no Instituto de Investigação dos Museus Victoria e especialista em preservação de espécimes em moldes.
Este criou moldes de resina das pegadas que evidenciaram algumas nuances importantes e que servirão para futuras investigações, além de preservar a descoberta. O solo contendo as pegadas está em rápido processo de erosão por causa das marés e da força das ondas.
“Sete das pegadas que Melissa encontrou em 2020 já não estão lá”, disse Martin. “Alguns fósseis, incluindo pegadas, estão expostos apenas por um curto período de tempo depois de terem estado enterrados durante milhões de anos. Temos de nos apressar a registá-los antes que desapareçam de novo.”
O conteúdo Investigadores descobrem importantes pegadas de aves com 125 milhões de anos também está disponível em Wilder.
Enquanto (quase) todos dormem, na calada da noite, um pequeno grupo de investigadores captura, estuda, regista e anilha dezenas de aves às portas de Lisboa. Afonso Rocha, um dos responsáveis do Grupo de Anilhagem do Estuário do Tejo, fez esta fotografia e conta-nos a sua história.
WILDER: Qual é a ave da fotografia?
Afonso Rocha: Trata-se de uma seixoeira (Calidris canutus).
W: Onde e quando foi tirada a fotografia?
Afonso Rocha: O momento foi registado na madrugada da passada terça-feira, 14 de Novembro, nas salinas do Samouco.
W: O que estavam a fazer e porquê?
Afonso Rocha: Na noite de segunda-feira realizámos uma sessão de captura e anilhagem de aves limícolas que se prolongou até à manhã do dia seguinte. O objectivo desta sessão foi a captura de fuselos (Limosa lapponica) para a colocação de dispositivos de seguimento gps e a marcação de aves com anilhas. Os dispositivos de seguimento gps permitem conhecer com precisão os movimentos das aves, por exemplo, nesta altura os movimentos diários entre os locais de alimentação e refúgio no estuário do Tejo e mais tarde descobrir os locais de reprodução no norte da Rússia. O fuselo é uma espécie difícil de capturar nesta altura do ano, devido à reduzida população que passa o inverno no estuário (~500 aves) e pelos poucos locais de refúgio de preia-mar nocturnos conhecidos e acessíveis. Mas a sorte protege os audazes e nessa noite conseguimos capturar quatro aves, o que permitiu colocar dois dispositivos.
W: É normal a ave estar tão “colaborante”, tão tranquila, para a foto?
Afonso Rocha: Por volta das duas da manhã, enquando retirava a última ave da rede, ouço um bando de seixoeiras (a espécie vocaliza muito) a sobrevoar o local onde estava e seguido do som de aves a embater nas redes onde ficaram presas. Chamei a restante equipa que já tinha saído do tanque e começámos a extrair as aves das redes. No total capturámos 56 seixoeiras. É habitual as seixoeiras adotarem um aparente comportamento calmo durante a sua manipulação, o que permite tirar algumas fotografias como esta.
W: O que é possível saber sobre esta ave em específico?
Afonso Rocha: Não temos muita informação sobre a ave que está na fotografia. Apenas sabemos que é uma ave adulta e que estava a terminar a muda das penas primárias, o que é comum nesta altura do ano em algumas espécies de aves limícolas invernantes no estuário do Tejo. A espécie não apresenta um dimorfismo sexual evidente e, para determinar o sexo destas aves durante o período não reprodutivo, é necessário retirar uma pena em crescimento ou uma amostra de sangue para posteriormente sexagem em laboratório.
Contudo, entre as seixoeiras capturadas três já tinham uma anilha, duas tinham sido recentemente anilhadas pelo grupo mas uma já era uma velha conhecida. Esta seixoeira foi capturada e anilhada pelo grupo em Setembro de 2012 nas salinas do Samouco. A ave foi anilhada como um adulto, o que significa que agora terá pelo menos 13 anos de vida. É um excelente registo de longevidade para a espécie, mas ainda a meio caminho do record de 26 anos e 8 meses de uma seixoeira observada no Reino Unido. Na altura pensámos que se poderia tratar de um migrador de passagem, mas a sua captura nesta altura do ano (quando os migradores de passagem já estão na costa oeste Africana), permite afirmar que é uma ave invernante no estuário do Tejo.
W: Para que serve o material que se vê em cima da mesa?
Afonso Rocha: Na mesa estava o material essencial para o processamento das aves capturadas, nomeadamente para a sua identificação, colocação de anilhas, medição de determinadas estruturas, a pesagem da ave e o registo da informação. Para além de anilhas metálicas da central nacional de anilhagem (cempa) com diferentes tamanhos e códigos, estavam na mesa os alicates de anilhagem que servem para fechar a anilha metálica em torno da pata das aves, alicates de pontas para a colocação das combinações de anilhas coloridas, réguas para a medição da asa, ou craveiras para medição do bico e do tarso (pata) e balanças digitais para registar o peso. Utilizamos ainda guias para identificar, sexar e determinar a idade das aves e folhas de anilhagem onde registamos toda a informação.
W: Quantas aves foram capturadas nessa sessão?
Afonso Rocha: Durante a sessão capturámos 144 aves de 9 espécies: 66 pilritos-comuns, 5 pilritos-de-bico-comprido, 3 pilritos-pequeno, 56 seixoeiras, 1 rola-do-mar, 8 tarambolas-cinzentas, 3 pernas-vermelhas, 4 fuselos e 2 gaivotas-de-asa-escura. Todas estas aves, após a sua captura, são colocadas em sacos de pano e transportadas até ao local de anilhagem, onde aguardam pelo processamento em mangas. Estas mangas permitem que as aves sejam agrupadas por espécie e que estejam calmas, pois encontram-se numa posição natural com espaço para se moverem e no escuro sem verem o que se passa no exterior. As aves vão sendo retiradas das mangas para o seu processamento, e concluído o registo e das ultimas medidas, são libertadas o mais rapidamente possível num local aberto para possam levantar voo e irem ao encontro do “seu bando”.
W: Qual a importância de sabermos mais sobre a ecologia e os movimentos das aves do estuário do Tejo?
Afonso Rocha: As aves são bons indicadores da qualidade dos habitats e reagem rapidamente a alterações que surjam. A informação recolhida com o seu seguimento permite-nos conhecer melhor os requisitos ecológico da espécie, como os principais locais de alimentação e de refúgio ao longo da estadia no estuário. Este tipo de tecnologia produz dados robustos que nos permitem ainda interpretar as ameaças existentes, mas também projectar impactos futuros sobre as populações de aves e seus habitats decorrentes de projectos previstos para as margens do estuário, como o novo aeroporto de Lisboa ou empreendimentos turísticos.
Saiba mais.
Fique a conhecer melhor aqui o mundo da anilhagem de aves limícolas.
O conteúdo A história de uma fotografia: uma seixoeira e os seus anilhadores numa noite de Outono também está disponível em Wilder.
O glifosato, o herbicida mais usado em Portugal e no mundo e acusado de causar cancro e danos nos insectos polinizadores, poderá ser utilizado por mais 10 anos, ainda que com determinadas condições e restrições, decidiu ontem a Comissão Europeia, numa votação em que os Estados membros voltaram a não chegar a acordo.
Numa votação realizada a 16 de Novembro, os Estados-Membros não alcançaram a maioria qualificada necessária para renovar ou rejeitar a aprovação do glifosato, herbicida de amplo espetro e dessecante de culturas agrícolas, usado para matar ervas daninhas.
Esta votação segue-se a uma anterior realizada a 13 de Outubro no Comité Permanente dos Vegetais, Animais e Alimentos para Consumo Humano e Animal, em que os Estados-Membros também não alcançaram a maioria necessária para renovar ou rejeitar a proposta.
“Na ausência da maioria necessária num dos sentidos, a Comissão é agora obrigada a adotar uma decisão antes de 15 de dezembro de 2023, data em que termina o atual período de aprovação, explica Bruxelas em comunicado. A Comissão “procederá à renovação da aprovação do glifosato por um período de dez anos, sob reserva de determinadas condições e restrições”.
Essas restrições incluem a proibição da utilização pré-colheita como dessecante e a necessidade de determinadas medidas para proteger organismos não visados.
Para tomar a sua decisão, Bruxelas baseou-se num parecer realizado pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA) em Julho, segundo o qual o uso do glifosato não tem riscos para a saúde. Levou também em conta pareceres da Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA) e dos Estados-Membros.
“Esta proposta de renovação do glifosato é um drama para a saúde humana, com um número crescente de vítimas que sofrem de cancro e deformações desde tenra idade, e também para outros organismos vivos. Numerosos estudos demonstraram o efeito devastador do glifosato na biodiversidade”, disse à Euronews a eurodeputada francesa Marie Toussaint, da bancada dos Verdes no Parlamento Europeu.
“A Europa tem uma escolha: ou envenena ou protege. E esta votação, esta abstenção dos Estados-membros – que tinham os meios para impedir esta proposta – acaba por contribuir para a deterioração da saúde, para a devastação da natureza. Agora escondem-se por detrás da sua abstenção, alegando que se opuseram porque se abstiveram, para não passarem um cheque em branco à Comissão Europeia, o que é totalmente hipócrita”, acrescentou Marie Toussaint.
Os Estados-Membros são responsáveis pela autorização nacional de produtos fitofarmacêuticos que contenham glifosato e continuam a poder restringir a sua utilização a nível nacional e regional se o considerarem necessário com base nos resultados das avaliações dos riscos, tendo especialmente em conta a necessidade de proteger a biodiversidade.
Já em Novembro de 2017, quando a licença do glifosato expirava, a Comissão Europeia também não conseguiu chegar a acordo, não tendo conseguido a maioria necessária para renovar a licença a este químico. De início, Bruxelas recomendou a aprovação do glifosato por mais uma década. Mas, confrontada com um coro de protestos que alertavam para os perigos do químico para a saúde e para o Ambiente, a Comissão Europeia reduziu a sua proposta de 10 para cinco anos.
Agora, a história repete-se.
