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A Impureza do Sentido

Por Angela Correia — 28 de Maio de 2019, 14:42

Um quarteto de narrativas breves, atravessadas pelo quarteto para cordas e quatro helicópteros de Karlheinz Stockhausen, prefaciadas pelo compositor Nuno da Rocha, com ilustração do artista plástico Jorge Caseirão: eis como pode apresentar-se o novo original da Bibliotrónica Portuguesa. A Impureza do Sentido começou a nascer durante uma leitura de «Poesia Pura», de M. S. Lourenço; tem posfácio de Ângela Correia, que também assina a edição.

É o primeiro livrónico a ser publicado na renovada Bibliotrónica Portuguesa, o que também significa a possibilidade de os nossos leitores o avaliarem. Esperamos que não percam a oportunidade.

Convidamos entretanto todos os que tenham curiosidade a observar a criação, segundo um método peculiar, de um dos desenhos que ilustram o livro, antes de avançarem para a leitura das narrativas de Hélio Sequeira, Ana Kopke, Bruno Mourato e Ana C. Rafael.

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Tanta Gente, Mariana: edição Minotauro

Por Angela Correia — 17 de Maio de 2019, 17:07

Ao investigar a história editorial de Tanta Gente, Mariana, de Maria Judite de Carvalho, dei-me conta de que, na mais recente edição, com a chancela Minotauro (Almedina), alguém tomou uma decisão discutível. A «Avenida de Berne», referida mais de uma vez no texto da escritora, passa a «Avenida de Berna», nome pelo qual conhecemos atualmente a avenida lisboeta.

Como se pode verificar pela imagem junta, o nome da via nem sempre foi o que lhe damos atualmente, pelo que, para a escritora, nos finais dos anos 50, talvez ainda fosse «Avenida de Berne». Talvez Maria Judite de Carvalho usasse ainda o nome alemão da cidade com que se batizara a avenida nova e que, entretanto, se aportuguesou. Teremos boas razões para pensar assim, ao considerarmos que também se lê «Avenida de Berne», na 5.ª edição de Tanta Gente Mariana. Saída em 1988, a edição da Europa-América (a 5.ª) tem a indicação de ter sido revista, o que deverá significar ter sido revista pela escritora. Este revisão faz da modesta 5.ª edição o lugar onde provavelmente se guarda a última vontade de Maria Judite de Carvalho sobre Tanta Gente Mariana. E também aqui se lê: «Avenida de Berne».

A edição da Minotauro atualiza, portanto, o nome da avenida, apagando uma referência histórico-cultural. Tive curiosidade: fui à procura do nome do responsável pela edição; de uma nota que explicasse se o atropelo teria sido acidental ou justificado, pelo menos anunciado. Nada. Encontrei indicação do responsável pela paginação, pela fotografia da capa, do responsável pela impressão e pelo acabamento. Mas sobre o responsável pelas decisões de edição: nada. E, no entanto, notem: a esta pessoa não identificada devemos a decisão de editar a partir da 5.ª edição – o que é uma excelente decisão – e não a partir da 1.ª edição, nem da última, já posterior ao falecimento da autora. Igualmente importante: a esta pessoa se devem intervenções que nos afastam do texto da 5.ª edição. Algumas mais defensáveis do que outras. Creio que teria sido importante conhecer os critérios destas intervenções. Afinal… não foi certamente a autora que as fez.

Ângela Correia

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Tanta Gente, Mariana: edição Minotauro

Por Angela Correia — 16 de Maio de 2019, 13:13

Ao investigar a história editorial de Tanta Gente, Mariana, de Maria Judite de Carvalho, dei-me conta de que, na mais recente edição, com a chancela Minotauro (editora Almedina), alguém tomou uma decisão discutível. A «Avenida de Berne», referida mais de uma vez no texto da escritora, passa a «Avenida de Berna», nome pelo qual conhecemos atualmente a avenida lisboeta.

