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Aberto processo de infracção contra Portugal por captura acidental de golfinhos

Por Helena Geraldes — 17 de Novembro de 2023, 10:03

A Comissão Europeia abriu um procedimento de infracção contra Portugal por não estar a evitar as capturas acessórias de cetáceos por navios de pesca. O país tem dois meses para responder.

A 15 de Novembro, a Comissão Europeia decidiu dar início a um procedimento de infração, tendo enviado um pedido de informações (uma carta de notificação para cumprir) a Portugal por não ter aplicado as medidas exigidas pela Diretiva Habitats para evitar as capturas acessórias de cetáceos por navios de pesca.

Os golfinhos e os botos são espécies estritamente protegidas de acordo com a Diretiva Habitats.

“Portugal não estabeleceu um sistema para efeitos de monitorização da captura e do abate acidentais de espécies protegidas e para evitar um impacto significativo das capturas acessórias do golfinho comum (Delphinus delphis), do golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) e do boto (Phocoena phocoena) nas águas sob a sua jurisdição”, entende a Comissão Europeia.

Além disso, “Portugal não tomou as medidas necessárias para evitar perturbações significativas destas duas últimas espécies em vários sítios Natura 2000 designados para a sua proteção”.

Por conseguinte, a Comissão decidiu enviar uma carta de notificação para cumprir a Portugal, que dispõe agora de dois meses para responder e corrigir as deficiências mencionadas por Bruxelas. Esta é a primeira fase de um processo de infracção.

Se a Comissão não ficar satisfeita com as informações enviadas e concluir que Portugal não está a cumprir as suas obrigações, poderá enviar um pedido formal para que este seja cumprido (um parecer fundamentado), convidando o país a comunicar à Comissão as medidas tomadas para esse efeito num determinado prazo, habitualmente de dois meses.

O boto está classificado como Criticamente Em Perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental. Em apenas 25 anos houve uma redução dramática na diversidade genética da população portuguesa. Em Agosto de 2022, uma equipa de investigadores fez censos aéreos de 2011 a 2015 e apenas registou 2.254 botos, um número “bastante baixo” e que põe em causa a sobrevivência da espécie no nosso país.

As capturas acidentais em artes de pesca – nomeadamente redes de emalhar e de tresmalho e arte xávega – são a principal pressão que esta espécie enfrenta, segundo os autores do Livro Vermelho.

O golfinho-comum tem categoria de Quase Ameaçado, mais grave do que a sua classificação anterior (Pouco Preocupante), de 2005. “Com base nas taxas de captura acidental em artes de pesca”, os autores do Livro Vermelho admitem que a população desta espécie registe uma redução de 30% nos próximos 39 anos.

O golfinho-nariz-de-garrafa tem estatuto de Pouco Preocupante. Ainda assim, “a captura acidental em artes de pesca é a principal ameaça e causa de arrojamento em Portugal Continental”.

A biodiversidade de cetáceos nas águas de Portugal Continental é bastante elevada. Das cerca de 90 espécies conhecidas no mundo, 28 encontram-se em águas continentais portuguesas. 


Agora é a sua vez

Descubra neste guia ilustrado as espécies de cetáceos de Portugal.

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Assunção Loureiro: “São urgentes mais iniciativas de impacto” para conservar o oceano

Por Helena Geraldes — 3 de Novembro de 2023, 16:17

Assunção Loureiro, managing director da SeaTheFuture, um spin-off do Oceanário de Lisboa criado para acelerar a conservação dos oceanos, sublinha a importância de ligar quem quer ajudar mas não sabe como aos projectos no terreno.

WILDER: Como surgiu a ideia da SeaTheFuture e quais as maiores inspirações?

Assunção Loureiro: O SeaThefuture nasce da inspiração do Oceano per si e de três vetores fundamentais: 1) a aproximação das pessoas e sociedade global à importância da conservação do Oceano de uma forma transversal, 2) ilustrar projetos de conservação de impacto que se fazem no mundo e 3) trazer uma solução que acelere a restauração dos ecossistemas, através de maior transparência e, consequentemente, confiança a quem doa, independentemente do montante. 

A aproximação das pessoas é fundamental pois muitos de nós ainda desconhece a importância do Oceano na sustentabilidade do Planeta. Através de conteúdos de vanguarda, com base em evidências técnicas e científicas, acreditamos que através da plataforma e formatos de divulgação com base social – as redes – podemos apoiar o despertar de muitos para o Oceano. Se as costas é algo que começa a acordar nas pessoas – fruto do que vemos nas praias e da poluição que impacta a beira-mar, a SeaTheFuture promete uma viagem ao fundo do Oceano, algo poucos têm acesso. 

Os projetos são também o nosso principal ativo e a nossa inspiração, na verdade. A SeaTheFuture surge também da constatação de que, por um lado, há inúmeros projetos de conservação em todo o mundo, fundamentais para um Oceano saudável e cheio de vida que se debatem com frequentes constrangimentos sendo, o maior de todos, a falta de financiamento. Por outro, há muitas pessoas com vontade e com recursos para serem parte da solução, mas que não conseguem agir e pôr essa vontade em prática de uma forma intuitiva e relevante, pois todos eles surgem na internet de forma pulverizada, por vezes até com desafios de comunicação, que ensombram a sua causa maior. A nossa equipa, já com oito pessoas, apoia também estes projetos na sua própria comunicação e amplificação, para chegarem com maior força às pessoas, através de vídeo e imagem que, sim, vale muito mais do que uma mera sinopse. 

Por fim, mas não menos importante, a SeaTheFuture nasce porque acreditamos que se conseguirmos criar uma plataforma agregadora, financeiramente sustentável, transparente e credível, seremos também capazes de apoiar cada vez mais projetos de conservação de qualidade e de gerar exponencialmente mais impacto, tendo sempre a confiança como denominador comum. Na atualidade, as narrativas em torno da sustentabilidade multiplicam-se e torna-se muito difícil uma escolha informada e de confiança, com uma efetiva reastreabilidade.  A SeaTheFuture quer inverter esta tendência e fazer parte de uma solução urgente a questões como a perda da biodiversidade em Terra e no Mar, o aumento da frequência e dos locais dos eventos climáticos extremos, como furacões e tempestades tropicais, aumento da temperatura na Terra, acidificação do Oceano, entre outras. 

W: Porquê a conservação marinha? 

Assunção Loureiro: O Oceano é o nosso maior aliado na guerra contra as alterações climáticas. Enquanto maior sequestrador de carbono da atmosfera, o Oceano tem um papel fundamental na “regulação” de vários fatores, entre eles o clima e a concentração de Oxigénio, determinantes para a vida na Terra tal como a conhecemos. E também porque, apesar disso, a conservação do Oceano e da sua biodiversidade (ODS 14) é uma das causas com menor apoio financeiro. Sentimos que é uma área onde são urgentes mais iniciativas de impacto e acreditamos que a nossa pode realmente fazer a diferença.

O SeaTheFuture acaba por ser, por isso, um local onde converge o Conhecimento, a Conservação e as Comunidades que querem fazer a diferença pelos Oceanos, deixar um impacto positivo e um legado sustentável, fazendo do SeaTheFuture a primeira plataforma de crowdsaving do mundo. 

W: Há projetos em Portugal? 

Assunção Loureiro: Temos o objetivo de incluir projetos por todo o mundo e, naturalmente, uma vontade especial de o fazer em Portugal, mas temos um processo que pauta a selecção das iniciativas que apoiamos, assegurando transparência e rigor. Na realidade, um dos três primeiros projetos a integrar a SeaTheFuture – Programa Tatô, em S. Tomé e Príncipe – é liderado por uma ONG nacional, apesar de atuar fora do país.

W: Qual a importância e relevância da SeaTheFuture para a conservação dos oceanos?

Assunção Loureiro: O grande contributo que acreditamos que o SeaTheFuture pode ter é o de ser catalisador da ação de muitos e, através da rigorosa seleção dos projetos que apoia, o de maximizar o impacto de cada euro angariado. No nosso entender, há cada vez mais pessoas com vontade de contribuir, pessoas que querem ser parte da solução. A partir do momento em que consigamos ganhar tração e chegar a muitas pessoas (só na Europa somos 740 milhões de pessoas aproximadamente), acreditamos que vamos ter a capacidade de gerar valores consideráveis através da soma de contribuições relativamente pequenas, assumíveis por muitas pessoas. Essas contribuições, uma vez bem canalizadas e eficientemente geridas, serão motor de mudança e de impacto positivo para inúmeros projetos espalhados pelo mundo. É o poder do colectivo que pode ser transformador, nas empresas, na sociedade e, que o SeaTheFuture enquanto movimento pretende potenciar.

W: Neste momento têm 165 contribuições. Quem são as pessoas que aceitam fazer donativos? Que feedback já têm tido? 

