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MIBE 2023: A Rede de Bibliotecas de Loulé Transforma Livros em Capas Vivas

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A Rede de Bibliotecas do Concelho de Loulé comemorou o MIBE 2023 (Mês Internacional das Bibliotecas Escolares) com uma atividade inspiradora: "Capas Vivas". Sob o lema "Biblioteca escolar: o meu lugar preferido para criar e imaginar", os utilizadores das bibliotecas do concelho foram convidados a dar asas à sua criatividade e transformar os seus livros favoritos em verdadeiras “obras de arte”. Deram vida às personagens, cenários e histórias que mais os marcaram. O resultado foi uma profusão de criatividade, que abrangeu os utilizadores de todas as idades.

Sendo o Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE) um evento global que visa destacar a importância das bibliotecas nas escolas, incentivando a leitura e a criatividade entre os alunos, esta iniciativa foi uma oportunidade para promover a diversidade literária, a imaginação e a colaboração.

A fim de partilhar esta expressão incrível de criatividade com um público mais amplo, a Rede de Bibliotecas de Loulé organizou uma exposição virtual. Neste espaço em linha, é possível admirar as "Capas Vivas" criadas pelos jovens artistas.


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Sete Razões para amar a filosofia

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Em 2002, a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, reconhecendo a esta área do saber um papel essencial nas nossas vidas. A filosofia é frequentemente considerada um saber complicado, difícil, demasiado abstrato, mas não para aqueles que a amam. Ler, estudar e compreender filosofia é um exercício benéfico para as pessoas, para a Humanidade. Giuseppe Cambiano[1] encontra muitas razões para uma aproximação à atividade que se apresenta pelo nome de Filosofia, assim, no mês em que se comemora o Dia Mundial de Filosofia[2] partilhamos a leitura do livro Sete Razões para Amar a Filosofia[3]. Afinal, porque devemos amar a filosofia? Porque nos liberta da “tirania da habituação, sacode o dogmatismo arrogante e mantém desperto o nosso espanto”, porque a leitura dos textos e os  ensinamentos filosóficos poderão ajudar nas atitudes, assim como “a avaliar e a orientar o que se diz ou que se faz habitualmente, ou se encontra formulado em textos impressos ou nos ecrãs dos computadores, para tentarmos ser livres em relação a eles, sem sofremos passivamente condicionamentos ou pressões externas.”

Entre muitas razões para amar a filosofia, o autor do livro propõe sete motivos que se prendem com aspetos intrínsecos deste saber, são eles:

1) Fazer perguntas.

Perguntamos quando sentimos falta de algo, quando queremos compreender, o mundo e tudo o que nos rodeia. Sem perguntas “a vida quotidiana acabaria por se paralisar”, o espanto talvez não existisse e a simples curiosidade da vida, em geral, perderia o significado.  Cambiano esclarece-nos que há diferentes tipos de perguntas, que há no mundo pessoas que não gostam de fazer perguntas apesar do “jogo das perguntas” ser o mais antigo do mundo e que as respostas “são frequentemente procuradas naquilo que, em tempos antiquíssimos, se chamava «natureza», isto é, no próprio universo”. O território das perguntas filosóficas é um mundo gigantesco e simultaneamente fabuloso. 

2) Usar palavras.

 Não é fácil fazer uma pergunta, ao contrário do que muitos pensam. Para se fazer perguntas é preciso dominar os termos, as palavras. Afinal, o “uso das palavras na vida quotidiana permite orientar-nos com sucesso, consoante a abundância de vocabulário de que se dispõe: cada palavra é como uma janela nova que se abre para o mundo na sua imensa variedade, para as inúmeras tonalidades dos sentimentos e para os mais subtis itinerários do pensamento.” Os filósofos gostam de pensar nas palavras, elas são apropriação do real, um verdadeiro instrumento do pensamento. Com elas compreendemos situações, atitudes de algumas pessoas, aliviamos a dor, criamos, fazemos crescer ou matamos amizades, amores e cumplicidades.

3) Procurar respostas.

Todos ansiamos por respostas, desde a mais tenra idade. Na adolescência as respostas parecem ser mais importantes que as perguntas. Queremos respostas para edificar a nossa visão do mundo. Envolvidos numa ansiedade desmedida pode-se correr o risco de aceitar respostas baseadas em crenças não justificadas ou limitarmo-nos a permanecer nos imediatismos do senso comum.  Nem sempre os filósofos encontram respostas, mas sentem, muitas vezes, a necessidade de as encontrarem mesmo que sejam satisfatórias.

4) Apreciar a discordância.

Muitos são os filósofos que discordaram, na história da filosofia encontramos com alguma frequência, filósofos que se contradizem.  Talvez a razão de tal atitude é que gostam de dialogar, de escutar e argumentar. “O mundo dos filósofos é um mundo de competições” e esta ideia não é negativa, pelo contrário. Os filósofos gostam de disputar ideias e argumentos, encontrar falácias, evitar percursos erróneos e o formular o melhor dos raciocínios. Sabem que a divergência, desde que sustentada por argumentos fortes, é um excelente exercício.  A divergência é um exercício de liberdade, onde cada um escolhe os seus próprios argumentos, as suas razões e toma as suas decisões.

5) Abrir horizontes.

A filosofia não pretende ter o monopólio nem das perguntas nem das respostas, apenas deseja exercitar o pensamento, pensar criticamente, ser capaz de entrelaçar ideias, diferentes conceções do mundo e deste modo ampliar conhecimentos e perspetivas. É neste ambiente que, por exemplo, a bioética cresce procurando refletir sobre escolhas possíveis perante dilemas, indecisões que a vida nos coloca.

6) Compreender os outros: outros tempos.

“A exigência de compreender os outros, aquilo que dizem e fazem, é central para a vida quotidiana.”  Sem os outros seria difícil conhecermo-nos e ser quem somos. A leitura, a análise e discussão de textos filosóficos são verdadeiras ferramentas de reflexão, promovendo a relação com as palavras de outros e desafiando-nos ao exercício da compreensão, de nos colocar no lugar do outro, de questionar, de apresentar argumentos, de viver noutros tempos e de transformar o passado em presente.

7) Compreender os outros: outros mundos.

Quando a leitura, a análise e discussão de textos filosóficos ecoam em nós concretiza-se uma abertura a outros mundos, a outras formas de pensar, de ser e de estar, a outras tradições e geografias.

Por último, ousamos acrescentar que amar a filosofia é também amar a literatura e neste pequeno, mas intenso, livro habitam múltiplas referências à literatura. Afinal, foram muitos os escritores que se inspiraram e amaram, consciente ou inconscientemente, a filosofia.

Notas

[1] Giuseppe Cambiano licenciou-se em Filosofia em 1965. É professor emérito de História da Filosofia Antiga na Scuola Normale Superiore di Pisa e docente na Universidade de Torino. É também sócio da Academia Nacional de Lincei e diretor da revista Antiquorum Philosophia, fundada em 2007. Tem uma vasta obra publicada em Itália. Em Portugal, Sete Razões Para Amar a Filosofia é o único título disponível. 

[2] Em 2002, a UNESCO proclamou a celebração do DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA, em todo o mundo, na terceira quinta-feira do mês de novembro.

[3] Cambiano, G. (2020). Sete razões para amar a Filosofia. Edições 70

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Rede de bibliotecas de Oliveira de Azeméis: um trabalho partilhado

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O Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE) da Biblioteca Municipal Ferreira de Castro (BMFC) funciona desde 2008, com protocolo celebrado entre a autarquia e o Ministério da Educação, apoiando diretamente a Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares de Oliveira de Azeméis.

Esta rede foi formalmente criada no âmbito da Candidatura Ideias com Mérito que envolveu todas as bibliotecas escolares do concelho de Oliveira de Azeméis e a BMFC, aprovada pela RBE, tendo nesse contexto sido criado o catálogo coletivo que integra as coleções das diferentes Bibliotecas Escolares e da Biblioteca Municipal. Visa-se, assim, estimular o empréstimo entre escolas e entre estas e a Biblioteca Municipal, promover e facilitar a circulação da informação documental existente, desenvolver uma política racional das aquisições para as coleções das bibliotecas e incrementar práticas colaborativas entre escolas, instituições e comunidade em geral, passando a política de desenvolvimento das coleções a ser pensada em conjunto.

O SABE da BMFC tem a particularidade de congregar uma rede de parcerias e de trabalho colaborativo que envolve todas as bibliotecas escolares do Município, bem como o Centro de Formação de Associação de Escolas dos Concelhos de Arouca, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis (AVCOA) cujo papel é crucial na formação e na concretização de múltiplas atividades. Os diversos parceiros reúnem quinzenalmente para planificar em conjunto, discutir e analisar soluções para problemas comuns, fazer formação conjunta quer na vertente mais técnica do tratamento documental, quer, por exemplo, na mediação da leitura, assim como para pôr projetos no terreno…

Imagem1.pngEsta rede tem um plano de atividades concelhio, concebido e desenvolvido de forma colaborativa, destacando-se o Chá literário, atividade integrada na Semana da Leitura, destinado a docentes e convidados locais que partilham experiências de leitura e leituras durante uma tarde, o Campeonato de Pesquisa na Internet, PesquisOAz, inicialmente destinado apenas aos alunos dos 2.º, 3.º CEB e Ensino Secundário do Município, tendo, desde o ano letivo 2021/2022, alargado aos alunos dos agrupamentos de escolas de sete concelhos de Entre Douro e Vouga. Na sua versão atual, já convidou outros concelhos e terá uma versão também para docentes.

As colaborações desta rede não se esgotam no âmbito do SABE, embora sejam sempre discutidas e planificadas nesse contexto, dada a tradição de reunir amiúde todos os parceiros para trabalho conjunto. Assim, temos, por exemplo, a colaboração anual recorrente das Bibliotecas Escolares com o município e a BMFC na Semana da Criança ou a colaboração anual destas com o CFAE AVCOA na Maratona Bibliotecária (anteriormente 24 horas das Bibliotecas Escolares), acabando por o trabalho colaborativo desta rede estar espelhado a diferentes níveis. Na verdade, a tónica desta rede e o que a destaca é o ambiente de apoio, interajuda e colaboração.

SABE

Filosofia & livros: um diálogo arriscado.

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Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.

(Caetano Veloso, Livros

Realizou-se no passado dia 14 de outubro o Seminário Internacional Os Riscos da Educação, no âmbito do Folio Educa, no qual participámos com a comunicação intitulada Filosofia & livros: um diálogo arriscado

A propósito do Dia Mundial da Filosofia, que este ano se celebra a 16 de novembro, pretendemos recuperar parte da nossa comunicação de forma a celebrar a filosofia e a nossa obsessão pela transparência

O risco de ler. O risco de perguntar. 

Quando falamos de risco falamos de probabilidade da ocorrência, de danos, mas não só. Também falamos de ousar, transgredir, desafiar, questionar. A este propósito partilhamos o início do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll: 

“Alice começava a ficar muito cansada de estar sentada ao lado da irmã, na margem do rio, sem nada para fazer. Uma ou duas vezes espreitou para o livro que a irmã estava a ler, mas este não tinha imagens ou diálogos, “e qual é a utilidade de um livro”, pensou a Alice, “sem imagens nem diálogos”?” 

Lewis Carroll (2017) Alice - As Aventuras No País das Maravilhas. Porto: Editora Exclamação. pp. 15

Se fosse possível conversar com Alice, dir-lhe-íamos que ler é um ato arriscado, no sentido em que nós, as pessoas leitoras, somos (ou tornamo-nos) pessoas ousadas, críticas e amantes da arte de fazer perguntas. 

Sem perguntas a vida paralisava, o conhecimento seria restrito e o espanto talvez não existisse. Mesmo nos livros “sem imagens nem diálogos” as perguntas estão lá! É necessário prestar atenção, escutar [é fundamental!] e ser uma pessoa curiosa, muito curiosa, mas também ser ousada e provocadora. 

As perguntas obrigam-nos a:

  • exercitar o pensamento;
  • criar espaços democráticos e de verdadeira liberdade;
  • intensificar a generosidade [no sentido de partilhar as nossas perguntas de maneira a provocar o diálogo];
  • lidar com a incerteza;
  • gerir a tensão e a discórdia. 

Livros que fazem perguntas. Livros perguntadores.

Os livros perguntadores podem não apresentar perguntas na capa ou mesmo no interior (por perguntas entendemos uma frase que termina com um ponto de interrogação). São livros que nos convocam a curiosidade, ampliam o pensamento e proporcionam uma certa tensão na leitura. A sua leitura permite o exercício da incerteza, da imaginação e consideração de possibilidades, exigindo que as pessoas leitoras se envolvam ativamente. Por último, a provocação: um livro perguntador resulta num trampolim no sentido da construção de sentidos e da exploração de significados, seja do texto escrito, da ilustração, do formato do livro, das guardas. É um livro que nos toca no ombro, que cutuca o pensamento, que incomoda e faz perguntar. 

Os Livros Perguntadores partilhados no FOLIO Educa 

Estes foram os livros que nos acompanharam durante a comunicação no FOLIO Educa:

Vamos continuar a #PararPensarEscutarDialogar sobre e com os livros e queremos partilhar esses diálogos com a comunidade. Fica o convite para subscrever newsletter mensal, clicando AQUI.

Nota das autoras: este texto tem origem na comunicação “Filosofia & Livros: um diálogo arriscado” apresentada no Seminário Internacional “Os Riscos da Educação”, no FOLIO Educa, a 14 de outubro de 2023. Agradecemos ao curador Paulo Santos pelo convite para fazer parte deste evento e a toda a equipa pelo acolhimento; bem como à Rede de Bibliotecas Escolares pela possibilidade de partilhar algumas das nossas ideias em torno dos #LivrosPerguntadores. 

Joana Rita Sousa
Júlia Martins 

 

Configurar as bibliotecas para serem o melhor espaço na escola

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Demos uma espreitadela a bibliotecas escolares por toda a América para ver de que forma os bibliotecários estão a reestruturar o espaço para apoiar o crescimento social, emocional e criativo dos alunos, dando ao mesmo tempo prioridade a excelentes leituras.

Todos os dias, mais de 500 alunos visitam a biblioteca da Campbell High School em Smyrna, Geórgia - muitas vezes antes do início do dia escolar ou durante o período de almoço. Por outras palavras, os alunos optam por passar "o pouco tempo não estruturado que têm" na biblioteca, diz Andy Spinks, um dos dois especialistas em bibliotecas da escola.

A biblioteca recentemente renovada - agora conhecida como Learning Commons - é um centro polivalente espaçoso e luminoso dentro da escola. Há mesas de café onde as crianças podem trabalhar em conjunto; assentos confortáveis e flexíveis; um espaço de criação onde os alunos podem explorar atividades como costura e joalharia; um estúdio de gravação e produção de áudio; e um estúdio de produção de vídeo onde as crianças podem criar TikToks ou vídeos do YouTube utilizando os seus telemóveis ou computadores portáteis fornecidos pela escola. Está muito longe do espaço que costumava ser (uma folha de presenças de 2008 registou apenas 21 alunos a entrar na biblioteca num dia).