Além das suspeitas quanto aos efeitos que o glifosato tem sobre a saúde humana – está classificado desde 2015 pela Agência internacional para a Investigação sobre o Cancro (da Organização Mundial de Saúde), como provável carcinogéneo para o ser humano – este herbicida é fortemente criticado pelos ambientalistas, por considerar-se que reduz a biodiversidade ao atacar as plantas em geral. Dessa forma, contribui para o desaparecimento dos habitats de muitos insectos e de outras espécies.
O conteúdo Glifosato: Bruxelas decide renovar autorização de herbicida por mais 10 anos também está disponível em Wilder.
A Comissão Europeia abriu um procedimento de infracção contra Portugal por não estar a evitar as capturas acessórias de cetáceos por navios de pesca. O país tem dois meses para responder.
A 15 de Novembro, a Comissão Europeia decidiu dar início a um procedimento de infração, tendo enviado um pedido de informações (uma carta de notificação para cumprir) a Portugal por não ter aplicado as medidas exigidas pela Diretiva Habitats para evitar as capturas acessórias de cetáceos por navios de pesca.
Os golfinhos e os botos são espécies estritamente protegidas de acordo com a Diretiva Habitats.
“Portugal não estabeleceu um sistema para efeitos de monitorização da captura e do abate acidentais de espécies protegidas e para evitar um impacto significativo das capturas acessórias do golfinho comum (Delphinus delphis), do golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) e do boto (Phocoena phocoena) nas águas sob a sua jurisdição”, entende a Comissão Europeia.
Além disso, “Portugal não tomou as medidas necessárias para evitar perturbações significativas destas duas últimas espécies em vários sítios Natura 2000 designados para a sua proteção”.
Por conseguinte, a Comissão decidiu enviar uma carta de notificação para cumprir a Portugal, que dispõe agora de dois meses para responder e corrigir as deficiências mencionadas por Bruxelas. Esta é a primeira fase de um processo de infracção.
Se a Comissão não ficar satisfeita com as informações enviadas e concluir que Portugal não está a cumprir as suas obrigações, poderá enviar um pedido formal para que este seja cumprido (um parecer fundamentado), convidando o país a comunicar à Comissão as medidas tomadas para esse efeito num determinado prazo, habitualmente de dois meses.
O boto está classificado como Criticamente Em Perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental. Em apenas 25 anos houve uma redução dramática na diversidade genética da população portuguesa. Em Agosto de 2022, uma equipa de investigadores fez censos aéreos de 2011 a 2015 e apenas registou 2.254 botos, um número “bastante baixo” e que põe em causa a sobrevivência da espécie no nosso país.
As capturas acidentais em artes de pesca – nomeadamente redes de emalhar e de tresmalho e arte xávega – são a principal pressão que esta espécie enfrenta, segundo os autores do Livro Vermelho.
O golfinho-comum tem categoria de Quase Ameaçado, mais grave do que a sua classificação anterior (Pouco Preocupante), de 2005. “Com base nas taxas de captura acidental em artes de pesca”, os autores do Livro Vermelho admitem que a população desta espécie registe uma redução de 30% nos próximos 39 anos.
O golfinho-nariz-de-garrafa tem estatuto de Pouco Preocupante. Ainda assim, “a captura acidental em artes de pesca é a principal ameaça e causa de arrojamento em Portugal Continental”.
A biodiversidade de cetáceos nas águas de Portugal Continental é bastante elevada. Das cerca de 90 espécies conhecidas no mundo, 28 encontram-se em águas continentais portuguesas.
Agora é a sua vez
Descubra neste guia ilustrado as espécies de cetáceos de Portugal.
O conteúdo Aberto processo de infracção contra Portugal por captura acidental de golfinhos também está disponível em Wilder.
Na série “Abra espaço para a natureza”, Carine Azevedo responde às dúvidas que temos quando pensamos em tornar um espaço mais amigo do mundo natural.
Num mundo em constante transformação, onde as paisagens naturais estão a ser rapidamente substituídas por áreas urbanas, é crucial explorar maneiras de coexistir harmoniosamente com a vida selvagem.
A criação de um espaço onde a natureza é bem-vinda não só nos aproxima do ambiente natural, como também beneficia a nossa qualidade de vida e bem-estar. Estes espaços contribuem para a redução do stress, amortecem o ruído, filtram agentes de poluição atmosférica e são importantes refúgios para a vida selvagem, promovendo a biodiversidade.
Transformar um jardim num refúgio para a vida selvagem é uma maneira gratificante de apoiar a biodiversidade e contribuir para a preservação da natureza.
Um jardim amigo dos animais selvagens começa com uma seleção cuidadosa de plantas.
As plantas nativas desempenham um papel fundamental na manutenção do equilíbrio ecológico. Desde logo, porque estão adaptadas às condições da região, promovem a biodiversidade e contribuem para a sustentabilidade do ecossistema, fornecendo alimento e abrigo a muitos animais e atraindo borboletas, abelhas e outros polinizadores essenciais. Ao incorporar estas plantas num jardim, estamos a contribuir para a preservação da fauna e da flora de Portugal.
Entre as plantas nativas portuguesas, existem muitas espécies importantes enquanto fontes de alimento e/ou boas fornecedoras de abrigo a várias espécies de animais. Eis alguns exemplos.
– Folhado (Viburnum tinus)
– Medronheiro (Arbutus unedo)
– Azevinho (Ilex aquifolium)
– Murta (Myrtus communis)
– Alecrim (Salvia rosmarinus)
– Pilriteiro (Crataegus monogyna)
– Azereiro (Prunus lusitanica)
– Aroeira (Pistacia lenticus)
– Tamargueira (Tamarix africana)
– Flor-de-mel (Lobularia maritima subsp. maritima)
– Roseira-brava (Rosa sempervirens)
– Loureiro (Laurus nobilis)
– Campainha-amarela (Narcissus bulbocodium)
– Bonina (Bellis perennis)
– Esporas-bravas (Linaria triornithophora)
– Papoila (Papaver rhoeas)
– Madressilva (Lonicera etrusca)
– Salsaparrilha (Smilax aspera)
– Estevinha (Cistus salviifolius)
– Carvalhinha (Teucrium chamaedrys)
– Rosmaninho (Lavandula stoechas)
– Gilbardeira (Ruscus aculeatus)
– Urze (Calluna vulgaris)
– Esteva (Cistus ladanifer)
– Sanguinho-das-sebes (Rhamnus alaternus)
– Pinheiro-manso (Pinus pinea)
– Alfarrobeira (Ceratonia siliqua)
– Pinheiro-bravo (Pinus pinaster)
– Cerejeira-brava (Prunus avium)
– Castanheiro (Castanea sativa)
– Tramazeira (Sorbus aucuparia)
– Pereira-brava (Pyrus cordata)
– Aveleira (Corylus avellana)
– Zelha (Acer monspessulanum)
– Carvalho-alvarinho (Quercus robur)
– Macieira-brava (Malus sylvestris)
– Sobreiro (Quercus suber)
– Amieiro (Alnus glutinosa)
– Carvalho-português (Quercus faginea)
– Freixo (Fraxinus angustifolia)
– Carvalho-negral (Quercus pyrenaica)
A diversidade de plantas no jardim é fundamental para atrair uma ampla gama de vida selvagem. No entanto, também é importante que a quantidade de plantas seja equilibrada para o espaço disponível, para que estas cresçam de forma saudável e o espaço se apresente esteticamente agradável para todos os que podem usufruir dele.
A seleção de espécies e a sua distribuição no espaço também deve ser feita de forma criteriosa. A criação de camadas diferentes de vegetação no jardim, incluindo árvores de pequeno, médio ou grande porte, arbustos, plantas rasteiras e herbáceas, por exemplo, vai proporcionar diferentes habitats para uma variedade de animais selvagens.
As árvores fornecem abrigo e alimento para aves, como o pardal, o tordo, o melro, o pica-pau-verde, o pica-pau-malhado, o tentilhão-comum e o pisco-de-peito-ruivo, mas também insetos, como joaninhas, borboletas, formigas e cigarras, e ainda outros animais, como os esquilos e os ouriços-cacheiros, por exemplo.
Já os arbustos oferecem locais de nidificação e áreas de alimentação para as aves canoras, enquanto as plantas rasteiras podem servir como refúgio para pequenos mamíferos, como os ratos de campo e os coelhos. Além disso, as herbáceas atraem polinizadores essenciais, como abelhas e borboletas.
Essa diversidade de camadas de vegetação aumenta a biodiversidade e a interação da vida selvagem num jardim. Dependendo do ambiente circundante, também se podem atrair anfíbios e répteis.
Para aumentar a atratividade do seu jardim, instale alimentadores e bebedouros para fornecer alimento e água a aves, insetos e outros animais, sobretudo em épocas do ano em que a disponibilidade é menor. Procure manter os bebedouros e alimentadores limpos e abastecidos para que a vida selvagem os visite regularmente.
Coloque-os em locais pouco expostos, para que os animais se sintam mais seguros na hora de procurar alimento ou água, evitando que se sintam vulneráveis a predadores.
Os bebedouros e alimentadores podem ser recipientes simples, como uma tigela ou um prato raso, conchas ou pedras planas, por exemplo. No entanto, também existem variadíssimas opções à venda. Só tem de escolher os recipientes que se adequam à estética do jardim e ao tipo de vida selvagem que deseja atrair. Tenha em atenção que as preferências alimentares (sementes, frutas, etc.) podem variar de espécie para espécie.
Também é importante a criação de áreas naturais de refúgio e de abrigo, para que os animais se sintam em segurança quando visitam o espaço, seja através plantas com ramificação mais densa, pilhas de madeira, ramos e folhas, troncos ocos, tocas, montes de pedras, ou estruturas artificiais como casas de pássaros, caixas de abelhas e casas de insetos.
No geral, a manutenção de um jardim dedicado à vida selvagem envolve um equilíbrio entre a gestão cuidadosa e a criação de ambientes naturais onde a vida selvagem pode prosperar.
