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Estes são 7 censos de Primavera que estão à nossa espera

Por Inês Sequeira

Desde as andorinhas e borboletas aos gelatinosos e às mantas e milhafres, aqui estão algumas interessantes ações de ciência cidadã a que nos podemos juntar, ajudando os cientistas ao mesmo tempo que aprendemos mais sobre o mundo fascinante que nos rodeia.

1. Andorin

Ninho de andorinha-dos-beirais. Foto: HTO/Wiki Commons

O projeto da associação Vita Nativa dedica-se à monitorização e conservação de andorinhas e andorinhões, muitos dos quais são espécies migradoras, que por estes meses chegam a Portugal para uma nova época de reprodução. Conhece alguma colónia de andorinhas? Costuma ver andorinhões a sobrevoar os telhados ao pé de casa? Então, esteja atento ao regresso destas aves e quando se aperceber de que iniciaram a nidificação, registe esse dado no portal do Andorin.

2. Censo de Aves Comuns

Cuco-canoro. Foto: Ron Knight/WikiCommons

O Censo de Aves Comuns (CAC), organizado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) tanto no continente como nos Açores e Madeira, tem início em Abril e prolonga-se até Junho. Destina-se a quem já tenha conhecimento sobre diferentes espécies e consiga distingui-las pelo canto, o que pode ser difícil, e também por observação visual. Os dados do CAC são sempre partilhados no Esquema Pan-Europeu de Monitorização de Aves Comuns (PECBMS, na sigla inglesa) e servem para se calcularem todos os anos as tendências populacionais de diversas espécies a nível europeu. Sente-se preparado para participar? Saiba mais aqui.

3. Censos de Borboletas de Portugal

Borboleta-loba. Foto: Rui Félix

Iniciados em Portugal em 2019, os Censos de Borboletas são coordenados pela associação Tagis e podem receber contribuições de duas maneiras diferentes, sempre com o apoio da app Butterfly Count. A primeira é através da realização de transetos, que são pequenos percursos fixos que devem ser feitos periodicamente, com o objetivo de identificar as borboletas que se veem ao longo do caminho. Outra é mais “livre” e necessita apenas de 15 minutos, durante os quais o voluntário pode dar um passeio registando as diferentes borboletas que encontrar. Estas contagens realizam-se em vários países europeus e os dados obtidos são utilizados no eBMS – European Butterfly Monitoring Scheme. Saiba mais no site da Tagis e também no canal de Youtube, onde está disponível um curso para aprender a identificar as borboletas mais comuns. E recorde também estas dez dicas.

4. Rede de Estações de Borboletas Noturnas

Borboleta noturna da espécie Spilosoma lubricipeda. Foto: João Nunes

Hoje com mais de 70 estações a funcionar em Portugal, esta rede de pontos de amostragem tem como objetivo contribuir para que se saiba mais sobre as cerca de 2.600 espécies de borboletas noturnas que se conhecem hoje no país, que começam a ficar mais ativas à medida que as noites se tornam mais quentes. A REBN teve início em Janeiro de 2021, por iniciativa de Helder Cardoso, ornitólogo que há vários anos se dedicava também às borboletas noturnas, e está aberta a todos os interessados – mesmo aqueles que não tem experiência na identificação dessas espécies, bem mais diversas e coloridas do que se costuma pensar. Pode saber mais nesta entrevista, publicada no final de 2022, e também nos dados mais recentes divulgados pelo projeto.

5. FITCount – Interações entre plantas e polinizadores

Mosca-das-flores (Eupeodes sp.) numa pereira. Foto: CFE

Lançada em português em 2024, a app FITCount vai permitir que qualquer um de nós ajude os investigadores a terem mais conhecimento sobre a situação dos insetos polinizadores em Portugal e sobre as plantas preferidas por diferentes espécies. “Os participantes podem selecionar uma planta em flor, delimitar uma área de 50×50 cm que inclua a respetiva flor-alvo e contar todos os polinizadores que interagem com flores dessa planta durante 10 minutos”, explicou recentemente Sílvia Castro, coordenadora do projeto PolinizAÇÃO – Plano de Ação para a Conservação e Sustentabilidade dos Polinizadores, juntamente com João Loureiro, ligados à Universidade de Coimbra. As contagens podem ser feitas ao longo de todo o ano, em qualquer momento do dia, desde que as condições meteorológicas estejam quentes e secas. E os meses de Primavera são um período ideal para começar.

6. GelAvista

Medusa-do-Tejo. Foto: Duarte Frade/WikiCommons

Lançado pelo IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera em 2016, o GelAvista tem ajudado ao aumento da informação sobre as espécies de gelatinosos na costa portuguesa, tanto as diferentes espécies como as datas em que são mais observadas. Se morar perto de uma praia, ou mesmo que esteja um pouco mais distante, aproveite para ir passear à beira-mar e colabore com este projeto de ciência cidadã, que já tem também associada a app GelAvista, que facilita os registos. Saiba como colaborar aqui.

7. Mantas na Madeira e milhafres nos Açores

Milhafre. Foto: Olivier Coucelos

Este censo coordenado pela SPEA realiza-se tanto nos Açores como na Madeira, no fim-de-semana de 6 e 7 de Abril. As contagens debruçam-se sobre subespécies locais da águia d’asa redonda (Buteo buteo), ave de rapina que é comum em Portugal Continental. No arquipélago açoriano, a ave em causa (Buteo buteo rothschildi) é chamada de milhafre ou queimado e é endémica da região, único sítio do mundo onde habita. O mesmo se passa no arquipélago madeirense com a manta (Buteo buteo harterti), espécie semelhante, que é ali o alvo deste censo. Os milhafres açorianos e as mantas são semelhantes: a plumagem nas partes superiores é acastanhada; na parte inferior, castanho-claro com manchas e listas; a parte interior das asas é esbranquiçada e o bico é forte, preto e amarelo. Para saber mais, pode assistir a um webinar gratuito marcado para 27 de Março ao final da tarde, aqui.

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Peixe da semana: pim-pim

Por Helena Geraldes

Todas as sextas-feiras chega à Wilder um novo peixe marinho, criado pelo biólogo e ilustrador naturalista Pedro Salgado, dando forma a um catálogo ilustrado de espécies fascinantes.

Nome comum: pim-pim

Nome científico: Capros aper 

Técnica usada: aguarela 

Mais sobre esta espécie: O pim-pim, também conhecido como peixe-pau, pertence à família Caproidae. Normalmente mede até 13 centímetros (os machos são mais pequenos do que as fêmeas) e tem olhos grandes numa face aguçada e boca extensível e protráctil.

As fêmeas tem o corpo de cor avermelhada ou rosada e os machos têm uma coloração mais escura e bandas transversais amareladas nos flancos.

Esta espécie, classificada como Pouco Preocupante pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), vive um pouco por toda a costa oriental do oceano Atlântico, entre os 40 e os 700 metros de profundidade.

O pim-pim ocorre em águas profundas e com fundos rochosos, formando densos cardumes.

Os juvenis, por vezes, aventuram-se mais perto da costa para se alimentarem. Durante tempestades no mar podem ser frequentes os casos de arrojamento de juvenis em praias.


Saiba mais aqui sobre a série “Peixe da Semana”.

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Madeira: sete anos de Área Protegida do Cabo Girão

Por Adriana Gonçalves

Conheça a riqueza da biodiversidade na ilha da Madeira e os projetos ligados à sua conservação, numa série publicada em parceria com a Associação Insular de Geografia. 

Localizada no concelho de Câmara de Lobos, na Ilha da Madeira, a Área Protegida do Cabo Girão (APCG) é um dos mais recentes espaços protegidos da região. A 9 de março faz 7 anos da sua criação, justificada pelo registo de espécies marinhas e costeiras nativas, formações vegetais naturais de elevado interesse, zonas de nidificação e repouso da avifauna marinha, um dos mais admiráveis monumentos geológicos do arquipélago, bem como um património histórico, cultural e paisagístico particular.

Foto: Associação Insular de Geografia

Devido aos seus valores ecológicos e culturais, tornou-se pertinente atribuir diferentes classificações para salvaguardar as especificidades e exigências de cada unidade de intervenção, nomeadamente na sua parte marinha, o Parque Natural Marinho do Cabo Girão e na parte terrestre, o Monumento Natural e a Paisagem Protegida do Cabo Girão. Em comum, detêm objetivos de conservação dos recursos e serviços dos ecossistemas que, numa ótica de interesse público, possam fomentar o usufruto da área protegida, compatibilizando-o com os interesses ambientais e gestão sustentável.

O Parque Natural Marinho do Cabo Girão (PNMCG), categoria VI da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), tem como objetivo essencial a adoção de medidas que visem a proteção, valorização e uso sustentado do mar, através da integração harmoniosa das atividades humanas, contribuindo para garantir o bom estado ambiental do espaço marítimo do arquipélago.

Parque Natural Marinho do Cabo Girão. Foto: Associação Insular de Geografia

Um dos grandes destaques do PNMCG são as comunidades maërl, algas calcárias de cor avermelhada que podem dar origem a campos extensos de algas. A importância ecológica dos fundos onde ocorrem estas comunidades deve-s, não só, à grande diversidade de fauna e flora que albergam e ao grande número de nichos ecológicos gerados pela estrutura tridimensional, como também constituem um dos maiores depósitos marinhos de carbono de origem biológica, desempenhando um papel fundamental no ciclo de carbono dos oceanos. Por serem organismos de crescimento lento, com taxas de crescimento que podem variar dos 0,1-0,15 até 1mm/ano, com uma longevidade muitas vezes superiores a 100 anos, e por serem particularmente vulneráveis a determinadas ameaças antropogénicas, integram algumas convenções comunitárias e internacionais.

Com o objetivo de recuperar os recursos piscícolas da área, aumentando a biodiversidade e proporcionando um local de abrigo para a reprodução da vida marinha, em 2018 foi criado o Recife Artificial do Cabo Girão, através do afundamento do antigo navio da Marinha Portuguesa, a Corveta Afonso Cerqueira. Posicionando-se entre os 24 e 32 metros de profundidade, a corveta não só se tornou um berçário para a ictiofauna, como também um hotspot para o mergulho recreativo, um exemplo da aliança entre a conservação da natureza e o desenvolvimento económico.

O Monumento Natural do Cabo Girão, categoria III da IUCN, contém zonas de elevado valor natural que importa preservar e salvaguardar devido à sua raridade, qualidades estéticas e relevância cultural. Em termos geológicos, a paisagem costeira do Cabo Girão é caracterizada por arribas talhadas em empilhamentos de depósitos piroclásticos de quedas e escoadas basálticas, cortadas por uma densa rede de filões. Tais estruturas geológicas são consideradas de grande valor vulcanológico, estratigráfico, científico e cultural. Esta proteção veio reforçar a já estabelecida com a classificação de geossítio CL02-Miradouro do Cabo Girão.

Monumento Natural do Cabo Girão. Foto: Associação Insular de Geografia

Devido às suas características geomorfológicas, as escarpas do Cabo Girão atuam como uma barreira física para as principais atividades humanas, impedindo a exposição das suas comunidades biológicas às principais ameaças e pressões antropogénicas. Consequentemente, estão presentes nestas arribas valores naturais de elevada importância para a conservação, com a particularidade de registo de espécies com distribuição espacial quase restrita ao Cabo Girão. Esta valência fez com que estas arribas fossem classificadas como Sítio de Importância Comunitária do Cabo Girão (PTMAD0011), em 2015.

A área classificada como Paisagem Protegida do Cabo Girão, categoria V da IUCN, foi criada para salvaguardar e valorizar o património cultural, onde a interação das pessoas com a natureza, tem produzido uma área de carácter distinto com grande valor estético. A classificação tem como principal objetivo a preservação da integridade desta interação tradicional, vital para a proteção, manutenção e evolução das Fajãs, terrenos cultiváveis situados à beira-mar, geralmente formadas por material desprendido das arribas.

Paisagem Protegida do Cabo Girão. Foto: Associação Insular de Geografia

De facto, a agricultura é uma das forças motrizes da paisagem madeirense. Desde o início da colonização que cada porção de terra arável foi apropriada, resultando num território moldado em socalcos onde perpetuam as técnicas agrícolas tradicionais até hoje. O isolamento das fajãs, oferecido pela arriba, impediu a mecanização da agricultura, fazendo com que as práticas agrícolas tradicionais persistissem até hoje no Cabo Girão. Esta paisagem em terraços multifuncionais garante a conservação da biodiversidade, bem como a preservação da água e do solo.