"É um local onde os alunos se juntam, interagem e constroem uma comunidade", afirma Spinks. Ouço frequentemente os adultos queixarem-se de que os adolescentes estão "sempre a olhar para o telemóvel" e não conseguem interagir com as pessoas cara a cara, mas não é isso que vejo. Vejo-os a conversar, a trabalhar em projetos de grupo, a jogar xadrez e Uno e a exercitar a sua criatividade de forma colaborativa. Até o tempo que passam no ecrã - a jogar jogos de vídeo, a fazer vídeos e a gravar música - é colaborativo".

Spinks e outros bibliotecários com ideias semelhantes em toda a América estão a transformar as bibliotecas escolares de repositórios silenciosos e sóbrios de conhecimento em espaços vibrantes que acolhem as crianças e encorajam "a exploração, a criação e a colaboração", escreve a investigadora e antiga professora Beth Holland. Através de uma planificação cuidadosa e com a ajuda do contributo dos alunos, a biblioteca da Escola Secundária Campbell, e outras semelhantes, oferecem um refúgio indispensável para escapar à agitação do dia a dia, servindo de núcleo de apoio a todo o tipo de necessidades sociais, emocionais e criativas - ao mesmo tempo que proporcionam acesso a bons livros.

Para termos uma ideia de como as escolas estão a repensar as bibliotecas, falámos com bibliotecários e especialistas em bibliotecas de todo o país sobre as soluções criativas que estão a utilizar para transformarem as bibliotecas nos melhores locais para estar na escola.

Colocando as crianças no centro

Na A. P. Giannini Middle School em São Francisco, quase metade dos livros trazidos para a coleção da escola provêm de pedidos dos alunos, diz a professora bibliotecária Shannon Engelbrecht. Se um miúdo chega e pergunta: "Tem este livro?" e eu respondo: "Não tenho; preencha a folha de requisição", recebemo-lo numa semana através do sistema de encomendas rápidas". O mesmo acontece com o espaço de criação, maioritariamente abastecido com artigos que os miúdos pedem, comprados a partir de um orçamento fornecido pela Associação de Pais.

"Vou ao Dollar Tree e vejo se têm máquinas de fazer pompons para que o que temos no centro de criação seja o que os alunos pediram", diz Engelbrecht. Assim, é muito mais provável que queiram ler um livro ou recomendá-lo aos amigos e dizer: "Escolhi este livro para a biblioteca. Devias experimentar". Ou 'Já experimentaste uma máquina de fazer pompons?'".

Depois de ter concluído uma avaliação das necessidades dos alunos, o bibliotecário Christopher Stewart, de Washington, D.C., começou a fazer pequenas alterações na biblioteca da escola, exibindo, por exemplo, tecidos e arte relacionados com as várias culturas dos alunos. "Quero que eles façam parte dela", diz Stewart. "Encomendar tecido afro-americano [para expor nos moldes de vestuário], encomendar arte do México que represente os alunos. Não basta ter uma coleção de livros que seja representativa. Queria garantir que os alunos se vissem não só nas páginas dos livros, mas também no mobiliário e na arte."

Stewart também contrata estudantes para agirem como "embaixadores da marca da biblioteca", funcionando como uma espécie de painel de pesquisa de mercado com informações sobre a coleção de livros da biblioteca, tipos de programação que gostariam de ver e seleções para o clube de leitura, entre outras coisas. "É bonito porque eles são os ouvidos dos seus pares", diz. "Está a mostrar intencionalidade da parte da biblioteca. Porque não quero dar-vos o que acho que devem ter; quero dar-vos o que querem e precisam."

Reestruturação para a criatividade e até algum barulho

As bibliotecas do Herricks Union Free School District em Long Island, Nova Iorque, nem sempre são silenciosas - e isso é intencional, diz Michael Imondi, diretor de ELA, Leitura e Serviços de Biblioteca do ensino básico e secundário. Os dias de sussurros entre as prateleiras já lá vão e quando o distrito decidiu renovar as suas bibliotecas, as prioridades de design centraram-se nos quatro Cs - comunicação, colaboração, criatividade e pensamento crítico. "Este não é um espaço calmo", diz ele. "É um espaço de trabalho, um espaço de colaboração".

Existem mesas grandes para incentivar a colaboração dos alunos, bem como salas de estudo silenciosas onde as crianças podem trabalhar de forma independente. Na biblioteca da escola secundária, alguns tampos de mesa são quadros brancos nos quais se pode escrever diretamente quando se planificam projetos de grupo ou se traça um mapa de ideias. Um pequeno ajuste no nome - de biblioteca para Library Learning Suite - ajudou a enfatizar o novo foco. "As palavras são importantes", diz Imondi. Ter a palavra "aprendizagem" é importante porque é isso que está a acontecer agora. Quer venha ler um romance da prateleira ou utilize a nossa impressora 3D para construir algo para a sua aula de ciências, é um espaço de aprendizagem."

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Na biblioteca da Escola Secundária de Campbell, Spinks diz que uma das grandes mudanças nos últimos anos diz respeito ao papel fundamental das bibliotecas como espaços "principalmente preocupados com a informação que os alunos recebem". Agora, estão "a concentrar-se mais em fazer coisas, produzir informação e meios de comunicação". Uma dessas áreas é a das artes criativas: Spinks ficou surpreendido com o talento que os estudantes demonstraram nos estúdios de áudio e produção da biblioteca.

"Estes miúdos são tão talentosos, tão criativos", diz Spinks. Inicialmente, pensou que o estúdio poderia não ser muito utilizado durante o dia de escola, porque os alunos precisariam de uma ou duas horas para fazer qualquer coisa. Mas eles continuam a surpreendê-lo com o que são capazes de fazer em curtos períodos de tempo: "Eles chegam e, durante um bloco de almoço de 25 minutos, podem carregar a música, fazer um vídeo e ter algo para partilhar com os amigos."

Bibliotecas onde as crianças descontraem

Depois de se aperceber de que os alunos precisavam de um "espaço que fosse só deles" onde pudessem processar as suas emoções em segurança, Stewart criou uma sala de paz, amor e meditação dentro da biblioteca. "É o centro", diz ele. "Um lugar para não se sentirem julgados, para sentirem muito amor e para se sentirem aconchegados." Uma pausa bem-vinda e necessária do stress do mundo exterior, com música relaxante e uma fonte de água, também funciona como um local para sessões de educação para a justiça, bem como uma sala aberta que os conselheiros e terapeutas utilizam para atender às necessidades da comunidade escolar.

Criar uma zona livre de preconceitos no interior da biblioteca é também uma prioridade para Engelbrecht. Precisa de utilizar um dos computadores de secretária para terminar os trabalhos de casa antes da aula? Isso não é um problema. Está a ter dificuldade em manter os olhos abertos? A Engelbrecht não se importa que os alunos adormeçam ocasionalmente no grande sofá em forma de U no centro da sala - tem capacidade para cerca de sete crianças sentadas, e ela não lhe diz para manter os pés no chão. "Nunca se pode fazer isso na escola porque não é suposto pôr os pés em cima da mobília", diz ela. "Mas nós temos três peças de mobiliário especificamente para pôr os pés em cima".

Ainda assim, livre de preconceitos não significa sem regras, diz ela. Engelbrecht vai a todas as turmas de inglês uma vez por mês e dá diferentes lições sobre media, tecnologia, literacia digital e cidadania. O seu lema é "Assumir a melhor intenção, equidade de espaço, coração bondoso". As conversas que tem com os alunos sobre tudo, desde o cyberbullying a como reagir quando alguém nos faz sentir desconfortáveis, são cruciais para criar relações de confiança e estabelecer a biblioteca como um porto seguro.

Entretanto, nos estados onde as proibições de livros estão em vigor, falámos com bibliotecários que estão a encontrar formas de manter os seus espaços acolhedores e inclusivos - através, por exemplo, de exposições de livros que realçam diferentes culturas, valores e identidades.

"Todas as crianças merecem ir à biblioteca e encontrar um livro com alguém que se pareça com elas, ou que aja como elas, ou que tenha alguma semelhança com elas", diz Jamie Gregory, bibliotecária numa escola privada na Carolina do Sul. "Penso que é importante que a coleção da nossa biblioteca reflita a nossa comunidade, mas deve continuar a ser diversificada, para que os alunos possam aprender que não há pessoas de quem devam ter medo ou que os querem apanhar. Todos os tipos de comunidades merecem uma representação justa".

"A literatura é a prioridade. A coleção de livros impressos e eletrónicos é a prioridade", afirma Boyd. "A segunda prioridade é o acesso à tecnologia, para que os alunos estejam em igualdade de circunstâncias com outros alunos de todo o distrito e de todo o país. Quero certificar-me de que as crianças têm um acesso claro aos materiais, para que possam aprender e descobrir a independência, e não apenas através de uma tarefa na sala de aula."

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Manter um olhar atento sobre os livros para que sejam relevantes, interessantes e populares continua a ser uma prioridade para todos os bibliotecários com quem falámos. Apesar de reduzir frequentemente a coleção, nenhum livro é desperdiçado na biblioteca da escola secundária de Stacy Nockowitz em Columbus, Ohio. Tudo o que é eliminado é oferecido aos alunos como parte de uma oferta de livros. A oferta deste ano deveria ter durado uma semana, mas as provisões só duraram dois dias porque os miúdos "ficaram loucos pelos livros", diz ela. Há alguns anos, falou-se muito sobre "Será que as bibliotecas vão deixar de ter livros? Vão passar a ser totalmente digitais? Esse tipo de coisas. Tomámos uma decisão muito consciente de não o fazer. Nunca pensámos nisso, porque os nossos filhos adoram ter livros físicos nas mãos."

O texto deste artigo foi traduzido com a autorização da Edutopia:

Tutt, P. (2023, 8 de agosto). Setting Up Libraries to Be the Best Space in School. Edutopia. https://www.edutopia.org/article/setting-up-libraries-to-be-the-best-space-in-school

Sobre Paige Tutt

Sou uma jornalista sediada em Nova Iorque que se tornou editora, designer de bolos personalizados, diretora de redes sociais/comunicações e que voltou a ser jornalista.

Tenho um mestrado do Emerson College em Escrita, Literatura e Edição, com especialização em Edição de Revistas Online. Obtive o meu bacharelato na Universidade de Binghamton em Inglês, Literatura Geral e Retórica.

As questões da diversidade, equidade, interseccionalidade e inclusão na educação são-me extremamente caras e próximas. Estou empenhada em tornar visíveis os desafios que os estudantes das comunidades marginalizadas - especialmente as crianças negras - enfrentam diariamente, criando e participando no discurso e, em última análise, trabalhando para erradicar estas questões.

São Brás de Alportel celebra a Magia da Leitura com o (En)leio das Histórias

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O evento (En)leio das Histórias esteve de volta às bibliotecas de São Brás de Alportel, entre os dias 25 e 27 de outubro e marcou a comemoração do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE). Os alunos do ensino pré-escolar e do 1.º Ciclo foram convidados a explorar as diferentes atividades lúdico-pedagógicas (Nós) relacionadas com a leitura e os livros:

NÓ DO CONTO- Era uma vez…

NÓ DA SURPRESA – Visita a… escola antes de Abril

NÓ DA ESCRITA- Enleia as palavras!

NÓ DA TROCA – Toma lá, dá cá!

NÓ DA ILUSTRAÇÃO – Títulos às avessas.

NÓ DA LEITURA – As aventuras de Cuscas!

NÓ DA TRANSMEDIA- As aventuras do Snoopy

cartaz_enleio_das_historias2023 - Ana Marta E. Bra

O (En)Leio das Histórias é uma iniciativa anual, promovida pela Rede de Bibliotecas do Concelho de São Brás de Alportel, com o apoio da Câmara Municipal de São Brás de Alportel e do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas.

Relatório global de confiança 2023

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2023 – Navegamos num mundo polarizado

Segundo o relatório global Edelman Trust Barometer 2023 (23.ª ed.), que resulta da resposta de mais de 32.000 pessoas de 28 países a questionários digitais, regista-se uma falta de confiança nas 4 principais instituições: empresas, governo, ONG e meios de comunicação social.

Portugal não participa no estudo, mas no contexto global, as suas conclusões podem ajudar a compreender e prevenir fenómenos nacionais.

Segundo o Relatório Global 2023, a falta de confiança nas instituições resulta de 4 fatores

1. Desempenho Económico e Expectativas de Renda Futura

24 dos 28 países “registam mínimos históricos” de confiança de que “as suas famílias estarão melhor em cinco anos”: 36% é o nível máximo de confiança dos países desenvolvidos.

Este medo/ansiedade ou pessimismo económico, nas palavras do Relatório, é menor nas economias em crescimento que lideram o índice de confiança económica: Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Singapura.

2. Desequilíbrio institucional

 O governo é percecionado como incompetente e antiético, ao contrário das empresas que estão à frente do governo: 53 pontos na perceção de competência e 29 pontos na ética.

Esta tendência que se tem vindo a registar resulta provavelmente do desempenho das empresas durante a pandemia Covid-19, em relação à Agenda 2030 e ao abandono do mercado russo no contexto da invasão da Ucrânia: “As empresas estão sob pressão para ocupar o vazio deixado pelo governo”.

3. Divisão entre classes sociais

O nível de confiança anda a par dos rendimentos: “Aqueles que se encontram no quartil superior de rendimento têm uma visão profundamente mais positiva das instituições do que aqueles que se encontram no quartil inferior”. A crescente desigualdade de rendimentos faz com que as pessoas vivam vidas separadas, demonstrem “falta de identidade partilhada” e vontade em contribuir para os desígnios nacionais.

O Relatório mostra que, para cada país, ao longo do tempo, têm aumentado as divisões. Os países que lideram este aumento são, por ordem decrescente: Países Baixos/Holanda, Brasil, Suécia, França, Nigéria, EUA, Alemanha e Reino Unido.

4. A batalha pela verdade

A pandemia Covid-19 gerou – até hoje – uma contínua perda de confiança nos meios de comunicação social, sendo percecionados como fonte de desinformação: “Um ambiente mediático partilhado deu lugar a câmaras de eco, tornando mais difícil resolver problemas colaborativamente. Os media não são fiáveis, têm uma confiança especialmente baixa os media sociais”, pois há a perceção global de que a Internet não é segura nem confiável.

Também os governos são considerados fontes de informação falsa e enganosa. ONG e empresas são as únicas consideradas com informação confiável, conforme gráficos infra.

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 5. Injustiça sistémica e polarização

A “injustiça sistémica” (Systemic unfairness) resulta da maioria das pessoas considerar a ocorrência simultânea destes 4 fatores. Ela gera a perceção de que “navegamos num mundo polarizado”, conclusão do Relatório.

Quanto maior é a desigualdade, maior é a falta de confiança e de polarização e vice-versa, pois a polarização é causa e consequência da desconfiança.

Há 6 países que estão em risco de “polarização severa”: Brasil, França, Reino Unido, Japão, Alemanha e Itália.

A polarização agrava os medos de, por ordem decrescente: preconceito e de discriminação, decréscimo de desenvolvimento económico e violência nas ruas. 65% dos inquiridos considera que “o civismo e o respeito mútuo é hoje o pior que alguma vez viu”.