Assim sendo, deve evitar-se o uso de pesticidas, uma vez que são prejudiciais à vida selvagem. Em vez disso, pode optar por métodos de controlo naturais, como o uso de plantas repelentes, predadores naturais, o uso de armadilhas, etc.
As intervenções de limpeza e de manutenção devem ser reduzidas ao mínimo essencial. A limpeza de folhas e de detritos vegetais deve ser feita com alguma regularidade para evitar o aparecimento de pragas; no entanto, é importante que algumas áreas se mantenham o mais próximo possível do estado natural.
A poda de árvores e de arbustos deve ser feita criteriosamente e apenas quando necessário, para não perturbar os locais de refúgio, nidificação e alimentação.
Se o espaço disponível for pequeno, não desanime, pois qualquer área, independentemente do tamanho, pode ser valiosa para a biodiversidade e adaptada para atrair a vida selvagem.
Existem algumas estratégias que se mostram particularmente eficazes. Uma das abordagens passa por escolher plantas nativas de pequeno porte, que se adaptem ao espaço disponível e que podem ser facilmente cultivadas em vasos e em floreiras.
Plantas como o tomilho (Thymus spp.), o rosmaninho (Lavandula stoechas), o alecrim (Salvia rosmarinus), a camomila (Matricaria chamomilla), o cebolinho (Allium schoenoprasum), a erva-cidreira (Melissa officinalis), a perpétua-das-areias (Helichrysum italicum subsp. picardi) e o poejo (Mentha pulegium) são excelentes escolhas. Estas plantas não só atraem muitos polinizadores e outros pequenos insetos, como também são perfeitas para usar na cozinha, dando um toque multifuncional ao jardim.
Se tiver uma parede livre ou uma estrutura vertical, como uma treliça, por exemplo, também pode considerar criar um jardim vertical usando plantas trepadeiras. Com esta solução, além de atrair a vida selvagem, economiza espaço horizontal e oferece uma nova dimensão ao seu espaço.
Ter um jardim amigo da vida selvagem não só enriquece a biodiversidade local, como também proporcionará a oportunidade de desfrutar da beleza natural. Se gostou desta ideia, este pode ser um ponto de partida para transformar o seu espaço verde. E, depois, resta-lhe reservar algum tempo para observar a vida selvagem que o visita, transformando essa atividade num momento emocionante e educativo.
Na série “Abra espaço para a natureza” terá acesso mais alguma informação que ajudará na escolha das espécies e nos cuidados a ter com as suas plantas. E se explorar a série “O que procurar: espécies botânicas”, vai encontrar um vasto leque de espécies nativas que se podem adequar às diferentes condições do seu jardim.
Aproveite para partilhar as fotos do seu jardim nas redes sociais com #jardimtemático e no Instagram, comigo (@biodiversityinportuguese) e com a Wilder (@wilder_mag).
Carine Azevedo é Mestre em Biodiversidade e Biotecnologia Vegetal, com Licenciatura em Engenharia dos Recursos Florestais. Faz consultoria na gestão de património vegetal ao nível da reabilitação, conservação e segurança de espécies vegetais e de avaliação fitossanitária e de risco. Dedica-se também à comunicação de ciência para partilhar os pormenores fantásticos da vida das plantas.
Para acções de consultoria, pode contactá-la no email carinea.azevedo@gmail.com. E pode segui-la também no Instagram.
O conteúdo Como criar um jardim para a vida selvagem? também está disponível em Wilder.
Assunção Loureiro, managing director da SeaTheFuture, um spin-off do Oceanário de Lisboa criado para acelerar a conservação dos oceanos, sublinha a importância de ligar quem quer ajudar mas não sabe como aos projectos no terreno.
WILDER: Como surgiu a ideia da SeaTheFuture e quais as maiores inspirações?
Assunção Loureiro: O SeaThefuture nasce da inspiração do Oceano per si e de três vetores fundamentais: 1) a aproximação das pessoas e sociedade global à importância da conservação do Oceano de uma forma transversal, 2) ilustrar projetos de conservação de impacto que se fazem no mundo e 3) trazer uma solução que acelere a restauração dos ecossistemas, através de maior transparência e, consequentemente, confiança a quem doa, independentemente do montante.
A aproximação das pessoas é fundamental pois muitos de nós ainda desconhece a importância do Oceano na sustentabilidade do Planeta. Através de conteúdos de vanguarda, com base em evidências técnicas e científicas, acreditamos que através da plataforma e formatos de divulgação com base social – as redes – podemos apoiar o despertar de muitos para o Oceano. Se as costas é algo que começa a acordar nas pessoas – fruto do que vemos nas praias e da poluição que impacta a beira-mar, a SeaTheFuture promete uma viagem ao fundo do Oceano, algo poucos têm acesso.
Os projetos são também o nosso principal ativo e a nossa inspiração, na verdade. A SeaTheFuture surge também da constatação de que, por um lado, há inúmeros projetos de conservação em todo o mundo, fundamentais para um Oceano saudável e cheio de vida que se debatem com frequentes constrangimentos sendo, o maior de todos, a falta de financiamento. Por outro, há muitas pessoas com vontade e com recursos para serem parte da solução, mas que não conseguem agir e pôr essa vontade em prática de uma forma intuitiva e relevante, pois todos eles surgem na internet de forma pulverizada, por vezes até com desafios de comunicação, que ensombram a sua causa maior. A nossa equipa, já com oito pessoas, apoia também estes projetos na sua própria comunicação e amplificação, para chegarem com maior força às pessoas, através de vídeo e imagem que, sim, vale muito mais do que uma mera sinopse.
Por fim, mas não menos importante, a SeaTheFuture nasce porque acreditamos que se conseguirmos criar uma plataforma agregadora, financeiramente sustentável, transparente e credível, seremos também capazes de apoiar cada vez mais projetos de conservação de qualidade e de gerar exponencialmente mais impacto, tendo sempre a confiança como denominador comum. Na atualidade, as narrativas em torno da sustentabilidade multiplicam-se e torna-se muito difícil uma escolha informada e de confiança, com uma efetiva reastreabilidade. A SeaTheFuture quer inverter esta tendência e fazer parte de uma solução urgente a questões como a perda da biodiversidade em Terra e no Mar, o aumento da frequência e dos locais dos eventos climáticos extremos, como furacões e tempestades tropicais, aumento da temperatura na Terra, acidificação do Oceano, entre outras.
W: Porquê a conservação marinha?
Assunção Loureiro: O Oceano é o nosso maior aliado na guerra contra as alterações climáticas. Enquanto maior sequestrador de carbono da atmosfera, o Oceano tem um papel fundamental na “regulação” de vários fatores, entre eles o clima e a concentração de Oxigénio, determinantes para a vida na Terra tal como a conhecemos. E também porque, apesar disso, a conservação do Oceano e da sua biodiversidade (ODS 14) é uma das causas com menor apoio financeiro. Sentimos que é uma área onde são urgentes mais iniciativas de impacto e acreditamos que a nossa pode realmente fazer a diferença.
O SeaTheFuture acaba por ser, por isso, um local onde converge o Conhecimento, a Conservação e as Comunidades que querem fazer a diferença pelos Oceanos, deixar um impacto positivo e um legado sustentável, fazendo do SeaTheFuture a primeira plataforma de crowdsaving do mundo.
W: Há projetos em Portugal?
Assunção Loureiro: Temos o objetivo de incluir projetos por todo o mundo e, naturalmente, uma vontade especial de o fazer em Portugal, mas temos um processo que pauta a selecção das iniciativas que apoiamos, assegurando transparência e rigor. Na realidade, um dos três primeiros projetos a integrar a SeaTheFuture – Programa Tatô, em S. Tomé e Príncipe – é liderado por uma ONG nacional, apesar de atuar fora do país.
W: Qual a importância e relevância da SeaTheFuture para a conservação dos oceanos?
Assunção Loureiro: O grande contributo que acreditamos que o SeaTheFuture pode ter é o de ser catalisador da ação de muitos e, através da rigorosa seleção dos projetos que apoia, o de maximizar o impacto de cada euro angariado. No nosso entender, há cada vez mais pessoas com vontade de contribuir, pessoas que querem ser parte da solução. A partir do momento em que consigamos ganhar tração e chegar a muitas pessoas (só na Europa somos 740 milhões de pessoas aproximadamente), acreditamos que vamos ter a capacidade de gerar valores consideráveis através da soma de contribuições relativamente pequenas, assumíveis por muitas pessoas. Essas contribuições, uma vez bem canalizadas e eficientemente geridas, serão motor de mudança e de impacto positivo para inúmeros projetos espalhados pelo mundo. É o poder do colectivo que pode ser transformador, nas empresas, na sociedade e, que o SeaTheFuture enquanto movimento pretende potenciar.
W: Neste momento têm 165 contribuições. Quem são as pessoas que aceitam fazer donativos? Que feedback já têm tido?
Assunção Loureiro: Algumas são pessoas próximas nossas, da equipa, que inevitavelmente forma contagiadas pela nossa energia, mas a maioria são pessoas que de alguma forma reconhecem a importância de termos um Oceano saudável e do contributo dos projetos que apoiamos para tal. Acreditamos também que são pessoas que querem conseguir rastrear e saber o que acontece com o seu contributo; que impacto têm realmente. Em termos geográficos, estamos a falar mais a nível europeu, onde focamos a nossa comunicação nesta fase inicial.
O feedback tem sido muito positivo, mas sentimos que quando ganharmos mais escala, e conseguirmos apoiar concretamente mais iniciativas dos projetos, conseguiremos também contagiar mais doadores e, dessa forma, exponenciar o nosso impacto.
W: O projecto com mais contribuições é o “Plan Bee for Mangroves”, no Haiti. Na vossa opinião, porquê?
Assunção Loureiro: Neste momento, o projeto com o valor mais alto angariado é o Programa Tatô (com mais de 21.000€ angariados), logo seguido do Sharkcam na Malasia (acima dos 9.000€) e dos Whale Sharks nas Galápagos e do Plan Bee no Haiti (com 8.500€ cada um sensivelmente). Ainda estamos numa fase muito inicial para conseguir explicar alguns comportamentos, seria prematuro. Tanto podem ser as espécies/projeto em causa como o perfil de quem doa que acaba por definir o volume e a rapidez com que atingimos os objetivos.