Foto: Nuno Caldeira

O Cabo Girão não deixa ninguém indiferente. Para além do seu afamado miradouro, é um espaço onde, contrariando as difíceis acessibilidades, ocorrem algumas atividades socioeconómicas, essencialmente ligadas ao sector primário e turístico, e atividades recreativas. Contudo, o conhecimento sobre a área protegida apresentava lacunas assinaláveis em aspetos essenciais para a sua gestão. O GIRO – Projeto de Valorização da Área Protegidado Cabo Girão foi criado em 2019, pela Associação Insular de Geografia, com o objetivo de preencher estas lacunas informativas e de dados, através de métodos tecnológicos eficientes, focando-se em três eixos: Diagnóstico e Monitorização; Valorização, Sensibilização e Capacitação; e Quadro de Governança e Sustentabilidade.

Numa primeira fase de diagnóstico, foi fundamental reunir uma série de indicadores quantitativos e qualitativos essenciais para o preenchimento das lacunas informativas detetadas. Para o efeito, criou-se o SMAP-CG (Sistema de Monitorização da Área Protegida do Cabo Girão) composto por 72 indicadores, repartidos entre as classificações de Monumento Natural, Paisagem Protegida, Parque Natural Marinho, e ainda pelos domínios de contexto geral da área protegida, comunicação e biofísicos e de qualidade ambiental. Da articulação destes indicadores é possível obter 313 resultados por ano. Considerando a partilha de dados uma mais-valia para estudos mais alargados em todas as áreas científicas, assim como, para a consolidação de estratégias eficazes na gestão e conservação das áreas protegidas, os resultados são facultados de forma livre aos potenciais stakeholders da APCG, em www.areaprotegidadocabogirao.pt.

Porque dar a conhecer é a melhor forma de preservar!

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Que espécie é esta: vespa Ctenochares bicolorus

Por Equipa Wilder

O leitor António Casimiro observou este insecto a 29 de Fevereiro no Algarve e pediu ajuda na identificação. Rui Andrade responde.

“Apareceu-me esta ‘espécie de vespa’ aqui em casa (a 800 metros de Santa Bárbara de Nexe, no Algarve), em 29 de Fevereiro. Gostaria de a identificar e de saber mais sobre ela”, escreveu o leitor à Wilder.

Trata-se da vespa Ctenochares bicolorus.

Espécie identificada e texto por: Rui Andrade, dinamizador do grupo Diptera em Portugal no Facebook.

É uma vespa parasitóide da espécie Ctenochares bicolorus (família Ichneumonidae).

Esta é uma espécie exótica. Originalmente distribuía-se sobretudo pela África subsariana, mas actualmente é conhecida a sua presença nas Ilhas Canárias, zonas costeiras mediterrânicas do norte de África e sul da Europa, noroeste da Europa, Austrália e Nova Zelândia.

As suas larvas atacam os estados imaturos de borboletas nocturnas da família Noctuidae, como a Autographa gamma e a Chrysodeixis chalcites.


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

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Crónicas Naturais: Michael Armelin (1940-2024)

Por Paulo Catry

Operacional esteve o Michael Armelin toda a sua longa vida. Sempre de binóculos e de alicate de anilhagem preparados. Incansável no entusiasmo. Que dizer? Para se escrever um justo obituário seriam necessários outros conhecimentos e dados biográficos. Não tenho nenhuns. Mas tenho saudades.

Fevereiro 2024

Frio e vento. Até chuviscou, mas mais que tudo brilhou o sol. Os campos floridos e as nuvens dispersas fazem a paisagem maior neste dia diferente. Tempo de narcisos, ainda, mas já despontam os gladíolos-do-monte.

Tempo de narcisos. Foto: Paulo Catry

Com a ajuda do telescópio vi de perto britangos, cegonhas-pretas, uma águia-cobreira de papo tão cheio que parecia que ia rebentar (com esta invernia já se veem cobras? que teria ela apanhado?). Kowa, ocular fixa, 30X, foi o Michael que me o trouxe de Londres em 1991. Os anos passam, mas o telescópio ainda está operacional.

Operacional esteve o Michael Armelin toda a sua longa vida. Sempre de binóculos e de alicate de anilhagem preparados. Incansável no entusiasmo. Que dizer? Para se escrever um justo obituário seriam necessários outros conhecimentos e dados biográficos. Não tenho nenhuns. Mas tenho saudades.

Saudades daqueles tempos em que saíamos fim-de-semana sim, fim-de-semana sim. O Michael, o Helder Costa e eu, por vezes juntavam-se outros amigos. Estuário do Tejo, Sado, Cabo Raso, Alentejo…. Finais de 1980, início dos 1990, era raríssimo encontrar birdwatchers ou fotógrafos de aves. Não havia eBird, nem sequer internet ou telemóvel. Cada saída dava a ilusão de se desbravar terreno virgem, ainda que outros pioneiros já o tivessem palmilhado.

Foi o Michael que me ensinou o bê-à-bá da anilhagem, no açude da Murta, nas lezírias do Ribatejo…; e na Lagoa de Santo André, claro está, mas aqui havia outros formadores também, nessa informal e maravilhosa escola portuguesa de captura e marcação de aves selvagens. Ainda o vejo rir-se das cigarrinhas e das toutinegras que se nos escapavam por entre os dedos. Com ele estava sempre tudo bem. 

O Michael, sempre bem-disposto, durante um incidente numa saída ao estuário do Sado nos anos 1990. Foto: Helder Costa

Dando muito do seu tempo livre, o Michael teve um papel importante na SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) onde fez parte de várias Direções Nacionais. Adorava Portugal e procurou (com sucesso) contribuir para o crescimento da ornitologia nacional e para a conservação da avifauna. Também acontecia fazer-se difícil. Intempestivo, nem sempre parecia razoável. Mas já o conhecíamos, era o Michael, e sabíamos que com ele podíamos contar. 

O Michael Armelin faleceu no dia 28 de fevereiro de 2024, fiel a este país que há mais de meio século tinha escolhido como morada. Deixa-nos memórias de dias felizes que havemos sempre de revisitar. Como quando, logo de madrugada, chegava equipado de boina e crachá “ducks unlimited”; sotaque carregado, gargalhada tonitruante, pé pesado no acelerador, lá nos levava com ele para sul, olhos postos na passarada. 

Obrigado, Michael.


Saiba mais.

Leia aqui outros textos já publicados por Paulo Catry, professor e investigador do Mare – Marine and Environmental Sciences Centre, Ispa – Instituto Universitário, na série Crónicas Naturais. E também os artigos publicados em 2017, quando esteve à procura de aves marinhas no meio do Oceano Atlântico.

O conteúdo Crónicas Naturais: Michael Armelin (1940-2024) também está disponível em Wilder.

Os 500.000 insetos do Museu Nacional de História Natural estão em mudanças, mas não é só de sala

Por Inês Sequeira

Cerca de meio milhão de abelhas, joaninhas, borboletas e outros espécimes guardados no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, estão a passar para novos armários e também a ser reorganizados, com a ajuda de voluntários. Roberto Keller, curador da coleção entomológica, explicou à Wilder o que se passa. 

Numa sala da velha entomoteca do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), estão arrumadas centenas de caixas entomológicas em velhos armários de madeira e estantes cinzentas de metal. E também por cima, quando não há mais espaço. Tal como o nome sugere, esta entomoteca assemelha-se a uma biblioteca, mas aqui em vez de livros guardam-se e consultam-se borboletas, escaravelhos e muitos outros espécimes conservados e guardados em caixas de tampa transparente.

Vista parcial de uma das salas da velha entomoteca. Foto: Helena Geraldes

Roberto Keller, curador da coleção de insetos do museu, guia-nos numa visita pelos acervos. Para já, o que vemos lembra-nos as bibliotecas que arrumam os livros por autores: cada caixa entomológica está junto às outras da pequena coleção a que pertence – uma espécie de sub-coleção, na verdade, associada ao nome da pessoa ou instituição que era dono daqueles espécimes antes de serem doados ao MUHNAC.

Têm sido essas doações – entre as quais a coleção Quartau e a coleção Bívar de Sousa, feitas por cientistas, e também algumas de entomologistas amadores – que ajudam a reconstituir o que se perdeu no grande incêndio que destruiu a reserva zoológica do museu, em 1978. Hoje, entre outros, os acervos de insetos incluem mais de 14.000 espécimes colecionados desde a década de 1930 pela Família Mendonça, outros 20.000 que pertenceram a António Bívar de Sousa, e ainda mais de 5000 borboletas e escaravelhos doados por Fernando Carvalho em Dezembro de 2023. Ali, desde 2020, moram também milhares de abelhas silvestres colecionadas por David Baldock.

Borboletas da coleção Pignatelli, uma das coleções nos acervos do Museu Nacional de História Natural. Foto: Helena Geraldes

Feitas as contas, Roberto Keller estima que cerca de meio milhão de insetos estão hoje guardados nas instalações da Rua da Escola Politécnica, incluindo cerca de 300.000 transferidos do antigo IICT-Instituto de Investigação Científica Tropical – a maior coleção de todas – e muitos outros milhares recolhidos por investigadores e funcionários ligados ao museu.

Palavra chave, “taxonomia”

Todos estes escaravelhos, abelhas e outros espécimes, que por falta de espaço têm andado dispersos por várias salas das reservas do MUHNAC, estão agora em mudanças para uma nova entomoteca inaugurada em Dezembro de 2023. “Esta entomoteca permite-nos, pela primeira vez, termos todas as coleções organizadas numa só reserva, incluindo a coleção do IICT”, afirma o curador, entusiasmado com o futuro.

E com efeito, o espaço onde entramos agora parece que cheira a novo. Os insetos que já foram transferidos parecem mais seguros, numa sala onde a temperatura e a humidade são automaticamente reguladas. “As gavetas antigas não fecham hermeticamente, mas estas sim”, aponta o curador, que mostra o interior dos armários brancos da nova entomoteca, protegidos por portas de metal. Até as pequenas caixas que separam os insetos em conjuntos, dentro das caixas entomológicas onde estão guardados, são feitas de “papel livre de ácidos”, explica.

Armários da nova entomoteca do MUHNAC, inaugurada em Dezembro de 2023. Foto: Helena Geraldes

Ainda assim, toda a mudança vai demorar tempo, num trabalho que deverá continuar com os futuros curadores. É que a equipa liderada por Roberto Keller não está apenas a transferir tudo para o novo espaço. Ao mesmo tempo, está a alterar o sistema de organização e a dar-lhe uma lógica completamente nova: em vez de continuarem arrumados em caixas entomológicas com o nome de quem os colecionou, estes milhares de insetos vão ficar arrumados por famílias e géneros.

Como assim? “A palavra chave é ‘taxonomia’, que é a ciência que estuda a delimitação das espécies e as suas relações de parentesco evolutivo, assim como as suas características morfológicas, fisiológicas e genéticas, com o fim de propor um sistema de classificação natural”, indica o curador. “Queremos organizar as coleções consoante este sistema de classificação, que resulta dos estudos taxonómicos.”

Roberto Keller, curador da coleção entomológica do MUHNAC. Foto: Helena Geraldes

Assim, por exemplo, em vez de continuarem numa caixa entomológica da coleção Fernando Carvalho, as borboletas de asas azuis que este naturalista coletou em Portugal vão ficar arrumadas numa nova caixa, junto de outras do mesmo género ou da mesma família, as Lycaenidae. Para que ninguém se esqueça de onde vieram, no catálogo do museu vão manter a referência à coleção doada por este engenheiro civil. Cada inseto vai conservar igualmente a sua pequena etiqueta original, quando a tiver, que costuma indicar qual é a espécie (se estiver identificada), o local e data em que foi coletado e por quem.

Material utilizado na arrumação das caixas entomológicas, no MUHNAC. Foto: Helena Geraldes

Um dos grandes objetivos de toda esta rearrumação é tornar milhares de insetos mais acessíveis ao trabalho científico. “Se um investigador chegar e quiser estudar as borboletas de um determinado grupo, só podemos disponibilizar esses materiais depois de catalogar e organizar os insetos segundo a taxonomia”, explica Roberto Keller, que lembra que as coleções entomológicas são essenciais para a investigação nesta área.

“Numa determinada espécie ou género taxonómico, quando temos acesso a indivíduos de populações de locais diferentes, podemos estudar as diferenças morfológicas e comparar o DNA”, exemplifica, sublinhando que “o que sabemos sobre a maioria dos insetos deve-se ao facto de termos esses exemplares numa coleção.”