Assunção Loureiro: Algumas são pessoas próximas nossas, da equipa, que inevitavelmente forma contagiadas pela nossa energia, mas a maioria são pessoas que de alguma forma reconhecem a importância de termos um Oceano saudável e do contributo dos projetos que apoiamos para tal. Acreditamos também que são pessoas que querem conseguir rastrear e saber o que acontece com o seu contributo; que impacto têm realmente. Em termos geográficos, estamos a falar mais a nível europeu, onde focamos a nossa comunicação nesta fase inicial. 

O feedback tem sido muito positivo, mas sentimos que quando ganharmos mais escala, e conseguirmos apoiar concretamente mais iniciativas dos projetos, conseguiremos também contagiar mais doadores e, dessa forma, exponenciar o nosso impacto.

W: O projecto com mais contribuições é o “Plan Bee for Mangroves”, no Haiti. Na vossa opinião, porquê? 

Assunção Loureiro: Neste momento, o projeto com o valor mais alto angariado é o Programa Tatô (com mais de 21.000€ angariados), logo seguido do Sharkcam na Malasia (acima dos 9.000€) e dos Whale Sharks nas Galápagos e do Plan Bee no Haiti (com 8.500€ cada um sensivelmente). Ainda estamos numa fase muito inicial para conseguir explicar alguns comportamentos, seria prematuro. Tanto podem ser as espécies/projeto em causa como o perfil de quem doa que acaba por definir o volume e a rapidez com que atingimos os objetivos. 

W: Neste momento estão a avaliar novos projetos? 

Assunção Loureiro: Estamos continuamente em contacto com novos projetos, até porque temos um formulário na nossa plataforma em que as pessoas podem sugerir projetos ou as próprias iniciativas se podem candidatar.

A inserção de projetos na plataforma requer uma curadoria que contempla um exigente processo de seleção certificado e composto por oito critérios que vão desde a capacitação das comunidades locais, até à melhoria das políticas, viabilidade a longo prazo, entre outros. Isto garante que todos os projetos que figuram no SeaTheFuture cumprem normas rigorosas de eficácia e impacto, apoiando uma escolha informada por parte dos doadores e investidores na conservação do Oceano.  


Saiba mais aqui sobre a plataforma SeaTheFuture.

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Portugueses criaram plataforma internacional para ajudar a conservar oceanos

Por Helena Geraldes — 3 de Novembro de 2023, 16:02

Chama-se SeaTheFuture, é feita por oito portugueses e tem a ambição de captar financiamento de pessoas de todo o mundo para projectos de conservação criteriosamente seleccionados. Saiba como funciona e como pode participar.

Dezenas de pessoas espalhadas pelo mundo estão a trabalhar arduamente para travar o desaparecimento de tartarugas, focas, golfinhos, tubarões, mangais e corais. Estão na linha da frente de uma batalha contra a perda da biodiversidade, uma das maiores crises que afecta o nosso planeta.

Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

Mas precisam de ajuda. Têm falta de dinheiro mas também de hidrofones subaquáticos, câmaras timelapse de monitorização, equipamentos para vigiar cavernas de focas e de meios para fazer jardinagem de corais.

“Há inúmeros projetos de conservação em todo o mundo, fundamentais para um oceano saudável e cheio de vida, que se debatem com frequentes constrangimentos sendo, o maior de todos, a falta de financiamento”, explicou à Wilder Assunção Loureiro, managing director da SeaTheFuture, um spin-off do Oceanário de Lisboa.

Na verdade, lembrou, a conservação do Oceano e da sua biodiversidade (ODS 14) – um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas em 2015 – “é uma das causas com menor apoio financeiro”.

Assim, esta start-up criou uma solução global de crowdsaving para, através de uma plataforma online, permitir a pessoas, entidades e empresas apoiarem e viabilizarem financeiramente projetos de conservação seleccionados pela SeaTheFuture, de forma simples e transparente. 

Equipa SeaTheFuture. Foto: SeaTheFuture

O grande objectivo é “acelerar a conservação dos oceanos”.

Na plataforma SeaTheFuture podemos encontrar os projectos a apoiar – cada um com a sua história contada através de meios multimédia e partilhada nas redes sociais e site – e informações sobre todo o processo. Quem quiser pode participar através de donativos ou da aquisição de produtos sustentáveis (t-shirts e sweatshirts).

Actualmente são oito os projectos na plataforma SeaTheFuture: SWORD Indian Ocean Humpbakc Dolphins (projecto da Sea Search na África do Sul para conservar golfinhos-corcunda); Le Pétrels (projecto da SEOR na ilha da Reunião para conservar petréis, aves marinhas em perigo); Programa Tatô (projecto da Associação programa Tatô em São Tomé e Príncipe para conservar tartarugas marinhas); Plan Bem for Mangroves (projecto da FoProBim no Haiti para salvar os mangais vermelhos e negros); Galapagos Whale Shark Project (do Projecto Tubarões-baleia das Galápagos nas ilhas Galápagos para conservar tubarões-baleia); Mediterranean Monk Seals (da Akdeniz Koruma Dernegi na Turquia para conservara única foca nativa do Mediterrâneo); o SharkCam (da Marine Research Foundation na Malásia para reduzir a captura acidental de tubarões e raias) e o Coral Connect (da Fundacíon Malpelo y Otros Ecosistemas Marinos na Colômbia para restaurar corais).

A plataforma promove o rastreio de todos os fundos angariados até ao seu destino final, garantindo a sua canalização para o propósito inicial. “A SeaTheFuture, em estreita colaboração com os projetos que apoia, monitoriza e comunica a evolução das diferentes campanhas em curso, permitindo o acompanhamento dos resultados de todos os esforços de conservação”, segundo um comunicado da empresa. 

“Acreditamos que através da plataforma e formatos de divulgação com base social – as redes – podemos apoiar o despertar de muitos para o oceano”, acrescentou Assunção Loureiro.

Foto: Pexels/Pixabay

Por enquanto ainda não existem projectos em Portugal. “Temos o objectivo de incluir projectos por todo o mundo e, naturalmente, uma vontade especial de o fazer em Portugal. Mas temos um processo que pauta a selecção das iniciativas que apoiamos, assegurando transparência e rigor”, acrescentou Assunção Loureiro.

“O grande contributo que acreditamos que o SeaTheFuture pode ter é o de ser catalisador da ação de muitos e, através da rigorosa seleção dos projetos que apoia, o de maximizar o impacto de cada euro angariado.”  


Leia aqui a entrevista a Assunção Loureiro.

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Monitorização e resgate de animais marinhos recebe apoios de um milhão de euros

Por Inês Sequeira — 2 de Novembro de 2023, 15:55

Verbas atribuídas pelo Fundo Ambiental destinam-se às quatro unidades regionais da Rede Nacional de Arrojamentos, para o período 2023/2024.

Foram assinados os protocolos que formalizam os apoios do Fundo Ambiental à Rede Nacional de Arrojamentos, neste e no próximo ano, no valor total de um milhão de euros, anunciou em comunicado o Ministério do Ambiente e Ação Climática.

O dinheiro vai ser distribuído pelas quatro redes regionais de arrojamento em Portugal continental, que se dedicam à monitorização, análise e encaminhamento, quando se torna necessário, dos animais marinhos que encalham na costa sem conseguirem regressar ao mar.

“De modo a facilitar a operacionalização da Rede Nacional de Arrojamentos, maximizar a rapidez das respostas e a qualidade da informação recolhida, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) – que coordena esta estrutura a nível nacional – dividiu a zona costeira do continente em quatro regiões (Norte, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve) e delegou em parceiros” a coordenação de cada unidade, explica o gabinete do ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro.

Foi assim que nasceram a Rede de Arrojamentos do Norte, a RALVT – Rede de Alojamentos de Lisboa e Vale do Tejo, a Arrojal – Rede Regional Alentejo e ainda a RAALG – Rede de Arrojamentos do Algarve.

Até hoje, segundo o Ministério do Ambiente, no âmbito da Rede Nacional de Arrojamentos foram documentadas mais de 1000 ocorrências deste tipo e recolheram-se mais de 13.000 amostras biológicas, “que permitem caracterizar as espécies mais comuns na costa portuguesa”. Foram também resgatados “inúmeros animais vivos”.

O Fundo Ambiental começou a apoiar a Rede Nacional de Arrojamentos em 2020, estimando-se que desde essa data até ao próximo ano, sejam atribuídos apoios no total de 1,9 milhões de euros.

A primeira rede de arrojamentos foi criada em 1979, como resultado de uma parceria entre o Museu do Mar (Cascais) e o Aquário Vasco da Gama (Lisboa). Em 1987, a autoridade nacional para a conservação da natureza e biodiversidade, actual ICNF, assumiu a sua coordenação, alargando o âmbito desta estrutura a todo o território. 