Professores, ONG e líderes de empresa são, por ordem decrescente, percecionados como fontes congregadoras e unificadoras das pessoas. Em contrapartida, são percecionados como forças que dividem e separam, por ordem decrescente, as pessoas ricas e poderosas, os governos – sobretudo estrangeiros e hostis – e os jornalistas.

“Só as empresas são competentes e éticas” - pelo terceiro ano consecutivo mantêm o aumento ético – e são confiáveis. Os inquiridos pretendem das empresas maior envolvimento social em áreas como, por ordem decrescente: mudança climática e desigualdade económica; informação confiável e requalificação de mão de obra. Este envolvimento social faz com que as empresas corram o risco de serem politizadas. O Relatório também evidencia que quando os governos e as empresas trabalham em conjunto, há melhores resultados sociais.

Para os inquiridos as empresas devem continuar a:

  • Liderar, os cidadãos depositam nelas grandes expetativas e responsabilidades em apresentar soluções sobre “o clima, a diversidade, a inclusão e desenvolvimento de competências”;

  • Colaborar com o governo, a restaurar o otimismo económico e a advogar pela verdade e a ter papel central no ecossistema de informação e a promover o discurso dos cidadãos.

 

2017 – Confiança em crise ou implosão da verdade

No contexto da campanha presidencial dos EUA, que levou à eleição de Donald Trump nos EUA e do ​​referendo do Brexit no Reino Unido, 2017 revelou “a maior queda de sempre na confiança nas instituições”, segundo o Comunicado de Imprensa do Relatório 2017 [2].  

Em 2017 apenas 15% dos inquiridos acredita que o sistema está a funcionar. Inclusive, as elites com elevado rendimento, com formação universitária e bem informadas, entre 48 a 51% diz que o sistema falhou para eles.

Neste período, a comunicação social – inclusive medias tradicionais – é percecionada como menos confiável que o governo e as instituições, ONG e empresas. Esta “falta de confiança nos meios de comunicação social também deu origem ao fenómeno das notícias falsas e aos políticos que falam diretamente às massas”, sem intermediários de imprensa ou sem ser na Assembleia/ Parlamento [3].

Um dos 10 insights/perceções do Barómetro 2017 [4] é que os media são percecionados como camaras de eco (the media echo chamber): 53% das pessoas não escutam regularmente pessoas ou organizações das quais discordam e ignoram informação contrária à que acreditam.

Esta quebra de confiança nos media e nos governos – a segunda instituição menos confiável – associada aos efeitos da globalização e ao ritmo crescente de desenvolvimento de tecnologias digitais e de inovação, “transforma-se em medos, estimulando o aumento de ações populistas que agora ocorrem em várias democracias”. “Populistas” e nacionalistas: em Portugal, temos o exemplo da rápida ascenção do Chega. Esta tendência política surge associada ao crescimento de movimentos inorgânicos de fragmentação do poder e de fragilização dos governos e das democracias.

Para reconstruir a confiança nas instituições, o Barómetro 2017 propõe que estas reformulem o seu modus operandi tradicional e criem um novo modelo “mais integrado que coloque as pessoas — e a abordagem dos seus medos — no centro de tudo o que fazem” [5].

Para todos serem parceiros e co-construtores das instituições e criarem relações de confiança, a literacia da informação e media e a educação para a cidadania é componente essencial de todas as ações e projetos com a biblioteca escolar, co-criados e postos em prática com as crianças e jovens. 

Referências

  1. (2023). Edelman Trust Barometer: Global Report. https://www.edelman.com/sites/g/files/aatuss191/files/2023-03/2023%20Edelman%20Trust%20Barometer%20Global%20Report%20FINAL.pdf
  2. (2017). Trust Barometer. https://www.edelman.com/trust/2017-trust-barometer
  3. (2017). 2017 Edelman TRUST BAROMETER Reveals Global Implosion of Trust. https://www.edelman.com/news-awards/2017-edelman-trust-barometer-reveals-global-implosion
  4. (2017). 10 Trust Barometer Insights. https://www.scribd.com/document/336642756/10-Trust-Barometer-Insights
  5. (2017). Edelman Trust Barometer Reveals Global Implosion. https://www.edelman.com/news-awards/2017-edelman-trust-barometer-reveals-global-implosion
  6. 📷 [1]

 

Papel vital das bibliotecas escolares e da professora bibliotecária: uma aliança para o desenvolvimento educativo

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O Agrupamento de Escolas Cristelo, integrado no Programa TEIP e com um Plano de Inovação desde 2016 (integrou o Projeto Piloto de Inovação Pedagógica – P-PIP), tem três bibliotecas escolares, integradas na Rede de Bibliotecas Escolares: Escola EB 2/3/S de Cristelo; EB1 de Sobrosa e EB1 de Duas Igrejas. Todas as escolas do agrupamento estão integradas na rede.

No complexo cenário educacional de hoje, as bibliotecas escolares surgem como verdadeiros oásis de conhecimento, desempenhando um papel crucial na formação dos estudantes. Nessas bibliotecas, o mundo dos livros entrelaça-se com o vasto universo digital, proporcionando uma rica experiência de aprendizagem que vai além das salas de aula. No entanto, para que esse ambiente se torne verdadeiramente enriquecedor, é essencial a presença ativa e dedicada de uma professora bibliotecária exemplar, como é o caso da professora Célia Barbosa.

As bibliotecas escolares não são apenas depósitos de livros; são espaços onde a imaginação floresce, onde a literatura ganha vida e onde as competências de pesquisa e literacia digital são cultivadas. Sob a orientação atenciosa da professora bibliotecária, esses espaços transformam-se em centros de descoberta e de aprendizagem. Com a sua paixão pela leitura e a sua habilidade para incentivar os alunos a explorar novos horizontes literários, ela desempenha um papel vital na promoção da leitura entre os estudantes. Não apenas fornece recomendações de livros personalizadas, mas também organiza atividades interativas, como clubes de leitura e eventos literários, tertúlias dialógicas, no âmbito do Projeto INLUD-ED, que inspiram os alunos a tornarem-se leitores ávidos e críticos, desafiando-os através de olimpíadas de leitura, entre outros.

A nossa professora bibliotecária trabalha, ainda, em colaboração com os professores para integrar recursos da biblioteca nas atividades curriculares, oferecendo suporte às aulas e ajudando os alunos a encontrar informações relevantes para seus estudos. Interage com pais e encarregados de educação, promovendo atividades de leitura, como são exemplo: Os meus pais também leem; Letras que Falam; A Ler Vamos e Matiga; Links-B; Escola a ler: MEL; 10 minutos de leitura diária; Ouvintes Sortudos; Um conto patudo de esperança. Atividades e projetos estes integrados na ação 2 do Plano Plurianual de Melhoria (PPM) do Programa TEIP.

Além de seu papel como promotora da leitura, a Professora Bibliotecária é sensível à literacia da informação e do digital. Ela desenvolve nos alunos, para além da perícia em encontrar informações, a capacidade de como avaliá-las criticamente e utilizá-las de maneira ética e eficaz, numa prática de cidadania que se quer cada vez mais ativa e responsável. A sua orientação capacita os alunos para navegarem no vasto oceano de informações digitais com confiança, preparando-os para um mundo vertiginosamente mais digitalizado.

No entanto, o sucesso das bibliotecas escolares não seria possível sem o apoio firme e sempre presente da direção da escola. O diretor desempenha um papel fundamental ao garantir que a biblioteca tenha os recursos necessários para prosperar. Ele reconhece a importância das bibliotecas escolares como espaços de aprendizagem colaborativa (veja-se o exemplo do projeto Coopera) e apoia ativamente iniciativas que promovem a leitura, a pesquisa e a inovação, bem patente em ações que constituem o Plano Plurianual de Melhoria e Plano de Inovação. Sob a sua liderança, a biblioteca não é apenas um local de estudo, mas um ambiente dinâmico onde o conhecimento é explorado, questionado e celebrado.

A ampliação do espaço, a atualização de mobiliário e os desafios constantes são evidências disso mesmo.

Para além disso, através de uma liderança que se quer também pedagógica, a direção, assumindo esse papel, estabelece padrões de excelência académica e promove a colaboração entre os professores, incluindo a professora bibliotecária, para melhorar a qualidade da educação oferecida aos alunos.

Por fim, é crucial o apoio ao desenvolvimento profissional dos professores, proporcionando oportunidades de capacitação e incentivando a atualização das competências pedagógicas e técnicas.

Em última análise, a colaboração entre a professora bibliotecária e a direção é essencial para o sucesso da biblioteca escolar. Enquanto a professora Célia Barbosa nutre o amor pela leitura e capacita os alunos com competências essenciais, o diretor proporciona o apoio estratégico e logístico necessário para que a biblioteca seja verdadeiramente eficaz.

Juntos, tentamos moldar não apenas leitores proficientes, mas também cidadãos informados, críticos e criativos, preparando os alunos para enfrentar os desafios do mundo moderno com confiança e sabedoria, rumo ao efetivo desenvolvimento do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, alinhado com os desígnios do LifeComp (The European Framework for Personal, Social and Learning to Learn Key Competence) - Quadro Europeu para Competência: Pessoal, Social e Aprendizagem.

Mário Rocha, diretor do AE de Cristelo

 

Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - ecos de liberdade e transformação

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Na sequência do Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação, que teve lugar no dia 24 de outubro, nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian, ocorre refletir um pouco sobre a diversidade e a riqueza de ideias (e ideais) que foram, inevitavelmente, contagiando quem ali se encontrava. Essa riqueza e diversidade (transversalidade), essa liberdade e transformação serão, efetivamente, as pistas certas para o caminho que as bibliotecas escolares devem (continuar a) perseguir nos dias de hoje?

Diremos que sim, sem qualquer hesitação.

Como um ilustre orador confirmou, a biblioteca é (deve ser), o coração da escola. Que responsabilidade esta! É, porém, um coração especial, que pulsa livre, aberto, recetivo, pleno de recursos, ávido de partilha, diálogo e entrega.

Ser criança ou jovem no mundo atual é, à primeira vista, algo fascinante, repleto de maravilhas tecnológicas e barreiras derrubadas, muito para lá do alcance do visível. Mas, como quase sempre acontece, esse fascínio acarreta uma outra face, menos luminosa, na qual, nem tudo o que parece, é…

Como tão bem transmitiram alguns alunos convidados para o painel de partilha de ideias (e ideais), ao serem desafiados a identificar em si mesmos uma qualidade e um defeito, a dualidade dos conceitos e o “verso e o reverso” são uma realidade constante. Duas faces da mesma moeda, dilema, uma questão de perspetiva…

E a leitura, como vai? Como está a nossa relação com a palavra escrita? Sabemos que não é assunto pacífico, nem sequer consensual. Ir ou não ir à biblioteca escolar, eis a questão… O que tem para oferecer? Como são olhados os utilizadores? Que imagem passam para os seus pares? A questão da aceitação tem muito peso no meio juvenil.

O ato da leitura é solitário e o mundo chama-nos lá fora. Recolhimento e ruído não combinam. Em que ficamos? A contemporaneidade contém mais desafios do que podemos humanamente suportar. Como decidir se queremos apenas viver a nossa vida, no prazo que a natureza nos concedeu, ou se estamos tentados a experienciar memória de milhares de anos, desde que há registo gráfico, ou a alargar as nossas vivências através da imaginação dos escritores e dos conhecimentos que nos podem transmitir?

A leitura leva ao pensamento estruturado, estende os horizontes e facilita a competência escrita e a oralidade. Durante toda a nossa vida estas aptidões são essenciais para o exercício da nossa quota de cidadania, de forma independente, distintiva e única, contribuindo para o bem comum, a coesão e o desenvolvimento da sociedade, precisamente o contrário da tendência para a polaridade e o extremismo a que assistimos todos os dias.

Hoje, vendem-se ideias ao desbarato, porque são apenas opiniões pouco ou nada fundadas e fazem-se afirmações como se de verdades se tratasse, a um ritmo alucinante, à beira da náusea. Até para os mais avisados (e aqui a idade não conta) é necessário cautela e uma dose generosa de bom senso. Como fazer a triagem no enredado da teia (web) da sociedade da informação e da comunicação? Como distinguir o trigo do joio?

Cada vez mais, neste campo, a quantidade de conteúdos e a ineficácia da sua regulação, constituem fatores que dificultam exponencialmente a procura da qualidade, do que é fidedigno, correto, verdadeiro.

Os 15 minutos de fama de que falava Warhol, a que todos teríamos direito, um dia, foram completamente ultrapassados, a partir do momento em que todos podemos produzir conteúdos e publicá-los direta e gratuitamente. Uma fama perene, sem prazo, oferecida pela globalização, sem quaisquer custos…, mas os custos existem e são altos.

A pressa e a leveza dos dias que se sucedem tendem a precipitar-nos para atitudes irrefletidas e crédulas, e não combinam com o pensamento crítico e a capacidade analítica que tanta falta nos faz, enquanto sociedade. A Biblioteca Escolar assume uma responsabilidade acrescida, diríamos mesmo, basilar e inclui-se no conjunto de entidades cujos valores de “verdade e confiança”, validado por diversos estudos que colocam as bibliotecas e os museus em patamares iguais). Deste modo, a informação que a biblioteca escolar presta é digna de confiança, por ser credível – objetiva, rigorosa e equilibrada.

Foi tocante, em particular, a criatividade de alguns momentos.

Quem não gosta de uma boa história? E se, para além das palavras que escrevem a história, as personagens ganharem vida e contarem a história, emprestando o seu corpo e a sua voz, movimentando-se e encarnando seres outros, mágicos e enigmáticos, caricatos ou dramáticos, alimentando o nosso imaginário? Os elefantes dão boas histórias… e não se esquecem delas… por terem memória de elefante!

E não é que Arte e Ciência, afinal, andam de mãos dadas, tão próximas como velhas amigas? É algo comum um “artista” ser multifacetado, que a criação não conhece fronteiras. Um pintor que também é escritor… Uma compositora que também é performer… Um bailarino que também é cantor… Uma atriz que também é “graffiter”… Mas um(a) artista cientista ou um(a) cientista artista?!...  facto mais raro, capaz de surpreender…

Um orador confirmou-nos que sim, que têm existido pessoas de grande valor que combinam estes saberes. Têm de ser muito curiosas, estas pessoas extraordinárias. Querer saber, investigar, compreender, associar, criar, inventar, elaborar. São pessoas tais, que não esperam receitas, criam-nas, novinhas, sem precisar de instruções. Fogem à regra, pois então! Preferem estar do lado de fora da “caixa” e são maravilhosamente avessos a formatações… Talvez o termo “genial” seja o que melhor as caracteriza.

Estes seres notáveis contribuem para tornar o nosso mundo muito mais interessante, rico e emocionante. Até descobrem padrões ocultos na natureza e desvendam mistérios quiçá insondáveis para a maioria…

São seres livres e transformadores, capazes de nos inspirar.