Voluntários fazem “trabalho minucioso

Ao mesmo tempo que são rearrumados, todos os espécimes que passam para as novas gavetas estão a ser digitalizados – tanto as fotografias como os dados associados – dando continuidade a um trabalho que já tinha começado em 2014. O objetivo é ficarem inseridos numa nova base de dados do museu, que se espera que fique acessível ao público no início de 2025, adianta o curador. Além das velhas etiquetas, as abelhas e outros insetos que já passaram por este processo têm agora um pequenino papel com um ‘qrcode’, que os liga ao catálogo virtual e remete também para a geo-referenciação do local onde terão sido apanhados. Afinal, são estes dados que mapeiam diferentes espécies no espaço e no tempo e permitem comparações com o que se passa hoje. “Desta forma sabemos que determinada espécie existia ali, numa determinada altura, e agora já não. Ou ao contrário, devido às alterações climáticas.”

Abelhões preparados para serem transferidos para a nova entomoteca, alguns com o novo ‘qrcode’ visível por baixo. Foto: Helena Geraldes

“Muito deste trabalho tão minucioso é feito por voluntários que só podem dar uma parte do seu tempo”, acrescenta Roberto Keller, que admite a falta de mais recursos humanos a tempo inteiro. Ainda assim “não há pressas”, pois trata-se de um projeto “que tem de ser feito ao ritmo que é necessário”, com tempo e atenção quanto baste. “Este é um trabalho para durar décadas.”

Voluntária a trabalhar na digitalização e reorganização da coleção de insetos do MUHNAC. Foto: Roberto Keller

Por estes dias, tarefas não faltam. Os voluntários que trabalham com a coleção entomológica fotografam inseto a inseto, passam para o computador todos os dados e registos associados e reorganizam os espécimes para a nova entomoteca, já por grupos taxonómicos. É preciso também voltar a rever os nomes científicos das espécies, pois a taxonomia muda, e fazer trabalho de investigação histórica, decifrando registos já antigos que contêm localidades difíceis de identificar, pois os termos antigos caíram em desuso.

A atual equipa conta com seis voluntários, incluindo estudantes de biologia e ainda uma bióloga e uma agente de viagens já reformadas. Por enquanto, no total, há 51.000 espécimes já digitalizados e reorganizados.

Duas voluntárias trabalham na digitalização dos insetos. Foto: Roberto Keller

“Como nas faculdades não têm treino com coleções, muitos biólogos vêm para aqui trabalhar”, explica o curador, que nota que em Portugal “há um ‘gap’ geracional de pessoas interessadas em taxonomia”. Embora sinta que essa tendência está a mudar, isso traduz-se na “falta de pessoal para inventariar a diversidade e trabalhar com as coleções” – necessidades que estão a crescer devido à crise da biodiversidade.

É possível visitar a coleção de insetos?

Roberto Keller explica que sim, mas tem de ser por marcação. “Temos por exemplo muitos ilustradores que pedem uma visita à coleção entomológica, para o seu trabalho, mas também é possível para pessoas que a queiram consultar só por gosto.” Além do mais, por vezes também o museu organiza visitas guiadas, normalmente durante a semana.

Voluntária a trabalhar com insetos do MUHNAC, acompanhada por um visitante. Foto: Roberto Keller

Quanto aos voluntários, o MUHNAC tem um programa de voluntariado para trabalhos em todo o museu e também nos dois jardins botânicos sob a tutela da Universidade de Lisboa, para o qual abre periodicamente novas inscrições. As vagas relativas à coleção entomológica estão neste momento preenchidas, mas Roberto Keller acredita que dentro de alguns meses, “lá para Setembro”, surjam oportunidades para quem tiver interesse.

Entretanto, dia após dia, toda esta pequena equipa está a contribuir para as mudanças na coleção, sempre com o objetivo de “preservar, catalogar, disponibilizar para consulta” – uma pequena revolução para cerca de meio milhão de insetos que, acreditam, será importante para o aumento do conhecimento científico e a futura conservação de espécies ameaçadas, em Portugal.


Agora é a sua vez.

Se tiver interesse em conhecer a coleção de insetos do MUHNAC, no dia 13 de Março à tarde haverá uma visita guiada pelo curador Roberto Keller. Basta aparecer e comprar o bilhete de visita ao museu. Saiba mais aqui. Para outros pedidos de consulta, tem outras opções.

O conteúdo Os 500.000 insetos do Museu Nacional de História Natural estão em mudanças, mas não é só de sala também está disponível em Wilder.

Inteligência Artificial: Jardins Reais de Kew prevêem risco de extinção para todas as plantas com flor

Por Helena Geraldes

Pela primeira vez, investigadores dos Jardins Reais de Kew previram o risco de extinção para todas as 328.565 plantas com flor conhecidas, graças à Inteligência Artificial (IA). As previsões estão disponíveis online de forma gratuita.

Num artigo publicado a 5 de Março na revista New Phytologist, os investigadores dizem ter criado um modelo de previsão do risco de extinção de cada planta com flor e esperam assim ajudar a acelerar a conservação onde ela é mais necessária e permitir aos cidadãos protegerem a sua biodiversidade local.

A ameaçada Clianthus puniceus. Foto: Ines Stuart Davidson/RBG Kew

A partir de agora, qualquer pessoa – desde quem está a escolher a sua primeira planta lá para casa ou um investigador especializado em Botânica – pode procurar o nome de uma planta online e ver imediatamente se é provável que esteja ameaçada de extinção na natureza e qual o nível de confiança que os cientistas têm nessa previsão.

Os cientistas usaram um modelo baseado em dados de mais de 53.000 plantas já avaliadas pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) para determinar o estatuto provável das 275.004 espécies restantes ainda não avaliadas.

Uma versão anterior desta investigação, divulgada em Outubro de 2023, revelou que 45% de todas as plantas com flor estão ameaçadas de extinção. Agora passamos a poder aceder aos dados nos quais esta percentagem foi baseada, e a todo o conjunto de previsões para cada espécie individualmente.

Para isso bastará escrever o nome científico da planta no campo de pesquisa do site Kew’s Plants of the World Online. Na página dedicada à espécie que procurou, pode consultar o seu risco de extinção e o grau de confiança dos investigadores para esta previsão no campo “General Information” e depois em “According to Angiosperm Extinction Risk Preditions v1”.

Uma flor de Brugmansia sanguinea, espécie extinta na natureza, nas estufas dos Jardins de Kew. Foto: Ines Stuart Davidson/RBG Kew

Assim, os investigadores pretendem que a conservação das plantas se torne “mais acessível e atractiva” para o público em geral e, desta forma, aumentar a consciencialização e a acção para restaurar a biodiversidade.

“Esperamos que estas previsões possam ser usadas para que as pessoas as apliquem à sua biodiversidade local para descobrir se têm uma espécie ameaçada” na sua casa, jardim ou parque local que precise de protecção, comentou, em comunicado, Steve Bachman, autor do estudo e coordenador de investigação da equipa de Avaliação e Análise da Conservação de Kew.

“A uma escala maior, os cientistas podem usar os nossos dados para estabelecer prioridades e acelerar as avaliações de extinção das plantas que identificámos como provavelmente ameaçadas mas que ainda não foram avaliadas oficialmente pela Lista Vermelha da UICN. Esperamos que se possa assumir o compromisso de avaliar estas espécies ou que possamos incentivar outras pessoas a realizar estas avaliações.”

As plantas têm um papel crucial para garantir ecossistemas saudáveis e resilientes. Além disso, as plantas podem dar-nos soluções naturais para travar as alterações climáticas, por exemplo.

Orquídea de Darwin (Angraecum sesquipedale). Foto: Ines Stuart Davidson/RBG Kew

“De momento faltam-nos avaliações formais para a maioria das espécies de plantas e cada perda silenciosa põe em risco a nossa capacidade de responder a desafios futuros”, acrescentou Bachman. 

Segundo Eimear Nic Lughadha, investigador sénior da equipa de Avaliação e Análise da Conservação dos Jardins de Kew e autor do estudo, “quando uma planta é avaliada, em especial como Em Perigo ou Criticamente Em Perigo, isso altera o seu destino, uma vez que passando a ser conhecido o seu risco de extinção já se pode dar prioridade à sua conservação”. “Na ausência de avaliações da Lista Vermelha da UICN para todas as espécies de plantas, as nossas previsões darão uma indicação realmente útil sobre que espécies consideramos terem maiores probabilidades de estar ameaçadas e, pela primeira vez, o nosso nível de confiança na previsão para cada espécie.”

Os investigadores vão manter esta base de dados actualizada com novas versões, uma vez que o estatuto das espécies é algo que pode melhorar ou piorar.


Saiba mais aqui sobre as espécies de plantas vasculares ameaçadas em Portugal.

O conteúdo Inteligência Artificial: Jardins Reais de Kew prevêem risco de extinção para todas as plantas com flor também está disponível em Wilder.

Em Perigo: População de visão-europeu de Espanha estimada em 142 animais

Por Helena Geraldes

A população de visão-europeu (Mustela lutreola) em Espanha está estimada em 142 indivíduos, revela estudo nacional espanhol dirigido a esta espécie Criticamente Em Perigo.

O estudo, feito com base em métodos genéticos não invasivos a partir de mais de 4000 armadilhas de pêlo – tubos de PVC com tiras adesivas no seu interior e um isco – e modelos de captura-recaptura, teve a coordenação do Ministério espanhol do Ambiente e a colaboração de investigadores portugueses do CIBIO.

O laboratório que colaborou com este estudo extraiu ADN dos pêlos e procedeu à identificação genética das espécies às quais pertenciam e a sua identificação visual para saber de quantos indivíduos diferentes se tratavam.

Os resultados mostraram que cerca de metade das amostras de pêlo correspondiam a visão-europeu, procedentes de tubos instalados em Álava, Aragão, Burgos, La Rioja e Navarra. As outras amostras eram de outras espécies, como Martas, visões-americanos, gatos, ginetas ou raposas.

A análise genética de identificação individual permitiu reconhecer a existência de um mínimo de 87 exemplares de visão-europeu nas amostras (50 fêmeas e 37 machos). A partir desta informação fez-se uma cartografia de onde estão os visões e a estimativa total da sua população, com uma média de 142 exemplares.

Segundo o Ministério do Ambiente espanhol, “Espanha tem uma grande responsabilidade” na conservação desta espécie a nível global, uma vez que sobrevivem três subpopulações no mundo, uma delas na Europa Ocidental, concretamente em Espanha e no Sul de França.

As outras duas subpopulações estão no Noroeste da Europa, em concreto na Rússia e numa ilha da Estónia, e no Sudeste do continente europeu, nos deltas do Danúbio e do Dniéster, na Roménia e Ucrânia. Para todas elas estimou-se uma redução da área de distribuição superior a 95% desde meados do século XIX.

Em Espanha, o visão-europeu conta desde 2005 com uma Estratégia nacional de conservação e em 2008 foi aprovado um Programa de conservação para a espécie. 

Hoje, esse programa está a proporcionar entre 20 a 30 crias por ano que são reintroduzidas na natureza para reforçar as populações selvagens distribuídas pela parte alta da bacia hidrográfica do rio Ebro. Incluí territórios de Álava, Guipúzcoa, Vizcaya, Navarra, La Rioja, Norte de Castela e Leão (províncias de Burgos e Soria) e, em Aragão, pequenos núcleos em Zamora.

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Desvendados códigos de barras de ADN das abelhas ibéricas

Por Helena Geraldes

Identificar e monitorizar correctamente as centenas de espécies de abelhas que vivem em Portugal é agora mais fácil com a publicação dos códigos de barras de ADN de 514 espécies diferentes, anunciada hoje por uma equipa internacional de investigadores.

As abelhas estão entre os insetos mais familiares e o seu papel como polinizadores é de todos conhecido. Ao visitarem flores para recolher pólen e néctar, as abelhas possibilitam a reprodução de centenas de milhares de espécies de plantas com flores, incluindo muitas espécies agrícolas importantes para a dieta humana.

Abelha Anthophora podagra com ampla distribuição na Europa. Foto: Thomas Wood

Mas isso não lhes garante imunidade à crise da biodiversidade em curso.

As últimas décadas têm sido marcadas por vagas de extinção de espécies e tendências populacionais negativas em abelhas. Milhões de hectares de habitats naturais são destruídos todos os anos, uma grande parte da terra adequada no planeta já foi convertida para agricultura e as alterações climáticas estão a causar desequilíbrios sem precedentes na vida selvagem. 

Por isso, é cada vez mais urgente conhecer que espécies existem e ter ferramentas para monitorizar as suas populações.