Segundo o Ministério do Ambiente, o Fundo Ambiental apoiou também com 405.000 euros para a produção de trabalho científico no âmbito da monitorização de cetáceos, em 2022 e já este ano. “Graças a este montante foi possível financiar o projeto ‘Coordinated Cetacean Assessment, Monitoring and Management Strategy in the Bay of Biscay and Iberian Coast sub- region’, a participação de Portugal na quarta campanha da iniciativa ‘Small Cetaceans in European Atlantic waters and the North Sea’ e o projecto de monitorização da população de boto, o mamífero marinho mais ameaçado na costa portuguesa.”

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Enguia exótica com mais de um metro filmada no mar de Porto Covo

Por Inês Sequeira — 24 de Outubro de 2023, 17:11

Conhecida como enguia-fantasma ou moreia-de-brummer, esta espécie do indo-pacífico foi filmada por Joaquim Parrinha, investigador do MARE na Universidade de Coimbra, durante um mergulho nocturno.

Também chamada de enguia-de-fita-branca, e com o nome científico Pseudechidna brummeri, esta espécie de enguia nunca tinha sido avistada no Atlântico até agora, informa uma nota de imprensa divulgada pelo MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.

Este predador nocturno, conhecido pela forma como caça pequenos peixes e crustáceos, é bastante comum em locais como o Pacífico Ocidental, o Oceano Índico e o Oceano Índico Ocidental, “todos muito distantes do local onde agora foi encontrada”, informa também o MARE. “Quando foi avistada, encontrava-se a uma profundidade de um a dois metros, junto ao porto de pesca de Porto Covo.”

Foi Joaquim Parrinha, investigador do MARE na Universidade de Coimbra, que se deparou com esta enguia com mais de um metro de comprimento quando filmava a biodiversidade marinha ao largo de Porto Covo. Enviou as filmagens à sua coordenadora, Sónia Seixas, que não teve dúvidas do que se tratava. “Esta espécie tem a particularidade de se enrolar de um modo muito específico parecendo uma ‘tira de papel’. O exemplar observado estava bem ativo e aparentava uma boa condição física”.

A descoberta foi descrita e confirmada num artigo publicado agora pela revista científica Marine Pollution Bulletin, depois de ser revista por cientistas independentes. O facto de terem avistado esta enguia tão longe do seu local de origem intrigou os dois investigadores, que atribuem este aparecimento a duas causas possíveis.

A hipótese mais plausível, para ambos, é que a enguia tenha sido acidentalmente transportada na água de balastro de uma embarcação que se dirigia ao porto de Sines, próximo de Porto Covo. A água de balastro é água do mar utilizada pelos navios para os estabilizar, inserida dentro das embarcações numa zona, durante o seu percurso, e mais tarde libertada noutras áreas e oceanos.

Outra possibilidade é que o animal observado tenha sido proveniente de um aquário e libertado no mar, uma vez que a enguia-fantasma “se vende na Europa como espécie ornamental para aquários de água salgada”, explica Sónia Seixas.

Por saber está se esta enguia é um único indivíduo, isolado, ou se já há mais do que um peixe desta espécie ao largo da costa alentejana. Caso se confirme a existência de mais do que uma enguia desta espécie, “os investigadores do MARE ponderam a necessidade de lançar uma campanha de monitorização”, adianta este centro de investigação.

A equipa está também “a estudar medidas para prevenir o aparecimento de outros exemplares”, pois esta enguia, “caso tenha potencial para se tornar uma espécie invasora, e dado o seu perfil predador, terá certamente impacto no ecossistema da região.” 

“Sendo proveniente do indo-pacífico, esta espécie traz-nos grandes apreensões pois sabemos como algumas espécies que foram introduzidas são nefastas para o ambiente”, afirma também a investigadora do MARE, citada na nota de imprensa. “No entanto, e sendo a espécie activa de noite, não nos parece que seja um problema para os banhistas nas praias.”


Saiba mais.

O vídeo com a enguia pode ser visto aqui.

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A relva artificial está a passar dos campos de futebol para os rios e o mar

Por Inês Sequeira — 12 de Outubro de 2023, 13:16

É importante repensar o uso deste material em campos desportivos e outras estruturas, apelam investigadores responsáveis por um novo estudo científico, que detectaram a presença destas fibras na água através de um projecto de ciência cidadã.

Uma equipa de investigadores liderada pela Universidade de Barcelona deparou-se com quantidades importantes de pequenas fibras de plástico com origem em relva artificial, nas análises que fizeram a águas costeiras e fluviais.

De acordo com os resultados das análises realizadas em águas superficiais na costa de Barcelona e na foz do rio Guadalquivir, as fibras de relva artificial chegam a constituir mais de 15% dos plásticos com mais de cinco milímetros que flutuam nesses meios aquáticos. O estudo foi publicado esta semana pela revista científica Environmental Polution.

“As fibras de plástico que encontrámos são principalmente de polietileno e polipropileno, que coincidem com as tendências actuais de produção mundial de relva artificial e que normalmente se encontram a flutuar no meio aquático”, descreveu William P. de Haan, investigador da Universidade de Barcelona e primeiro autor do artigo científico, numa nota publicada sobre o estudo. As fibras foram encontradas “em zonas próximas da costa de grandes cidades como Barcelona.”

Os materiais analisados chegaram às mãos da equipa através de um projecto de ciência cidadã, Surfing for Science, no qual grupos de voluntários recolhem amostras com o auxílio de uma rede especial fixada em pranchas de ‘stand up paddle’ e noutras embarcações semelhantes. Dessa forma, desde 2014 que cientistas da Universidade de Barcelona analisam microplásticos e outros pedaços superiores a cinco milímetros recolhidos na costa catalã.

Ao todo, para o estudo agora publicado, a equipa analisou 217 amostras de água provenientes da costa de Barcelona e outras 200 da foz do rio Guadalquivir, situado no sul de Espanha. Mais de metade das amostras (62%) do mar continham fibras de relva sintética, enquanto que na foz do rio o mesmo aconteceu com 37% do total. A concentração destes materiais junto à costa foi também muito superior às águas fluviais, sendo 50% mais alta.

Os cientistas acreditam que essa diferença se deve a uma retenção mais pequena dos plásticos nos rios e também ao facto de estes materiais se acumularem ao longo de décadas na zona costeira, antes de se dispersarem para o mar alto.

Por outro lado, uma vez que o estudo foi realizado numa área restrita, “é de esperar que outras cidades também contenham fibras de relva artificial, mas a quantidade que se liberta no meio ambiente depende de muitos factores, como a tipologia, o uso e antiguidade dos campos ou superfícies com este material, a superfície total instalada e as medidas de prevenção em curso”, avisou William P. de Haan.

Uma surpresa e um grave impacto ambiental

Na União Europeia, estima-se que são instalados anualmente entre 1200 a 1400 campos desportivos com relva artificial. Ainda assim, a equipa ficou surpreendida com o facto de encontrarem este material tão disseminado e por este problema ter passado despercebido em estudos semelhantes.

Uma das causas é que essas fibras podem confundir-se com “restos vegetais ou filamentos de pesca”, pelo que os investigadores publicaram também um guia online para ajudar outros cientistas a identificarem restos de relva artificial encontrados no mar, nos rios e em lagos.

Os efeitos destas fibras sobre o ambiente são qualificados como “múltiplos e muito graves”, uma vez que já eram conhecidos muitos outros impactos negativos deste material. “O nosso estudo serviu para determinar que, além de reduzirem a biodiversidade humana, reduzirem a escorrência, sobreaquecerem (até mais 50 ºC que as superfícies naturais) e conterem uma grande quantidade de compostos químicos prejudiciais que lhes dão durabilidade, as superfícies com relva artificial libertam fragmentos de plástico no meio aquático”, sublinhou Anna Sanchez-Vidal, coordenadora do novo estudo.

Ingeridos pelos animais aquáticos, como peixes e moluscos, os restos de relva sintética provocam “o bloqueio das vias intestinais e a diminuição das taxas de crescimento e reprodução, entre outros problemas importantes”, notou a investigadora.

O que se pode fazer?

Além de detectarem o problema, os investigadores chamaram ainda a atenção para as medidas a tomar desde já para lidar com esta situação, nomeadamente ao nível político e de gestão.

“Se se quer acabar com a contaminação de plástico dos oceanos, é necessário actuar a todos os níveis, começando por repensar a instalação destas superfícies de plástico verde em áreas públicas, como pátios de escolas ou campos desportivos, e privadas, como festivais de música, ginásios, jardins e terraços particulares”, salientou Anna Sanchez-Vidal, lembrando que em breve a ONU deverá aprovar um acordo global e vinculativo, para se acabar com a contaminação por plásticos até 2040.

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Porque se veem tantas baleias fora de Lisboa?

Por Sidónio Paes — 3 de Outubro de 2023, 16:17

No dia 26 de Junho 2023 foi avistada e fotografada pela primeira vez uma baleia-sardinheira (Balaenoptera borealis) a três milhas náuticas da costa do Estoril a alimentar-se ao estilo skim-feeding, que consiste em alimentar-se de pequenos organismos à superfície e com o maxilar superior bem acima da água.