Com um coração do tamanho do mundo, capaz de acolher todos em igualdade de acesso e oportunidades, queremos e cremos que assim sejam as nossas bibliotecas escolares, também elas capazes de nos inspirar.

Revisitando a 9.ª edição do "Concurso Ensaio filosófico no Ensino Secundário" e preparando o Dia Mundial da Filosofia 2023

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Assinalando-se no próximo dia 16 de novembro o Dia Mundial da Filosofia, celebrado pela UNESCO, desde 2002, na terceira quinta-feira do mês de novembro, revisitamos três ensaios da 9.ª edição: o prémio atribuído ao ensaio filosófico Questões de género, da autoria de um grupo de três alunos do Colégio Pedro Arrupe, Afonso Nobre, Matilde Mestre e Sebastião Mendonça, bem como as duas menções honrosas: Questões de género, da autoria da aluna Beatriz Silva Pinheiro, da Escola Básica e Secundária Dr. Manuel Ribeiro Ferreira (Alvaiázere) e O que faz alguém homem ou mulher? Existirá uma essência de género?, da autoria da aluna Constança Inês Piscarreta Correia, da Escola Portuguesa de Moçambique.

“As questões acerca da natureza do género têm surgido recentemente como um objeto de debate e reflexão de grande importância. […] A compreensão do género como uma categoria inata ou adquirida, binária ou não-binária, fixa ou fluida, levanta questões fundamentais sobre a essência do ser humano e a forma como nos relacionamos em sociedade. […] Quais são as implicações que a definição de género tem na sociedade e no modo como nos apresentamos e nos relacionamos com os outros?[…]

Questões de igualdade de género, discriminação, violência e exclusão estão intrinsecamente ligadas às ideias e crenças que moldam a nossa compreensão de género. Compreender e problematizar essas noções é essencial para promover uma sociedade mais justa e inclusiva. Mais uma vez, este problema trata de uma questão de direitos humanos.”
Afonso Nobre, Matilde Mestre e Sebastião Mendonça

“É moralmente aceitável tolerar a discriminação com base no género? […]

A igualdade é um princípio ético fundamental, e não um enunciado de factos. […] O eixo estruturante das relações entre homens e mulheres continua manchado de um certo desequilíbrio, muitas vezes menosprezado, tanto pelas entidades políticas como pela sociedade civil, o que constitui um grande problema na sociedade atual, no que diz respeito ao alcance da igualdade de género

 Se temos a possibilidade de agir de modo diferente do que agimos, por que razão não agimos, sempre, de forma correta? O que é agir de forma moralmente correta?”
Beatriz Silva Pinheiro

“Será que existe um conjunto de características fixas e imutáveis, inerentes ao género e que determina o que é ser homem ou mulher? […] Desde o início dos tempos que existe o homem e a mulher. O feminino e o masculino. A humanidade tem-se dividido nestes dois rótulos, nestas duas caixas que distinguem não só diferenças anatómicas, mas também diferenças de papéis, formas de pensar e de ser que designamos de géneros. Mas o que é realmente o género? Será algo determinado pelo sexo biológico? Existirá uma essência definida para a distinção de papéis entre géneros? […]

Os conceitos associados ao género são estabelecidos social e culturalmente através de padrões de comportamento considerados próprios do homem e da mulher, os quais são interiorizados e assumidos por cada um, como sendo “naturais”.
Constança Inês Piscarreta Correia

Como habitualmente, a Associação de Professores de Filosofia (Apf) já disponibilizou uma proposta de sequência didática para o Dia Mundial da Filosofia - Inteligência Artificial, Ética e Pensamento Crítico.

Será também nesse dia que será entregue o prémio ao grupo autor do ensaio vencedor da 9.ª edição do Concurso “Ensaio Filosófico”, no Colégio Pedro Arrupe, e lançada a 10ª edição do Concurso, promovido pela Apf em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares.

Dirigindo-se a alunos do ensino secundário público e privado, os Ensaios a concurso não estão sujeitos a tema específico (tema livre) e são uma oportunidade para se promover o interesse pela escrita e reflexão filosóficas; para realçar a importância da disciplina de Filosofia na componente de formação geral dos alunos do ensino secundário; para consolidar nos alunos competências em literacia da informação e para divulgar o trabalho desenvolvido nos Agrupamentos e nas Escolas do ensino secundário.

Participe(m)!

Discórdia - uma leitura atual

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Para muitos a democracia grega foi um marco da civilização ocidental, mas foi igualmente relevante para a filosofia, despertando o espírito crítico, o questionamento, a problematização e o confronto de ideias.  Atualmente, a divergência de opiniões está a ultrapassar os limites do saudável dando lugar ao conflito, ao mau estar, aos confrontos e problemas. Ganhará quem gritar mais alto? Conseguiremos escutar o outro? Qual o valor do diálogo?

Vivemos momentos turbulentos, o ruído não nos deixa escutar o outro. Cada um quer ouvir a sua voz. Uma voz alta. Bem alta. Por vezes, ensurdecedora, com que cada um grita mais alto. Conseguiremos dialogar? Conseguiremos entender os pontos de vista dos outros? Teremos liberdade para duvidar? Estaremos esquecidos de que o debate de ideias amplia horizontes e saberes? Será que nos entendemos aos gritos?

Afinal, porque discordamos? Discordar será tão importante quanto concordar? A leitura de Discórdia ajuda-nos a refletir sobre a polarização de opinião e a necessidade de encontrar soluções, redes de entendimento que torne a vida numa comunidade aprazível.

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A narrativa visual inicia-se nas guardas do livro, onde é visível um balão de cor púrpura, a mistura equilibrada, transmitindo a sensação de prosperidade e respeito.  Quando o balão de cor púrpura conhece o balão laranja, cheio de entusiasmo e energia, tudo se complica. Os dois balões dão lugar a um balão bicolor, que cresce desmesuradamente sem que ninguém o consiga parar. Onde existia cor instala-se o negro. E agora? O que fazer?

Na narrativa, assim como na vida, é necessário encontrar novas soluções, reunir sinergias e descobrir, em conjunto, de forma reflexiva, que cores distintas podem coabitar e encontrar a harmonia. Tolerância, respeito e flexibilidade ganham sentido e tornam-nos mais conscientes da importância da convivência social.

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No final, a esperança invade-nos rompendo com a negritude dos dias, alguém recorda que discordar faz parte da vida e que poderá ser benéfico e construtivo. 

Este livro nasceu de um trabalho do curso de ilustração, lecionado em 2019 por Catarina Sobral e Tiago Guerreiro, com a orientação de André Letria, editor do Pato Lógico. Um dos exercícios do curso era, precisamente, a criação de uma narrativa visual para a coleção - Imagens Que Contam - livros silenciosos, apenas com uma palavra, a do título, contribuindo desta forma para uma narrativa poderosa.

Nani Brunini nasceu em 1976, em São Paulo. Antes de se mudar para Lisboa, onde vive atualmente, morou em Mannheim, Helsínquia, Londres e São Francisco. Estudou Artes Plásticas na Universidade de São Paulo e Design Industrial na UFPE no Recife. Fez mestrado em Design Management na Universidade de Cambridge, em Inglaterra. Depois de dez anos a trabalhar com pesquisa e estratégia em design, voltou aos pincéis e lápis de cor. Em 2020, foi convidada a publicar o seu primeiro livro, Discórdia.

IFLA: Declaração sobre bibliotecas e IA

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Potencial

Os sistemas de IA (Inteligência Artificial) têm potencial para transformar o modo como aprendemos/trabalhamos e vivemos e a gestão e serviços das bibliotecas na criação, classificação e pesquisa de conteúdo; assistência à aprendizagem e aprendizagem personalizada; realidade aumentada por IA; OCD (Optical Character Recognition/Reconhecimento Ótico de Caracteres); tradução automática e serviços mais acessíveis para todos.

Questões

No âmbito do uso de sistemas de IA em contexto de biblioteca escolar, há questões que se levantam:

  • Como é que os professores bibliotecários estão a comunicar aos alunos as potencialidades e os impactos de IA?
  • Estão a ensaiar novas formas de aprender baseada em investigação de IA, da qual os alunos são cobaias?
  • Ao familiarizarem-se precocemente com sistemas IA, criados para gerar/melhorar automaticamente conteúdos (texto, imagens, dados, códigos de programação…), os alunos poderão julgar, à primeira vista, que trabalhar não exige esforço?
  • Que competências de literacia de informação é que os professores bibliotecários ensinam aos alunos?
  • Incentivam a criação de informação/dados/História(s) sobre a comunidade local não contemplada na IA generalista e dominante?
  • Como é que os alunos estão a iniciar o seu próprio envolvimento intelectual (leitura/discussão/expressão) para que tenham pensamento crítico antes de utilizarem IA?
  • Como é que leem, escrevem e discutem factos e notícias, de modo a desenvolver o raciocínio e o espírito crítico?
  • Como é que podem procurar informação aprofundada, rigorosa e evitar resultados iguais e limitados?

Considerações

A declaração política da IFLA sobre Bibliotecas e IA estabelece considerações para a sua utilização com alunos e outros utilizadores:

  • “Deve estar sujeita a normas éticas claras (…), seguras [privacidade] e legais”;
  • Deve ser usada “significativamente”, no contexto de atividades relevantes para a vida diária dos jovens;
  • Deve ser acessível a todos e inclusiva, proporcionando “oportunidades equitativas de aprendizagem ao longo da vida, particularmente para as populações vulneráveis”.

Qual é o papel das bibliotecas e do professor bibliotecário?

A declaração política da IFLA sobre Bibliotecas e IA define o papel que os bibliotecários – e o professor bibliotecário - podem desempenhar no setor da IA.

1.

É necessário reforçar a MIL (Media and Information Literacy/Literacia Mediática e da Informação), de que faz parte a “literacia em IA” e, segundo a IFLA, esta inclui a compreensão de:

  • Como funciona/Qual é a lógica e limitações de IA e ML (machine learning/ aprendizagem automática) e dos algoritmos (“literacia algorítmica”, conforme documento) na forma como os utilizadores acedem e recebem informação;
  • Potenciais impactos sociais da IA, especialmente em direitos humanos;
  • Competências de gestão e proteção de dados pessoais – privacidade e ética;
  • Literacia mediática e da informação.

Neste contexto, os bibliotecários podem alargar as parcerias na área das tecnologias e da literacia algorítmica e digital e participar em “debates políticos sobre o que significa a IA ser utilizada ‘para o bem’”.

Para saberem ajustar os seus serviços à evolução das necessidades da sociedade, do mercado de trabalho e dos seus utilizadores, é importante que os bibliotecários reforcem a sua formação no setor.

2.

É fundamental que as iniciativas de literacia em IA sejam acessíveis, para que todos possam beneficiar - e não ser prejudicados – e fazer escolhas significativas de aplicações de IA, designadamente os grupos mais vulneráveis. Porquê?

Para:

  • “Promover a participação informada do público no diálogo político e na tomada de decisões em matéria de IA”
  • “Incentivar a transparência”, a qual deve prever “a capacidade de contestar”/reclamar o uso indevido de IA.

3.

Para além destas recomendações, a declaração da IFLA sobre Bibliotecas e IA define condições para a utilização e a aquisição de tecnologias de IA em contexto de biblioteca:

  • “Deve estar sujeita a normas éticas claras e salvaguardar os direitos dos seus utilizadores”;
  • Deve cumprir “os requisitos legais e éticos em matéria de privacidade e acessibilidade”.

Qual é o papel de associações de bibliotecas, formadores e governos?

1. Apresenta recomendações às associações de bibliotecas e formadores, das quais se destaca:

  • Defender a intervenção das bibliotecas na adaptação dos sistemas educativos às novas exigências no mercado de trabalho que a IA pode trazer;
  • “Colaborar com investigadores e programadores de IA para criar aplicações para uso das bibliotecas, que cumpram as normas éticas e de privacidade e respondam especificamente às necessidades das bibliotecas e dos seus utilizadores”;
  • Promover fóruns de partilha e “intercâmbio de boas práticas sobre a utilização ética das tecnologias de IA nas bibliotecas”.

A formação e a experiência destes profissionais em qualidade dos dados, curadoria, privacidade e uso ético de informação e literacia MIL habilita-os para esta intervenção.

2. E apresenta aos governos recomendações sobre IA:

  • Negociar com os criadores e empresas de ferramentas de IA, para que incluam exceções aos direitos de autor, para que possam ser usadas para fins de educação e investigação;
  • Dotar as “bibliotecas das infraestruturas e tecnologias necessárias” para uso de IA;
  • Assegurar que a regulamentação/legislação em IA “proteja os princípios da privacidade ou da equidade”, salvaguardando o interesse público/social da IA.

O SIG (Special Interest Group/Grupo de Interesse Especial) de IA da IFLA trabalha no sentido de implementar as recomendações para a utilização de tecnologias de IA no setor das bibliotecas, conforme constam da Declaração sobre Bibliotecas e IA da IFLA, acrescentando-lhe valor e impacto.

Publicou, a 30 de junho, um recurso não técnico sobre IA que pode ser útil aos professores bibliotecários. Apresenta um conjunto de tópicos simples, com bibliografia atual e um glossário, que pode ajudar a estruturar atividades com alunos [3].

A dinamização destas atividades é importante porque permite conhecer as perceções e utilizações dos jovens e permitem que eles saibam como foi construída, funciona, quais as melhores ferramentas, para o que se deve – e não deve – usá-la, que desafios éticos levanta, entre muitos outros aspetos. 

Referências

  1. (2020). IFLA Statement on Libraries and Artificial Intelligence. International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.facebook.com/photo/?fbid=4003466199682295&set=a.598622580166691
  2. (2020). IFLA Statement on Libraries and Artificial Intelligence. International. Federation of Library Associations and Institutions. https://repository.ifla.org/handle/123456789/1646
  3. IA generativa para profissionais de bibliotecas e informação (rascunho). International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.ifla.org/generative-ai/
  4. 📷 [1]

 

Biblioteca escolar: 18 anos de desafios e aprendizagem

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Há precisamente 18 anos, quando a então Presidente do Conselho Executivo me convidou para desempenhar o cargo de Coordenadora da Biblioteca Escolar no Agrupamento de Escolas de Monchique, aceitei, entusiasmada, sem quaisquer reservas. Era professora de Português, os livros fascinavam-me, desenvolvia, com os meus alunos, algumas atividades de leitura interessantes e tudo me parecia exequível e motivador. Estava longe de imaginar a odisseia que me aguardava!

Duas das bibliotecas do agrupamento acabavam de ser integradas na Rede de Bibliotecas Escolares e, mal comecei, percebi imediatamente que o cargo que assumira era muito mais complexo e exigente do que eu julgava. Questionei, então, a minha decisão, mas esmorecer nunca foi uma opção.

Começou por ser um trabalho físico, musculado, de reestruturação dos espaços e de reorganização do fundo documental. Não houve um livro (e eram muitos!) que tivesse ficado no mesmo lugar. As listagens sintetizadas da CDU foram, então, preciosíssimas. Dávamos, ao mesmo tempo, os primeiros passos nas tarefas de etiquetagem e catalogação.