Pela sua elevada diversidade, as espécies de abelhas são difíceis de identificar na Península Ibérica e existem (ainda) poucos recursos de identificação publicados. “A dificuldade na sua identificação tem impedido a compreensão das suas comunidades e dos desafios que enfrentam” comentou, em comunicado, Thomas Wood, investigador do Centro de Biodiversidade Naturalis e que estuda as abelhas ibéricas desde 2014.

É aqui que entram os códigos de barras de ADN, sequências curtas de material genético (os nucleótidos do ADN) que permitem distinguir as espécies, tal como os códigos de barras permitem distinguir os produtos nos supermercados.

Acaba de ser publicado num artigo na revista Biodiversity Data Journal um conjunto de dados para 514 espécies de abelhas. Estas informações passam a estar acessíveis publicamente a partir de uma plataforma digital, Barcode of Life Data System (BOLD).

As espécies incluídas representam cerca de 47% da diversidade de espécies de abelhas ibéricas e 21% da diversidade de espécies endémicas.

Se considerarmos as abelhas de Portugal, passam-se agora a conhecer os códigos de barras de ADN de 91% das espécies. Os restantes 9% “são espécies muito raras, ou que a sua taxonomia não está bem definida ou que foram citadas há muitos anos e hoje não se sabe onde ocorrem”, explicou à Wilder Sónia Ferreira, investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto.

Os mais de mil espécimes que serviram de base a este trabalho foram coletados entre 2014 e 2022 (quase 90% dos espécimes foram colhidos entre 2019 e 2022) durante expedições ao campo em 140 locais de Portugal (590 espécimes recolhidos) e 120 em Espanha (469 espécimes).

Hoje esses espécimes estão depositados em quatro coleções, uma nos Países Baixos, no Centro de Biodiversidade Naturalis, e em três coleções em Portugal: a coleção do FLOWer Lab da Universidade de Coimbra, a coleção do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) e a coleção de referência InBIO Barcoding Initiative (IBI) da Associação BIOPOLIS (Vairão, Portugal).

Todos os espécimes foram identificados morfologicamente com microscópios especiais.

Os códigos de barras de ADN foram sequenciados para todos os espécimes. Para isso, foi removida uma pata (às vezes duas, dependendo do tamanho do espécime) a cada indivíduo. Depois, a extracção e sequenciação do ADN foram feitas através de processos bioquímico e de máquinas especializadas.

Abelha Pseudoanthidium eximium com ampla distribuição na Europa. Foto: Thomas Wood

“Estamos mesmo muito felizes”, disse a investigadora.

Mas “este trabalho não está fechado, não acaba aqui”, salientou Sónia Ferreira, explicando que a equipa ainda tenciona ir à procura daqueles 9% de espécies que ficaram de fora desta “biblioteca da vida”.

Portugal estará hoje já muito perto de ter a lista completa das suas espécies de abelhas. “Estamos perto de conhecer bastante bem as espécies que temos mas ainda se vão descrever espécies novas, há espaço para mais umas quantas”, comentou.

As maiores lacunas estão no nosso conhecimento sobre a distribuição e ecologia das espécies.

São vários os projectos a decorrer para melhorar a situação.

Com o lançamento da iniciativa da Comissão Europeia para proteger os polinizadores europeus, tiveram início vários projetos. Os trabalhos desenvolvidos decorrem no contexto do projeto “Genómica da Biodiversidade da Europa” (Biodiversity Genomics Europe, BGE, em inglês), o maior projeto europeu ligado à genómica para estudar a biodiversidade e que está interligado a outros projetos nacionais como o CULTIVAR, e a projetos europeus em curso sobre taxonomia (Orbit, Arcade), lista vermelha (Pulse) e tendências populacionais (Safeguard). Trata-se de criar uma rede europeia de trabalhos genómicos, mais abrangentes do que os códigos genéticos, para construir uma “mega biblioteca da vida”, como lhe chama Sónia Ferreira. Entre as prioridades do BGE estão os polinizadores e os organismos de água doce, dois grupos em que a monitorização é muito urgente.

Outros projetos estão em curso para colmatar as falhas no conhecimento da distribuição das abelhas. Por exemplo, o trabalho iniciado em 2023, e liderado pelo investigador Hugo Gaspar do FLOWer Lab da Universidade de Coimbra, foca no conhecimento sobre a distribuição e a identificação das abelhas portuguesas. O projeto ARCADE incluirá a análise de milhares de espécimes em coleções nacionais históricas e contemporâneas, e a amostragem em habitats favoráveis um pouco por todo o país.


Saiba mais.

Conheça aqui as abelhas que poderá ver em Março, com a ajuda do entomólogo Albano Soares.

Sabe o que é uma abelha?

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Universidade de Coimbra lança versão em português de app que monitoriza interações planta-polinizador

Por Helena Geraldes

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) lançou a versão em português da aplicação FITCount (do acrónimo inglês Flower-Insect Timed Count), uma ferramenta que possibilita aos cidadãos monitorizar de forma simples as interações planta-polinizador.

Desenvolvida no âmbito do Plano de Monitorização de Polinizadores do Reino Unido (UK PoMS), a aplicação FITCount é agora disponibilizada em língua portuguesa como parte do projeto PolinizAÇÃO – Plano de Ação para a Conservação e Sustentabilidade dos Polinizadores, coordenado por Sílvia Castro e João Loureiro, ambos docentes e investigadores no Centro de Ecologia Funcional (CFE) do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da FCTUC.

“Os dados relativos aos polinizadores selvagens em Portugal são escassos e é crucial obter um maior volume de dados para monitorizar a abundância e diversidade destes insetos por todo o país, assim como os serviços de polinização que estes organismos prestam às plantas”, justifica hoje a Universidade de Coimbra em comunicado. “A aplicação FITCount surge como uma ferramenta para ajudar a preencher esta lacuna de conhecimento, envolvendo os cidadãos no processo.” 

Esta aplicação permite que qualquer cidadão interessado contribua para a recolha de dados sobre o número e diversidade de insetos polinizadores que visitam as flores. 

“Os participantes podem selecionar uma planta em flor, delimitar uma área de 50×50 cm que inclua a respetiva flor-alvo e contar todos os polinizadores que interagem com flores dessa planta durante 10 minutos”, disse Sílvia Castro, acrescentando que as contagens podem ser feitas ao longo de todo o ano, em qualquer momento do dia, desde que as condições meteorológicas estejam quentes e secas.

“Não é necessário que os participantes identifiquem os insetos até ao nível da espécie, basta apenas categorizá-los em grupos amplos, como abelhas, moscas-das-flores, borboletas, vespas, escaravelhos, entre outros grupos de insetos, utilizando o guia de identificação totalmente adaptado para Portugal pela nossa equipa, disponível na aplicação”, explicou João Loureiro. 

Além disso, acrescentou, “são solicitadas informações adicionais, como o tipo de habitat, o número e tipo de flor-alvo, as condições meteorológicas e a quantidade de flores no quadrado escolhido. Estas informações são cruciais para auxiliar os cientistas a interpretar os dados recolhidos pelos participantes”.

A ciência cidadã é um conceito que, pouco a pouco, está a ser adoptado em Portugal. “Ter dados recolhidos por Portugal inteiro, durante todo o ano, é algo extremamente valioso e que nós, cientistas, sozinhos, não teríamos a capacidade de recolher em tempo útil. A ajuda dos cidadãos é crucial”, concluem os investigadores.

A aplicação FITCount está disponível para descarregamento gratuito na Google Play Store para dispositivos Android e na App Store para dispositivos iOS (iPhone/iPad). Aqui pode ter mais informações sobre como participar e utilizar a aplicação.

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O que está a acontecer: Os abutres-pretos fazem a corte e põem os seus ovos

Por Inês Sequeira

Em pleno Inverno, o maior abutre da Europa está na época de nidificação. Samuel Infante, que convive com a espécie no Parque Natural do Tejo Internacional, descreveu à Wilder o que se passa.

Portugal abriga actualmente entre 78 a 81 casais de abutre-preto em cinco áreas diferentes do país, desde o Parque Natural do Douro Internacional, mais a norte, até ao concelho de Moura, no Alentejo, a área mais a sul.

É nesta época do ano, ainda no Inverno, que estas aves majestosas já podem ser vistas em paradas nupciais, uma espécie de ritual que marca o início dos acasalamentos. “Normalmente fazem voos sincronizados, parece uma dança no ar! Também temos observado comportamentos de cortejamento dos indivíduos nos campos de alimentação, em que se tocam com o bico”, descreve Samuel Infante, que trabalha na Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza.

abutre em voo
Abutre-preto em voo. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

Estas grandes aves ficam no próprio ninho, normalmente o mesmo de ano para ano – construído no topo de uma árvore – ou então mantêm-se ali pelas redondezas, até porque “são sedentárias, não migram”, explica Samuel, que é também coordenador do CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco.

Casais sim, mas também trocas e trios

A identidade dos membros do casal também costuma ser a mesma: é habitual juntarem-se os machos e fêmeas de anos anteriores, como acontece aliás com outras grandes aves.

Ainda assim, ao contrário do que se pensava, isso nem sempre é um dado adquirido. Algo que os investigadores descobriram só em anos mais recentes, graças à marcação e ao seguimento de diferentes abutres-pretos e também à genética: “Comprovou-se que podem existir trocas de indivíduos na mesma colónia e até chegam a formar trios”, nota o mesmo responsável.

Abutre-preto no ninho. Foto: Samuel Infante

É por estes dias, no início de Fevereiro, que têm também início as posturas, com as fêmeas a porem os seus ovos – “normalmente apenas um por cada ninho, são raros os registos de dois ovos”. Ele e ela dividem entre si os cuidados da incubação.

Quanto ao ovo, será muito maior e mais pesado do que um ovo de galinha, elucida o coordenador do CERAS. No caso do abutre-preto, o ovo “pode chegar a pesar 300 gramas” e tem também um aspecto diferente, com “a cor de fundo branca e manchas de várias tonalidades.”

Ovo de abutre-preto. Foto: Didier Descouens/Wiki Commons

Ninhos que impõem respeito

Entretanto, nos próximos meses, é no ninho que os casais vão passar a maior parte dos seus dias, normalmente “no topo de uma árvore madura de grande porte.” As árvores escolhidas serão quase decerto azinheiras se estes abutres-pretos nidificarem no Tejo Internacional, mas provavelmente pinheiros se estiverem na Serra da Malcata (na confluência entre a Beira Baixa e a Beira Alta) ou na Herdade da Contenda (concelho de Moura), uma vez que aí são essas as árvores maiores. No Douro Internacional, costumam ficar em cima de zimbros, azinheiras e sobreiros, no topo das ravinas que ladeiam o rio.

Os próprios ninhos têm dimensões que impõem respeito, pois “variam entre 1,5 a dois metros de diâmetro e os mais antigos chegam a ter mais de um metro de altura, pois os materiais vão-se acumulando”. Nesses entrelaçados de pequenos paus sem folhas, como os descreve Samuel, as aves normalmente “usam esteva (Cistus ladanifer) e forram o interior com lã de ovelha e por vezes com egagrópilas, com os restos de pêlos de javali ou veado.”

Ninho de abutre-preto no Tejo Internacional. Foto: Samuel Infante

O problema é que se amontoam tantos materiais, ano após ano, que alguns ninhos acabam por soçobrar devido ao peso ou mesmo por estarem mal construídos. E por isso, têm vindo também a ser instalados alguns ninhos artificiais.

É em Abril que acontecem as últimas posturas da espécie e que nascem também as primeiras crias, com vários meses de aprendizagens ainda pela frente. Para já, tanto antes como depois de saírem dos ovos, as pequenas aves vão enfrentar várias ameaças: “Perturbação por actividades humanas, predação natural, quedas dos ninhos pelo peso destes, que por vezes faz colapsar as árvores, venenos, intoxicações por chumbo”, exemplifica Samuel Infante, que acolhe casos desses no CERAS.

Abutre-preto num ninho, a proteger a cria do sol. Foto: Quercus ANCN

E se as coisas não correrem bem? Nesse caso, se ainda houver tempo, o casal fará uma postura de reposição, assegurando assim um novo descendente. Esta é uma questão importante, uma vez que o abutre-preto é uma espécie ameaçada em Portugal, onde tem vindo lentamente a recuperar. No Tejo Internacional e noutros locais do país, dentro de poucos meses, já será possível observar os primeiros voos das crias.


Saiba mais.

Leia aqui a incrível história de Aravil, salvo da morte quando era uma jovem cria e reencontrado mais de 13 anos depois, no concelho de Idanha-a-Nova.

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Que espécie é esta: lagartixa-de-Bocage

Por Equipa Wilder

O leitor Francisco Gaspar gostava de saber que espécie é esta, encontrada a 15 de Março de 2023 em Penafiel. Guilherme Caeiro-Dias responde.