Além de ter sido a primeira vez que esta espécie foi devidamente identificada nesta zona, é também uma baleia muito pouco estudada, provavelmente devido à sua baixa abundância e por ter um estatuto de conservação como em Perigo de Extinção (Lista Vermelha).

Baleia. Foto: SeaEO Tours

Apesar de este exemplar ser ainda um “pré-adulto”, com apenas 10-12 metros, a espécie pode atingir cerca de 18 metros de comprimento na vida adulta. A baleia-sardinheira é considerada o terceiro maior cetáceo do mundo em conjunto com o cachalore e baleia-de-bossas.

Ainda que se trate de um avistamento raro junto ao rio Tejo, esta é uma espécie frequente nos Açores. Esta manteve-se perto da zona durante dois dias e observada sempre com o mesmo comportamento durante os passeios de barco da SeaEO Tours para Observação de Cetáceos em Lisboa.

Passado um mês, dia 23 de Julho 2023, foi avistada uma baleia-comum (Balaenoptera physalus) sendo o segundo maior animal do mundo a seguir à baleia-azul. Mais concretamente no canhão de Lisboa em frente à Fonte da Telha, Lagoa de Albufeira e Meco, extendendo-se para além do Cabo Espichel. Esta baleia encontrava-se entre uma centena de golfinhos-comuns e a nadar rumo a NW. Este indivíduo devia ter cerca de 16-18 metros. É uma espécie habitual na costa portuguesa e a sua identificação é relativamente fácil por apresentar uma mancha esbranquiçada sopra-ocular do lado direito. O avistamento foi tão emocionante que os 12 passageiros acompanhados por dois biólogos marinhos conseguiram recordar o momento em vários avistamentos sempre que a baleia vinha à superfície. É a mesma espécie do artigo artigo anterior sobre “Baleias às portas de Lisboa”, e que apresenta um estatuto de conservação vulnerável no IUCN.

Baleia. Foto: SeaEO Tours

No dia 20 de setembro de 2023, observamos também mais uma espécie que não é habitual nesta região entre o Cabo da Roca e o Cabo Espichel, sendo mais um marco histórico para a lista de espécies avistadas pela SeaEO Tours. Foram avistados dois indivíduos de baleia-de-bico, uma espécie de zífio (Ziphius cavirostris), que apresenta dentes na ponta dos maxilares, chega aos sete metros e vive em zonas com grandes profundidades. Esta espécie, apesar de tímida na presença de barcos, apresenta um estatuto de conservação menos preocupante. 

Até dia 30 de setembro, várias baleias-comuns foram avistadas por nós ao longo do Canhão de Lisboa, tendo sido iniciado a foto identificação de cada indivíduo. Somando mais de 16 avistamentos ao longo de um mês e meio, houve um dia em que, entre barcos presentes na área, foram avistados pelo menos seis indivíduos de baleias-comuns. É uma espécie que se sabe vir alimentar-se na costa portuguesa, como afirma o investigador Rui Peres dos Santos. Historicamente esta espécie teve um declínio gigantesco devido à caça, tendo por outro lado uma importância económica enorme durante uns anos na costa portuguesa entre o Cabo da Roca e Sines, com registo de capturas de mais de 800 baleias entre os anos 1925 e 1951. Tendo em conta que esta espécie pode viver para além dos 94 anos de idade e que desde 1981, a caça à baleia foi banida oficialmente em Portugal continental, possivelmente já podemos contar com muito mais abundância de indivíduos pelas nossas águas.

Baleia. Foto: SeaEO Tours

A existência de barcos com licenças Autorização para Observação de Cetáceos (AOC) atribuídas pelo ICNF em Lisboa e Cascais duplicou desde o ano passado 2021 para este ano. O facto de haver menor pressão da caça às baleias, dos indivíduos nascidos a partir de 1981 já serem considerados adultos, aliado à maior presença de pessoas embarcadas no mar naquela região do Canhão de Lisboa, permite concluir em termos não-científicos, contudo bastante seguros e analíticos, que este foi um ano de baleias.

Apesar de terem sido avistados com maior regularidade este ano mais perto da costa naquela região, não implica que o seu alimento (sardinha, carapau, krill e outro zooplâncton) seja mais abundante, pode também querer dizer que há depleção de alimento disponível. Ali continua a haver muita pressão da pesca do cerco, o plástico à superfície é cada vez mais e infelizmente vão arrojando na nossa costa vários indivíduos com conteúdos estomacais assustadores. É por isso que devemos continuar a lutar pela educação e sensibilização ambiental, promover a sustentabilidade das atividades económicas e recolher o máximo de lixo marinho possível durante os passeios nas embarcações Ecoturísticas com a Bandeira Azul.


Sobre o autor

Sidónio Paes é biólogo marinho e sócio-gerente da empresa SeaEO Tours.

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Parques eólicos offshore: Estudo alerta para efeitos sobre aves marinhas, em especial na Ericeira e em Viana do Castelo

Por Inês Sequeira — 3 de Outubro de 2023, 15:39

Primeiros resultados de avaliação realizada pelo laboratório de investigação cE3c – Centro de Evolução, Ecologia e Mudanças Ambientais, em parceria com a SPEA, chamam a atenção para necessidade de debate sobre projectos de energias renováveis no mar.

O estudo sobre os impactos da instalação de parques eólicos ‘offshore’ ao largo da costa portuguesa, financiado pela Fundação Oceano Azul, avaliou a sensibilidade de 34 espécies de aves marinhas face aos locais que estão previstos para a instalação das turbinas.

Os resultados indicam que tanto a área proposta da Ericeira como as de Viana do Castelo Norte e Viana do Castelo Sul são as áreas “onde os impactos devem ser considerados e a localização e/ou delimitação destas áreas revista”, sublinha um comunicado conjunto da Fundação Oceano Azul e da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), divulgado esta terça-feira.

As zonas ao largo da Ericeira e de Viana do Castelo fazem parte das cinco áreas da costa continental portuguesa que o Governo já apontou como interessantes para a instalação de turbinas eólicas no mar em larga escala. As restantes ficam ao largo de Leixões, Figueira da Foz e Sines. “O estudo mostra que é fundamental que se debata, analise e estude os potenciais impactos e as zonas preferenciais” para a instalação desta indústria de energias renováveis, apelam as duas entidades.

Parque eólico ‘offshore’ no Reino Unido. Foto: Nicholas Doherty/Unsplash

Ericeira sobrepõe-se a proposta para área marinha protegida

Uma das questões que preocupam tanto a SPEA como a fundação que gere o Oceanário de Lisboa é que a zona proposta para a instalação de turbinas eólicas, no mar da Ericeira, sobrepõe-se à área que já tinha sido estudada numa expedição científica em Outubro do ano passado. Os resultados desse “levantamento de valores naturais” realizado há um ano vão servir de base à proposta para a criação da futura Área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária de Cascais, Mafra e Sintra, “área essa com valores naturais únicos apontados no relatório desta expedição”, com apresentação prevista até ao final de Dezembro.

“No caso particular desta área – acrescentam as duas entidades – a mesma situa-se anexa a duas zonas de protecção especial (ZPEs), e em habitat utilizado como zona de alimentação da população nidificante de cagarras nas ilhas Berlengas.”

Cria de cagarra em ninho na Berlenga. Foto: Leonor Miranda

Este alerta para os efeitos para as aves marinhas e costeiras surge quando estas são “um dos grupos de animais mais ameaçados do mundo devido a impactos humanos como as capturas acidentais por artes de pesca e a poluição“, lembra o comunicado. São igualmente as principais vítimas do aumento da área ocupada por parques eólicos marinhos, “devido às colisões com as pás das turbinas ou ao efeito barreira criado pelos parques eólicos e sobretudo à perda de habitat que necessariamente acontecerá pela exploração de vastas áreas marinhas”.

Emanuel Gonçalves, coordenador científico e administrador da Fundação Oceano Azul, nota que a agenda da descarbonização é “fundamental”, mas também que “é fundamental cumpri-la de uma forma correcta, não cometendo erros que possam levar a problemas numa outra agenda tão ou mais importante, que é a da protecção e recuperação da biodiversidade”.

“É imperativo que este processo seja transparente, claro e ambicioso no que diz respeito ao envolvimento da sociedade no mesmo”,  sublinha por seu lado o presidente-executivo da SPEA, Domingos Leitão, lembrando ainda “é de extrema importância acautelar desde já impactos futuros para as aves marinhas, começando por evitar as zonas identificadas como sendo ecologicamente mais sensíveis”. 

Decisão nos próximos meses

Uma vez que o Governo deverá anunciar a curto prazo quais vão ser as áreas a licenciar, as duas entidades alertam também para a necessidade de se recorrer à “melhor informação técnico-científica” para a tomada de uma decisão.