Paralelamente, as ideias fervilhavam e iam surgindo atividades, novas atividades, que procuravam corresponder aos pressupostos dos normativos curriculares e aos interesses e expectativas dos alunos.

Surge, entretanto, o Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar. Que desafio! Por essa altura, a ação da biblioteca escolar já era reconhecida e valorizada na escola e na comunidade, graças, essencialmente, a um conjunto diversificado de atividades de leitura, que davam corpo ao Projeto aLer+ e que ultrapassavam os limites físicos do espaço escolar, conquistando adeptos. Não obstante, uma apreciação detalhada dos fatores críticos de sucesso, dos impactos nas aprendizagens e dos níveis de desempenho de cada domínio do MABE fizeram-me perceber que estávamos muito aquém de um bom desempenho. Senti-me, então, numa estrada sinuosa, semeada de obstáculos e com tantas etapas por cumprir.  Adivinhava-se, no entanto, lá ao fundo, um mar de oportunidades. O MABE era, inquestionavelmente, um instrumento pedagógico de referência e de melhoria contínua: orientava, apontava caminhos, incentivava ao trabalho colaborativo, fomentava parcerias, promovia a criatividade, incutia a vontade de fazer mais e melhor.

Também o referencial «Aprender com a Biblioteca Escolar» se revelou um guia fundamental para o desenvolvimento das literacias da leitura, da informação e dos media, enfatizando o contributo da biblioteca escolar para a aquisição de habilidades essenciais no século XXI.

Progressivamente, a biblioteca afirmava-se na escola como um polo dinamizador do saber, ao serviço da aprendizagem e do desenvolvimento das múltiplas literacias, com particular destaque para o domínio da leitura. Algumas das atividades desenvolvidas eram replicadas noutras escolas e consideradas boas práticas por entidades externas. Os relatórios da IGEC apresentavam considerações muito favoráveis em relação à dinâmica da BE, e os novos professores (que todos os anos chegam à escola) estranhavam, no início, mas, paulatinamente, iam-se tornando cúmplices, assumiam as propostas como suas e, muitas vezes, elevavam-nas a um patamar surpreendente.

Pessoalmente, tenho de admitir que o cargo de professora bibliotecária me dotou de saberes, competências e capacidades que dificilmente teria adquirido noutras funções. O trabalho em rede, quer localmente quer a nível nacional, desempenhou um papel crucial na minha capacitação profissional, proporcionando uma consistente e sistemática partilha de experiências, de recursos educativos e de estratégias pedagógicas e garantindo o acesso regular a formação contínua diversificada e de qualidade, antecipando, muitas vezes, os desafios que uma sociedade em constante mudança impõe à escola. Facultou-me ainda a oportunidade extraordinária de trabalhar colaborativamente com dezenas e dezenas de colegas de diferentes áreas e departamentos, em prol das aprendizagens, do bem-estar e do sucesso pessoal e escolar dos nossos alunos.

Por agora, já na reta final do meu percurso profissional, a biblioteca escolar, tal como a conhecemos nos últimos dezoito anos, está prestes a encerrar portas. A escola vai, finalmente, para obras. É tempo de desfazer dossiês, rasgar papéis, esvaziar gavetas e armários, encaixotar livros… preparar a saída da biblioteca para um espaço provisório. As memórias (boas memórias) cruzam-se com o movimento diário de alunos e professores, indiferentes à desorganização da mudança. Estão certos! Afinal, a biblioteca escolar é muito mais do que um espaço físico. É, acima de tudo, uma vontade, uma atitude.

Ana Paula Gervásio de Almeida,
Professora bibliotecária no Agrupamento de Escolas de Monchique, desde setembro de 2005.

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1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.

2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.

3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

 

Sessão de celebração e de lançamento do Projeto READ ON PORTUGAL 23-24

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No dia 27 de outubro, foi realizada a sessão de celebração do trabalho desenvolvido, ao longo do ano letivo 2022-2023, no âmbito do projeto READ ON Portugal. O evento decorreu, das 14h00 às 15h30 , no Solar dos Zagallos, na Sobreda de Caparica, em Almada, na modalidade presencial e em linha.

O Projeto READ ON Portugal, uma iniciativa conjunta da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) e do Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté (AECG), promoveu várias atividades, subordinadas ao tema “Eu, cidadão”, em consonância com a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania e com o objetivo de poder contribuir para a formação de pessoas responsáveis, autónomas e solidárias:

o concurso “A minha vida aos quadradinhos”, que implica a conceção e desenvolvimento de uma banda desenhada por participantes, divididos em dois escalões (Escalão A - Grupo etário 12-15; Escalão B - Grupo etário 16-19);

o concurso de escrita criativa, que propõe a criação de um texto original e criativo, em Língua Portuguesa ou Língua Estrangeira (Inglês, Francês, Espanhol ou Alemão) por jovens de idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos de idade [Escalão A - Grupo etário 12-15; Escalão B - Grupo etário 16-19]; 

a “Antologia”, dirigida a jovens de idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos de idade que frequentem o ensino secundário, que consiste na escrita a várias mãos de um texto, sob orientação de um escritor convidado.

O Flic Award, associado ao Festival FLIC (Festival de literaturas y artes infantil y juvenil), organizado em Espanha, que motiva para a ilustração de um objeto fornecido pelo promotor do concurso de acordo com orientações específicas, tendo por base a leitura de um excerto literário, sendo destinado a jovens ilustradores que frequentem o ensino secundário, no curso de Artes Visuais .

No que diz respeito ao concurso A minha vida aos quadradinhos,  no escalão A, foram atribuídos um 1º prémio a Eva Kyara Maciel Alves, do Agrupamento de Escolas de Baroselas (Viana do Castelo) e uma menção honrosa, a Leonor Silva Gonçalves, da Escola Secundária de Amarante. No escalão B, o 1.º prémio foi para Ana Lúcia Camacho da Costa Rebelo, do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite (S. João da Madeira) e a menção honrosa para Maria Teresa Rebotim Serrubeco, da Escola Secundária de Coruche [v. trabalhos no Portal RBE]

Em relação ao Concurso de Escrita Criativa, na categoria de trabalhos em língua portuguesa, no escalão A, foram premiados os alunos Érica Filipa Nogueira Fonseca, do Agrupamento de Escolas do  Sudeste de Baião (1º prémio) e Polina Arkhanhelska, da Escola Secundária de Arouca (menção honrosa). No escalão B, distinguiram-se Inês Maria Pinho de Deus Cabete Carvalho e Lara Beatriz Ribeiro Oliveira, ambas alunas do Agrupamento de Escolas Dr. Serafim Leite (S. João da Madeira), com o 1º prémio e uma menção honrosa, respetivamente. Na categoria de trabalhos em língua estrangeira, escalão B, o 1º prémio foi entregue a Carlos Jhonfreider Vargas Torres, da Escola Secundária Marques Castilho (Águeda) e a menção honrosa a Leonor Soares Oliveira, atual aluna da Faculdade de Economia do Porto. [v. trabalhos no Portal RBE]

A atividade Antologia contou com a participação de 7 estabelecimentos de ensino: ES Fernão Mendes Pinto, com 20 alunos; ES Cacilhas Tejo, com 20 alunos; ES Ruy Luis Gomes, com 50 alunos; ES Emídio Navarro, com 15 alunos; ES de Santa Comba Dão, com 17 alunos; ES da Mealhada, com 25 alunos; ES Infanta D. Maria, com 5 alunos. Os escitores convidados foram Ana Cristina Silva, Ana Margarida Carvalho, Filipa Martins, Inês Barata Raposo e Nuno Matos Valente.  

Os textos coletivos [de 10 a 12 páginas], com intervenção de escritores e dos grupos de jovens resultou numa notável publicação que pode ser consultada em linha.

Relativamente ao FLIC Award, foram enviados 90 trabalhos de 5 escolas portuguesas. De entre o total das 11 escolas europeias que participaram neste concurso, as alunas Mariana Dias, do 12º de Artes Visuais da Escola Secundária de Paços de Ferreira, e Nadine Tiny, do 10º ano de Artes Visuais da Escola Secundária Emídio Navarro, em Almada, foram apuradas para o grupo de 10 finalistas na categoria Júnior.

A Sessão terminou com o lançamento das atividades READ ON Portugal 23/24. Procurando contribuir para a reflexão em torno do Cinquentenário dos 50 anos do 25 de abril, o tema sugerido para a 14ª edição é  “Eu, cidadão em democracia”.

Consulte as orientações, os prazos de candidatura e as condições de envio e submissão dos trabalhos no Portal RBE.

O poder da imagem

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Parte significativa da informação atual a que acedemos - na comunicação e entretenimento quotidianos e no trabalho - é visual: pinturas, fotografias e vídeos; gráficos/infografias, mapas e tabelas; emojis, memes e gifs; imagens de jogos de computador; imagens 3D; NFT (Non Fungible Token); dados pessoais visuais (capitalismo de vigilância)…

As imagens têm poder de:

  • Sintetizar e tornar acessível informação extensa e complexa;

  • Criar envolvimento com o espetador/público;

  • Dar voz/exprimir ideias, emoções, atitudes e valores;

  • Influenciar/manipular.

 

A importância das competências de literacia visual aumentou com o desenvolvimento da Web [e de redes sociais como Instagram ou TikTok], meio altamente visual e que facilita a captação e a partilha de imagens” (Matusiak, 2020) [1] e a sua manipulação. E por isso deve ter um peso crescente nas sessões com alunos na biblioteca escolar.

A literacia visual faz parte da literacia da informação e média e, segundo a IFLA, “As competências de literacia visual e mediática não fazem parte inerente do nosso conjunto natural de competências como seres humanos; essas são competências que precisam ser ensinadas, aprendidas e praticadas”.

No contexto de uma paisagem visual cada vez mais heterogénea e em mudança, é fundamental que as bibliotecas escolares criem oportunidades para os alunos disporem do seu tempo – desacelerarem – e da sua atenção – focarem-se – para, a partir/com as imagens, desenvolverem competências de pensamento crítico e criatividade, que, segundo o Fórum Económico Mundial de 2016 sobre O Futuro dos Empregos, são indispensáveis para enfrentar a Quarta Revolução Industrial que vivemos.

E estas competências são:

1. Avaliação da autenticidade e da credibilidade, evitando serem enganados e manipulados. Para o efeito, devem analisar a fonte, o contexto, as informações técnicas, bem como da qualidade da imagem ou media visual;

2. Uso/partilha eficaz e ética, respeitando os direitos de autor;

3. Análise e interpretação dos elementos de uma imagem - cor, formas/figuras, espaços… Como se encaixam? Que história contam? Que símbolos, ideias, significados transmitem? - de modo a constatarem que a mesma imagem sugere diferentes interpretações a diferentes pessoas e ao longo do tempo;

4. Criação ativa de imagens e media visuais significativos, pois através desta criação a criança ou jovem toma consciência de que cada linguagem visual – pintura, fotografia, vídeo… - dispõe de ferramentas – ângulos da câmara, luminosidade, sombras… - que servem para criar um determinado efeito no público – o espetador está no centro da criação da imagem - e que podem inclusive ser usadas contra o bem.

A primeira definição de literacia visual foi criada na era pré-digital, na década de 60, por John Debes e destaca a importância de desenvolver competências visuais e integra-las com outras experiências sensoriais para compreender e interpretar imagens. Mas desvaloriza a capacidade de o ser humano criar imagens, pois pensava-se que esta era uma área exclusiva de especialistas de belas artes.

Para a UNESCO – e a Rede de Bibliotecas Escolares - todos temos capacidade de expressar ideias e emoções – somos todos artistas. E a UNESCO apresenta evidências de que quando ligamos artes a todas as formas de aprender, aprendemos melhor, não apenas artes, mas todas as matérias e disciplinas.

Para sensibilizar para as artes e a cultura e promover competências de literacia visual, que permitem compreender que as imagens não são neutras, nem objetivas, as bibliotecas escolares disponibilizam e expõem álbuns/novelas gráficas selecionadas pelo professor bibliotecário em cooperação com os alunos.

Estes álbuns combinam imagens visuais e textos, muitas vezes curtos e simples, que se adaptam a uma aprendizagem não formal e informal que suscita a curiosidade de todos e faz crescer o gosto por ler e aprender.

Nota: Esta foi a comunicação da Rede de Bibliotecas Escolares nas XII Jornadas da Rede de Bibliotecas da Maia, subordinadas ao tema, O Poder da Imagem. [2]

Outra fonte: Portal RBE > Artes e património com a biblioteca escolar

Referências

  1. Matusiak, K. (2020). (2020). Studying visual literacy: Research methods and the use of visual evidence. IFLA Journal. 46(2), p. 172. https://repository.ifla.org/handle/123456789/340?mode=full
  2. Biblioteca Municipal da Maia. (2023, 27 e 28 out.). XII Jornadas da Rede de Bibliotecas da Maia. https://www.cm-maia.pt/institucional/agenda/evento/xii-jornadas-da-rede-de-bibliotecas-da-maia
  3. 📷 Simon por Pixabay

Design de sítios Web: Os utilizadores são importantes (mas os seus não são especiais)

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As bibliotecas desenvolvem as suas coleções para apoiar as suas comunidades. A coleção de uma biblioteca não é a mesma que a de outra, uma vez que tem de se adaptar aos seus utilizadores.

Esta mesma doutrina não se aplica aos sítios Web. Lembre-se, os utilizadores chegam ao sítio Web da sua biblioteca com toda a sua experiência na Web. Se o seu sítio desrespeitar as convenções ou não tiver os elementos esperados, não está a servir a sua comunidade - está a apresentar obstáculos de que as pessoas não estão à espera.

É demasiado fácil acreditar que, online, os utilizadores da sua biblioteca são uns flocos de neve especiais. Pelo contrário, eles são como toda a gente que utiliza a Web: Querem poder aplicar os seus conhecimentos prévios e sentir-se confortáveis quando utilizam o sítio Web da biblioteca.

As melhores práticas são importantes. Faça com que o site da sua biblioteca seja um lugar familiar.

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Referência

Este é o último de um conjunto de cinco artigos, resultantes da tradução de:

Solomon, L. (setembro de 2023). Website Design: Best Practices That Really Matter to Your Users. Computers in Libraries. Information Today. https://www.infotoday.com/cilmag/sep23/Solomon--Website-Design-Best-Practices-That-Really-Matter-to-Your-Users.shtml

Veja também:

#1 Design de sítios Web: Boas práticas que realmente interessam aos seus utilizadores

#2 Design de sítios Web: A velocidade é importante

#3 Design de sítios Web: As imagens são importantes

#4 Design de sítios Web: A Navegação é importante

Sobre a autora

Laura Solomon é gestora de serviços bibliotecários da Rede de Informação da Biblioteca Pública do Ohio (oplin.ohio.gov) e programadora Web front-end certificada. Há mais de 20 anos que desenvolve e desenha para a Web, tanto em bibliotecas públicas como enquanto consultora independente. É especialista em desenvolvimento com Drupal. Eleita Library JournalMover & Shaker em 2010, escreveu três livros sobre redes sociais e marketing de conteúdos, especificamente para bibliotecas, e dá palestras internacionais sobre estes e outros tópicos relacionados com tecnologia. Como ex-bibliotecária infantil, gosta de levar a "diversão da tecnologia" ao público e de dar às bibliotecas as ferramentas de que necessitam para servir melhor o cliente virtual.