Trata-se de uma lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei).

Espécie identificada e texto por: Guilherme Caeiro-Dias, primeiro autor do estudo que elevou ao estatuto de espécie a lagartixa-lusitânica (Podarcis lusitanicus), antigo aluno de doutoramento no CIBIO-InBIO, agora a trabalhar na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos.

Nesta foto vemos uma lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei) macho.

Sem os manusear, os machos adultos são fácilmente distinguidos das fêmeas pela coloração verde dorsal e cabeça mais larga, enquanto as fêmeas são acastanhadas e a cabeça mais estreita.

Esta é uma espécie que mede entre 16 e 20 centímetros, segundo o livro Anfíbios e Répteis de Portugal. É uma espécie endémica do Noroeste da Península Ibérica. Está activa de dia e pode ser observada da Primavera ao Outono. 


Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie-nos para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

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Aves do mês: O que ver em Fevereiro

Por Gonçalo Elias

Cinco aves a não perder este mês, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Fevereiro ainda faz parte da estação que designamos por Inverno. Contudo já se nota um aumento no comprimento dos dias e isto tem reflexos no comportamento das aves. São especialmente notórios dois aspectos: por um lado, muitas aves residentes começam a cantar e a fazer as suas paradas nupciais, já com vista à época dos ninhos que se aproxima; por outro lado, diversas aves invernantes dão início à sua migração para norte e, por isso, em certas zonas começam a notar-se variações no número de aves presentes. Aqui ficam cinco sugestões de espécies para procurar este mês.

Garça-branca-pequena (Egretta garzetta):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Ao longo do Inverno, estas garças podem ver-se com facilidade em todo o tipo de zonas húmidas, seja a descansar, seja a alimentarem-se junto à margem.

Esta é uma garça de dimensão intermédia, com a plumagem totalmente branca e o pescoço bastante longo. O bico é preto e as pernas também, mas os pés são amarelos. Os adultos ostentam habitualmente um longo penacho branco na nuca.

Pode ver-se numa grande diversidade de habitats aquáticos, incluindo estuários, pauis, lagoas costeiras, arrozais, valas, salinas, terrenos alagados, barragens, açudes, aquaculturas, rios e ribeiras. Também pode surgir em lagos urbanos ou em praias rochosas. Geralmente aparece sozinha, embora por vezes se observem pequenos bandos em alimentação.

Foto: José Frade

A nidificação é feita colonialmente, muitas vezes em conjunto com outras espécies de garças, em especial com a boieira. As colónias situam-se geralmente em árvores, perto de água, mas também podem estar localizadas em rochedos junto ao mar. Fora de época dos ninhos, estas garças reúnem-se em dormitórios, os quais se podem formar em locais diferentes dos das colónias e que também são frequentemente instalados em árvores ou arbustos, sobretudo em zonas alagadas.

Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Sado, ria de Alvor.

Maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Embora estes maçaricos invernem em grande número no nosso país, a sua migração para norte começa muito cedo e por isso, em Fevereiro, assiste-se já ao aparecimento de grandes bandos, vindos de África, que param em Portugal para se alimentarem, antes de seguirem para norte.

Trata-se de uma limícola de grandes dimensões, que se caracteriza pelo seu longo bico quase rectilíneo. Pode ser confundido com o fuselo, mas distingue-se deste pelo dorso mais liso, pela barra terminal preta na cauda e, em voo, pela barra alar branca. Na época de reprodução adquire tons ruivos.

O maçarico-de-bico-direito pode ser visto em estuários, alimentando-se nos lodos durante a maré baixa e usando o seu longo bico como uma sonda, para procurar os pequenos invertebrados de que se alimenta. Quando a maré sobe, muitas destas aves podem refugiar-se em salinas. Por outro lado, a espécie também aprecia terrenos encharcados, como sejam os arrozais que existem nas bacias do Tejo e do Sado.

A marcação de aves com anilhas coloridas tem permitido perceber que, em Portugal, ocorrem aves vindas de duas zonas distintas: por um lado, as de origem islandesa, que passam o Inverno no país, em especial nos estuários; e, por outro, as de origem continental, que invernam principalmente em África e aparecem entre nós durante as passagens migratórias – estas aves preferem os arrozais e outros biótopos de água doce.

Onde ver: estuário do Tejo, estuário do Sado, sapal de Castro Marim.

Tartaranhão-dos-pauis (Circus aeruginosus):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Sendo uma espécie residente, este tartaranhão pode ser visto ao longo de todo o ano. Contudo, com o aproximar da época dos ninhos, é altura de se começarem a formar os casais e neste mês já podem ser observadas paradas nupciais.

Do tamanho de um bútio-comum, este é o maior e o mais possante dos tartaranhões portugueses. O macho tem o corpo castanho e as asas acinzentadas com a ponta escura, enquanto a fêmea apresenta um padrão mais uniformemente castanho-escuro, com o barrete e os ombros de tom creme.

Esta rapina é característica das zonas húmidas situadas ao longo do litoral, aparecendo regularmente em locais com vegetação palustre bem desenvolvida, como sejam estuários, lagoas costeiras e pauis. Para se alimentar, frequenta caniçais, sapais, arrozais e outros terrenos agrícolas e pastagens. Costuma fazer um voo baixo, com as asas num ‘V’ muito aberto.

A alimentação deste tartaranhão é composta por pequenos animais terrestres e aquáticos, incluindo pequenos mamíferos (especialmente roedores) e aves; contudo, a espécie também pode consumir restos de animais mortos, insectos, anfíbios, répteis e peixes.

Onde ver: pauis do Baixo Mondego, lezíria grande de Vila Franca de Xira, lagoa de Albufeira.

Pombo-das-rochas (Columba livia):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: Este pombo está presente ao longo de todo o ano e o seu comportamento não varia muito de uns meses para outros. Assim, em Fevereiro, tal como no resto do ano, podemos vê-lo a descansar nos telhados ou então caminhando nas praças e nos jardins das nossas cidades, enquanto procura alimento.

Este pombo ocorre numa grande variedade de plumagens. O fenótipo selvagem mais típico tem a plumagem cinzenta, com o uropígio branco e duas riscas pretas bem visíveis na asa. No caso das aves domésticas, existem muitas outras variedades, incluindo, brancos, escuros e malhados.

A existência de indivíduos domésticos e selvagens torna a situação desta espécie algo confusa. As aves realmente selvagens são hoje escassas, podendo ser encontradas em arribas, tanto na faixa costeira como em certos locais do interior, enquanto as domésticas se encontram geralmente nas vilas e nas cidades e, embora muitas vezes não tenham dono, vivem em geral próximo das zonas habitadas. 

Como curiosidade adicional, refira-se que este pombo está presente nas ilhas (Açores e Madeira). As populações selvagens destas regiões já foram descritas no passado como Columba livia atlantis, mas hoje em dia essa subespécie não é reconhecida.

Onde ver: qualquer vila ou cidade do país; a forma selvagem pode ver-se nas zonas escarpadas da costa vicentina e do nordeste transmontano.

Chamariz (Serinus serinus):

Foto: José Frade

O que está a fazer em Fevereiro: O aumento do comprimento dos dias estimula o canto e, ao longo deste mês, muitas aves residentes começam a cantar com frequência. É o que acontece com o chamariz, que já faz ouvir o seu canto, muitas vezes emitido em voo nupcial.

O pequeno chamariz caracteriza-se pela plumagem dominada por tons amarelos na cabeça e no peito, sendo as cores mais intensas no macho que na fêmea. O dorso e os flancos são riscados e o uropígio é amarelo. O bico é grosso e muito curto. O seu canto é uma espécie de ‘algaraviada’ e pode ser ouvido ao longo de uma grande parte do ano, o que torna a sua identificação mais fácil.

Esta ave pode ver-se em todo o tipo de biótopos, desde que tenham algumas árvores, incluindo bosques e bosquetes de qualquer tipo, pomares, matas ribeirinhas e áreas agrícolas com sebes arbóreas ou árvores dispersas. É comum em zonas urbanas, habitando parques, jardins e quintais. No Inverno junta-se em bandos e pode então aparecer também em locais com poucas árvores.

O chamariz é um parente próximo do canário, que ocorre em estado selvagem nos Açores e na Madeira.

Onde ver: parques e jardins, de norte a sul do país.

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Inaugurado o primeiro Centro Interpretativo do Lobo Ibérico em Portugal

Por Helena Geraldes

O primeiro Centro Interpretativo do Lobo-ibérico em Portugal foi inaugurado a 18 de Janeiro na aldeia de Pitões das Júnias, concelho de Montalegre, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês.

O Centro Interpretativo do Lobo Ibérico (CILI) está focado nas populações selvagens deste predador e na história das suas relações com o Homem.

“É um espaço inteiramente dedicado ao lobo, onde a própria arquitetura do seu interior projeta o visitante nas várias tipologias de fojos de lobo existentes na região do Barroso”, explica o município de Montalegre em comunicado.

No CILI apresenta-se “uma imagem completa do lobo-ibérico (Canis lupus signatus) nas suas múltiplas perspectivas e contextos, como espécie selvagem, como parte integrante de uma paisagem e como parte de uma relação com o Homem, no passado e no presente”, comentou Lúcia Jorge, presidente da Junta de Freguesia de Pitões das Júnias.

“Estamos perante um equipamento de excelência e único no território, que pode alavancar o turismo e a investigação. É fundamental contrariar a figura do lobo mau que nos incutiram desde pequenos. Não se trata de uma figura diabólica, mas de uma espécie selvagem que já existia neste território antes da ocupação humana”, comentou, por seu lado, Fátima Fernandes, presidente da Câmara Municipal de Montalegre.

“É importante que haja respeito por esta figura do lobo, que já foi de alguma forma sacralizada há muitos anos, ao mesmo tempo que é necessária uma maior proteção do pastoreio. Esta é assim uma forma de valorização e respeito pela espécie, mas também uma forma de valorizar o nosso território.”

O CILI situa-se em plena área de ocorrência desta espécie, numa aldeia de montanha a mais de 1.100 metros de altitude e com 153 habitantes (Censos 2021). Pitões das Júnias e os núcleos montanhosos da Peneda-Gerês, da região do Barroso, são considerados territórios historicamente ricos em lobo-ibérico. Prova disso é o número de fojos de lobo e também marcas culturais como histórias, lendas, canções e mitos.

“Por aqui homens e lobos partilham um mesmo território, mantendo uma relação próxima com particularidades singulares, de práticas ancestrais que cultivam e transmitem de geração em geração.”

O município salienta que a permanência do lobo-ibérico na região “depende em absoluto da conservação das paisagens que integram as florestas, os matagais, as áreas de abrigo, os recursos hídricos, as populações de presas e de muitas outras espécies com que se relaciona e /ou que contribuem para que essas paisagens sejam ricas, saudáveis e sustentáveis”.

O valor financiado deste projeto foi de 256.297,74€, contemplando as despesas da obra física, mobiliário e informação cenográfica do interior, assim como estudos, pareceres de projetos e consultoria, publicidade e divulgação. O financiamento é do fundo FEDER através do programa de apoio NORTE 2020, sendo que o valor total elegível da candidatura foi 301.526,75€. A taxa de financiamento deste programa foi de 85%, pelo que o município de Montalegre comparticipou esta obra no valor correspondente ao autofinanciamento.

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No Inverno, nem tudo dorme. Quatro sinais de vida natural no Jardim Gulbenkian

Por Equipa Wilder

Os dias são curtos, há chuva e vento e as temperaturas estão mais baixas. O mundo natural fica em repouso. Mas será que é mesmo assim? Num passeio atento pelo Jardim Gulbenkian ou outros espaços verdes por todo o país, podemos encontrar sinais de que muitas das espécies do mundo natural continuam em plena atividade nesta altura do ano.

Conheça alguns exemplos que o poderão inspirar a sair de casa e a procurar a natureza nestes dias mais frios, mesmo na cidade:

O lódão-bastardo, a murta e outras plantas enchem-se de bagas

Murta (Myrtus communis). Foto: Paula Corte-Real

Na verdade, o termo “bagas” é utilizado de forma comum para designar frutos que do ponto de vista botânico são diferentes: pode incluir desde bagas a drupas, cápsulas e outros tipos de fruto, dependendo da planta em questão, explica Carine Azevedo, que trabalha como consultora na gestão de património vegetal e se dedica também à comunicação de ciência.