Como se pode verificar pela imagem junta, o nome da via nem sempre foi o que lhe damos atualmente, pelo que, para a escritora, nos finais dos anos 50, talvez ainda fosse «Avenida de Berne». Talvez Maria Judite de Carvalho usasse ainda o nome alemão da cidade com que se batizara a avenida nova e que, entretanto, se aportuguesou. Teremos boas razões para pensar assim, ao considerarmos que também se lê «Avenida de Berne», na 5.ª edição de Tanta Gente Mariana. Saída em 1988, a edição da Europa-América (a 5.ª) tem a indicação de ter sido revista, o que deverá significar ter sido revista pela escritora. Este revisão faz da modesta 5.ª edição o lugar onde provavelmente se guarda a última vontade de Maria Judite de Carvalho sobre Tanta Gente Mariana. E também aqui se lê: «Avenida de Berne».

A edição da Minotauro atualiza, portanto, o nome da avenida, apagando uma referência histórico-cultural. Tive curiosidade: fui à procura do nome do responsável pela edição; de uma nota que explicasse se o atropelo teria sido acidental ou justificado, pelo menos anunciado. Nada. Encontrei indicação do responsável pela paginação, pela fotografia da capa, do responsável pela impressão e pelo acabamento. Mas sobre o responsável pelas decisões de edição: nada. E, no entanto, notem: a esta pessoa não identificada devemos a decisão de editar a partir da 5.ª edição – o que é uma excelente decisão – e não a partir da 1.ª edição, nem da última, já posterior ao falecimento da autora. Igualmente importante: a esta pessoa se devem intervenções que nos afastam do texto da 5.ª edição. Algumas mais defensáveis do que outras. Creio que teria sido importante conhecer os critérios destas intervenções. Afinal… não foi certamente a autora que as fez.

Ângela Correia

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Camilo Castelo Branco: misterioso escândalo

Por Bibliotrónica Portuguesa — 1 de Maio de 2019, 11:19

Camilo Castelo Branco é mais conhecido por ter escrito novelas do que por ter escrito teatro. Mas, em 1860, foi representada, no Teatro D. Maria II, uma peça de sua autoria, que alcançou grande sucesso. Chamou-se O Morgado de Fafe em Lisboa. É provável que este sucesso tenha determinado a escrita de segunda peça com o mesmo protagonista, levada à cena, também no D. Maria II, em 1863. Esta segunda peça, que se chamou O Morgado de Fafe Amoroso, causou, no entanto, grande escândalo, e Camilo Castelo Branco foi então acusado de imoralidade.

Lendo a peça, publicada em 1865, não se encontram, porém, razões para o escândalo nem para a acusação. Nada parece haver ali de escandaloso. De algo parecido se queixava Júlio César Machado num jornal da época, quando dizia ter ido ao D. Maria II esperando assistir a uma peça cheia de malícias, e não ter afinal encontrado mais que uma comédia honesta e pudica. Devemos a este cronista a explicação: após a primeira representação, Camilo emendou a peça, para excisão do que tanto chocou o público. Mas nem Júlio César Machado nem ninguém chega nunca a informar sobre o que cortou o escritor da peça, sobre o que tanto escandalizou  público. E o texto publicado em 1865 é o texto da peça emendada por Camilo, não o texto escandaloso, que nunca encontrou caminho até nós.

Na investigação feita para a edição crítica das duas peças, que a Imprensa Nacional acaba de publicar, julgo ter achado a resposta para a pergunta que fica desta história, e identificado o local da peça onde o escritor fez o corte e transformação, necessários ao perdão do público. Camilo Castelo Branco usou, na peça O Morgado de Fafe Amoroso, personagens, situações e mesmo texto de uma novela que escrevera, anos antes, sob pseudónimo. A descoberta desta origem e do reaproveitamento da novela na peça permite compreender não só alguns dos processos de escrita de Camilo Castelo Branco, mas também talvez, justamente, as razões do escândalo de que só nos chegaram os ecos.

Pertence à coleção Edição Crítica de Camilo Castelo Branco, dirigida por Ivo Castro, o volume O Morgado de Fafe, que inclui as duas peças com este protagonista, além da Nota Editorial, com pormenores sobre a referida investigação, e da edição do artigo de Júlio César Machado publicado então no jornal Revolução de Setembro. A edição crítica das peças foi preparada por Patrícia Franco, Mafalda Pereira e por mim própria.