📷 Gerd Altmann por Pixabay

Agradecimento [1]

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Em primeiro lugar, uma palavra de felicitação à Isabel e ao Jorge. Tenho que vos dizer que me sinto muito orgulhosa por partilhar esta lista de finalistas convosco, porque conheço a excelência do vosso trabalho.

Um agradecimento especial ao nosso júri que, com tanta dedicação e paciência, analisou as nossas candidaturas e que, pelo percurso profissional de cada um dos seus elementos, confere um enorme prestígio a este prémio.

Um agradecimento muito especial à Rede de Bibliotecas Escolares. Não pela criação deste prémio, mas por muito mais do que isso: pela genialidade com que alimenta todos os dias o trabalho das bibliotecas escolares; porque sonhou, em 1997, com bibliotecas escolares que fossem o coração da escola, transformador de práticas educativas, e conseguiu levar a cabo de forma tão espantosa esse desígnio que hoje as bibliotecas escolares portuguesas são reconhecidas como exemplos de inovação e criatividade.

Quando, em 2007, comecei a trabalhar em bibliotecas escolares percebi de imediato que estas eram lugares de luz, de sonho e de magia…, provavelmente já o sabia porque também como utilizadora me tinham encantado as histórias e o conhecimento contido nos livros…

Porém, não podia imaginar que, colaborativamente e em rede, construiríamos bibliotecas que são espaços flexíveis e multifuncionais, que nos permitem trabalhar múltiplas competências; que são também espaços inclusivos, porque a escola é agora de todos e esse todo significa a diversidade, diferentes percursos de aprendizagem, diferentes vivências, diferentes nacionalidades.

Não poderia também, nesse tempo, saber que viveríamos uma pandemia e que, mesmo nos momentos mais difíceis, as bibliotecas escolares não deixaram de estar presentes na vida dos seus utilizadores. Apostámos, então, numa presença digital sem precedentes, sendo que hoje oferecemos um serviço em linha de elevadíssima qualidade que nos permite chegar aos nossos utilizadores a qualquer hora e em qualquer lugar.

Testemunhar tudo isto e fazer parte deste processo de evolução, ser peça integrante desta rede que inspira, forma, constrói, desafia, estabelece parcerias, cria programas inovadores… dizia eu, testemunhar tudo isto e fazer parte deste processo de evolução é motivo de muito orgulho.

Agradeço e dedico este prémio a todos os alunos, professores, assistentes operacionais e parceiros externos do meu agrupamento que comigo têm colaborado e me têm feito crescer como profissional. Sendo impossível nomeá-los, porque são muitos, nomeio aqui algumas pessoas que me têm incentivado e inspirado ao longo deste meu percurso:

Um agradecimento à professora Sílvia Vidinha, diretora do meu agrupamento, uma entusiasta das bibliotecas escolares e de todas as propostas que tragam inovação à escola. Se não fosse a Sílvia, eu não estaria aqui, pois foi ela que me inscreveu neste prémio, apesar da minha relutância. Antes da Sílvia, ao professor Benjamim Moreira, ex-diretor do nosso agrupamento, com quem trabalhei em profícua colaboração durante 13 anos.

À minha coordenadora interconcelhia, Raquel Ramos, pelo exemplo de dedicação às bibliotecas escolares, pelas ideias criativas que me tem dado para os meus projetos, pelas palavras de incentivo quando a “espuma dos dias” nos traz pensamentos de desistência, pela exigência, porque é o querer sempre melhor que nos faz crescer enquanto professores bibliotecários.

Aos colegas bibliotecários do concelho de Viana do Castelo, exemplar comunidade de prática e grupo de colaboração e partilha.

À professora bibliotecária Nelma Nunes, minha colega e companheira de todos os dias nesta aventura que é fazer crescer as bibliotecas do Agrupamento de Escolas de Santa Maria Maior! Obrigada pela tua paciência, dedicação e inesgotável criatividade. Como tantas vezes dissemos uma à outra: O que seria de mim sem ti!

Por fim, mas estes são os mais importantes, agradeço à minha família pelo apoio, compreensão e carinho, porque quando a biblioteca ganha são eles que perdem. Perdem uns bocadinhos do tempo que poderia passar com eles, mas também sabem que, para mim, isso é ganhar. Ganhar a certeza de que ser professora bibliotecária significa deixarmos marcas nas vidas dos nossos alunos…

Na vida daquela aluna que, de saída para a universidade, vem à biblioteca dar-nos um abraço e dizer-nos como foi importante participar no projeto “TV na Maior” porque a ajudou a ultrapassar a sua timidez e falta de autoestima.

Mas também na vida daquele aluno que, aos 16 anos, nunca tinha lido um livro e um dia, já depois de ter vindo com a turma escolher um livro para os “10 minutos a ler” nos chega à biblioteca, muito orgulhoso, trazendo um livro debaixo do braço como quem traz um objeto precioso, e nos diz: “Professora, já li este, ajuda-me a escolher outro?”. E nunca mais deixou de frequentar a biblioteca!

Dra. Manuela Silva, permita-me dirigir-lhe agora algumas palavras, porque sei que coordena esta rede com a mesma paixão com que eu coordeno a minha biblioteca:

Dra. Teresa Calçada, dirijo-me também a si, com as mesmas palavras, porque é da sua responsabilidade a criação da Rede de Bibliotecas Escolares:

Tenho visitado muitas escolas europeias no âmbito do projeto Erasmus+ e nunca encontrei bibliotecas escolares com padrões de excelência que se comparem aos nossos. País nenhum soube ainda construir uma rede que espalhe por todas as escolas desígnio tão elevado e tão exigente.

As nossas escolas precisam muito das bibliotecas escolares e dos professores bibliotecários, porque são eles que ajudam a desenvolver o capital humano de que o nosso país tanto precisa.

Para mim, este prémio significa o reconhecimento do meu trabalho, de que muito me orgulho, é certo. No entanto, ele não me fará tomar como garantido o que fiz até agora. O meu compromisso é de continuidade e de melhoria.

Nunca tenhamos também as bibliotecas escolares como garantidas. Há sempre margem para fazermos mais e melhor.

E enquanto eu puder fazer parte desta rede, podem contar comigo.

Obrigada.

24 de outubro de 2023
Cláudia Santos

[1] Este texto corresponde ao discurso proferido por Cláudia Santos, no dia 24/10/2023, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, ao receber o Prémio Professor Bibliotecário 2023.

Prémio professor Bibliotecário: Conheça os vencedores

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São cerca de 1400, os professores bibliotecários que, em todo o país, trabalham diariamente para que a biblioteca seja o coração da escola. Para que seja um lugar de descoberta, de exploração, mas também de partilha, de entreajuda, de criação de laços; um lugar que a todos os alunos e alunas deve acolher, apoiar na construção da sua autonomia e incentivar na reflexão aprofundada, na interrogação criativa e no conhecimento de si e do mundo.

O Prémio Professor Bibliotecário, instituído pela primeira vez em 2023, foi criado com o intuito de distinguir o trabalho de excelência nesta área profissional.

Nesta primeira edição, foi contemplada com o Prémio Professor Bibliotecário, Cláudia Vieira Santos, do Agrupamento de Escolas de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo. As duas Menções Honrosas, foram entregues a Isabel Rodrigues Bernardo, do Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria, em Cantanhede e Jorge Soares de Carvalho, do Agrupamento de Escolas de Amares.

O júri deste Prémio, que realçou a enorme qualidade de todas as candidaturas apresentadas, foi constituído por Guilherme d’Oliveira Martins, que presidiu, Isabel Alçada, Teresa Calçada, Isabel Mendinhos e Sandy Gageiro.

Este Prémio só existe graças aos parceiros que, desde a primeira hora, abraçaram esta ideia.

O Grupo Leya, cuja Presidente, Dra. Ana Rita Bessa, aderiu entusiasticamente a esta iniciativa, ofereceu um valor monetário de 5.000,00 € ao Professor Bibliotecário premiado e de 2.000,00 € a cada um dos Professores Bibliotecários obsequiados com uma Menção Honrosa.

A Fundação Calouste Gulbenkian e, em particular, o Professor Doutor Guilherme d’Oliveira Martins, que apadrinhou a criação da Rede de Bibliotecas Escolares e tem acompanhado o seu desenvolvimento nos últimos 27 anos, concederam-nos o privilégio de poder atribuir este Prémio na Fundação, no âmbito do Fórum RBE 2023 – Liberdade e Transformação, que ontem se realizou.

A Universidade Aberta, representada pela Professor Doutora Glória Bastos, também se associou à iniciativa, oferendo a cada um dos finalistas uma Formação, na modalidade escolhida pelo próprio.

A Rede de Bibliotecas Escolares atribui um valor de 2.500,00 € às bibliotecas do Agrupamento de Escolas em que professor vencedor desempenha funções; e de 1.000,00 € às bibliotecas de cada um dos agrupamentos dos professores agraciados com menções honrosas.

A entrega deste Prémio, ondem realizada no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, foi particularmente emocionante, representando uma distinção que se estende a todos os Professores Bibliotecários, profissionais especialmente qualificados, que desempenham esta exigente função de forma comprometida e inovadora.

Veja uma síntese resultante dos portefólios dos professores premiados:

 

Oportunidades e riscos das redes sociais

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Integrada no FOLIO Educa, a ação de formação “Tertúlias Literárias Dialógicas” responde, transversalmente, às necessidades de formação dos educadores e docentes das diversas áreas do conhecimento, centrando-se na promoção e mediação da leitura e das literacias, com enfoque no papel das bibliotecas escolares enquanto recurso central de trabalho interdisciplinar e colaborativo nas escolas. Todos os anos, as “Tertúlias Literárias Dialógicas” estruturam-se em torno do tema geral do Festival Internacional Literário de Óbidos, sendo o tema desta edição o “Risco”.

Este ano, o programa integrou as quatro tertúlias abaixo apresentadas:

  •     - 13 de outubro - Oportunidades e riscos das redes sociais - Sara Pereira
  •     - 16 de outubro - Crianças em risco? - Eduardo Sá
  •     - 18 de outubro - A ética na Inteligência Artificial: desafios - Martinha Piteira e Manuela Aparício
  •     - 20 de outubro - Dreamshaper - João Pedro Borges

Trata-se de um programa alinhado com as prioridades definidas pela RBE para 2023-2024 [1], com vista a desenvolver, aperfeiçoar e consolidar dinâmicas que respondam aos  imperativos atuais, exigindo que as bibliotecas se desenvolvam do ponto de vista digital e contribuam para esse movimento ao nível da escola, nas várias dimensões da sua ação. É preciso um trabalho diário concertado para desenvolver competências de leitura e de escrita, essenciais a toda a aprendizagem, e competências digitais, de informação e media, para garantir uma participação efetiva na sociedade.

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A abrir o ciclo de tertúlias, Sara Pereira, professora do Instituto de Ciências Sociais e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho, retomou algumas das ideias centrais da obra da sua autoria Crianças, jovens e media na era digital: Consumidores e Produtores? [2]

Hoje, as crianças e os jovens têm uma relação bastante (inter)ativa com os media, são simultaneamente consumidores e produtores de conteúdos, surgindo os conceitos de “prosumers” ou “produsers”.

Foi Alvin Toffler [3] quem introduziu o termo “prosumer” (prosumidor) no início dos anos 80, caracterizando-o como "um esbatimento progressivo da linha que separa o produtor do consumidor" (Toffler, 1984, p. 267). Depois da Primeira Vaga (da sociedade agrícola, quando a maior parte das pessoas consumia o que produzia), veio a Segunda Vaga (da revolução industrial, quando a sociedade separou estas duas funções, criando a distinção entre consumidor e produtor) e estamos, atualmente, na Terceira Vaga (era da informação e da comunicação), em que os novos estilos de vida são baseados metade na produção para troca, metade na produção para uso.

Tendo em conta esta realidade, Sara Pereira, considerando o público em idade escolar, levantou duas questões com que interpelou os presentes:

📍 Nas plataformas digitais, estaremos a produzir e a participar mais? E estaremos a comunicar melhor?

📍 A nossa participação salda-se, sobretudo, em “pequenos atos de envolvimento” ou numa cultura verdadeiramente participativa?

Segundo a oradora, os dados provenientes de vários estudos empíricos revelam que as práticas mediáticas de crianças e jovens estão mais orientadas para o consumo do que para a produção e, ainda, que as vias para a participação nem sempre têm por detrás princípios de expressão e de cidadania.

O projeto Transmedia Literacy. Exploiting transmedia skills and informal learning strategies to improve formal education [4] revela que os adolescentes portugueses são mais consumidores do que produtores. Mesmo os que produzem reveem-se mais como consumidores, sentindo-se mais confortáveis nesse papel. As suas produções mais regulares são fotos e vídeos curtos e as práticas mais comuns passam por partilhar conteúdos com os amigos, ver as publicações de outros, observar e seguir o fluxo de conteúdos. Estas práticas são mais frequentes do que publicar conteúdos originais, por isso as suas produções traduzem-se em "pequenos atos de envolvimento”, na sua grande maioria informais, espontâneas pouco estruturadas, não planeadas e de curto alcance. As motivações por detrás dessas produções são o entretenimento e a diversão.

Face a essas conclusões, a oradora defendeu que temos de ultrapassar a tendência de olhar a relação dos jovens com os meios digitais sob o prisma de risco e de segurança. Os medos, receios, preocupações e dúvidas que as plataformas digitais e as redes sociais levantam reforçam os argumentos protecionistas e de segurança, de que resulta uma preocupação com os perigos e os riscos, preocupação essa que se sobrepõe às oportunidades e aos desafios que esses meios podem proporcionar.

Por isso, depois de largo debate em que também estiveram em questão o uso de telemóveis nas escolas e o uso de ferramentas de inteligência artificial generativa, ficou lançado o desafio de apostar numa pedagogia capacitadora que “desenvolva conhecimentos, atitudes e competências de pensamento e ação críticas para habitar o ecossistema informativo e mediático” em que vivemos, de modo a que as crianças e jovens possam retirar desse ecossistema máximo  proveito para as suas vidas e o seu bem-estar. Afinal, assegurar o bem-estar não implica, somente, salvaguardar a sua segurança, mas antes permitir-lhes que possam compreender e participar no mundo online com segurança e respeito.

A fechar a sessão, ficou a ideia de que, num ambiente mediático rico e diversificado, há que formar públicos exigentes, críticos e participativos, o que aponta para a necessidade urgente de apostar na literacia mediática como uma competência fundamental do século XXI e um direito de todas as crianças e jovens. O projeto bYou – Estudo das vivências e expressões de crianças e jovens sobre os media [5], de que a RBE é parceira, encoraja práticas mediáticas reflexivas e críticas, numa perspetiva de Literacia para os Media e é, apenas, uma das muitas ações possíveis que urge desenvolver.