W: Neste momento estão a avaliar novos projetos?
Assunção Loureiro: Estamos continuamente em contacto com novos projetos, até porque temos um formulário na nossa plataforma em que as pessoas podem sugerir projetos ou as próprias iniciativas se podem candidatar.
A inserção de projetos na plataforma requer uma curadoria que contempla um exigente processo de seleção certificado e composto por oito critérios que vão desde a capacitação das comunidades locais, até à melhoria das políticas, viabilidade a longo prazo, entre outros. Isto garante que todos os projetos que figuram no SeaTheFuture cumprem normas rigorosas de eficácia e impacto, apoiando uma escolha informada por parte dos doadores e investidores na conservação do Oceano.
Saiba mais aqui sobre a plataforma SeaTheFuture.
O conteúdo Assunção Loureiro: “São urgentes mais iniciativas de impacto” para conservar o oceano também está disponível em Wilder.
Chama-se SeaTheFuture, é feita por oito portugueses e tem a ambição de captar financiamento de pessoas de todo o mundo para projectos de conservação criteriosamente seleccionados. Saiba como funciona e como pode participar.
Dezenas de pessoas espalhadas pelo mundo estão a trabalhar arduamente para travar o desaparecimento de tartarugas, focas, golfinhos, tubarões, mangais e corais. Estão na linha da frente de uma batalha contra a perda da biodiversidade, uma das maiores crises que afecta o nosso planeta.
Mas precisam de ajuda. Têm falta de dinheiro mas também de hidrofones subaquáticos, câmaras timelapse de monitorização, equipamentos para vigiar cavernas de focas e de meios para fazer jardinagem de corais.
“Há inúmeros projetos de conservação em todo o mundo, fundamentais para um oceano saudável e cheio de vida, que se debatem com frequentes constrangimentos sendo, o maior de todos, a falta de financiamento”, explicou à Wilder Assunção Loureiro, managing director da SeaTheFuture, um spin-off do Oceanário de Lisboa.
Na verdade, lembrou, a conservação do Oceano e da sua biodiversidade (ODS 14) – um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas em 2015 – “é uma das causas com menor apoio financeiro”.
Assim, esta start-up criou uma solução global de crowdsaving para, através de uma plataforma online, permitir a pessoas, entidades e empresas apoiarem e viabilizarem financeiramente projetos de conservação seleccionados pela SeaTheFuture, de forma simples e transparente.
O grande objectivo é “acelerar a conservação dos oceanos”.
Na plataforma SeaTheFuture podemos encontrar os projectos a apoiar – cada um com a sua história contada através de meios multimédia e partilhada nas redes sociais e site – e informações sobre todo o processo. Quem quiser pode participar através de donativos ou da aquisição de produtos sustentáveis (t-shirts e sweatshirts).
Actualmente são oito os projectos na plataforma SeaTheFuture: SWORD Indian Ocean Humpbakc Dolphins (projecto da Sea Search na África do Sul para conservar golfinhos-corcunda); Le Pétrels (projecto da SEOR na ilha da Reunião para conservar petréis, aves marinhas em perigo); Programa Tatô (projecto da Associação programa Tatô em São Tomé e Príncipe para conservar tartarugas marinhas); Plan Bem for Mangroves (projecto da FoProBim no Haiti para salvar os mangais vermelhos e negros); Galapagos Whale Shark Project (do Projecto Tubarões-baleia das Galápagos nas ilhas Galápagos para conservar tubarões-baleia); Mediterranean Monk Seals (da Akdeniz Koruma Dernegi na Turquia para conservara única foca nativa do Mediterrâneo); o SharkCam (da Marine Research Foundation na Malásia para reduzir a captura acidental de tubarões e raias) e o Coral Connect (da Fundacíon Malpelo y Otros Ecosistemas Marinos na Colômbia para restaurar corais).
A plataforma promove o rastreio de todos os fundos angariados até ao seu destino final, garantindo a sua canalização para o propósito inicial. “A SeaTheFuture, em estreita colaboração com os projetos que apoia, monitoriza e comunica a evolução das diferentes campanhas em curso, permitindo o acompanhamento dos resultados de todos os esforços de conservação”, segundo um comunicado da empresa.
“Acreditamos que através da plataforma e formatos de divulgação com base social – as redes – podemos apoiar o despertar de muitos para o oceano”, acrescentou Assunção Loureiro.
Por enquanto ainda não existem projectos em Portugal. “Temos o objectivo de incluir projectos por todo o mundo e, naturalmente, uma vontade especial de o fazer em Portugal. Mas temos um processo que pauta a selecção das iniciativas que apoiamos, assegurando transparência e rigor”, acrescentou Assunção Loureiro.
“O grande contributo que acreditamos que o SeaTheFuture pode ter é o de ser catalisador da ação de muitos e, através da rigorosa seleção dos projetos que apoia, o de maximizar o impacto de cada euro angariado.”
Leia aqui a entrevista a Assunção Loureiro.
O conteúdo Portugueses criaram plataforma internacional para ajudar a conservar oceanos também está disponível em Wilder.
A leitora Palmira Gonçalves fotografou estes fungos em Porto da Raiva, Coimbra, a 22 de Outubro e pediu ajuda na identificação. A associação Ecofungos responde.
“O meu nome é Palmira e no dia 22/10/23, numa povoação chamada Porto da Raiva no distrito de Coimbra, fotografei este cogumelo e gostaria de saber o seu nome!”, escreveu a leitora à Wilder.
Trata-se do fungo Xylaria sp.
Espécie identificada e texto por: Ecofungos – Associação Micológica.
Trata-se de uma espécie do género Xylaria sp. Talvez a X. hypoxylon, a mais comum.
Estas espécies são saprófitas e normalmente ocorrem sobre resinosas, mas também podemos encontrar frutificações em toiças de folhosas.
Possuem corpos frutíferos com cerca de 3 a 6 cm de altura, de cor negra. Na maturação, os ápices ficam esbranquiçados e libertam-se os esporos.
O amarelo que se vê nas frutificações da espécie corresponde a outro grupo de fungos. Julgo que da divisão Deuteromycota.
Agora é a sua vez.
Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.
Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.
O conteúdo Que espécie é esta: fungos Xylaria sp. também está disponível em Wilder.
Fique a saber mais sobre o francelho no arquipélago da Madeira, a ave de rapina mais comum entre as quatro espécies que lá vivem. Este artigo faz parte da nova série sobre a conservação da natureza e as espécies da Área Protegida do Cabo Girão, ilha da Madeira. Esta é uma parceria com a Associação Insular de Geografia, através do seu projecto GIRO (Projecto de Valorização da Área Protegida do Cabo Girão).
Das quatro aves de rapina que residem no arquipélago da Madeira, a mais comum e facilmente identificável pelo seu piar agudo e rápido é o pequeno francelho. Este falcão de asas compridas e pontiagudas, cauda longa em leque e plumagem castanha sarapintada de preto é caraterizado pelo seu voo peculiar, no qual paira por longos períodos de tempo, apenas movimentando a sua cabeça como uma sentinela à procura do seu alvo, antes de mergulhar em voo picado em direção ao mesmo.
Comummente conhecido como peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus), esta ave, que se alimenta maioritariamente de pequenos mamíferos, tem apresentado um declínio moderado nos últimos anos no que diz respeito à sua tendência populacional em Portugal, de acordo com os dados da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (2022).
Apesar de não estar comprovado em território nacional, já existem estudos, um pouco por toda a Europa, que sugerem que a abundância anual desta espécie pode estar a ser negativamente afetada pelo uso de raticidas. Repudiados pela população em geral, estes roedores são conhecidos pelos danos causados nas produções agrícolas, que normalmente levam à utilização de métodos de controlo, mais especificamente o uso de pesticidas. Com base nos estudos de Roos, S. et al. (2021), a aplicação de raticidas anticoagulantes de segunda geração, apesar de reduzirem os números de roedores eficazmente, têm impactos indiretos para os predadores destes animais que acabam por ser envenenados de forma secundária, tendo por vezes consequências letais. Segundo os autores, mais de 60% dos espécimes recolhidos e analisados apresentavam resíduos de raticidas nos seus organismos.
Na Madeira, a tendência regressiva não se exprime de forma tão significativa, muito devido às capacidades de adaptação ao meio que a habilidosa ave detém.
A subespécie que encontramos na região de Macaronésia (mais especificamente nas Canárias e na Madeira), o Falco tinnunculus canariensis, é normalmente avistada em zonas abertas, de falésias, agrícolas ou até mesmo nas periferias dos centros urbanos, onde o sucesso reprodutivo desta subespécie é notório. Isto deve-se ao facto de na sua dieta incluir insetos e também lagartixas, além dos comuns roedores. Contudo, o uso de raticidas anticoagulantes mantém-se e a distribuição generalizada como medida de apoio aos agricultores permanece.
Mas a questão coloca-se, será apenas este falcão o único afetado negativamente pela atividade “legalizada” e conivente das instituições públicas?
Talvez não. Talvez as restantes aves de rapina do arquipélago, as que realmente dependem desta fonte de alimentação como a manta ou a coruja-das-torres, poderão vir a ser as mais prejudicadas pela intoxicação indireta destes produtos.
Contudo, a cadeia alimentar não estagna nestas espécies. Também os humanos podem experienciar os efeitos negativos da exposição destes químicos, não só através da contaminação dos solos e subsequentemente dos alimentos, mas também pela acidental ingestão, inalação ou contacto direto com a pele, mais proeminente em crianças (Soleng, A. et al., 2022).
A solução deverá estar na adoção de processos mecânicos, como as armadilhas e métodos de construção contra roedores, além do reforço na educação e na fiscalização a fim de reduzir a exposição indireta ou acidental destes agentes nocivos.