No entanto, “Portugal não tem ainda um mapa claro das áreas prioritárias para a conservação marinha, que é fundamental para atingir os objectivos a que o país se propôs na agenda da biodiversidade, na convenção da diversidade biológica ou na protecção de 30% do seu mar até 2030”, alerta o comunicado conjunto.

Sendo assim, “os mapas de sensibilidade apresentados agora pela SPEA são uma valiosa ferramenta para sustentar a decisão final e devem ser tidos em conta pelos decisores”, sustentam.

Em breve, está previsto que a Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos apresente um plano de afectação, incluindo uma proposta final de áreas para a instalação de parques eólicos ‘offshore’, além do relatório da avaliação ambiental estratégica realizada. O plano de afectação será alvo de consulta pública.

“Existe a ambição política de que o leilão das áreas definidas avance antes do final de 2023 e é fundamental que haja mobilização de conhecimento técnico-científico antes do avanço do projeto”, alertam a SPEA e a Fundação Oceano Azul.

 

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Voluntários apanham mais de 470 quilos de lixo em praia da Costa da Caparica

Por Helena Geraldes — 28 de Setembro de 2023, 13:16

Cerca de 40 pessoas juntaram-se na Praia do Castelo, Costa da Caparica, a 16 de Setembro e recolheram 472 quilos de lixo nesta acção de limpeza costeira organizada pela ASPEA (Associação Portuguesa de Educação Ambiental).

A limpeza de praia começou às 10h00, para assinalar o Dia internacional da Limpeza Costeira, numa acção da ASPEA e da Planet Caretakers.

Segundo a organização, “a limpeza de praia concentrou-se, especialmente, nos resíduos que se encontravam no parque de estacionamento. A grande maioria de resíduos era de plástico, embora se encontrasse também muito vidro, cartão e lixo indiferenciado”. 

Limpeza de praia. Foto: ASPEA

Joaquim Ramos Pinto, presidente da ASPEA, comentou que vivemos numa era repleta de desafios ambientais e que este é o ponto de viragem para a literacia azul e sustentabilidade do nosso planeta. A Educação Ambiental é fundamental na alteração de comportamentos de hábitos de consumo e assume um papel muito importante na tomada de consciência para decisões ambientalmente responsáveis e socialmente justas. 

Rute Candeias, coordenadora do projeto e o presidente da ASPEA salientaram ainda que há necessidade de informar e sensibilizar para a Conservação dos Oceanos para que em 2050 não tenhamos mais lixo do que peixes nas águas do oceano e para que possamos continuar a deslumbrar-nos com a fascinante vida marinha.

Limpeza de praia na Costa da Caparica. Foto: ASPEA

Esta ação foi realizada em articulação com a Fundação Oceano Azul que apoiou com os seguros dos participantes e a comunicação do evento.  

No total foram recolhidos 472 quilos de lixo, metade do qual, plástico.

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Pode a grande migração de atuns voltar a Portugal?

Por Daniel Veríssimo — 22 de Setembro de 2023, 15:42

Daniel Veríssimo, um economista fascinado pela natureza, fala-nos deste peixe majestoso e grande viajante do Atlântico, que necessita de espaço e tempo para aumentar os seus números e regressar a uma situação mais segura.

Atuns, peixes mais conhecidos pelos enlatados, cozinhados e sushi do que pelo seu papel no ecossistema marinho. Existem nos oceanos do mundo oito espécies de atuns, do Oceano Índico ao Pacífico, passando pelo Atlântico, estando apenas ausentes das águas frias dos Polos.

Nos mares e costas de Portugal existem cinco espécies de atuns, mas existe um atum, o atum-rabilho (Thunnus thynnus), o rei dos atuns, com uma presença sazonal, que realiza uma impressionante migração entre o Oceano Atlântico e o mar Mediterrâneo, a este, e entre o Atlântico e o mar das Caraíbas, a oeste. O atum-rabilho é uma maravilha da evolução, um peixe perto do topo da cadeia alimentar, moldado em forma de torpedo, que pode pesar várias centenas de quilos e medir até três metros.

Os atuns-rabilho fazem parte das lendas dos Gregos, das crónicas dos Romanos e dos contos árabes. No Algarve, diz o conhecimento popular, era possível ver passar a migração de atuns desde as praias.
Antes, para pescar os atuns, eram construídas grandes estruturas com redes e boias chamadas almadravas, grandes armações que eram usadas para pescar esses peixes desde a costa.

Com o tempo, o atum-rabilho sofreu um declínio estável e continuado, que começou há alguns milhares de anos com as primeiras embarcações de pesca e terminou com o colapso das populações (stocks) nos anos 60 do século XX em águas europeias.

A pesca local e costeira, apesar de ter algum impacto nas populações, não era suficiente para as afetar de forma irrecuperável ou para extinguir espécies, mas com o desenvolvimento das fábricas de conservas e a crescente industrialização, o impacto passou de local e costeiro para incluir também o mar alto e ser feito a uma escala global. A consequência foi um colapso das populações de atum-rabilho e de outras espécies do mesmo grupo.

Hoje, o atum-rabilho regressou à costa portuguesa, ao Reino Unido, ao Báltico e à costa sul de França, mas as populações ainda não estão totalmente recuperadas. Este peixe continua extinto no Mar Negro e o tamanho das populações do passado continua esquecido, e por isso é difícil imaginar o potencial tamanho das populações futuras. Um claro caso da síndrome de amnésia ambiental, em que o estado deteriorado do presente é tido pelas gerações atuais como normal, por não conhecerem outra realidade, quando na verdade é um estado degradado, uma sombra do tamanho anterior.

Para se recuperarem a diversidade e a abundância da vida marinha, a melhoria das práticas da pesca é uma ferramenta-chave: pescar em menos quantidade (a quantidade de peixes que se tira dos oceanos é demasiada), em menos áreas (é importante ter zonas sem pesca para preservar stocks) e com menos impacto (parar de usar artes de pesca de arrasto, prevenir o abandono de redes e minimizar as capturas acidentais). Isso não significa uma redução de rendimentos ou de postos de trabalho, mas sim uma atividade económica estável, viável e sustentável, que cria riqueza de uma maneira segura ao longo do tempo.

Portugal é um dos maiores consumidores de peixe per capita do mundo, sendo a principal razão a riqueza histórica de vida nas águas marinhas portuguesas. O país está localizado no único lugar da Europa que tem um afloramento costeiro – áreas bastante produtivas onde as águas frias ricas em nutrientes vem à superfície, o que origina uma explosão de vida.

É preciso dar espaço e tempo à natureza. Espaço através de áreas protegidas formais, criadas e geridas pela Estado e/ou informais, mantidas e organizadas por populações locais e pescadores, para
assegurar rotas seguras para o atum-rabilho migrar. Tempo, por meio de uns bons anos para a migração de atuns recuperar todo o seu esplendor e grandeza.

As zonas costeiras de Portugal já foram lugares mágicos, a fervilhar de vida, com esturjões a subir os rios, colónias de focas-monge nas praias, tartarugas-marinhas a nidificar na areia, com habitats ricos
em recifes de ostras, pradarias marinhas e florestas de laminárias (kelp), com águias-rabalva nos céus e até com populações residentes de baleias e golfinhos. As zonas costeiras de Portugal já foram
lugares mágicos e podem voltar a ser.

Descobrir o maravilhoso mundo azul, entre a areia da praia e o fundo do oceano, através de um safari de atuns num barco à vela, compreendendo todas as ligações e interligações na teia dos ecossistemas marinhos. Ser deslumbrado pela vida marinha, ver atuns em migração, cardumes de sardinhas e grandes grupos de golfinhos. E no fim, com o sol a refletir nas ondas do mar, ver um atum saltar
como um torpedo fora de água.

A grande migração de atuns pode voltar a Portugal.

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Para fazer: junte-se a uma limpeza de praia e à iniciativa #EUBeachCleanUp

Por Helena Geraldes — 15 de Setembro de 2023, 10:17

Saiba onde e quando vão acontecer as limpezas de praia às quais se poderá juntar, no âmbito da iniciativa #EUBeachCleanUp, de 16 a 24 de Setembro. Nos últimos quatro anos já participaram mais de 18.000 pessoas que tiraram das praias 250 toneladas de lixo, segundo a Fundação Oceano Azul, entidade que organiza a iniciativa em Portugal.

Pelo quinto ano consecutivo, milhares de voluntários mobilizam-se em prol do oceano. Entre os dias 16 e 24 de Setembro, realizam-se acções de limpeza terrestre e subaquática nas praias de Norte a Sul do país, bem como nos Açores e na Madeira. O objectivo, segundo a Fundação Oceano Azul, é “sensibilizar e consciencializar para a problemática do lixo marinho”.

Estima-se que até 37 milhões de toneladas de resíduos plásticos cheguem ao oceano anualmente até 2040.