 Notas

[1]  Ver mais em https://www.rbe.mec.pt/np4/Prioridades.html

[2] Pereira, S. (2021). Crianças, jovens e media na era digital: Consumidores e Produtores?. UMinho Editora/Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade. https://doi.org/10.21814/uminho.ed.45

[3] Tofler, A. (1984). A Terceira Vaga. Livros do Brasil.

[4] Projeto financiado pela União Europeia no âmbito do programa Horizonte 2020 e que envolveu a participação de oito países, entre eles Portugal, através da Universidade do Minho, com coordenação de Sara Pereira. Mais informação em https://transmedialiteracy.org/

[5] Aceder ao site do projeto- https://www.byou.ics.uminho.pt/

 

Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação

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Hoje, no Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação, teremos oportunidade de, juntos, celebrarmos o presente e o futuro da nossa Rede de Bibliotecas.

Imagem 1.pngSendo inúmeros os desafios que a humanidade atualmente enfrenta é imperioso à condição humana ser mais exigente sobre o seu papel no mundo, sendo para isso fundamental aprofundar o conhecimento, exercitar o diálogo e o sentido crítico.

A procura da felicidade, que é um desígnio sobre o qual todos estaremos de acordo, está ela própria relegada para uma espécie de segundo plano, substituída pela procura da sobrevivência.

O enorme feito da inteligência humana que é a inteligência artificial apresenta-nos tantas oportunidades como riscos.

Neste cenário, o saber, mas também a adaptação, a resiliência, a flexibilidade, a solidariedade e a empatia tornam-se essenciais às pessoas no sentido de as capacitar para encontrar as respostas mais consentâneas às circunstâncias específicas, conscientes de que as questões são cada vez mais globais, multidimensionais e complexas, o tempo cada vez mais acelerado e a realidade cada vez mais instável.

Para isso a biblioteca, na escola, tem por missão “acolher, apoiar, colaborar, desafiar, transformar e empoderar”[1] o que significa criar, para as crianças e os jovens, um ambiente inclusivo e seguro, um lugar onde os mais frágeis recebam alento e todos se sintam acolhidos, onde todos trabalhem em conjunto por objetivos comuns, onde a inteligência de cada um se sinta desafiada a pensar, a interrogar-se, a refletir sobre problemas, a procurar soluções e, sempre que possível, a pô-las em prática. Assim, a biblioteca será capaz de manter vivo o gosto por aprender, promovendo, de forma colaborativa, estratégias que preparem as crianças e jovens para lidarem com a incerteza, para serem mais empáticas, para seguirem caminhos individuais e coletivos de construção do saber, interligando conhecimentos, conhecendo diferentes perspetivas e pontos de vista, como base para uma melhor compreensão de si próprios e do seu lugar no mundo.

Tenho consciência de que a missão que a RBE definiu para si própria é muito exigente. Mas só o é, porque pode ser. Porque somos uma rede e temos a força de ser uma rede. Uma rede de pessoas, que abrange quem está mais diretamente implicado no desenho e na operacionalização dos programas e dos projetos, quem quotidianamente desenvolve a ação, os nossos professores bibliotecários e os assistentes de biblioteca, passando pela indispensável coordenação intermédia e dedicação dos nossos coordenadores interconcelhios e, por fim, pelo Gabinete RBE que define e gere os fios condutores desta rede.

A diferentes níveis, local, regional, nacional e internacional, a RBE conta com muitos parceiros que enriquecem a sua ação.

E tudo isto, tendo em vista aqueles que queremos que sejam os atores principais, os nossos alunos, para quem trabalhamos no sentido de que desenvolvam "saberes e competências indispensáveis numa sociedade cada vez mais dinâmica, imprevisível, digital e global." [2]

O Fórum RBE, estou certa, trará pensamento e novos contributos sobre as questões mais emergentes da atualidade, ajudando-nos a refletir sobre as alterações necessárias à escola e à educação, com tradução na biblioteca escolar enquanto lugar de leitura, de desenvolvimento de literacias, de acesso à cultura e conhecimento do mundo, de encontro, de interação, de co construção e enriquecimento do património da humanidade, garante que é de valores civilizacionais essenciais à condição humana como a liberdade e a democracia.

[1] Bibliotecas Escolares: Presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro Estratégico 2021-2027. Lisboa, p. 27.

[2] Idem.

Porque é que o nosso futuro depende das bibliotecas, da leitura e de sonharmos acordados.

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O Que Se Vê da Última Fila é um livro sobre paixões. Num tom intimista e pessoal o leitor ficará a conhecer discursos, ensaios e introduções de livros do próprio Neil Gaiman[1] ou de outros autores que admira, mas também algumas pessoas e escritores que influenciaram reflexões significativas para o autor. 

No mês em que se festeja, por esse mundo fora, a relevância das Bibliotecas Escolares e no Dia da Biblioteca Escolar em Portugal, fica o convite para (re)ler um dos capítulos deste livro - Porque é que o nosso futuro depende das bibliotecas, da leitura e de sonharmos acordados.  Trata-se do discurso feito, em Londres, em 2013, na Palestra da Reading Agency[2], cujo tema principal é o ato de ler e os efeitos da leitura e das mudanças que se ocorrem em nós, mas não só. Esclarece-nos sobre o poder da imaginação, o valor inestimável da palavra, de como a leitura de ficção ajuda a criar empatia e de como a descoberta da leitura é, por si só, um prazer.

Partilhamos da ideia de que todos nós temos a obrigação de falar de leitura e de livros, afinal, segundo nos dizem, “tudo muda quando lemos.” Naquela noite, na palestra, Neil Gaiman proclamou uma verdadeira ode à leitura, às bibliotecas e aos bibliotecários. 

Falou dos bibliotecários da sua vida, homens bons, que “gostavam de livros e que os livros fossem lidos”, uns verdadeiros ilusionistas, fazendo aparecer os mais incríveis livros sobre fantasmas, foguetões, vampiros, bruxas, prodígios, aventuras ou outros. Não eram snobs em relação às escolhas e preferências dos leitores, verdadeiros divulgadores das novidades editoriais, pedagogos na arte de requisitar livros em qualquer biblioteca, e na literacia da informação. Conseguiam a preciosidade de tratar os leitores com respeito.

As bibliotecas têm que ver com liberdade.”

Liberdade de aceder.
Liberdade de ler.
Liberdade de perguntar.
Liberdade de criar e imaginar.
Liberdade de refletir, descobrir e pesquisar.
Liberdade de comunicar.
...

Uma biblioteca é um lugar que serve de repositório da informação e permite a todos terem igual acesso à informação. […] é um espaço comunitário. “

As bibliotecas são espaços democráticos. Inclusivos.
Lugares de aprendizagem, de colaboração e cooperação.
Lugares de acessibilidade e conhecimento.
Lugares de imaginação e criatividade.
Lugares do “público, antes de ser o das coleções[3].
Lugares de descontentamento. Só os insatisfeitos “podem mudar e melhorar os seus mundos, deixá-los melhor do que os encontraram, torná-los diferentes.”
Lugares de conforto.
Lugares seguros, acolhedores e verdadeiros refúgios do mundo.
Lugares de leitura.
Lugares onde se cruzam a literatura, a arte e a ciência, o impresso e o digital, o áudio e o silêncio.
Lugares onde todos cabem.

Temos a obrigação de ler em voz alta aos nossos filhos. De lhes lermos coisas de que eles gostem. (…) De fazermos vozes, de as tornarmos interessantes e de não deixar de lhes ler só porque eles já sabem ler sozinhos. Temos a obrigação de usar esse tempo de leitura em voz alta como forma de fortalecer os laços que nos unem, um tempo em que não estamos a olhar para o telemóvel, em que pomos de parte as distrações do mundo.

As crianças e jovens que escutam o som das palavras ou que leem em voz alta com os pais, educadores, familiares ou amigos ampliam o sentido do texto, aguçam a curiosidade, esboçam os lugares mais inimagináveis e melhoram a sua relação com o mundo e com os outros.

A leitura pode não salvar, mas poderá ser prazerosa e isso é bom, muito bom. Devemos mostrar ao mundo que ler é uma coisa boa, inspiradora.

Deveremos dar a ler, abraçando diferentes géneros literários, e não esquecendo que a leitura de ficção é um ato de fuga. Oferece-nos o sabor da conquista de “lugares e mundos que de outra maneira nunca conheceríamos”, possibilita-nos o exercício da imaginação. Liberta-nos da realidade.

 Precisamos de bibliotecas. Precisamos de livros. Precisamos de cidadãos letrados.”

Nós, leitores, pais e educadores, cidadãos do mundo, temos o dever de apoiar as bibliotecas e “incentivar os outros a frequentá-las, de protestar contra o encerramento de bibliotecas.” Frequentar bibliotecas é valorizar a literatura, as artes e as ciências, as literacias, mas também dar voz a muitas vozes. É acreditar no futuro e não esquecer o passado.

Por último, ecoam, em nós, as palavras de Neil Gaiman:

Temo que, no século XXI, as pessoas não percebam o que são as bibliotecas e para que servem. Se pensarmos nas bibliotecas como sendo estantes de livros, a ideia poderá parecer-nos antiquada ou ultrapassada, especialmente numa época em que a maioria dos livros, embora não todos, estão disponíveis digitalmente. Mas pensar assim é falhar o essencial.”

Acreditemos no poder das bibliotecas, do livro e da leitura, mas também da palavra e da informação.

Acreditamos que ler poderá fazer a diferença.

Notas

[1] Neil Gaiman é autor de vários bestsellers, tais como Coraline e a Porta Secreta, Deuses Americanos, Mitologia Nórdica, O Oceano no Fim do Caminho, entre outros. Muitos são os títulos publicados em Portugal. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com importantes prémios, entre os quais Newbery, Carnegie, Hugo, Nebula, World Fantasy, Will Eisner.  Neil Gaiman é romancista, dramaturgo, guionista para cinema e televisão, criador de novelas gráficas e BD.  Nasceu em Inglaterra, mas atualmente vive nos Estados Unidos da América, onde é professor na Bard College.

[2]  Reading Agency – uma” instituição de beneficência cuja missão é a de conferir oportunidades de vida idênticas a toda a gente, ajudando-as a tornarem-se leitores convictos e entusiastas. Uma instituição de beneficência que apoia programas de literacia, bibliotecas e indivíduos, e que, de forma pura e desinteressada, incentiva o ato da leitura. “Saiba mais em: https://readingagency.org.uk/

[3] Expressão usada por Michèle Petit, no livro Ler o Mundo.

O dilema da Inteligência Artificial

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Potencial

Os sistemas de IA (Inteligência Artificial) têm potencial para transformar o modo como aprendemos/trabalhamos e vivemos.

Automatizam versões agregadas de competências humanas com valor, usadas para ler, conhecer, expressar e influenciar/manipular.  “Todas as tecnologias têm consequências positivas e negativas, mas com a IA, o alcance dessas consequências é extraordinariamente grande” e, por isso, o uso de IA em educação deve ser amplamente discutido [1].

Imagem2.pngFonte da imagem [1]

O gráfico supra resulta de testes em que “o desempenho humano e de IA foram avaliados em cinco domínios: reconhecimento de caligrafia, reconhecimento de fala, reconhecimento de imagem, compreensão de leitura e compreensão de linguagem. Dentro de cada domínio, o desempenho inicial da IA é definido como –100” e o desempenho humano corresponde à linha de base zero.  E mostra que, nos últimos 10 anos, a evolução de IA tem sido veloz, pelo que, na maioria destas competências, ultrapassou o desempenho humano [1]. Estes testes - e estudo correspondente - foram originalmente publicados em Dynabench: Rethinking Benchmarking in NLP [Natural Language Processing/Processamento de Linguagem Natural, subdomínio de IA que ensina máquinas a lidar com a linguagem humana] [2].

Problemas/Discussão

Porque faz parte do dia-a-dia e tem enorme potencial, é importante envolver os alunos na reflexão e uso crítico de IA.

Há questões controversas que podem analisar, investigar e discutir para saber tomar decisões informadas e intervir na discussão pública:

📍 A falta de regulamentação capaz de promover o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social em IA;

📍 Os impactos ambientais, podendo o treino de algoritmos de IA gerar maior consumo de energia e emissão de CO2 do que aquele que se verifica na atualidade. Segundo Maanvi Singh, o modelo de IA Bloom, de 2019, “gerou cerca de 50 toneladas métricas de emissões de dióxido de carbono, o equivalente a um indivíduo fazer cerca de 60 voos entre Londres e Nova York”. Em 2023, “cerca de 500 toneladas métricas de CO2 foram produzidos apenas no treino do modelo GPT3 da ChatGPT - o equivalente ao funcionamento de mais de um milhão de quilómetros de carros médios movidos a gasolina”. E não se trata apenas de gasto de energia, mas também de água doce para arrefecimento do calor gerado pelos servidores dos data centers. Neste sentido, para esta jornalista do The Guardian a IA representa um risco ambiental e “existencial” (3). Sobre os efeitos da IA no sistema de vida terrestre, domina o silêncio e a falta de informação dos principais responsáveis.

📍 Os impactos sociais/equidade da IA, pois os dados que alimentam os seus resultados são essencialmente produzidos por pessoas e culturas no poder ao longo da História, predominantemente anglófonas e ocidentais, podendo ser tendenciosos e criar divisões, falando-se atualmente de um colonialismo digital.

📍 A falta de transparência sobre os métodos e os dados usados para treinar modelos de IA, sendo credível que procedam a violação de direitos de autor, designadamente na área da cultura, resultando de formas pouco éticas e justas de trabalho. As bibliotecas escolares cultivam a transparência e fogem à opacidade, não querem ficar sem saber.

📍 A falta de evidências imparciais, ao nível da comunidade internacional, de que forte uso de IA e de tecnologias digitais contribua para aprender melhor, para treinar a memória, a inteligência emocional/solidariedade e para desenvolver competências nas crianças e jovens.

📍 A prova de que a dependência de automatização pode diminuir a atenção, competências manuais e outras -  por exemplo, o caso Boeing 737Max e o de várias outras aeronaves.

📍 Inúmeras evidências de erros de programação que levaram a imensos acidentes, mortes e feridos provocados por veículos com direção autónoma (piloto automático) alimentada por IA.

📍 Qual pode ser o impacto da IA na liberdade intelectual e de expressão em matéria de produção e consumo, eleições, vacinação…? O determinismo, não apenas do passado, mas da IA em que o ser humano se desenvolve, permite-lhe opiniões livres de interferência? A autodeterminação individual tornou-se uma impossibilidade?

De destacar que a IA permite selecionar feeds de notícias e de publicidade, de acordo com o que os utilizadores acederam no passado e é nesta base que introduz recomendações sobre notícias, locais, compras e amigos [conhecidos]... e ajuda a criar e a moderar conteúdos.

📍 Quem governa os dados? Empresas económicas particulares? A elite de 1% de milionários? Um ou outro destes milionários? Quais as implicações do uso crescente de IA para a democracia?