Entre as árvores e arbustos mais comuns que se enfeitam de bagas na estação mais fria do ano, Carine avança com alguns exemplos: lódão-bastardo (Celtis australis), murta (Myrtus communis), azevinho (Ilex aquifolium), loureiro (Laurus nobilis), sabugueiro (Sambucus nigra), teixo (Taxus baccata), trovisco (Daphne gnidium) e tramazeira (Sorbus aucuparia).

Azevinho (Ilex aquifolium). Foto: Paula Corte-Real

Mas porque é que tanto o inverno como o outono são estações em que há mais riqueza destes pequenos frutos? Uma das razões está relacionada com a dispersão das sementes: “Produzir frutos atrativos durante a estação desfavorável é uma tática eficaz para atrair animais que deles se alimentam”, como é o caso de muitas pequenas aves, aponta. “Ao consumirem os frutos, os animais acabam por dispersar as sementes através dos seus excrementos, contribuindo para a disseminação e regeneração das plantas.” 

Por outro lado, como os dias são agora mais frios, “o inverno proporciona um período de dormência propício para que as sementes permaneçam inativas até que as condições se tornem favoráveis para a germinação durante a primavera.”

Várias espécies, aliás, florescem na primavera e no verão mas os frutos só amadurecem na metade mais fria do ano, acompanhando também assim o ciclo de vida dos insetos polinizadores. “Esta estratégia visa atrair esses insetos durante as estações de polinização, garantindo que as flores serão polinizadas, e que como resultado ocorra a produção e maturação de frutos no outono ou inverno.” Para as próprias plantas as bagas são também importantes como “reserva estratégica”, pois “fornecem recursos essenciais durante o período em que a fotossíntese é reduzida devido às condições desfavoráveis”. 

Muitos musgos que formam tapetes têm um crescimento enorme

Musgo-sedoso-penado (Homalothecium sericeum). Foto: Hermann Schachner/Wiki Commons

Só em Portugal continental, são conhecidas hoje mais de 700 espécies de musgos, destaca César Garcia, curador da coleção de briófitas do herbário LISU, ligado ao MUHNAC – Museu de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa.

Nem todos os musgos mostram alterações nesta altura do ano, como é o caso dos que revestem os troncos das árvores. Todavia, especialmente no grupo dos musgos que formam tapetes no solo, muitas espécies apresentam “um crescimento enorme” em períodos de “bastante humidade”, nota este botânico. Entre as mais comuns desse grupo, encontram-se o musgo-trançado-comum (Hypnum cupressiforme), também chamado de musgo-trança, o musgo-sedoso-penado (Homalothecium sericeum) e ainda as espécies Pseudoscleropodium purum Scleropodium touretii, que não têm nomes em português.

Musgo-trançado-comum (Hypnum cupressiforme). Foto: Stephen James McWilliam/iNaturalist

“É comum ouvirmos dizer ‘Este ano há muito musgo para o presépio’, uma frase associada a terem existido boas condições para estas plantas”, lembra ainda César Garcia, que é também coordenador do Núcleo de Jardins Botânicos da Universidade de Lisboa. No entanto, apela este investigador, “é errado colhermos musgos em grande quantidade, especialmente para venda”. É que estas plantas briófitas cumprem vários serviços muito importantes: “Agregam o solo, preservam a água, fixam as sementes das plantas vasculares e criam condições para a sua germinação, além de outros fatores. Por exemplo, têm um papel importantíssimo na recuperação de uma região após os incêndios.”

É tempo para a reprodução de vários caracóis

Caracol-das-cervejarias (Theba pisana). Foto: Lukas Pirkner/Biodiversity4All

É ao longo desta época do ano, quando há mais humidade, que muitas espécies de caracóis terrestres se reproduzem e põem os seus ovos, em especial nas áreas mais a sul da Península Ibérica, descreve Gonçalo Calado, professor na Universidade Lusófona. 

Por aqui, muitos caracóis reproduzem-se no inverno e estivam no verão, ou seja, acasalam na metade mais fria do ano e ficam imóveis e dormentes quando o calor aperta, um comportamento que se prevê que começará a ficar comum também no norte da Península Ibérica, à medida que as alterações climáticas progredirem. 

Uma nota curiosa: estes moluscos são considerados hermafroditas incompletos, uma vez que conseguem assumir tanto o género sexual masculino como o feminino quando chega a época de acasalamento, mas necessitam um do outro para conseguirem conceber.

De cerca de uma centena de diferentes espécies de caracóis terrestres conhecidos hoje em Portugal continental, três das mais comuns, identificadas pela plataforma de ciência cidadã Biodiversity4All, são a caracoleta (Cornu aspersum), o caracol-das-cervejarias (Theba pisana) e o caracol-leitoso (Otala lactea).

Caracoleta (Cornu aspersum). Foto: Paulo Martins/Biodiversity4All

Além dos caracóis, também muitas lesmas – semelhantes aos primeiros, mas sem casca externa – ficam mais ativas depois de uma chuvada ou em noites húmidas.

Apesar de serem considerados uma praga por muitos horticultores, tanto caracóis como lesmas têm papéis importantes nos ecossistemas, alimentando-se de detritos vegetais, fungos, insetos e centopeias. São também um alimento importante para inúmeros animais, desde os ouriços-cacheiros e os texugos às cobras e aos lagartos, pirilampos, sem esquecer inúmeras aves, como os melros e os estorninhos. 

A melhor altura para observar piscos-de-peito-ruivo e outras aves

Felosa-comum (Phylloscopus collybita). Foto: Diogo Oliveira

Praticamente metade das 42 espécies de aves conhecidas no Jardim Gulbenkian são residentes, permanecendo em Portugal ao longo de todo o ano, explica João Eduardo Rabaça, ornitólogo e professor universitário, no seu livro “As Aves do Jardim Gulbenkian”.

Todavia, os números de algumas destas aumentam nos meses de inverno devido à chegada de aves das mesmas espécies vindas de outros países europeus, em busca de temperaturas mais amenas e de alimento. O pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), a felosa-comum (Phylloscupus collybita) e a toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla) são exemplos de aves que se tornam mais fáceis de observar nesta estação.

Toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla). Foto: Diogo Oliveira

Existem ainda outras espécies que permanecem em Portugal apenas no tempo mais frio, migrando mais tarde para as áreas onde se costumam reproduzir. É o caso do estorninho-malhado (Sturnus vulgaris), do lugre (Carduelis spinus) e do tordo (Turdus philomelos).

Lugre (Carduelis spinus). Foto: Diogo Oliveira
Tordo-comum (Turdus philomelos). Foto: Diogo Oliveira

Este artigo insere-se na série “Jardins para a Vida Silvestre”, uma parceria entre a Wilder e a Fundação Calouste Gulbenkian.

O conteúdo No Inverno, nem tudo dorme. Quatro sinais de vida natural no Jardim Gulbenkian também está disponível em Wilder.

Loulé: cerca de 40 mil árvores nativas plantadas em 2023

Por Helena Geraldes

Sobreiros, azinheiras, medronheiros e alfarrobeiras estão entre as espécies de árvores plantadas em localidades como Alte ou Ameixial no concelho de Loulé ao longo de 2023. O objectivo é combater as alterações climáticas a nível local.

Mais de 25.100 árvores foram plantadas na freguesia do Ameixial, numa área de 147 hectares, informou hoje o município de Loulé em comunicado enviado à Wilder. A área foi reflorestada com sobreiros, azinheiras e medronheiros e os terrenos de pomar misto de sequeiro foram reforçados com alfarrobeiras e figueiras, no âmbito da ação “Combate à desertificação – Ameixial”, financiado pelo REACT-EU do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE 2020).

Foto: Município de Loulé

A campanha “Uma Árvore dá vida” permitiu distribuir 11.442 espécimes pelos requerentes, como diversas entidades do concelho e munícipes. Os cidadãos e organismos que se inscreveram para participar neste programa de cidadania ambiental receberam, entre outras espécies, alfarrobeiras, oliveiras, carvalhos, sobreiros ou medronheiros, para plantar nos seus terrenos, jardins ou quintais.

Na celebração de efemérides ambientais (Dia Internacional das Florestas ou Dia da Floresta Autóctone) e outros dias temáticos, o município ofereceu à população 2.500 árvores para que a própria comunidade ajudasse a tornar o concelho de Loulé mais verde. 

Foto: Município de Loulé

Além disso, 170 árvores foram plantadas em Alte, numa iniciativa do eurodeputado Francisco Guerreiro que assim quis compensar a pegada ecológica dos voos que realiza entre Portugal e as instituições europeias.

Cerca de 500 árvores foram plantadas em algumas ruas e avenidas das localidades do concelho, “levando um pouco de verde aos espaços públicos fora das zonas rurais”, escreve a autarquia em comunicado.

O objectivo da autarquia foi “apostar na arborização para promover a descarbonização do território e contribuir para a sustentabilidade do planeta”.

As espécies plantadas foram, sobretudo, espécies autóctones, uma vez que estão “melhor adaptadas às condições climatéricas e, como tal, sem tanta necessidade de água”.

Foto: Município de Loulé

Segundo a autarquia, estas acções “significaram um resgate de carbono na ordem das 300 toneladas de CO2 num ano e de nutrientes no solo, constituíram um importante contributo para combater a desertificação do território e, ao mesmo tempo, promover a sua resiliência face ao risco”.

A reflorestação é uma das medidas incluídas no Plano Municipal de Ação Climática de Loulé, de 2021, o primeiro do país a ser aprovado. Este documento define 72 ações prioritárias a desenvolver ao longo da próxima década.

Actualmente, a floresta ocupa 39% da área total do concelho de Loulé, abrangendo 29.890 hectares. O montado de sobro é o povoamento florestal predominante, com uma área de cerca de 19.668 ha, em especial nas freguesias de Salir (9.532 ha), Alte (4.355 ha) e Ameixial (3.333 ha).

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A incrível história de Aravil, o abutre-preto salvo da morte e reencontrado 13 anos depois

Por Inês Sequeira

Um dos primeiros descendentes do maior abutre europeu, quando a espécie voltou a nidificar em Portugal, em 2010, Aravil recebeu ajuda quando era ainda uma jovem cria. A Wilder falou com Samuel Infante, da Quercus, e conta-lhe como foi e como agora reapareceu.

Foi graças a uma velha anilha com uma mistura de letras e números já em desuso, tão suja de terra que nem de metal parecia, que Samuel Infante conseguiu identificar Aravil poucas horas depois de o encontrar no Parque Natural do Tejo Internacional, no início de Dezembro, contou à Wilder.

Tal como acontecera antes com outros abutres-pretos, Aravil tinha-se deixado seduzir por um pedaço de carne crua deixado dentro de uma caixa-armadilha, num dos campos de alimentação para aves necrófagas que são geridos pela Quercus no Parque Natural do Tejo Internacional. A ONG portuguesa, dedicada à conservação da natureza, é co-gestora desta área protegida raiana que se estende por mais de 26.000 hectares, ocupando parte dos concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova e Vila Velha de Ródão.

Na verdade, a “armadilha” onde Aravil foi encontrado é bastante maior do que imaginávamos. Samuel descreve-a como “um espaço com 12 metros de comprimento e seis de largura, com 1,5 metros de altura”. Só ali cabemos se ficarmos curvados, mas para os abutres há bastante espaço.

Aravil ao fundo no centro, dentro da caixa-armadilha, atrás de um dos grifos. Foto: Samuel Infante

Quando deram com ele dentro da caixa-armadilha, Aravil estava acompanhado por 12 grifos, também abutres, tanto ele como os outros atraídos pela comida. As atenções da equipa centraram-se no abutre-preto, por ser de uma espécie que em Portugal está ameaçada de extinção. Para começar, Samuel Infante e outros membros da Quercus avaliaram a saúde da ave e retiraram-lhe sangue para análises, no âmbito de um projecto de monitorização de chumbo e de outros metais pesados e antibióticos.

“Este bicho é muito antigo”

Na mesma altura foi-lhe também colocado um emissor GPS por Alfonso Godino, em parceria com o projecto LIFE Aegypius Return, como têm estado a fazer aos abutres-pretos adultos capturados na região. “Estes emissores permitem-nos saber quais são as áreas de nidificação e de alimentação dos abutres-pretos adultos e identificar as linhas eléctricas e outras ameaças, além de alertarem para quando um destes animais morre”, explica Samuel Infante, que é coordenador do CERAS – Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco.

Pormenor da velha anilha de metal (em cima à esq.), a equipa avalia a saúde de Aravil (em cima à dir.), e colocação do emissor GPS (em baixo). Fotos: Samuel Infante

Mas quando reparou que este abutre-preto tinha uma anilha, “tão velha e tão suja que nem parecia de metal”, e com uma série inscrita “que não era usada há mais de 10 anos”, Samuel percebeu: “Este bicho é muito antigo”, recorda-se de pensar.