O conteúdo Madeira: os francelhos e uma cadeia em declínio também está disponível em Wilder.
O leitor Matteo Marnati fotografou esta ave a 20 de Outubro no Parque Tejo, perto do rio Trancão, e quis saber qual a espécie. Gonçalo Elias dá-lhe a identificação.
“Tirei estas fotos no dia 20 de outubro no parque Tejo, perto do rio Trancão, mas não consegui identificar o pequeno pássaro que se vê, podem-me ajudar?”, perguntou o leitor à Wilder.
Trata-se de uma fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis).
Espécie identificada e texto por: Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal.
É uma fuinha-dos-juncos Cisticola juncidis. Identifica-se pelo pequeno tamanho, pelas tonalidades acastanhadas da plumagem, pelas partes superiores riscadas, pela cauda relativamente curta e pelas patas rosadas.
Esta espécie frequenta principalmente zonas de vegetação herbácea, escondendo-se frequentemente entre as ervas.
A pequena fuinha-dos-juncos, ave insectívora, “chama a atenção pela sua peculiar vocalização, geralmente acompanhada por voos de exibição. Quando não canta, esconde-se entre a vegetação e pode ser muito difícil de observar”, segundo o portal Aves de Portugal.
A fuinha-dos-juncos é residente no nosso território. “É bastante comum em habitats óptimos, nomeadamente searas, pastagens de erva alta, charnecas e baldios.”
“Distribui-se de norte a sul do país mas é claramente mais comum em zonas de baixa altitude, sendo bastante rara acima da cota dos 800 metros.”
Agora é a sua vez.
Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.
Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.
O conteúdo Que espécie é esta: fuinha-dos-juncos também está disponível em Wilder.
Verbas atribuídas pelo Fundo Ambiental destinam-se às quatro unidades regionais da Rede Nacional de Arrojamentos, para o período 2023/2024.
Foram assinados os protocolos que formalizam os apoios do Fundo Ambiental à Rede Nacional de Arrojamentos, neste e no próximo ano, no valor total de um milhão de euros, anunciou em comunicado o Ministério do Ambiente e Ação Climática.
O dinheiro vai ser distribuído pelas quatro redes regionais de arrojamento em Portugal continental, que se dedicam à monitorização, análise e encaminhamento, quando se torna necessário, dos animais marinhos que encalham na costa sem conseguirem regressar ao mar.
“De modo a facilitar a operacionalização da Rede Nacional de Arrojamentos, maximizar a rapidez das respostas e a qualidade da informação recolhida, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) – que coordena esta estrutura a nível nacional – dividiu a zona costeira do continente em quatro regiões (Norte, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) e delegou em parceiros” a coordenação de cada unidade, explica o gabinete do ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro.
Foi assim que nasceram a Rede de Arrojamentos do Norte, a RALVT – Rede de Alojamentos de Lisboa e Vale do Tejo, a Arrojal – Rede Regional Alentejo e ainda a RAALG – Rede de Arrojamentos do Algarve.
Até hoje, segundo o Ministério do Ambiente, no âmbito da Rede Nacional de Arrojamentos foram documentadas mais de 1000 ocorrências deste tipo e recolheram-se mais de 13.000 amostras biológicas, “que permitem caracterizar as espécies mais comuns na costa portuguesa”. Foram também resgatados “inúmeros animais vivos”.
O Fundo Ambiental começou a apoiar a Rede Nacional de Arrojamentos em 2020, estimando-se que desde essa data até ao próximo ano, sejam atribuídos apoios no total de 1,9 milhões de euros.
A primeira rede de arrojamentos foi criada em 1979, como resultado de uma parceria entre o Museu do Mar (Cascais) e o Aquário Vasco da Gama (Lisboa). Em 1987, a autoridade nacional para a conservação da natureza e biodiversidade, actual ICNF, assumiu a sua coordenação, alargando o âmbito desta estrutura a todo o território.
Segundo o Ministério do Ambiente, o Fundo Ambiental apoiou também com 405.000 euros para a produção de trabalho científico no âmbito da monitorização de cetáceos, em 2022 e já este ano. “Graças a este montante foi possível financiar o projeto ‘Coordinated Cetacean Assessment, Monitoring and Management Strategy in the Bay of Biscay and Iberian Coast sub- region’, a participação de Portugal na quarta campanha da iniciativa ‘Small Cetaceans in European Atlantic waters and the North Sea’ e o projecto de monitorização da população de boto, o mamífero marinho mais ameaçado na costa portuguesa.”
O conteúdo Monitorização e resgate de animais marinhos recebe apoios de um milhão de euros também está disponível em Wilder.
Fernanda Gamito partiu à procura do narciso-do-tarde, um dos únicos dois narcisos de Portugal que não florescem no fim do Inverno ou na Primavera. Onde: Parque de Natureza de Noudar. Quando: últimos dias de Outubro.
Nem serôdio, nem extemporânio, nem “da tarde”, como por vezes o identificam poeticamente, pois pode ser visto desde o amanhecer. O narciso-bravo ou narciso-do-tarde, apesar de serotinus (tardio) de nome ciêntífico, floresce no seu tempo próprio, o Outono.
Quase todos os narcisos silvestres em Portugal florescem no fim do Inverno ou na Primavera. Todos menos dois. O narciso-do-tarde (Narcissus serotinus), assim chamado por surgir numa época em que já não o esperávamos, é um dos dois, ambos alentejanos, pequenos, frágeis e raros tesouros botânicos de Outono*. Foi o serotinus, originário daqui, do Sudoeste da Península Ibérica (e também do Noroeste de Marrocos), que nos levou ao remoto Parque de Natureza de Noudar, nos últimos dias de Outubro. Com as primeiras chuvas, esperam-se bermas de caminhos e os prados húmidos no azinhal cobertos de flores brancas, de perfume levemente narcótico.
De Barrancos até à Herdade da Coitadinha, no Parque de Natureza de Noudar, são 9km de terra batida. Nas curvas da estrada, nesta altura, surge fugaz o veado, uma família de perdizes, a sombra do javali. Mas também o gado mertolengo, raça autóctone criada em regime extensivo na Herdade, ou os porcos pretos que chegaram para a engorda com bolota na época da “montanheira”, daqui até Fevereiro.
O extenso Parque de Natureza, cujos limites são duas linhas de água – a Ribeira de Múrtega e o Rio Ardila – é um refúgio de vida selvagem que foi criado pela EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva), como medida de compensação pela perda de habitats de ecossistemas de montado, galerias ripícolas e matagais mediterrânicos, originada pela construção da Barragem de Alqueva, no ano 2000. Nascido assim de uma espécie de complexo de culpa do desenvolvimento em tempos modernos, o Parque situa-se em território pertencente à Rede Natura 2000 – Zona de Proteção Especial Moura-Mourão-Barrancos e tem permitido, neste ínício do século XXI, a preservação de uma paisagem única, natural e humanizada, onde os valores do património cultural e natural se entrelaçam.
Já se avista o cénico Castelo de Noudar, acabado de construir em 1307, no reinado de D. Dinis, sobre o que foi um assentamento mouro. No caminho até lá, soam chocalhos, rondam aves de rapina, encontra-se abrigo nas choças de telhado de colmo e, por fim, nas alturas, rodeadas de xisto, surgem as vistas deslumbrantes sobre os montes do lado de cá e do lado de Espanha, com igual beleza.
A seca deixou os seus sinais no azinhal. Aqui e ali, podemos testemunhar o fenómeno do “declínio do montado”, com a perda de vigor das árvores, a morte de alguns espécimes e clareiras esparsas. A boa notícia é que, a par da renovação da atividade agrícola tradicional e do ecoturismo, a gestão do Parque está a promover ativamente a conservação e a regeneração do montado de azinho, aplicando as técnicas silvícolas mais adequadas.
É nas encostas que descem suavemente para o vale da Ribeira de Múrtega, já perto da Herdade, que os vemos finalmente: campos de florzinhas brancas no Outono! Neste local, cobrem abundantemente prados e pastagens, mas as populações do narciso-do-tarde têm vindo a reduzir. Foi também a Barragem de Alqueva que, na região do Alentejo, originou a destruição e fragmentação das populações da espécie, atualmente com estatuto de Quase Ameaçada.
Por agora, não é ainda demasiado tarde para apreciar o Narcissus serotinus, preservá-lo e divulgar a sua história.
*O outro é o narciso-do-guadiana (Narcissus cavanillesii)
O conteúdo Em Noudar à procura de um Narciso de Outono também está disponível em Wilder.
Cinco aves a não perder em Novembro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.
Novembro marca o final da passagem outonal e o início do período de invernada. Ao longo deste mês aparecem entre nós várias espécies, oriundas de latitudes mais setentrionais, que vêm vá passar a estação fria. A escolha dos locais irá, naturalmente, ter em conta as condições que oferecem, as quais, por sua vez, dependem do estado do tempo e do alimento disponível em cada local.
O que está a fazer em Novembro: Esta espécie é essencialmente invernante em Portugal e a maioria das aves chega ao nosso país em finais de Outubro ou início de Novembro. Durante o dia, os milhafres-reais podem ser vistos a planar sobre os campos ou ao longo das estradas, procurando uma presa ou um cadáver que lhes possa servir de refeição.
Os milhafres distinguem-se de todas as outras aves de rapina europeias pelo facto de apresentarem a cauda bifurcada. Em Portugal ocorrem duas espécies, mas em Novembro apenas o milhafre-real pode ser visto no nosso país. Esta ave identifica-se pela cauda ruiva e fortemente bifurcada, pelo corpo também com tonalidades arruivadas e pela cabeça esbranquiçada. Em voo são visíveis duas ‘janelas’ brancas nas asas abertas.
O milhafre-real vem ao nosso país sobretudo para invernar, estando presente de Outubro a Março. A sua principal área de ocorrência situa-se nas planícies da metade sul do país (Alentejo e Ribatejo), embora a espécie também apareça noutras regiões mais a norte. Durante o Inverno pode formar grandes dormitórios, que congregam dezenas ou até centenas de indivíduos.