Esta campanha organizada pela Direção-Geral dos Assuntos Marítimos e das Pescas (DG MARE) da Comissão Europeia e Nações Unidas é coordenada em Portugal pela Fundação Oceano Azul. Esta desafiou organizações nacionais a organizarem limpezas de praias durante aquela semana.

Em Portugal, a campanha arranca no concelho de Almada a 16 de Setembro, Dia Internacional de Limpeza Costeira, com a acção Limpar a Costa: da Trafaria à Fonte da Telha. Tem como objectivo limpar 32 praias ao longo de 13 quilómetros e já estão inscritas várias entidades locais, incluindo escolas de surf. Na Praia Cabana do Pescador vão participar eurodeputados portugueses e várias embaixadas de países da União Europeia e do resto do mundo.

“A participação nas ações de limpeza costeira é uma das respostas à pergunta tantas vezes repetida, ‘Mas o que é que eu posso fazer?’. Porque ao agirmos localmente, estamos a ter um impacto global”, comentou, em comunicado Sofia Moreira de Sousa, a representante da Comissão Europeia em Portugal. “E sobretudo porque não estamos sozinhos. Todos contamos. Individualmente, cada um de nós pode fazer a diferença e sensibilizar outros para o fazer. Em conjunto, temos o poder de transformar o planeta e de ser parte da mudança.”

“Portugal, tantas vezes descrito como sendo um país à beira-mar plantado, é a porta ocidental de acesso marítimo à Europa. Proteger o ambiente da sua orla marítima é, não somente respeitar a paisagem natural do nosso país, mas também a da União Europeia no seu todo. Precisamos de agir antes que nos seja exigido reagir, e o momento para o fazer é agora”, disse, por sua vez, Pedro Valente da Silva, chefe de gabinete do Parlamento Europeu em Portugal.

Segundo a Fundação Oceano Azul, “cerca de 80% do lixo encontrado nos ecossistemas marinhos tem origem em atividades humanas em terra e apenas cerca de 20% provém de atividades diretamente ligadas ao mar. As ações de limpeza e monitorização de lixo nas praias revelam-se fundamentais para sensibilizar a população quanto à dimensão deste problema”.

Aqui estão seis iniciativas mas pode encontrar todas, por região, aqui:

Dia 16 de Setembro

➢ “Limpar a Costa: da Trafaria à Fonte da Telha”:
– Ação de limpeza Praia da Trafaria – Almada, 09h30

Organização: Brigada do Mar, EDA – Ensaios e diálogos associação, Planet Care Takers


– Ação com embaixadores na Praia Cabana do Pescador – Almada, 10h00 

Organização: Fundação Oceano Azul, Comissão e Parlamento Europeu com o apoio da Câmara de Almada


– Ação de limpeza Praia da Morena – Almada, 10h00

Organização: Federação Nacional de Educação


– Ação de limpeza Praia do Rei – Almada, 11h30

Organização: Ocean Patrol, com presença de influencers nacionais


– Ação de limpeza na Praia do Bico da Areia (Praia do 2o Torrão) – Almada, às 16h30;

Organização: Câmara Municipal de Almada, Junta de Freguesia da Trafaria e as associações Brigada do Mar, Planet Caretakers, Novo Mundo, The Trash Traveler e Associação de Moradores 2o Torrão.

➢ Açores
– Ação de limpeza subaquática no Naufrágio Lidador – Angra do Heroísmo, 09h00; 

Organização: Octopus Actividades Nauticas Lda

Dia 17 de Setembro:
– Ação de limpeza subaquática na Praia do Creiro – Setúbal, às 09h00;

Organização: Wind – Centro de Atividades de Montanha.

Dia 20 de Setembro:
– Ação de limpeza na Praia de Armação de Pêra

Organização: SOMAR e Centro de Ciência Viva de Lagos; Participação das Escolas de Silves pertencentes ao programa Educar para uma Geração Azul

Dia 22 de Setembro:
– Ação de limpeza no Cabo da Roca – Sintra, 16h00;

Organização: Câmara Municipal de Sintra

Dia 23 de Setembro:
– Ação de limpeza na Praia de Ofir – Esposende, 10h00;

Organização: Onda Magna Surf School

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Madeira: corveta Afonso Cerqueira, o refúgio submerso

Por Jéssica Teixeira — 12 de Setembro de 2023, 21:17

Este mês a Wilder lança uma nova série sobre a conservação da natureza e as espécies da Área Protegida do Cabo Girão, ilha da Madeira, que em 2023 fez seis anos. Esta é uma parceria com a Associação Insular de Geografia, através do seu projecto GIRO (Projecto de Valorização da Área Protegida do Cabo Girão).

A 4 de setembro de 2018, todos os caminhos levaram ao centro do concelho de Câmara de Lobos. Nesta data, a multidão aguardou ansiosamente pelo afundamento do antigo navio militar NRP Corveta Afonso Cerqueira no Parque Natural Marinho do Cabo Girão (PNMCG).

Azul Diving Madeira (4)
Foto: Azul Diving Madeira

Após uma rápida sequência de explosões cuidadosamente planeadas, a embarcação submergiu até ao fundo do oceano, onde repousa a 400 metros a sul do Cabo Girão, entre os 24 metros e 32 metros de profundidade.

Após 45 anos ao serviço da Marinha Portuguesa, a antiga corveta cumpre agora a sua última missão, ao tornar-se um recife artificial nesta área protegida. Para além do potencial turístico do mergulho recreativo, o novo recife artificial tem sido crucial no que toca à recuperação dos recursos piscícolas da área, aumentando a biodiversidade e proporcionando um local de abrigo para a reprodução da vida marinha.

Os recifes artificiais são estruturas submersas colocadas no fundo do mar com a finalidade de simular algumas das funções ecológicas de um recife natural, nomeadamente a proteção, regeneração, concentração e aumento da produção de recursos marinhos vivos. A antiga corveta da Armada Portuguesa foi afundada no PNMCG, dando continuidade ao processo de implementação de recifes artificiais no mar da Madeira, através do afundamento de navios, que teve início no ano de 2016, no Porto Santo.

Antes do processo de afundamento deste navio, este local foi alvo de estudo, não só numa ótica de avaliação das condições necessárias à implementação deste recife artificial, mas também numa perspetiva de avaliar os potenciais impactos sobre o meio ambiente. A escolha do local de afundamento foi realizada de forma a garantir que a “perda” da parcela de oceano onde o recife artificial foi implantado não causaria impactos negativos nas comunidades biológicas sensíveis e/ou únicas.

Passados cinco anos, o recife artificia lNRP Corveta Afonso Cerqueira tem demonstrado que tem sido uma aposta ganha, com resultados muito positivos, tanto ao nível do turismo de mergulho recreativo, bem como ao nível do aumento das espécies marinhas.

Área Protegida do Cabo Girão. Foto: Associação Insular de Geografia

Dados recentes de monitorização por investigadores do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, IP-RAM e o Observatório Oceânico da Madeira (OOM), demonstram que este recife artificial tem vindo a recriar algumas das características existentes nos recifes naturais circundantes, criando condições favoráveis ao desenvolvimento da sua própria biodiversidade e atração de espécies de zonas próximas. Embora com variações sazonais, no decorrer dos trabalhos de investigação iniciais, foram contabilizadas vinte e seis espécies distintas de ictiofauna.

No que diz respeito à prática de mergulho recreativo, o trabalho de monitorização do GIRO – Projeto de Valorização da Área Protegida do Cabo Girão tem demonstrado um crescente interesse pela atividade, desde 2019, contabilizando uma média de 97 mergulhadores por semana (época alta de 2023), comprovando-se a possibilidade de conciliação da conservação da natureza com a atividade turística.

Ao visitar o mais recente recife artificial da Região Autónoma da Madeira é possível explorar o mobiliário, equipamentos e salas originais do navio, bem como deixar-se encantar pela vida marinha que aqui habita, nomeadamente pelas manchas da alga verde Caulerpa prolifera, por uma grande diversidade de enguias-de-jardim, Heteroconger longissimus e muitas outras espécies marinhas.

A corveta Afonso Cerqueira iniciou a sua história ao serviço da Marinha Portuguesa a 28 de junho de 1975. Patrulhou Timor-Leste, durante a invasão da Indonésia, regressou a Lisboa, após uma volta ao mundo com mais de 20 mil quilómetros pelo Índico e Pacífico. Visitou as comunidades portuguesas presentes no Havai e Califórnia, atravessou o canal do Panamá e fez paragens na Austrália, Japão, e Venezuela.

Hoje descansa na Área Protegida do Cabo Girão, sendo o “berçário” de inúmeras espécies marinhas e que conta com uma bagagem repleta de muitas histórias para contar.


Associação Insular de Geografia desenvolve o GIRO – Projeto de Valorização da Área Protegida do Cabo Girão, com o intento de valorizar, proteger e promover os valores ecológicos e culturais desta tão especial área classificada, localizada no concelho de Câmara de Lobos, na ilha da Madeira.