Assim, horas depois de libertarem a ave, quando chegou a casa, o coordenador do CERAS foi à procura dos registos mais antigos relativos a anilhagens realizadas há mais de uma década. E apercebeu-se de que tinham reencontrado Aravil, mais de 13 anos depois da primeira anilhagem.

“Já sabemos onde está a nidificar, numa azinheira no concelho de Idanha-a-Nova. Tem estado muito perto do sítio onde nasceu.” A ave vai ser vigiada à distância com auxílio do emissor GPS, até porque mostrou ter problemas de coagulação no sangue, “provavelmente associados a altos níveis de chumbo.” Se vier a precisar, pode ser que seja resgatado e regresse por algum tempo ao centro de recuperação de animais selvagens, onde esteve no início da vida.

A devolução de Aravil à natureza, na região de Idanha-a-Nova. Fotos: Samuel Infante

Um dos primeiros abutres-pretos em Portugal

Foi no final de Junho de 2010, com poucas semanas, que o pequeno Aravil foi encontrado depois de cair do ninho que tinha colapsado em cima de uma árvore. Poderiam ter sido más notícias, se tanto esta cria como outro pequeno abutre-preto também resgatado do chão poucos dias antes, baptizado de Tejo, não tivessem sobrevivido. [Tejo, entretanto, depois de libertado foi monitorizado durante três anos, através de um transmissor de satélite, e foi para o lado espanhol do Tejo Internacional, junto à serra de São Pedro.]

Tanto Tejo como Aravil, este último baptizado em honra de uma ribeira local, eram os primeiros descendentes dos primeiros casais de abutre-preto que em 2010 voltaram a nidificar em Portugal – passados 40 anos de uma longa ausência – vindos da população espanhola do outro lado da fronteira.

Aravil tinha sido anilhado pouco depois de nascer, ainda no ninho. Quando passado algum tempo a equipa que acompanhava o nascimento das duas crias o encontrou no chão, junto à árvore onde tinha nascido, “bastante mal e desidratado”, ficou internado uma semana no CERAS até ser devolvido ao ninho – que tinha sido substituído por uma plataforma artificial instalada no mesmo local, bastante mais segura.

O pequeno Aravil, quando esteve internado no CERAS em Junho de 2010. Foto: Samuel Infante

Uma decisão difícil

A devolução da pequena ave ao local onde tinha nascido foi uma decisão arriscada e que poderia não ter resultado, mas acabou por correr tudo bem. “Normalmente os abutres-pretos, quando perdem uma cria, afastam-se. Neste caso ainda continuavam por ali.” A equipa foi contactando diariamente com Aravil às escondidas, subindo por uma escada para o alimentarem. Este mantinha-se sozinho e bastante indefeso, até porque em pleno Verão, numa região quente com aquela, “ainda não tinha penas para se defender do calor”.

Aravil a ser transportado para o ninho (em cima) e a alimentação da pequena ave, nos primeiros dias. Fotos: Samuel Infante

Até que houve uma surpresa muito bem-vinda: “Um dia, quando estávamos a observar, um dos progenitores deu uma volta por cima do ninho e pousou. E pôs-se de costas para o sol e abriu as asas, para fazer sombra para a cria.” Perceberam então que iria correr tudo bem. Durante algum tempo, o jovem abutre foi seguido à distância, com a ajuda de um emissor VHF que lhe tinha sido colocado com a colaboração da ONG espanhola Grefa, mas “depois dispersou, a bateria do emissor deixou de funcionar e perdemos-lhe o rasto.”

Contas feitas, desta vez pode ser que Aravil seja seguido por muito tempo. Em cativeiro, sabe-se que aves da espécie vivem cerca de 40 anos, enquanto que na Península Ibérica são conhecidos abutres-pretos que viveram na natureza por mais de duas décadas, nota Samuel Infante. Para já, este abutre faz parte dos 44 a 46 casais que nidificam actualmente nesta região do país, onde vive o maior núcleo populacional português da espécie.

Certo é que agora que foi encontrado, com 13 anos e meio, Aravil é um dos abutres-pretos controlados à distância com mais idade em toda a Europa. Neste caso, o recorde pertence a um outro abutre de 15 anos e oito meses, segundo os dados mais recentes disponíveis de longevidade de aves anilhadas. Talvez Aravil venha a bater essa longevidade. Seriam boas notícias para a espécie e outra história incrível para esta ave.


Saiba mais.

Leia aqui todas as notícias já publicadas na Wilder sobre o abutre-preto em Portugal.

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Cientistas revelam o surpreendente estilo de vida nómada da coruja-do-nabal

Por Helena Geraldes

Os resultados desta investigação mostram que a coruja-do-nabal (Asio flammeus) percorre distâncias inesperadamente longas e que nidifica em locais muito distanciados entre si.

Segundo os investigadores, entre eles cientistas da Estação Biológica de Doñana e do IREC-CSIC, as corujas estudadas viajaram muito pela Europa e Norte de África. Alguns indivíduos foram seguidos durante a nidificação ao longo de duas temporadas e as distâncias entre os locais de nidificação usados pelos mesmos indivíduos em anos consecutivos variaram entre 41 e 4.216 quilómetros.

“Até onde sabemos, estas representam algumas das maiores distâncias conhecidas entre locais de nidificação de qualquer ave”, comenta a Estação Biológica de Doñana em comunicado. “É incrível mas uma fêmea marcada no seu ninho na Escócia reproduziu-se duas vezes no mesmo ano, uma na Escócia e outra na Noruega.”

Estes movimentos surpreendentes parecem dever-se à necessidade de encontrar locais com presas suficientes para sustentar ninhadas grandes. A abundância da presa favorita das corujas-do-nabal, a ratazana, pode variar muito tanto em tempo como em espaço, o que torna estes roedores num recurso alimentar imprevisível.

Ainda que as corujas-do-nabal possam mudar de presas quando não há ratazanas, a sua resposta mais habitual é deslocar-se para outras zonas, o que origina movimentos nómadas, ainda que estes acarretem consequências a nível da sobrevivência: menos de metade dos indivíduos adultos sobrevivem de um ano para o outro.

Os tipos de movimentos registados nesta investigação, assim como a sua escala, implicam que não há várias populações em grande parte da Europa mas sim uma única população potencialmente integrada na maior parte da área de distribuição da espécie. Os autores deste estudo, publicado em Janeiro na revista IBIS (International Journal of Avian Science), acreditam que “este novo conhecimento tem implicações significativas para os esforços de conservação da coruja-do-nabal, dado que salienta a necessidade de planear as medidas de conservação da espécie a escalas maiores do que as consideradas até ao momento”.

A coruja-do-nabal é uma ave com dimensões médias que em Portugal pode ser encontrada de forma bastante localizada, principalmente em zonas húmidas como estuários, pauis, lagoas e albufeiras. É também a única ave de rapina nocturna que não se reproduz no nosso país, pelo que raramente se ouve e é mais difícil de encontrar. Como resultado, é uma das corujas mais enigmáticas em território português.

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População de Setúbal planta mais de 250 árvores autóctones

Por Helena Geraldes

Mais de 250 árvores e arbustos de espécies características da região – como carvalhos, murtas, sabugueiros e gilbardeiras – foram plantados a 20 de Janeiro em Brejos de Azeitão, Setúbal.

Numa iniciativa organizada pela Câmara Municipal, em parceria com a Junta de Freguesia de Azeitão e o grupo de cidadãos Azeitão Eco-Consciente, foram plantadas gilbardeiras, murtas, sabugueiros, alfarrobeiras, carvalhos e pinheiros, entre outras espécies autóctones, num terreno descaracterizado junto do supermercado Continente.

“São tudo espécies autóctones que foram colocadas aqui no âmbito do projeto Floresta Comum, que a Câmara Municipal tem em parceria com o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas)”, explicou a vice-presidente da Câmara Municipal, Carla Guerreiro. “A colaboração da população é inestimável e por isso conseguimos em menos de uma hora fazer o trabalho que está aqui à vista”, disse Carla Guerreiro citada num comunicado da autarquia.

A vice-presidente da Câmara Municipal previu a realização de “muitas mais” acções do género no concelho, “pelo ambiente e por Setúbal”.

A presidente da Junta de Freguesia de Azeitão, Sónia Paulo, considerou que a plantação de espécies autóctones portuguesas é “determinante para a arborização” da freguesia, sublinhando que esta foi a terceira iniciativa dinamizada em conjunto naquele território.

“Que todos juntos possamos ter cada vez mais iniciativas destas e ir a pouco e pouco arborizando a nossa freguesia”, afirmou.

José Figueira, do grupo de cidadãos Azeitão Eco-Consciente, lembrou que a plantação de árvores autóctones em espaços urbanos tem como objetivo combater as alterações climáticas e fomentar a biodiversidade, salientando que “a única maneira de fazer descer a temperatura” nas localidades “é plantar árvores, de preferência autóctones”.

A acção inseriu-se na estratégia municipal de qualificação do território e de combate às alterações climáticas, através do desenvolvimento de medidas de descarbonização e da procura das melhores soluções sustentáveis e de criação de espaços verdes qualificados de proximidade.

Decorreu no âmbito do Programa Floresta Comum, que que tem como objetivo fomentar e incentivar a criação de uma floresta autóctone com altos índices de biodiversidade e de produção de serviços do ecossistema.

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Guia prático para celebrar o Dia Mundial das Zonas Húmidas

Por Helena Geraldes

A 2 de Fevereiro o mundo celebra o Dia das Zonas Húmidas, cada vez mais importantes num cenário de escassez de água e extinção de espécies. Saiba como não passar ao lado das comemorações.

A 2 de Fevereiro celebra-se o Dia Mundial das Zonas Húmidas, com dezenas de actividades de Norte a Sul de Portugal.

Quando começou a comemoração deste Dia?

Tudo começou a 2 de Fevereiro de 1971 na cidade iraniana de Ramsar, na costa do mar Cáspio. Ali foi criada a Convenção sobre as Zonas Húmidas, um tratado intergovernamental que foi o primeiro dos tratados mundiais sobre conservação. 

Cerca de 90% das zonas húmidas do planeta têm vindo a degradar-se desde o século XVIII e hoje estamos a perder zonas húmidas três vezes mais depressa do que estamos a perder florestas. “É urgente reverter esta perda e incentivar acções para conservar e restaurar estas zonas húmidas,” defende o Secretariado da Convenção de Ramsar.

Por isso, o mundo começou a aproveitar o dia 2 de Fevereiro para alertar para a importância de conservar estes locais.

Este Dia Internacional foi estabelecido em 1997. A 30 de Agosto de 2021, a Assembleia Geral das Nações Unidas adoptou uma resolução que estabeleceu o dia 2 de Fevereiro como o Dia Mundial das Zonas Húmidas.

As celebrações são organizadas pelo Secretariado da Convenção das Zonas Húmidas.

O que são zonas húmidas?

São zonas húmidas “zonas de pântano, charco, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água estagnada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda os seis metros”. As zonas húmidas podem incluir ainda “zonas ribeirinhas ou costeiras a elas adjacentes”.

Estes espaços são vitais para a sobrevivência humana pois retêm e armazenam água. As zonas húmidas são um dos locais mais produtivos do mundo e ricos em biodiversidade. São ecossistemas importantes que ajudam a biodiversidade, contribuem para a mitigação e adaptação climática e disponibilidade de água e sustentam as economias mundiais.

Qual o tema deste ano?

Este ano, o tema é “Zonas Húmidas e Bem-Estar Humano”. O objectivo é sublinhar a ligação entre zonas húmidas e a vida das pessoas e destacar que todos os aspectos do bem-estar humano estão ligados à saúde das zonas húmidas do planeta. “Cada zona húmida é importante. Cada esforço conta.”

Quem apoia a Convenção de Ramsar e quantas zonas húmidas inclui?

A Convenção de Ramsar é assinada por mais de 170 Estados, entre eles Portugal que o fez em 1980. Desde então ficou obrigado a designar zonas húmidas, elaborar planos de ordenamento e gestão para essas zonas e a promover a sua conservação.

Quando um país adere à Convenção de Ramsar tem a obrigação de designar pelo menos uma zona húmida para ser incluída na Lista de Zonas Húmidas de Importância Internacional. Hoje esta lista inclui cerca de 2.500 zonas húmidas de todas as regiões do mundo, somando uma superfície de 256 milhões de hectares.