A cauda bifurcada, quando aberta, pode fazer lembrar um bacalhau seco, espalmado. Por este motivo, esta ave também é conhecida, popularmente, pelo nome “milhafre-rabo-de-bacalhau”. Um pequeno número de casais nidifica no nordeste do território.
Onde ver: Monforte, Évora, Castro Verde.
O que está a fazer em Novembro: Durante o Outono, a maioria dos tordos-músicos alimenta-se de frutos e bagas. As azeitonas são um dos alimentos preferidos, pelo que muitas destas aves podem ser encontradas nos olivais. Ao fim do dia, reúnem-se em grandes dormitórios, que podem estar situados em bosquetes ou matagais.
Parente próximo do melro-preto, o tordo-músico é um pouco mais pequeno que o seu congénere. As partes superiores são castanhas lisas, enquanto o peito e o ventre têm o fundo branco e apresentam numerosas pintas castanhas em forma de pontas de seta. Pode ser confundido com a tordoveia, mas esta espécie é bastante maior e tem a parte interior da asa branca e não amarela, além de ter as pintas mais arredondadas.
No Outono, esta espécie tem uma distribuição alargada e encontra-se um pouco por toda a parte, sendo mais abundante no interior do país. Frequenta bosques, matagais, sebes, matas ribeirinhas, pomares, terrenos agrícolas, pousios e pastagens com sebes ou árvores. As maiores concentrações encontram-se em olivais, assim como em matagais mediterrânicos bem desenvolvidos.
Até ao final da década de 1980, esta espécie era apenas invernante no nosso país, contudo ao longo das últimas décadas registou-se uma colonização progressiva do território e, actualmente, a espécie já nidifica na maioria das zonas a norte do rio Tejo.
Onde ver: serra da Arrábida, Moura, Mértola.
O que está a fazer em Novembro: A maioria das gaivotas-d’asa-escura passa o Outono e o Inverno ao longo das nossas costas, formando grandes bandos em praias, estuários, salinas ou portos de pesca. Por vezes também aparecem no interior do território, em especial junto a aterros sanitários.
A gaivota-d’asa-escura é relativamente grande. A sua plumagem varia bastante consoante a idade. Os adultos, que são os mais fáceis de identificar, apresentam um contraste entre as partes superiores, de tom cinzento-escuro, e as partes inferiores, que são brancas, tal como a cabeça. As patas e o bico são amarelos. Já os juvenis e muitos imaturos são essencialmente castanhos, com o bico escuro e as patas rosadas.
Sendo aves muito gregárias, as gaivotas juntam-se frequentemente em grandes bandos, os quais podem ser mistos, isto é, congregar várias espécies diferentes. Assim, a observação atenta de um bando grande constitui uma boa oportunidade para comparar as diferentes espécies e idades e também para procurar alguma espécie mais rara.
Esta gaivota tem sido bastante estudada com recurso à anilhagem e existem numerosos projectos de marcação com anilhas coloridas. Assim, quando olhamos para um bando destas aves, não é raro encontrarmos alguma com uma anilha colorida na pata. Quando assim é, vale a pena tentar ler o código e enviar para o responsável do projecto, pois assim ficaremos a conhecer a história de vida da ave.
Onde ver: praia de Matosinhos, costa do Estoril, praia de Monte Gordo.
O que está a fazer em Novembro: A maioria dos pernas-vermelhas que podemos ver este mês já pertence à chamada população invernante, que veio de países mais a norte e ficará por cá até Fevereiro ou Março. Por esta altura, as aves frequentam as grandes zonas húmidas costeiras, aproveitando os períodos de baixa-mar para se alimentarem.
Trata-se de uma limícola de tamanho médio, cuja principal característica são as patas vermelhas e o bico vermelho, este com a ponta escura. A sua plumagem é dominada por tons cinzentos e acastanhados. Em voo, destaca-se a orla branca posterior das asas. É muito vocal, emitindo um chamamento característico.
Esta espécie distribui-se, de forma algo descontínua, ao longo de todo o litoral nacional, sendo muito escassa no interior. Os seus habitats preferidos são os grandes estuários e as “rias”, alimentando-se nas zonas entre-marés, em especial nas zonas de vasa. Também aparece em salinas, em especial durante a preia-mar, bem como em arrozais e, às vezes, em terrenos alagados.
Graças aos censos de aves aquáticas invernantes efectuados ao longo das últimas décadas, existem dados quantitativos, sabendo-se que população que inverna em Portugal deverá compreender 4 a 5 mil indivíduos.
Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Sado, ria Formosa.
O que está a fazer em Novembro: Este mês, os campos e os prados portugueses são ocupados por inúmeras petinhas-dos-prados, que chegaram há pouco dos seus territórios de nidificação e escolheram o nosso país para passar a estação fria. Estas pequenas aves podem agora ser vistas um pouco por todo o lado, principalmente nas terras baixas, em locais pouco arborizados e com vegetação curta.
As petinhas são aves insectívoras com uma plumagem pouco vistosa, dominada por tons acastanhados ou esverdeados. Existem várias espécies parecidas, o que torna a sua identificação algo complicada. A petinha-dos-prados caracteriza-se por uma plumagem castanho-esverdeada, com riscas bem marcadas no peito; o bico é fino e as patas são rosadas. Pode confundir-se com a petinha-das-árvores, mas essa espécie não está presente em Novembro. Quanto à petinha-ribeirinha, é um pouco maior e com as patas mais escuras.
Surge em todo o tipo de habitats, desde que não demasiado fechados, mas é especialmente numerosa em pastagens, restolhos de arroz, incultos, terrenos lavrados e margens de zonas húmidas. Também pode ser frequente em montados abertos com pouco sub-bosque e em olivais. Observa-se em geral sozinha ou em pequenos bandos pouco coesos.
As aves que vêm invernar no nosso país são provenientes de uma vasta área, que se estende desde a Islândia e as ilhas britânicas até à Rússia, passando pela Europa Central e pela Escandinávia.
Onde ver: lezíria grande de Vila Franca de Xira, cabo Espichel, Castro Verde.
Agora é a sua vez.
Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email geral@wilder.pt. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!
O conteúdo Aves do mês: O que ver em Novembro também está disponível em Wilder.
A destruição dos habitats e as doenças são causas já bem estudadas para o declínio dos anfíbios. Um novo artigo publicado em Outubro na revista científica Nature analisou 20 anos de dados e concluiu que as alterações climáticas estão a emergir como uma das maiores ameaças a sapos, rãs, salamandras e tritões.
O estudo, publicado a 4 de Outubro, baseia-se na segunda avaliação mundial de anfíbios, coordenada pela Amphibian Red List Authority, um ramo do Grupo de Especialistas de Anfíbios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
A avaliação estudou o risco de extinção para mais de 8.000 espécies de anfíbios de todo o mundo. Dessas, 2.286 espécies foram avaliadas pela primeira vez.
Mais de 1000 peritos de todo o mundo contribuíram com os seus dados e conhecimentos, o que permitiu descobrir que dois em cada cinco anfíbios estão ameaçados de extinção. Estes dados serão publicados na Lista Vermelha da UICN.
Entre 2004 e 2022, um grupo de ameaças empurrou mais de 300 anfíbios mais perto da extinção, segundo o estudo. As alterações climáticas foram a maior ameaça para 39% dessas espécies.
“À medida que os humanos causam alterações ao clima e aos habitats, os anfíbios estão a tornar-se prisioneiros climáticos, incapazes de escaparem para outros locais e fugir ao aumento da frequência e intensidade do calor extremo, incêndios, secas e furacões”, comentou Jennifer Luedtke Swandby, uma das autoras do estudo e coordenadora da Amphibian Red List Authority, no âmbito da organização Re:wild.
“O nosso estudo mostra que não podemos continuar a subestimar esta ameaça”, continuou. “Proteger e restaurar as florestas é crucial não apenas para salvaguardar a biodiversidade mas também para combater as alterações climáticas.”
A destruição do habitat – como resultado da agricultura, desenvolvimento de infra-estruturas e outras indústrias – continua a ser a maior ameaça comum aos anfíbios, segundo o estudo. Na verdade, a destruição dos habitats afecta 93% de todas as espécies ameaçadas de anfíbios.
Doenças como a quitridiomicose – causada por dois fungos microscópicos e que dizimou várias espécies de anfíbios na América Latina, Austrália e Estados Unidos, por exemplo – e a sobre-exploração continuam a causar o declínio destes animais.
Todas estas causas são exacerbadas pelos efeitos das alterações climáticas.
O estudo também descobriu que três em cada cinco espécies de salamandras estão ameaçadas de extinção, especialmente como resultado da destruição do seu habitat e das alterações climáticas. Hoje, as salamandras são o grupo de anfíbios mais ameaçados do mundo.
Este artigo indica que cerca de 41% de todas as espécies de anfíbios que foram avaliadas estão hoje globalmente ameaçadas e classificadas numa de três categorias: Criticamente Em Perigo, Em Perigo e Vulnerável. Nos mamíferos, essa percentagem é de 26,5%, nos répteis é de 21,4% e nas aves 12,9%.
Quatro espécies de anfíbios foram dadas como extintas desde 2004: o Atelopus chiriquiensis da Costa Rica, o Taudactylus acutirostris da Austrália e os Craugastor myllomyllon e Pseudoeurycea exspectata da Guatemala.
Outras 27 espécies Criticamente Em Perigo são agora consideradas possivelmente extintas.
Ainda assim, o estudo revelou que 120 espécies melhoraram o seu estatuto na Lista Vermelha desde 1980.
Conservanistas irão usar estas informações para desenhar um plano de conservação mundial, para estabelecer prioridades de conservação à escala global e para influenciar decisores políticos que possam ajudar a reverter a tendência negativa referente aos anfíbios.
“Os anfíbios estão a desaparecer a uma velocidade maior do que aquela a que os conseguimos estudar”, disse Kelsey Neam, um dos autores do estudo e membro da Re:wild. “Enquanto uma comunidade global, é altura de investir no futuro dos anfíbios, o que significa investir no futuro do nosso planeta.”