Área Protegida do Cabo Girão é subdividida em três classificações: o Monumento Natural, a Paisagem Protegida e o Parque Natural Marinho. Adicionalmente, as formações vegetais e as zonas de nidificação e repouso da avifauna marinha presentes na arriba do Cabo Girão integram a Rede Natura 2000, caracterizando o Sítio de Importância Comunitária Cabo Girão (PTMAD0011).

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Esponjas marinhas revelam variedade de peixes que vivem no Atlântico norte e no Ártico

Por Helena Geraldes — 6 de Setembro de 2023, 14:35

Uma equipa de investigadores estudou o ADN de 64 esponjas marinhas de três espécies e encontrou fragmentos de ADN de outras espécies com as quais convivem, desde peixes a baleias.

Descobrir a diversidade de espécies que habitam no planeta é uma tarefa complexa quando falamos de terra firme. Mas nas profundidades marinhas, é ainda mais difícil.

A investigação desenvolvida pelo Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (MNCN-CSIC), pelo Museu de História Natural de Londres (NHM) e pela Universidade John Moores, de Liverpool, permitiu descobrir a variedade de espécies de peixes presentes no Atlântico Norte e no Árctico, através da análise do ADN obtido a partir dos tecidos das esponjas marinhas.

As esponjas marinhas passam a maior parte da sua vida fixadas nas rochas, filtrando activamente enormes quantidades de água que passa através dos seus tecidos porosos. Neste processo, além de obterem nutrientes e eliminarem resíduos, os tecidos das esponjas acumulam fragmentos de ADN que libertam as espécies de peixes que partilham as águas onde se encontram.

“O que fizemos foi analisar o ADN armazenado em 64 esponjas que recolhemos no Atlântico Norte e no Ártico e que posteriormente depositámos nas coleções do MNCN e do NHM”, explica, em comunicado, a investigadora do MNCN, Ana Riesgo. 

A equipa, que publicou a 30 de Agosto o estudo na revista Proceedings of the Royal Society B, trabalhou com três espécies de esponjas diferentes (Geodia barrettiGeodia hentscheli Phakellia ventilabrum) que lhes permitiram reconstruir as comunidades de peixes que viveram em redor dos espécimes.

“A presença de espécies de peixes de águas frias como a faneca de Noruega (Trisopterus esmarkii) ou o Bathylagus euryops, que actuam como indicadores, permite diferenciar as comunidades em função da sua profundidade e latitude, nas regiões biogeográficas do Atlântico Norte e no Ártico, numa área de amostragem que vai desde as costas do Canadá às ilhas Svalbard”, acrescenta a investigadora da Universidad John Moores, Erika Neave.

Entre o material genético acumulado nos tecidos dos 64 espécimes também foi sequenciado ADN de baleias, tubarões e raias. 

“Dizem que sabemos mais sobre a superfície da Lua do que sobre os fundos oceânicos. Não sei até que ponto essa afirmação é correcta. Aquilo que sei é que esta forma de nos aproximarmos da biodiversidade marinha pode ajudar-nos muito a desvendar os mistérios dos fundos marinhos sem ter que investir demasiados recursos”, comentou ainda Riesgo. 

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Cientistas querem usar os oceanos para combater as mudanças climáticas; entenda

Por Alessandro Di Lorenzo — 5 de Setembro de 2023, 15:16

Mais de 200 cientistas assinaram uma carta pedindo pesquisas “responsáveis” sobre maneiras de usar os oceanos para reter o dióxido de carbono que aquece o planeta. Eles defendem a adoção de medidas urgentes para conter as mudanças climáticas, que têm provocado o aumento de fenômenos extremos nos últimos anos.

Leia mais

Oceanos podem ajudar a capturar CO2

O aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) contribuiu com o aumento das temperaturas do planeta. Diversos alertas globais já foram emitidos destacando a urgência da diminuição da liberação desses gases na atmosfera, mas especialistas também têm estudado alternativas para absorver as substâncias já emitidas.

Nesse cenário, os oceanos podem ser grandes aliados. Eles já retêm cerca de 50 vezes mais carbono do que a atmosfera. A ideia dos cientistas é turbinar esse fenômeno natural. O problema é que há riscos nesse processo.

É por isso que eles pedem pesquisas responsáveis sobre o tema. Em outras palavras, a carta divulgada pede esforços para que a ciência possa entender melhor as potencialidades dos oceanos, juntamente com quaisquer efeitos colaterais.

Embora as abordagens de remoção de dióxido de carbono baseadas nos oceanos tenham um enorme potencial, também há riscos. A sociedade ainda não tem informações suficientes sobre a eficácia ou os impactos de qualquer abordagem específica e, portanto, não pode tomar decisões informadas sobre seu uso em escala.

Cientistas, em carta divulgada
Oceano é um grande aliado na absorção de CO2, mas existem riscos nesse processo (Imagem: Francesco Scatena/Shutterstock)

Existem riscos para a vida marinha

  • Existem algumas formas conhecidas de aumentar a capacidade dos oceanos de absorver e reter dióxido de carbono.
  • Algumas são naturais, como restaurar ecossistemas costeiros que retiram CO2 por meio da fotossíntese.
  • Outras dependem da tecnologia.
  • Algumas startups com sede na Califórnia construíram plantas-piloto para filtrar o CO2 do oceano, por exemplo.
  • A ideia é tirar o dióxido de carbono das águas para que elas tenham a capacidade de absorver ainda mais a substância.
  • Mas alguns defensores do meio ambiente alertam para os riscos de tais ações para a vida marinha, segundo reportagem da The Verge.

Não fazer nada é antiético, dizem os cientistas

Alguns grandes nomes das ciências climáticas e ambientais assinaram a carta. Caso de David King, ex-conselheiro científico chefe do governo do Reino Unido e James Hansen, ex-cientista climático da Nasa famoso por alertar o mundo sobre as mudanças climáticas durante um depoimento ao Congresso em 1988.

Os oceanos também sofrem o impacto das mudanças climáticas. Uma onda de calor no Atlântico está dizimando os recifes de coral da Flórida, por exemplo (saiba mais sobre o assunto clicando aqui).

Eu vi esses declínios maciços na saúde dos oceanos (…) Não fazer nada é antiético, essencialmente. Precisamos pelo menos descobrir os riscos e os benefícios, ver se podemos ajudar a resolver o problema que criamos.

Débora Iglesias-Rodriguez, presidente do departamento de Ecologia, Evolução e Biologia Marinha da Universidade da Califórnia

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Você sabia que peixes podem morrer afogados?

Por Mateus Dias — 29 de Agosto de 2023, 00:11

A temperatura da água é muito importante para a sobrevivência de alguns peixes que vivem em oceanos abertos. Se ela estiver excepcionalmente quente, os níveis de oxigênio no mar diminuem e esses animais acabam morrendo afogados.

À medida que as temperaturas oceânicas aumentam, o nível de oxigênio dissolvido na água diminui. Ao mesmo tempo, o calor aumenta a taxa metabólica dos peixes, necessitando de mais energia e oxigenação. Sem oxigênio, esses animais terão que retirar energia de outros processos, como reprodução e crescimento, podendo causar a morte deles.

Desde abril, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos vem monitorando as temperaturas oceânicas. Milhares de peixes mortos já chegaram às áreas costeiras da Flórida e do Texas e em agosto, durante uma semana inteira, as temperaturas do Oceano Atlântico e do Golfo do México ultrapassaram 31° C.

Além da morte por falta de oxigênio, chamada de hipóxia, as altas temperaturas também acarretam o aumento da salinidade do oceano, resultando em uma combinação estressante para os peixes. Animais que vivem em baías e estuários são mais tolerantes a essas condições, já os peixes que vivem em oceanos abertos estão acostumados com ambientes estáveis, não sendo tão resilientes às mudanças.

Leia mais:

Onda de calor e mudanças climáticas

Até 2080, cerca de 70% dos oceanos globais irão sofrer perda de oxigênio devido às altas temperaturas, segundo um estudo de 2021, publicado na Geophysical Research Letters. No entanto, de acordo com o pesquisador Martin Grosell, professor e presidente do Departamento de Biologia Marinha e Ecologia na Escola Rosenstiel de Ciências Marinhas, Atmosféricas e da Terra da Universidade de Miami, é difícil prever até que ponto as atuais ondas de calor marinha irão afetar a população global de peixes.

Provavelmente não é bom, mas tentar determinar o impacto de uma onda de calor marinha isolada, como a que estamos vivendo este verão, nas populações de peixes é difícil para nós determinarmos. O que é importante perceber é que estas ondas de calor marinhas estão ocorrendo com mais frequência e são de maior gravidade do que costumavam ser com outros estressores.