Entre os nove critérios para a identificação de zonas húmidas de importância internacional figura que contenham “um exemplo representativo, raro ou único de um tipo de zona húmida natural ou quase natural dentro da região biogeográfica apropriada”. Também entrarão na Lista Ramsar zonas que albergam “espécies Vulneráveis, Em Perigo ou Criticamente Em Perigo ou comunidades ecológicas ameaçadas”. Outro critério também é conter “populações de espécies vegetais e/ou animais importantes para manter a diversidade biológica de uma região biogeográfica determinada”.

Quantas e quais as áreas Ramsar em Portugal?

Actualmente são 31 as zonas húmidas portuguesas na Lista Ramsar, num total de 132.487 hectares. Num primeiro momento, Portugal incluiu os espaços emblemáticos do estuário do Tejo e Ria Formosa, logo em 1980. Depois foi acrescentando outros:

Estuário do Tejo (14.563 ha): 1980

Ria Formosa (16.000 ha): 1980

Estuário do Sado (25.588 ha): 1996

Lagoa de Albufeira (1.995 ha): 1996

Ria de Alvor (1.454 ha): 1996

Lagoa de Santo André e Lagoa da Sancha (2.638 ha): 1996

Paul de Arzila (585 ha): 1996

Paul da Madriz (226 ha): 1996

Paul do Boquilobo (529 ha): 1996

Sapais de Castro Marim (2.235 ha): 1996

Paul de Tornada (50 ha): 2001

Paul do Taipal (233 ha): 2001

Estuário do Mondego (1.518 ha): 2005

Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos (346 ha): 2005

Planalto da Serra da Estrela e troço superior do rio Zêzere (5.075 ha): 2005

Fajãs da Caldeira e Lagoas Cubres, Açores (87 ha): 2005

Polje de Mira Minde e nascentes associadas (662 ha): 2005

Caldeira da Graciosa, Açores (120 ha): 2008

Caldeira do Faial, Açores (312 ha): 2008

Caldeirão do Corvo, Açores (316 ha): 2008

Complexo Vulcânico das Furnas, Açores (2.855 ha): 2008

Complexo Vulcânico das Sete Cidades, Açores (2.171 ha): 2008

Complexo Vulcânico do Fogo, Açores (2.182 ha): 2008

Planalto Central das Flores (Morro Alto), Açores (2.572 ha): 2008

Planalto Central da Terceira (Furnas do Enxofre e Algar do Carvão), Açores (1.283 ha): 2008

Planalto Central de São Jorge (Pico da Esperança), Açores (231 ha): 2008

Planalto Central do Pico (Achada), Açores (748 ha): 2008

Ilhéus das Formigas e Recife Dollabarat (7 ha): 2008

Pateira de Fermentelos e vale dos rios Águeda e Cértima (1.559 ha): 2012

Paul da Praia da Vitória, Açores (16 ha): 2012

Ribeira do Vascão (44.331 ha): 2012

Actividades onde pode participar:

Segundo o Secretariado da Convenção das Zonas Húmidas, Portugal organiza 39 actividades, entre elas estas sete:

Passeio para descobrir o Sapal do rio Coina: visita guiada pelos técnicos da associação Vita Nativa – Conservação da Natureza e organizado pela Câmara Municipal do Barreiro. A visita é gratuita mas as inscrições são obrigatórias.

Quando: dia 3 de Fevereiro entre as 10h00 e as 12h00

Anilhagem científica de aves no Paul de Tornada: conheça algumas das aves que habitam o paul, descubra como se faz anilhagem (apenas pode ser feita por anilhadores certificados) e como é que ela permite obter informações acerca das migrações, estado das aves e das suas populações. O Paul de Tornada organiza ainda outras duas actividades para o público em geral: “Laboratório Stop Motion” e “Os Segredos do Paul de Tornada”.

Quando: dia 3 de Fevereiro entre as 08h00 e as 12h00

Passeio para descobrir as aves das Alagoas Brancas

Quando: 4 de Fevereiro das 11h00 às 14h00

À Descoberta do Paul do Boquilobo: passeio interpretativo para conhecer a biodiversidade (flora e fauna) da Reserva Natural do Paul do Boquilobo, a partir dos diversos trilhos existentes onde é possível observar a fauna e a flora envolventes. A atividade será acompanhada pela Associação 30porumalinha. A duração prevista é de 3:30 h, num percurso de cerca de 6 km.

Quando: 4 de Fevereiro das 09h30 às 12h30

Caminhada “Pateira de Fermentelos: importância e conservação de um património inestimável!”: passeio para conhecer a biodiversidade da Pateira de Fermentelos e a necessidade da sua preservação. Além de identificar e registar as espécies encontradas durante o percurso com o aplicativo iNaturalist, pode conhecer algumas das espécies que por ali habitam nesta época do ano.

Quando: 3 de Fevereiro das 10h00 às 12h00

Restauro da galeria ripícola do rio Estorãos (Ponte de Lima)

Quando: 2 de Fevereiro das 09h00 às 16h00

À descoberta das Zonas Húmidas do Parque da Devesa: actividades para explorar e descobrir, em família, as zonas húmidas e a sua importância na preservação da água, da vida selvagem e na sustentabilidade do planeta.

Quando: 4 de Fevereiro das 10h00 às 12h00


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Descubra 10 zonas húmidas para descobrir em Portugal.

Torne-se um perito e conheça sete espécies que precisam das zonas húmidas e aprenda também a identificar pegadas de lontras, ginetas, texugos e raposas.

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Que espécie é esta: estrela-do-mar-de-espinhos

Por Equipa Wilder

A leitora Inês Dias fotografou esta estrela-do-mar a 26 de Agosto na praia da Ursa, Sintra, e quis saber qual o seu nome. Gonçalo Calado responde.

“Encontrei esta estrela-do-mar (será?) na Praia da Ursa, Sintra, no dia 26 de Agosto e gostaria de confirmar do que se trata”, escreveu a leitora à Wilder.

Trata-se de uma estrela-do-mar-de-espinhos (Marthasterias glacialis).

Espécie identificada e texto por: Gonçalo Calado, professor da Universidade Lusófona.

Esta é uma estrela-do-mar do género Marthasterias, pertencente à família Asteriidae

É considerada uma estrela-do-mar bastante grande. Segundo o Museu Virtual da Biodiversidade, ligado à Universidade de Évora, tem geralmente 35 centímetros de diâmetro e pode atingir os 70 centímetros de envergadura.

Tem cinco braços finos e afilados. “Cada braço tem três fiadas longitudinais de espinhos cónicos, esbranquiçados, envoltos por uma almofada de pedicelários (espinhos modificados utilizados na defesa e na predação)”, explica o Museu Virtual da Biodiversidade. 

Estas estrelas-do-mar podem ser acastanhadas, castanho-amareladas, cinza-esverdeadas ou até roxas nas pontas dos braços.

“É uma das estrelas-do-mar mais comuns no infralitoral ou no circalitoral, em fundos rochosos ou arenosos, até aos 200 metros de profundidade. É uma espécie predadora, alimentando-se de moluscos e outros invertebrados.”


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Que espécie é esta: andorinha-dos-beirais

Por Equipa Wilder

O leitor Paulo Marques fotografou esta ave a 29 de Abril em Alcácer do Sal e pediu ajuda para saber qual a espécie. Gonçalo Elias responde.

“No dia 29-04-2023 fotografei em Alcácer do Sal esta andorinha (?) dentro do ninho. Achei estranho por ter a cabeça branca. Será mesmo uma andorinha?”, perguntou o leitor à Wilder.

Trata-se de uma andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum).

Espécie identificada e texto por: Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal.

Muito gira esta. Pela estrutura eu diria que é uma andorinha-dos-beirais, sim, e a cabeça branca aponta para um caso de leucismo (falta de pigmento). É uma questão genética.

Pelas imagens não é possível dizer se o leucismo é total (caso em que toda a plumagem é branca) ou parcial (tem partes brancas e partes coloridas).

A andorinha-dos-beirais é de pequena dimensão. A sua plumagem é essencialmente preta por cima, destacando-se o uropígio branco, que é bem visível em voo, e branca por baixo. A cauda é curta e levemente bifurcada.

Esta pequena ave é comum em zonas habitadas, fazendo os seus ninhos em todo o tipo de construções, desde casas, igrejas e tribunais, até pontes ou depósitos de água. É uma espécie colonial e não é raro encontrar colónias com dezenas ou mesmo centenas de ninhos. Estes são feitos de lama e têm um formato semi-esférico, com uma pequena abertura que dá acesso à câmara.

Apesar de a chegada das andorinhas ser tradicionalmente associada à Primavera, a realidade é que esta espécie é um dos primeiros migradores a chegar ao nosso país, podendo ver-se logo a partir de Janeiro no sul e em Fevereiro mais a norte. Durante o mês de Junho pode observar-se em todo o território nacional, geralmente em frenética actividade junto aos ninhos. À semelhança das outras andorinhas, esta espécie alimenta-se de insectos, que captura em voo. 


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Que espécie é esta: mosca Bombomyia vertebralis

Por Equipa Wilder

O leitor Dário Martins encontrou este insecto no Montijo a 2 de Março e pediu ajuda para saber a espécie. Rui Andrade responde.

“Encontrei este insecto que nunca tinha visto antes. Sabem o que é?”, perguntou o leitor à Wilder.

Trata-se uma mosca Bombomyia vertebralis.

Espécie identificada e texto por: Rui Andrade, dinamizador do grupo Diptera em Portugal no Facebook.

É uma mosca da espécie Bombomyia vertebralis (família Bombyliidae). O nome antigo, e ainda muito usado, é Bombomyia stictica.

Os adultos são moscas grandes que exibem um longo probóscide que usam para alcançar o néctar das flores.

A biologia das larvas é desconhecida.

A espécie apresenta uma distribuição paleárctica.


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Que espécie é esta: cobra-de-ferradura

Por Equipa Wilder

O leitor Nuno Prates encontrou esta cobra num bairro da cidade de Lisboa a 10 de Março e pediu para saber qual a espécie. Guilherme Caeiro Dias ajuda.

“Que cobra é esta? Lisboa, bairro São João de Brito, 12h00, 10/03/2023”, escreveu o leitor à Wilder.

Trata-se de uma cobra-de-ferradura (Hemorrhois hippocrepis).

Espécie identificada por: Guilherme Caeiro Dias, primeiro autor do estudo que elevou ao estatuto de espécie a lagartixa-lusitânica (Podarcis lusitanicus), antigo aluno de doutoramento no CIBIO-InBIO, agora a trabalhar na Universidade do Novo México, nos Estados Unidos.

“Nesta foto vemos uma cobra-de-ferradura (Hemorrhois hippocrepis)”, explicou Guilherme Caeiro Dias.

A cobra-de-ferradura é uma espécie bastante comum em Portugal, que tem muito mau feitio, mas inofensiva para o ser humano. 

É uma cobra que está activa da Primavera ao Outono. “Aparece em diversos habitats, desde que quentes e pedregosos, chegando a viver nos jardins das cidades”, segundo o guia Anfíbios e Répteis de Portugal (2017). Alimenta-se principalmente de répteis, aves e micromamíferos, como ratinhos e musaranhos.

Segundo o Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal (2010), podemos ver esta espécie praticamente em todo o país, menos no Minho, norte de Trás-os-Montes e partes da Beira Litoral. Ocorre também nos arredores da Grande Lisboa, “persistindo facilmente em zonas com forte presença humana”.

Esta espécie não é considerada ameaçada mas algumas populações mais isoladas podem enfrentar problemas. As maiores ameaças à cobra-de-ferradura são a perseguição humana e a morte por atropelamento.


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Que espécie é esta: louva-a-deus-do-corno

Por Equipa Wilder

A leitora Ann Bouckaert fotografou um insecto em Colmeal, Góis, a 9 de Outubro de 2019 e pediu ajuda para saber a espécie. Eva Monteiro responde.

“Encontrei esta criatura no meu braço no jardim em Colmeal, Góis. Por favor, qual é o seu nome?”, perguntou a leitora à Wilder.

Trata-se de um louva-a-deus-do-corno (Empusa pennata).

Espécie identificada e texto por: Eva Monteiro, Rede de Estações da BiodiversidadeTagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.

O nome comum é louva-a-deus-do-corno, porque tem uma espécie de corno cónico entre as antenas.

Trata-se de uma ninfa de louva-a-deus-do-corno. Por ser uma ninfa é aptera, ou seja, não tem asas.

Os adultos são parecidos, mas são maiores e têm as asas totalmente desenvolvidas. Embora também tenham a parte ventral do abdómen que parece uma espiga, as asas tapam-na e não se nota tanto como nas ninfas.

Veja aqui e aqui outras ninfas de louva-a-deus-do-corno já identificadas no Que Espécie É Esta.


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