O conteúdo Estudo: alterações climáticas são uma das mais graves ameaças aos anfíbios do planeta também está disponível em Wilder.
O biólogo Paulo Catry fala-nos da bela Vanessa atalanta que por estes dias é uma presença quase certa em pomares e quintais, parecendo que surge subitamente do nada, mas na verdade chegada de uma longa viagem.
Outubro 2023
Esta não é a proverbial borboleta cujo bater de asas resulta num improvável furacão do outro lado do mundo (e, de qualquer forma, num planeta em aquecimento não há carência de mais acendedores de tempestades). Esta borboleta bate as asas e voa, inócua…, mas voa muito para além de onde a vista alcança.
Creio que foi num livro do Jared Diamond que li que os caçadores de uma das tribos da Nova Guiné com quem ele trabalhava tinham nomes para todos os pássaros da floresta, discriminando espécies próximas, quase idênticas, sem dificuldades de maior. Para as borboletas, prodigiosamente diversas e coloridas naquela parte do mundo, tinham também nome. Só um.
Os animais que não servem para nada, nem tão somente que seja como alvo de ódio ou desprezo, não precisam de nome entre povos (como o nosso) pouco dados aos prazeres românticos da história natural. É o caso da borboleta Vanessa atalanta, que hoje vai aparecendo entre nós com o nome de “almirante-vermelho”, importado de terras britânicas (‘red admiral’). Bem que podíamos, neste caso, ter adotado antes o francês, ‘vulcain’, que convoca o fogo do ferreiro, e o do vulcão. Olhem para aquelas cores, o rio de lava serpenteando no basalto negro. O metal incandescente poisado sobre a bigorna encardida. Vão acesas as asas da borboleta que voa para além de onde a vista alcança.
Chega outubro e sobre a erva nova que desponta e dá-se esta maravilha de subitamente aparecerem do nada insetos de asas imaculadas em combustão. Sempre me surpreendeu como é que da secura estival se faziam, geralmente antes ainda dos cogumelos, borboletas adultas completas. Pensava eu que talvez fossem emergências de crisálidas que estivessem escondidas durante o verão à espera de vida nova. Puro engano, mas desculpável, quem é que liga aos invertebrados (além do polvo e do camarão)? Dos insetos rezam muito poucas histórias.
Estas borboletas são grandes migradoras, ainda que por falta de se poder seguir-lhes os movimentos individuais nos escapem muitos detalhes das suas peregrinações. Tudo indica, contudo, que a chegada massiva destes insetos em outubro tem origem nos movimentos migratórios de vulcõezinhos que nasceram no Centro e Norte da Europa (porventura uma parte vem das montanhas mais próximas)1,2. Há várias que prosseguem mais para sul ainda, chegando ao Norte de África (e algumas, talvez perdidas, cruzam o mar até ao arquipélago da Madeira). Muitas estabelecem-se por cá.
Os machos defendem territórios com poucos metros de comprimento e de largura. Vemo-los bailar ao sol de outubro, rodopiam numa breve espiral ascendente, quer expulsando competidores, quer cortejando as fêmeas que uma vez fecundadas põem os ovos em urtigas que por esta época começam a crescer. As lagartas alimentam-se destas plantas (por vezes de outras espécies também) e desenvolvem-se lentamente sob o frio do longo inverno. Só na primavera, após a metamorfose, voa uma nova geração, grande parte da qual emigra de novo para o Norte da Europa, onde ocorrerá mais reprodução.
Sabe-se que tanto podem viajar deslocando-se baixo, a apenas um metro do chão, como podem voar sobre florestas logo acima da copa das árvores, ou muito mais alto ainda, até aos 3000 metros de altitude3. Conseguem utilizar as correntes ascendentes para, pairando em círculos, ganharem altura sem esforço. Escolhem dias de vento favorável, planam com eficácia entre batidas de asas e, graças aos depósitos de gordura que acumulam (sim, tal como as aves, enchem o abdómen de combustível amarelo, gordura pura), é provável que possam migrar ao longo de milhares de quilómetros em poucas semanas. Mas apesar das observações destes comportamentos, quer diretamente quer usando radares, apesar das capturas e de medições do estado fisiológico, apesar dos estudos sobre a reprodução, falta ainda tecnologia para as seguir em viagem.
Há borboletas que migram mais longe do que a Vanessa atalanta. A prima Vanessa cardui, por exemplo, até faz migrações transarianas, um prodígio sobre o qual vale a pena escrever e cismar (fica para outra ocasião). Estamos em outubro e a Vanessa atalanta é que é, uma presença quase certa nos nossos pomares e quintais. Tão corriqueira, não há quem não a conheça de vista. Poisa na fruta caída já meio estragada, bebe sucos fermentados; bebe sidra e dança ao sol. Feliz de ter chegado da grande viagem, tão pronta para competir como para galantear. Embriaga-se talvez, a vida é bela.
1Benvenuti S 1994. Italian Journal of Zoology
2 Stefanescu C 2001. Ecological Entomology
3 Mikkola K 2003. Entomologica Fennica
Saiba mais.
Leia aqui outros textos já publicados por Paulo Catry, professor e investigador do Mare – Marine and Environmental Sciences Centre, Ispa – Instituto Universitário, na série Crónicas Naturais. E também os artigos publicados em 2017, quando esteve à procura de aves marinhas no meio do Oceano Atlântico.
O conteúdo Crónicas naturais: Vulcões d’outono também está disponível em Wilder.
Mega-apagão coordenado pela SPEA está previsto para esta segunda-feira, 30 de Outubro, e convida os madeirenses a juntaram-se à iniciativa.
O mega-apagão vai acontecer entre as 20h00 e as 23h00, considerado a altura mais crítica da noite, horário em que as cagarras juvenis costumam sair dos ninhos, indica a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, numa nota de imprensa sobre esta acção. Cada um dos 1000 candeeiros de rua que vão estar apagados no início da próxima semana corresponde a 10 euros de donativos angariados durante a campanha Noite Com Vida, organizada pela ONG portuguesa.
Com o objectivo de “mostrar o impacto da luz artificial excessiva”, a iniciativa conta também com a colaboração dos municípios que são parceiros do projecto LIFE Natura@night. Os responsáveis pelo apagão convidam também os madeirenses a apagar a iluminação exterior das suas casas e edifícios durante o mega-apagão. “Ou, para salvar ainda mais aves, apagando ou reduzindo a iluminação exterior entre 15 de outubro e 15 de novembro”, apela a SPEA.
“Com este apagão, por uma noite iremos criar um caminho seguro no céu para que as aves possam voar em direcção ao mar em segurança. Mas mais do que isso, iremos demonstrar como reduzir a iluminação artificial excessiva pode salvar aves”, afirma Elisa Teixeira, da SPEA Madeira.
“Todos os anos na Madeira, Açores e Canárias, a poluição luminosa leva a que centenas de juvenis de aves marinhas fiquem encandeados, caindo por terra e podendo ficar feridos ou mesmo morrer”, explica a ONG. A campanha Noite Com Vida foi lançada no Inverno passado, na tentativa de angariar algum do financiamento necessário para salvar estas aves e reduzir a poluição luminosa. Esta acção acontece no âmbito do projeto LIFE Natura@night, que procura estudar e reduzir os impactos negativos da poluição luminosa na Macaronésia.
“A poluição luminosa afecta não só as aves, mas também inúmeras outras espécies e até a saúde humana”, indica a SPEA, que lembra que “99 por cento dos habitantes da Europa e dos EUA vivem sob céus nocturnos mais brilhantes do que seriam naturalmente”.
“Este mega-apagão é uma forma de tornar visível a poluição luminosa e de alertar para a importância de estudar o seu impacto e de trabalhar com municípios e empresas para implementar uma iluminação pública mais eficiente, mais adequada e mais bem-direccionada”, diz Domingos Leitão, director-executivo da SPEA.
Até 5 de novembro, está a decorrer também a campanha “Salve uma Ave Marinha”, na qual voluntários e técnicos da SPEA percorrem a ilha em busca de aves que precisem de ajuda para chegar ao mar.
O conteúdo Na Madeira, vão apagar-se 1000 candeeiros de rua pelas aves marinhas também está disponível em Wilder.
João Serafim, 41 anos, fotógrafo e naturalista, deparou-se com um réptil de dedos espinhosos durante um passeio perto de casa, na zona do Barreiro, e explica como o podemos identificar.
Caros leitores, o meu nome é João Serafim, sou do Barreiro/Setúbal e fotógrafo de natureza e vida selvagem. Procuro ser um naturalista da fauna e da flora.
Já tenho alguns artigos na Wilder e quero aqui deixar mais um contributo da vida selvagem para todos os leitores. Já contemplo um variado portfolio de vida selvagem e hoje trago-vos a lagartixa-de-dedos-denteados, que tem como nome científico Acanthodactylus erythrurus.
Após algumas horas de caminhada na Mata Nacional da Machada (Vale Zebro – Palhais), no máximo de silêncio, lá encontrei esta lagartixa por entre a vegetação. Dei alguns pequenos passos, deitei-me para conseguir um bom ângulo e lá consegui algumas fotografias deste fantástico réptil.
O nome latino Acanthodactylus significa “dedos espinhosos”, outro dos termos pelos quais é também conhecida: lagartixa-das-patas-espinhosas. Já erythrurus traduz-se por “cauda vermelha”.
Esta lagartixa é uma espécie de lagarto da família Lacertidae, da qual é considerada o membro mais rápido. É endémica do Noroeste de África e da Península Ibérica, únicos lugares do mundo onde habita. O seu nome comum – lagartixa-dos-dedos-denteados – refere-se aos espinhos que se encontram dispostos como um pente nos dedos das patas traseiras.
Em média, mede 20 centímetros de comprimento, pelo que pode ser classificada como um animal de tamanho médio. Tem uma cauda que corresponde a dois terços do seu tamanho total e um corpo muito forte. O focinho é bastante curto e as placas supra occipitais são suficientemente definidas para dar a ilusão de que as sobrancelhas estão localizadas na cabeça.
