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“Como Se Fosse a Primeira Vez” é baseado em história real?

Por Camila Oliveira — 26 de Junho de 2023, 15:35

Em 2004, o filme Como Se Fosse a Primeira Vez, do diretor Peter Segal, conquistou o público com sua história romântica e engraçada. Na trama, Henry (Adam Sandler) é um cara com medo de compromisso, que se apaixona por Lucy (Drew Barrymore), professora local e mulher incrível.

Porém, a felicidade do casal encontra um grande obstáculo: Henry descobre que Lucy sofreu um acidente, que a deixou com uma condição neurológica rara chamada “Síndrome de Goldfield”. Por conta disso, todas as manhãs ela acorda sem as memórias da noite anterior, como se estivesse vivendo sempre o mesmo dia.

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O filme possui uma história cativante que, por mais que pareça baseada em fatos por todos os seus detalhes, se trata de uma criação original, sem inspiração em eventos reais.

No longa, a síndrome de Lucy foi criada, fato confirmado pelo roteirista George Wing ao 20/20 Movie Podcast. Ele afirma que a história não é inspirada por um caso particular, porém, existem casos parecidos na vida real.

Histórias semelhantes à do filme “Como Se Fosse a Primeira Vez”

Como dito, a “Síndrome de Goldfield” é fictícia. Contudo, existem condições médicas semelhantes a ela, que afetam a memória das pessoas, como a amnésia anterógrada. Com ela, a pessoa tem dificuldade em criar e armazenar novas memórias após um evento traumático.

Entretanto, ao contrário do filme, pacientes reais com a condição de amnésia anterógrada não conseguem reter as memórias por um dia inteiro, tendo dificuldade em se lembrar de fatos acontecidos apenas minutos ou horas atrás.

Conheça a seguir histórias onde “a vida imita a arte”.

Michelle Philpolts

Imagem: Michelle Philpots / Divulgação

Michelle Philpots, de Lincolnshire, sofre de amnésia anterógrada progressiva, e tem a história mais conhecida da internet. Todos os dias ela acorda acreditando que ainda está em 1994, mesmo já tendo 57 anos.

Ela tem seus métodos próprios para se lembrar das coisas: usa post-its pela casa, e tem a ajuda do seu marido, Ian, que mostra e ela um álbum de fotos do casamento e momentos importantes que aconteceram depois de 1994.

Jenny Gisby

Stuart Balmforth (namorado) e Jenny Gisby com seu álbum de fotos. Imagem: Divulgação

O caso de Jenny Gisby também repercutiu bastante na internet. A jovem de Nottingham, Inglaterra, sofre de uma combinação de Transtorno Neurológico Funcional (FND) e epilepsia. Por isso, Jenny acorda todas as manhãs sem se lembrar de sua família ou amigos, vivendo sua vida atual como um completo vazio.

Jenny também conta com a ajuda dos familiares e namorado, que usam um álbum de recortes para relembrar os momentos importantes de sua vida, e se lembrar de quem é.

O filme conta uma história irreal, porém, é uma forma de refletir sobre a importância de valorizar cada momento e colecionar memórias. Saber sobre os casos de pessoas reais que enfrentam esses desafios nos faz assistir ao filme com outra perspectiva.

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✇ Bibliotrónica Portuguesa

De passagem, por Carolina Andrade

Por Bibliotrónica Portuguesa — 23 de Fevereiro de 2019, 22:25

Vinte e um de janeiro. Acordo com frio e tento puxar o lençol para tapar as costas expostas. Fico com o pé de fora. O lençol está todo enrolado entre as minhas pernas. Acabo por despertar completamente na tentativa de me cobrir. Olho pela janela ainda com a cabeça enterrada na almofada e, tal como em tela de cinema, corre a fita de uma paisagem que não me é familiar. Faço 21 anos e estou, há mais de um dia, dentro do expresso que faz a ligação entre Jaipur e Calcutá, Índia. Por mais remota que a paisagem seja, nunca passa muito tempo sem que se vislumbre alguém no horizonte, quer seja um grupo de mulheres carregando elegantemente potes e outros volumes sobre a cabeça, quer sejam as recorrentes figuras verticais que, de costas voltadas para o mundo, regam os campos e urinam para os esgotos correndo, como rios, a céu aberto.

Há silêncio no vagão. Talvez ainda estejam todos a dormir. Ou todos acordados sem quererem mexer-se. Aproveito o momento de tréguas matinais, antes de o caos diurno começar, e tento incitar a sensação própria dos dias de aniversário. Estranhamente, não a encontro. Pode ser que a excitação da festa seja, afinal, composta de bolos e canções e postais e velas por apagar. Faço anos, mas pouco importa, por estar em terra de ninguém. Por estar de passagem, estando rodeada de pessoas que nem sabem pronunciar o meu nome. Começo a sentir um movimento no beliche de cima, ao mesmo tempo que o som de bocejos vem do lado oposto do compartimento. Pouco a pouco, os vizinhos de carruagem começam a correr as cortinas grossas, e a luz ocupa o espaço apertado. No chão, acumula-se cada vez mais sujidade: cabelos e copos de café amassados. Mas não se está mal: todo o viajante aprende que critério de higiene é coisa mutável.

Quis o destino colocar-nos no meio de uma família numerosa, conceito que, num país com com mais de um bilião, ganha outros contornos. Mulheres de um lado, crianças no meio, homens do outro. Quando aqui cheguei de bilhete na mão, e lhes fiz notar com gestos esforçados que as malas deles estavam a ocupar o meu lugar, responderam-me sorridentes: wait, wait. E eis que chega um rapazinho com a minha idade e uma expressão orgulhosa do seu inglês. Negociámos o meu lugar. Primeira proposta: que trocasse de carruagem. Recusei. E se passar para o compartimento da ponta? Ponderei. Tudo bem, mas não quero ficar no beliche de cima. Como queira, menina. E se ficar na cama de baixo, à janela? Assim foi.

De tempos a tempos, uma das mulheres trazia um par de pratos de papel com comida. A primeira refeição era leve: uma mistura de amêndoas, caju, pistachio e uva-passa. Depois o idli, um pãozinho descorado, leve e azedo, feito de farinha de arroz e lentilha, que ensopavam ora num molho branco, ora num vermelho.  Antes do meio-dia, chegavam as samosas e, ao almoço, em quantidades generosas, arroz amarelado e vegetais fritos que me traziam à memória os nossos peixinhos da horta. Em vez de garfos, o roti, aquilo a que chamamos chapati, para juntar montinhos de comida que levavam à boca em movimentos rápidos. Espantavam-me todas as preparações que traziam. Imaginava as mulheres a trabalhar na cozinha até altas horas da noite na véspera. As mãos a estender e a enrolar a massa, a pôr e retirar com rapidez o papadam antes que se queime; os olhos habituados às malaguetas que fermentam morosamente em frascos fechados.

Desejei estar na cozinha saturada de cheiro a óleo e especiarias agressivas, e ter acesso a todos os segredos do corpus de tal herança matriarcal. Para sobremesa, fizeram circular naquela manhã pratinhos menores com bolos secos; ligaram à tomada um fervedor elétrico e beberam chá. Ofereceram-me um bolinho que aceitei com timidez. Ali estava. Desprovido de recheio achocolatado e de chantilly, ainda assim: um bolo de aniversário.

Carolina Andrade

Os Invulgares

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