Ângela Correia

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Menina

Por Bibliotrónica Portuguesa — 19 de Abril de 2019, 22:42

Ontem foi a antestreia do filme Menina, de Cristina Pinheiro, com Nuno Lopes, Beatriz Batarda e Naomi Biton, e eu fui ver. Não que tenha sido convidada; na verdade, nem sabia do acontecimento, mas enganei-me na sala, dentro do cinema. Bem estranhei a quantidade de VIP e o facto de tanta gente se conhecer, ao ponto de haver conversas atravessando filas, antes de o filme começar. Mas, enfim… Quando as luzes se apagaram e o filme começou, era demasiado tarde para desfazer o engano.

O filme Menina tem no centro uma família de emigrantes lusos em França, num tempo em que se chegava lá a «salto», sem se saber ler nem escrever. E, por esta razão, trata os temas da humilhação portuguesa, da saudade, da solidão, da integração, da identidade. E trata muito bem; apoiando-se no trabalho de atores extraordinários, que dá tanto gosto ver transformarem-se. Especialmente a Beatriz Batarda, cujo papel é tão exigente.

Mas se o Menina ficasse por aqui não seria muito diferente de outros que, com tonalidades mais cinzentas ou mais douradas, já visitaram este tema. Felizmente, a emigração lusa em França é, neste filme, tratada como circunstância para enquadrar a questão mais universal da perda no contexto familiar, e a do amor e desamor no mesmo contexto familiar, que inevitavelmente lhe estão ligados. Também aqui o filme é notável, pelo argumento e pelo trabalho dos atores: a condição humana é um desenho feito de universais e particulares que se articulam com leveza. Até considerando a tradição deste tema, que o filme integra e de que se desvia, sem dores.

Mas o aspeto que me comoveu no Menina foi ainda outro. É que há ali o retrato de um certo tempo e de um certo país, através da forma como, em família, se comunica o afeto. «Gostas de mim?» Pergunta a menina à mãe, num momento em que nada lhe seria negado pela família. Uma resposta demasiado doce a esta pergunta teria condenado todo o filme ao anacronismo, ou pior. Mas a mãe responde apenas com certa indiferença: «E tu? Gostas de mim?» Reconhecemos ali o retrato de um país incapaz de comunicar os afetos que unem e separam famílias sob o mesmo teto. Fomos assim. E o passado ainda anda por aí.

Sublinho a habilidade da Cristina Pinheiro, que, tratando de forma tão acertada esta questão, soube destacar a importância que tem a comunicação do afeto nos retratos sociais, culturais, de um tempo, de uma gente. Este é um filme a não perder.

Ângela Correia

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Mais Invulgares

Por Bibliotrónica Portuguesa — 10 de Fevereiro de 2019, 17:29

Os Invulgares são agora quatro. Encontrámo-nos para celebrar o acontecimento, junto à nossa amada biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde um piano enche o lugar de promessas. Além do Luís Ramos e da Ana Rita Sintra, Invulgares há quase um ano, estiveram os Invulgares Hélio Sequeira e Carolina Andrade, que vão agora começar a publicar também narrativas curtas no estilo invulgar que carateriza a escrita de cada um. Todos os originais continuarão a ser editados por mim.

Durante o encontro, falámos sobre a Índia e o Algarve, onde as amendoeiras em flor vão já lembrando uma velha lenda, e sobre como se pode não pertencer a lado nenhum. Falámos sobre História, Filosofia, Edição de Textos e Estudos Comparatistas; sobre o futuro e o presente e sobre o desejo de mergulhar as mãos nas hortas, em vez de partir para longe. Sobre a maravilha que é a prosa camiliana, sobre António Aleixo, teses, estudos desejados e cansaços, a liberdade e o desejo dela.

Falámos sobre a Bibliotrónica também: sobre as mudanças que se avizinham, e o modo de ser assim. A responsabilidade de ser recomendada pelo Plano Nacional de Leitura e a Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, além de múltiplas bibliotecas de agrupamentos escolares, blogues e plataformas de ensino em Portugal e no mundo que fala português. Falámos com alegria dos 1608 seguidores atuais. E aplaudimos o Luís Ramos pelo sucesso de Verbo Condicionado. Álbum de Poemas, que já foi folheado mais de 4000 vezes e já foi lido 841, números que aumentam todos os dias.

Amanhã, sairá a primeira narrativa do Hélio Sequeira.

Ângela Correia

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

P. S. Os Invulgares continuam a ser fotografados por Constança Fernandes.

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