De acordo com o relatório das Nações Unidas [4], referido pela IFLA na sua Declaração sobre Bibliotecas e IA (§ 55) [5]:

“as auditorias independentes e contínuas devem complementar as avaliações de impacto sobre os direitos humanos efetuadas antes da adjudicação dos contratos, enquanto mecanismo importante de transparência e responsabilização dos sistemas de IA (…) especialmente quando uma aplicação de IA está a ser utilizada por um organismo do setor público [sublinhado nosso]”.

Como até à presente data esta avaliação/auditoria e regulamentação pelas entidades a quem cumpre esse papel não foi feita, há que manter prudência sobre o uso de IA em educação de crianças e jovens. Será na Cimeira do Futuro/ Summit of the Future de setembro de 2024 que deverá ser acordado um Pacto Digital Global seguro, inclusivo, sustentável, ancorado em direitos humanos e no Estado de Direito.

Our Word in Data é uma plataforma de “dados para progredir em relação aos maiores problemas do mundo”, tem acesso e código aberto e é usada em media e universidades internacionais credíveis [6]. Na área da IA, visa apoiar o envolvimento social, abordando questões sobre como esta tecnologia pode ser desenvolvida e usada e fazer parte do trabalho e da vida das pessoas, para que não fique restrita a um pequeno grupo de empreendedores e engenheiros. 

Referências

  1. Giattino, C., Mathieu, E., Samborska, V. & Roser, M. (2023). As capacidades de reconhecimento de linguagem e imagem dos sistemas de IA melhoraram rapidamente. Our World in Data. https://ourworldindata.org/artificial-intelligence

  2. Kiela, D. et al. (2023). Dynabench: Rethinking Benchmarking in NLP [Natural Language Processing/Processamento de Linguagem Natural]. https://aclanthology.org/2021.naacl-main.324.pdf
  3. Singh, M. (2023, 8. Jun.). À medida que a indústria de IA cresce, que preço terá sobre o meio ambiente? The Guardian. https://www.theguardian.com/technology/2023/jun/08/artificial-intelligence-industry-boom-environment-toll

    Outra fonte:
    Associated Press. (2023, 24. 05). ChatGPT: Qual é a pegada de carbono dos modelos de IA generativa? Euronews. https://www.euronews.com/next/2023/05/24/chatgpt-what-is-the-carbon-footprint-of-generative-ai-models
  1. (2018). Promotion and protection of the right to freedom of opinion and expression - A/73/348. United Nations General Assembly. https://documents-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N18/270/42/PDF/N1827042.pdf?OpenElement

  2. (2020). IFLA Statement on Libraries and Artificial Intelligence. International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.facebook.com/photo/?fbid=4003466199682295&set=a.598622580166691

  3. Our World in Data. (2023). Research and data to make progress against the world’s largest problems. Our World in Data. https://ourworldindata.org/
  4. 📷Kohji Asakawa por Pixabay

 

Rede de Bibliotecas de Braga

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No dia 17 de outubro 2023, pelas 10h30, no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, foi apresentado o Plano Anual de Atividades da Rede de Bibliotecas de Braga 2023/2024, que baseia a sua ação em quatro grandes eixos: promoção da leitura e das literacias; cidadania, diversidade e inclusão; preservação do património imaterial e da memória; formação e capacitação.

A cerimónia, integrada nas comemorações do Mês Internacional da Biblioteca Escolar serviu também para a apresentação publica do novo Website da Rede de Bibliotecas de Braga, resultado de uma candidatura ao Programa da Rede de Bibliotecas Escolares no âmbito das “Redes Concelhias”, em 2022:

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A Rede de Bibliotecas de Braga é composta por diversos parceiros que trabalham em conjunto para alcançar um objetivo comum: estreitar a ligação entre as Bibliotecas Escolares do concelho, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, o Município de Braga e a Universidade do Minho, bem como outras instituições de ensino profissional e universitário e as bibliotecas de juntas de freguesia que integram a rede e a Casa do professor. Atua como uma rede colaborativa que visa criar, organizar e gerir projetos de intervenção e colaboração na área das Bibliotecas, proporcionando troca de experiências, formação e dinamização das bibliotecas do concelho, no acesso ao livro e à promoção da leitura e das literacias.

Enfrentar o discurso de ódio através da educação

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Entende a UNESCO que enfrentar o desafio do discurso de ódio é um problema urgente para as sociedades de todo o mundo.

Avanços recentes nas tecnologias da informação, nas comunicações e nos meios de comunicação de massa online alteraram de forma significativa o ritmo e o alcance de sua disseminação, o que levou a um aumento alarmante na proliferação e nos impactos do discurso de ódio dirigido a indivíduos e grupos.

O discurso de ódio representa uma ameaça direta à realização da Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, pois compromete os direitos humanos e a coesão social, desafia a segurança dos membros de grupos-alvo e das sociedades democráticas, e reduz o potencial para as pessoas terem experiências de vida equitativas em comunidades multiétnicas e multiculturais.

Assim, é imperativo que os governos locais, regionais e nacionais, assim como as organizações internacionais, abordem a proliferação desse tipo de discurso.

Considera a UNESCO que lutar contra o discurso de ódio depois de ele acontecer não é suficiente, devendo ser evitado, combatendo-se as suas causas profundas através da educação. As estratégias para moderar e reduzir a sua propagação exigem apoio e investimento em abordagens educativas que sensibilizem e fortaleçam a resiliência dos estudantes que possam vir a ter contacto com esse tipo de discurso.

Diante disso, a UNESCO publicou recentemente Enfrentar o discurso de ódio por meio da educação: Um guia para formuladores de políticas[i] que tem como objetivo deslocar a questão do discurso de ódio, que enfoca quase exclusivamente a correção através da vigilância e da monitorização, para o combate ao problema através da educação, uma abordagem consistente com a Estratégia e Plano de Ação das Nações Unidas contra o Discurso de Ódio, lançada em 2019, que enfatiza a necessidade de se enfrentar as causas e os aspetos motivadores, ao mesmo tempo que os seus impactos são mitigados.

Também é consistente com os esforços da UNESCO para aperfeiçoar capacidade de os sistemas educativos enfrentarem os desafios mundiais à paz, à justiça, aos direitos humanos, à igualdade de género, ao pluralismo, ao respeito à diversidade e à democracia.

Principais recomendações

1. Priorizar a questão do discurso de ódio e tomar medidas para combatê-lo com planos de implementação concretos, incluindo marcos de ação e alocações orçamentárias.

2. Integrar os esforços para combater o discurso de ódio nas iniciativas existentes do setor de educação para fornecer uma abordagem integral da questão.

3. Garantir que as estratégias aplicadas para enfrentar o discurso de ódio defendam o direito à liberdade de expressão.

4. Estabelecer e implementar orientações e mecanismos claros para apoiar indivíduos e grupos que são alvo do discurso de ódio em ambientes educativos, incluindo mecanismos claros de denúncia e normas de conformidade.

5. Incorporar nos currículos formais atividades educativas que abordem as causas profundas do discurso de ódio, prestando especial atenção às desigualdades históricas e contemporâneas.

6. Criar e atualizar continuamente os currículos relativos a Alfabetização Mediática e Informacional e cidadania digital.

7. Incluir nos currículos atividades educativas para fortalecer habilidades de pensamento crítico, aprendizagem social e emocional, diálogo intercultural e cidadania global, a fim de promover a mudança de comportamento pró-social necessária para enfrentar o discurso de ódio e promover a inclusão e a diversidade.

8. Incentivar atividades extracurriculares que conduzam ao pensamento crítico e ao diálogo intercultural e que sejam capazes de contribuir para um ambiente inclusivo.

9. Desenvolver e implementar mecanismos para incentivar e capacitar as escolas a garantir que o clima de aprendizagem nas salas de aula seja seguro, respeitoso e inclusivo, para que se tornem modelos de diversidade e inclusão, e para que cultivem uma abordagem de toda a escola nos esforços destinados a enfrentar o discurso de ódio.

10. Fornecer aos educadores e aos líderes escolares formação em serviço para dotá-los de novas abordagens educacionais, para que sejam capazes de responder e enfrentar o discurso de ódio nas suas atividades diárias e nas interações com os estudantes.

11. Construir a resiliência dos sistemas educacionais por meio de um esforço integrado, incluindo o apoio familiar e comunitário e parcerias com várias partes interessadas.

12. Estabelecer critérios para avaliar e analisar a eficácia das intervenções que visam a enfrentar o discurso de ódio.

E as bibliotecas?

Se algumas das recomendações elencadas implicam decisões políticas e planos de ação detalhados, outras podem ser assumidas desde já, estando perfeitamente alinhadas com aquela que é ação das bibliotecas, tal como se encontra modelada pelo Quadro Estratégico da Rede de Bibliotecas Escolares.

Assinalamos a negrito pontos de contacto com o nosso trabalho, encontrando-se à cabeça, naturalmente, a sexta recomendação, que põe a tónica na a Alfabetização Mediática e Informacional e cidadania digital, uma preocupação que a RBE tem colocado na agenda das bibliotecas já há muito tempo, especialmente desde 2012, quando publicou o referencial Aprender com a Biblioteca Escolar. A mesma preocupação tem sido espelhada em propostas de trabalho como o concurso Medi@ação, o Projeto Debaqi, a iniciativa Da tua biblioteca ao Público ou mesmo os Miúdos a votos. O imperativo deste trabalho tem sido também evidenciado pelo facto de a literacia dos media e da informação ser prioridade para as bibliotecas escolares desde 2020.

Também as recomendações que remetem para a interculturalidade e questões de cidadania estão perfeitamente alinhadas com a ação que tem vindo a ser desenvolvida pelas bibliotecas, indo ao encontro do propósito do eixo Pessoas: “Garantir que as bibliotecas são organizações que promovem a defesa da dignidade humana e da justiça, o compromisso com a equidade e o valor da diversidade, da democracia e da liberdade”.

Continuemos pois, a nossa labuta diária, fortalecendo o pensamento crítico e a inclusão, na certeza de que estamos a fazer a nossa parte na defesa da paz, da justiça e dos direitos humanos.

 

[i] UNESCO (2023) Enfrentar o discurso de ódio por meio da educação: Um guia para formuladores de políticas. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000387092/PDF/387092por.pdf.multi

📷[1]

Quem me dera saber ler!

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A Biblioteca não é um lugar de passagem, é um destino.
Afonso Cruz

Se a nível nacional a Educação cumpriu o desígnio da igualdade de oportunidades no acesso ao ensino, para todas as crianças, falta cumprir o da igualdade de oportunidades à saída da escolaridade obrigatória, para todas as crianças. Esta questão é particularmente pertinente no que diz respeito aos alunos que apresentam necessidades educativas especiais, ou os que, por razão das suas condições económicas, sociais ou culturais, encontram dificuldades ao longo do seu percurso escolar.

Tornar as Bibliotecas Escolares um espaço de verdadeira inclusão, um espaço onde se mudam os destinos, passou a ser um dos seus maiores desafios, mas também uma das suas prioridades (releiam-se as prioridades da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) para este ano letivo, com destaque para a flexibilidade dos espaços físicos como garante da inclusão). Muitos destes alunos precisam de recursos adequados, em diferentes formatos, para realizar as suas aprendizagens, particularmente no que diz respeito à leitura e à escrita, competências sem as quais estarão votados à exclusão, na escola e na sociedade. Acresce a este contexto, já de si difícil, os dois anos de pandemia, em que a maior parte destes alunos se viu privada do contacto com os seus pares, professores, psicólogos e terapeutas, tendo por esse motivo visto as suas aprendizagens seriamente comprometidas.

A Rede de Bibliotecas Escolares, o Plano Nacional de Leitura2027 (PNL2027) e a Direção de Serviços de Educação Especial e Apoios Socioeducativos da Direção-Geral da Educação (DGE/ DSEEAS) têm vindo a desenvolver, desde o ano letivo de 2011-2012, a iniciativa Todos Juntos Podemos Ler. A finalidade desta ação é “promover o sucesso escolar para TODOS os alunos, incluindo os que apresentam necessidades educativas especiais”.

A Biblioteca Escolar de Sousel candidatou-se ao Projeto Todos Juntos Podemos Ler, no ano letivo 2021-2022, uma altura especialmente difícil, devido à pandemia, após o diagnóstico das aprendizagens não realizadas por um conjunto de alunos que não pode acompanhar o ensino a distância. Foram selecionados 17 alunos do 1º, 2º e 3º Ciclo, para beneficiarem do Projeto, uma vez que revelavam muitas dificuldades na competência leitora.

Assim, esta candidatura foi delineada a partir de três linhas orientadoras que correspondem a três fases de implementação: “Quem me dera saber Ler”; “Quem me dera saber Escrever” e “Inclusão de TODOS os alunos”.

No início do ano letivo de 2022-2023, com a verba atribuída pela RBE, a Biblioteca Escolar de Sousel adquiriu livros, tablets, auscultadores e jogos didáticos. Subscreveu o software criado pela Universidade do Minho “Ensinar e Aprender Português” o qual dispõe de recursos e atividades didáticas, para serem trabalhadas autonomamente, em sala de aula, ou nas diferentes estações com os professores.

Ao longo do ano letivo, no sentido de se desenvolverem as atividades propostas no Projeto, os alunos beneficiaram de apoio prestado na biblioteca, por professores de Português; no Centro de Apoio à Aprendizagem (CAA), pelos professores de Educação Especial ou outros designados para o efeito; na sala de aula pelo professor de Português, professor titular de turma e professor de apoio. Cada uma destas estruturas funcionou como uma estação onde se implementaram as atividades previstas, sempre em estreita articulação, e que tiveram como objetivo permitir aos alunos participar nas aulas mais ativamente e apresentar atividades previamente preparadas.

A título de exemplo, mencionam-se as atividades desenvolvidas por uma professora da equipa da biblioteca, com dois alunos do 6º ano, tendo em conta que o espaço de biblioteca funciona como uma das estações, em articulação com outras estruturas. Desenvolveram-se exercícios de consciência fonológica, perceção auditiva e visual, orientação temporal e espacial; leitura em voz alta; produção de bandas desenhadas a partir de pequenas histórias e elaboração de postais e outros materiais para serem expostos na biblioteca e no átrio da escola. Para além destas, os alunos realizaram atividades na Plataforma Ensinar e Aprender Português da Universidade do Minho. O trabalho desenvolvido pode ser observado no registo disponibilizado em: https://wakelet.com/i/invite?code=d8w6cz5b

No letivo 2023-2024, para além de se dar continuidade às atividades de aprendizagem da leitura, os alunos irão participar em workshops de escrita criativa, encontros com escritores e contadores de histórias, sessões de mindfulness na BE, visitas de estudo, entre outras, numa lógica de reforço e consolidação das aprendizagens.

Pretende-se que estes momentos estimulem os alunos para a produção de materiais, a fim de os motivar para o seu próprio processo de aprendizagem ao verem os seus textos publicados no Jornal Digital da Escola e no blogue da BE, concretizando-se efetivamente o desígnio “Quem me dera saber escrever” e a verdadeira inclusão dos discentes, não só nas atividades da sala de aula, mas também nos projetos da escola e da comunidade.

Teresa Gomes
Pela equipa da BE do AE de Sousel

📷 Franck Barske por Pixabay

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