Um grande obrigado à Wilder pelo trabalho que tem vindo a desenvolver em prol da fauna e flora de Portugal.
Conheça aqui e aqui outras fotografias de natureza de João Serafim.
E leia outros artigos deste leitor.
O conteúdo Leitores: Encontro com uma fantástica lagartixa na Mata da Machada também está disponível em Wilder.
A análise e recolha de novos dados a nível nacional, realizada pelo LIFE Aegypius Return, permitiu duplicar as estimativas anteriores, anunciaram os responsáveis deste projecto de conservação.
Os últimos dados recolhidos pelos diferentes parceiros do LIFE Aegypius Return, que está a trabalhar para a recuperação desta ave necrófaga em Portugal e Espanha, indicam que existem entre 78 a 81 casais nidificantes em território nacional, afirma a equipa do projecto numa nota de imprensa divulgada esta terça-feira.
Destes casais, um total de sete encontram-se no lado espanhol da fronteira, a menos de 1000 metros desta, considerando-se que “ecologicamente integram as colónias portuguesas.”
O abutre-preto (Aegypius monachus), que é o maior abutre da Europa, tem uma envergadura de asas de quase três metros. Foi classificado em 2005 como Criticamente em Perigo em Portugal. Após a sua extinção como espécie reprodutora no país, na década de 1970, o primeiro ninho em território nacional foi observado em 2010, no Parque Natural do Tejo Internacional.
Em 2022, estimava-se existirem apenas cerca de 40 casais nidificantes no país, recorda a equipa do LIFE Aegypius Return numa nota de imprensa, na qual adianta que “o elevado aumento deste número [agora revelado] é fruto de uma apurada prospecção de novos ninhos, monitorização e coordenação de dados de várias entidades”.
No entanto, o êxito reprodutor é ainda “relativamente baixo, comprometendo a continuidade da espécie a longo prazo”. Isto porque os casais contabilizados só tiveram 50 crias nascidas este ano, das quais apenas sobreviveram 35 a 37 pequenas aves. Feitas as contas, o sucesso reprodutor do abutre-preto em Portugal cifra-se em 0,47, indicam os responsáveis deste programa LIFE cofinanciado por fundos europeus, liderado pela Vulture Conservation Foundation.
“É objectivo do projecto garantir condições favoráveis à espécie para que, até 2027, este parâmetro aumente para um valor superior a 0,5”, adianta a equipa. A acontecer, isso significará que pelo menos metade das posturas resultam num juvenil voador sobrevivente até à idade adulta, assegurando “a renovação e a continuidade” desta espécie em Portugal.
Em território português, o abutre-preto está hoje presente em quatro colónias diferentes, todas elas ao longo da fronteira. Os dados recolhidos pelo projecto mostram que o Tejo Internacional, área protegida na região de Castelo Branco, se mantém como o maior núcleo reprodutor destas aves necrófagas, seguindo-se a Herdade da Contenda (Baixo Alentejo), a Serra da Malcata e o Parque Natural do Douro Internacional, na região de Miranda do Douro.
No Douro Internacional, a colónia “mais limítrofe, isolada e frágil”, monitorizada pela associação Palombar juntamente com a delegação regional do Norte do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), teve este ano três casais que ali fizeram ninho, adiantam também os responsáveis do LIFE Aegypius Return. Esta terá sido a primeira vez que se registou aqui um número tão elevado de casais, desde que a espécie regressou à região em 2012.
Já a colónia da Serra da Malcata teve o maior aumento no número de ninhos conhecidos e de casais nidificantes identificados, entre as quatro colónias portuguesas. No ano passado tinham sido registados apenas dois casais nidificantes, enquanto que este ano esse total aumentou para 14, dos quais resultaram oito crias que sobreviveram.
“Embora se verifique um efectivo aumento no número de casais nidificantes nesta colónia, estes resultados demonstram principalmente a importância da coordenação de esforços de monitorização”, afirma a equipa do projecto LIFE.
“Em 2023, os técnicos e vigilantes do ICNF – Direcção Regional Centro e a Rewilding Portugal articularam as metodologias de prospecção e monitorização da espécie na Zona de Protecção Especial (ZPE) da Serra da Malcata, definidas conjuntamente no âmbito do projeto LIFE Aegypius Return, tendo obtido impressionantes resultados”, descrevem, acrescentando que “o parceiro Associação Transumância e Natureza (ATNatureza) reforçou a prospeção de ninhos noutras regiões potencialmente adequadas à espécie, como, por exemplo, em Almeida e nos vales dos rios Coa e Águeda”.
O Tejo Internacional é a região que alberga a maior colónia de abutre-preto em Portugal. Em 2023, ali foram registados um total de 44 a 46 casais nidificantes – cinco dos quais localizados do lado espanhol da fronteira – o que representa um aumento de mais de uma dezena de casais nidificantes conhecidos, indicam os responsáveis do projecto. “Nesta colónia foram recrutadas 20 a 22 crias para a população, cinco das quais nascidas nos ninhos em território espanhol.”
Foi no Tejo Internacional que o abutre-preto estabeleceu o seu primeiro ninho em Portugal após um desaparecimento de várias décadas, em 2010. A prospeção de novos ninhos e a monitorização em 2023 esteve a cargo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), contando ainda com o apoio da Quercus e dos vigilantes do ICNF – DR do Centro, que já asseguravam a monitorização da espécie, desde o seu regresso.
“A SPEA fez ainda a prospecção de habitats com condições favoráveis à espécie nas regiões de Serra de São Mamede, rio Sever, Serra das Talhadas, Vila Velha de Ródão e Serra de Penha Garcia. No entanto, nestas regiões não se confirmou a nidificação da espécie.”
Quanto à Herdade da Contenda, localizada na Zona de Protecção Especial de Mourão/Moura/Barrancos, dentro da Rede Natura 2000, acolhe a colónia mais a sul de Portugal. Também aqui se registou um aumento no número de ninhos conhecidos e ocupados por abutre-preto, indica a equipa.
Os trabalhos de monitorização estão a cargo da Liga para Protecção da Natureza (LPN) e contam com a colaboração da Herdade da Contenda e os vigilantes do ICNF – DR do Alentejo. Em 2022, esta colónia registou 10 casais nidificantes, número que aumentou agora para um total de 17 a 18 abutres, inluindo dois em território espanhol. Destes, resultaram 12 posturas e cinco crias voadoras.
Saiba mais.
Recorde a acção realizada em Junho no âmbito deste projecto, para a marcação de 15 abutres-pretos para serem seguidos por GPS .
O conteúdo Sinais de esperança: Existem pelo menos 78 casais de abutre-preto em Portugal também está disponível em Wilder.
Conhecida como enguia-fantasma ou moreia-de-brummer, esta espécie do indo-pacífico foi filmada por Joaquim Parrinha, investigador do MARE na Universidade de Coimbra, durante um mergulho nocturno.
Também chamada de enguia-de-fita-branca, e com o nome científico Pseudechidna brummeri, esta espécie de enguia nunca tinha sido avistada no Atlântico até agora, informa uma nota de imprensa divulgada pelo MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.
Este predador nocturno, conhecido pela forma como caça pequenos peixes e crustáceos, é bastante comum em locais como o Pacífico Ocidental, o Oceano Índico e o Oceano Índico Ocidental, “todos muito distantes do local onde agora foi encontrada”, informa também o MARE. “Quando foi avistada, encontrava-se a uma profundidade de um a dois metros, junto ao porto de pesca de Porto Covo.”
Foi Joaquim Parrinha, investigador do MARE na Universidade de Coimbra, que se deparou com esta enguia com mais de um metro de comprimento quando filmava a biodiversidade marinha ao largo de Porto Covo. Enviou as filmagens à sua coordenadora, Sónia Seixas, que não teve dúvidas do que se tratava. “Esta espécie tem a particularidade de se enrolar de um modo muito específico parecendo uma ‘tira de papel’. O exemplar observado estava bem ativo e aparentava uma boa condição física”.
A descoberta foi descrita e confirmada num artigo publicado agora pela revista científica Marine Pollution Bulletin, depois de ser revista por cientistas independentes. O facto de terem avistado esta enguia tão longe do seu local de origem intrigou os dois investigadores, que atribuem este aparecimento a duas causas possíveis.
A hipótese mais plausível, para ambos, é que a enguia tenha sido acidentalmente transportada na água de balastro de uma embarcação que se dirigia ao porto de Sines, próximo de Porto Covo. A água de balastro é água do mar utilizada pelos navios para os estabilizar, inserida dentro das embarcações numa zona, durante o seu percurso, e mais tarde libertada noutras áreas e oceanos.
Outra possibilidade é que o animal observado tenha sido proveniente de um aquário e libertado no mar, uma vez que a enguia-fantasma “se vende na Europa como espécie ornamental para aquários de água salgada”, explica Sónia Seixas.
Por saber está se esta enguia é um único indivíduo, isolado, ou se já há mais do que um peixe desta espécie ao largo da costa alentejana. Caso se confirme a existência de mais do que uma enguia desta espécie, “os investigadores do MARE ponderam a necessidade de lançar uma campanha de monitorização”, adianta este centro de investigação.
A equipa está também “a estudar medidas para prevenir o aparecimento de outros exemplares”, pois esta enguia, “caso tenha potencial para se tornar uma espécie invasora, e dado o seu perfil predador, terá certamente impacto no ecossistema da região.”
“Sendo proveniente do indo-pacífico, esta espécie traz-nos grandes apreensões pois sabemos como algumas espécies que foram introduzidas são nefastas para o ambiente”, afirma também a investigadora do MARE, citada na nota de imprensa. “No entanto, e sendo a espécie activa de noite, não nos parece que seja um problema para os banhistas nas praias.”
Saiba mais.
O vídeo com a enguia pode ser visto aqui.
O conteúdo Enguia exótica com mais de um metro filmada no mar de Porto Covo também está disponível em Wilder.