Martin Grosell, em comunicado

Atividades de migração de peixes de áreas mais quentes para mais frias e com maior oxigenação já estão sendo observadas. Além disso, fisiologistas de peixes apontam que os peixes ficarão menores à medida que os oceanos continuam aquecendo.

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Observação da natureza: Ana Pêgo e as poças de maré (à noite)

Por Helena Geraldes — 22 de Agosto de 2023, 10:51

Nesta nova série sobre locais fantásticos para ver a vida selvagem em Portugal, a bióloga marinha e autora do livro Plasticus maritimus, Ana Pêgo, mostra-nos como é estudar as espécies que vivem nas poças de maré. À noite.

Anémonas fluorescentes, bodiões a dormir em camas de algas, camarões, ouriços-do-mar ou até polvos são apenas alguns dos tesouros que vivem nas zonas entre-marés e que Ana Pêgo, de vez em quando, visita à noite.

As expedições nocturnas à praia começaram ainda Ana Pêgo era uma criança.

“À noite temos uma percepção da praia completamente diferente da que temos durante o dia e, só por isso, já vale a pena o passeio”, explicou à Wilder. “A praia parece outra porque estamos a senti-la de forma diferente. Gosto da tranquilidade e dos sons da praia à noite.”

Ana Pêgo numa expedição nocturna. Foto: D.R.

Além disso, acrescenta, “à noite não nos dispersamos tanto nas observações; a nossa concentração fica focada nas zonas iluminadas pela lanterna (ou naquilo a que os nossos olhos se conseguem habituar a ver no escuro)”.

Ana Pêgo tem o seu “escritório” por excelência na praia, em especial nas zonas rochosas. Estuda todas as espécies que ali vivem, quer na água transparente quer agarradas às rochas ou entre algas de várias cores e feitios; desde as maiores às mais pequenas, aquelas que quase escapam a um olhar menos atento.

A maioria das vezes, as explorações acontecem de dia. Uma expedição nocturna “não é uma coisa que faça com muita regularidade, como faço com as explorações diurnas. Vou à praia à noite quando não dá para resistir a uma boa maré e, de preferência, com companhia. Admito que, no inverno, as “boas marés” de lixo também me fazem correr para a praia à noite”.

Foto: Ana Pêgo

Este mês foi duas noites seguidas. “Estava uma maré de 0,4m, incrivelmente baixa e irresistível.”

“Algumas espécies estão mais activas à noite e, por isso, vou com esperança de as encontrar. Desta vez desejava ver polvos (Octopus vulgaris) mas não encontrei nenhum. Andavam por lá vários pescadores por isso talvez os polvos tivessem sido pescados ou então estavam escondidos.”

Entre as espécies que lhe dá gozo ver à noite e que causam grande espanto nas outras pessoas, estão as anémonas (Anemonia sp) que, devido a uma proteína, ficam fluorescentes. “É lindo! As poças parece que se transformam num jardim mágico.”

Anémonas. Foto: Ana Pêgo

Nas últimas expedições nocturnas, Ana Pêgo viu “holotúrias (pepinos-do-mar, Holothuria sp), ofiurídeos negros (Ophicomina nigra), ouriços-do-mar-comuns (Paracentrotus lividus), um ouriço de outra espécie que é maior, mais redondo e roxo (Sphaerechinus granularis), o camarão-das-poças (Palaemon serratus) e caranguejos de várias espécies (como a Eriphia verrucosa)”. 

À noite também é possível ver várias espécies de peixes. “Sendo esta zona (entremarés do litoral rochoso) propícia a “berçário”, é possível ver juvenis de várias espécies: sargos, robalos, salmonetes, cabozes, etc. Mas o que eu acho mais piada é de encontrar o bodião (Symphodus melops) a dormir. Dorme deitado de lado numa cama de algas”. 

Foto: Ana Pêgo

“As algas também são lindas à noite.”

Durante a visita, Ana Pêgo viu ainda gastrópes (da espécie Tritia reticulada) a alimentarem-se de um caranguejo morto e dois bodiões (Symphodus melops) que estavam nitidamente a dormir.

Para estas observações naturalistas, a bióloga marinha vai preparada.

“Levo uma mochila com várias coisas, mas normalmente acabo por usar apenas as lanternas e o telemóvel para fazer alguns registos. As outras coisas que levo comigo são: um pequeno tabuleiro porque pode dar jeito para observar algum organismo, uma caixa com várias lupas, uma garrafa de água (porque posso ter sede, mas também porque pode ser necessário lavar alguma coisa) e, por vezes, levo um guia de campo”, enumera.

Foto: Ana Pêgo

Como ajudar a proteger estas espécies?

“As espécies da zona entre-marés do litoral rochoso são espécies marinhas que, embora extremamente bem-adaptadas a viver ao ritmo das marés, vivem num ecossistema muito frágil”, alerta Ana Pêgo. 

São várias as ameaças que enfrentam.

Actualmente, há três grandes ameaças para as espécies intertidais, segundo Frederico Almada, , investigador do ISPA-MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente).

Como explicou anteriormente à Wilder, duas delas são as espécies exóticas invasoras – como o caranguejo-azul (Callinectes sapidus) e a corvinata-real (Cynoscion regalis), que são predadores vorazes – e as alterações climáticas. Estas importam pela “instabilidade climática que trazem, como tempestades mais intensas ou temperaturas anormalmente elevadas no Verão”, o que torna o ambiente mais incerto. Para estes animais, que já vivem no limite do que conseguem aguentar, faz toda a diferença.

Mas “nós somos uma das maiores ameaças, através do pisoteio e manuseamento” dos animais, acrescentou.

Ana Pêgo vê essa ameaça de perto, em especial em praias urbanas. Nestas praias, “com uma grande pressão a vários níveis, durante todo o ano, a fragilidade torna-se ainda mais evidente”, explica.

Para proteger esta vida marinha “seria necessário levar a sério a sua conservação. E isto não implica proibir as pessoas de irem à praia. Muito pelo contrário!! Tem é que se fazer com que os visitantes se tornem bons aliados nesta protecção”, defende Ana Pêgo. Segundo esta especialista, é crucial mostrar aos banhistas e visitantes as maravilhas destes seres e explicar qual a necessidade de os proteger. 

Esta bióloga marinha organiza oficinas de Verão para crianças e jovens, nas quais leva pequenos grupos para explorar as zonas entre-marés e salientar a importância desta biodiversidade.

Ana Pêgo defende também a proibição da pesca e mariscagem e a aplicação dos códigos de conduta e lista de restrições em áreas marinhas protegidas.

Cinco dicas para uma observação da natureza na zona entre-marés

Primeiro que tudo, “deve ter cuidado consigo. Consultar a tabela de marés antes do passeio e estar atento às horas. Nunca virar as costas ao mar. Estar atento à ondulação (para não ser surpreendido com uma onda) e à subida rápida da maré (que pode bloquear passagens seguras). Ver onde se põe os pés para não escorregar, nem esmagar nenhum organismo”.

Depois, “caso tenha curiosidade de ver o que está por baixo de uma pedra, deve depois voltar a colocá-la no lugar. Isto porque há organismos que vivem por baixo e outros por cima das rochas. Deixar a rocha virada pode comprometer as suas vidas”.

“Evitar apanhar organismos, mas no caso de os colocar num balde, não deve demorar nas observações e voltar a colocá-lo na poça de onde os tirou”, segundo Ana Pêgo. “Lembre-se que a água do balde vai aquecendo e isso pode por em risco a vida dos animais.”

“Não levar organismos para casa. Parece óbvio mas há pessoas que ainda o fazem. É muito mais bonito vir visitá-los a este “oceanário selvagem”, onde podemos regressar sempre que quisermos e onde os seres vivem livres e em equilíbrio”.

Navalheira (Necora puber). Foto: Ana Pêgo

Por fim, não vá sem um guia de identificação de espécies. O “Guia FAPAS: Flora e fauna do litoral de Portugal e da Europa“, por Andrew Campbell e James Nicholls, vai ajudá-lo a identificar o que encontrar. Para uma edição mais em jeito de jogo, por que não levar o 50 Tesouros para procurar na praia – Pequeno Guia para Naturalistas, da Wilder?


Agora é a sua vez.

A próxima Oficina de Verão de Ana Pêgo acontece de 4 a 8 de Setembro (das 09h30 às 17h00) na SMUP (Sociedade Musical União Paredense), Parede, e é destinada a jovens dos 13 aos 16 anos. Aliando a Ciência e a Arte, todos os anos são explorados temas ligados aos Oceanos. Este ano o tema é “Entre-marés” e explora as incríveis adaptações da fauna marinha destas zonas. Saiba mais através deste email: oficinas@smup.pt

O conteúdo Observação da natureza: Ana Pêgo e as poças de maré (à noite) também está disponível em Wilder.

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Portugal escondido: 16 fotografias revelam como é a vida no (futuro) parque natural marinho do Algarve

Por Helena Geraldes — 18 de Agosto de 2023, 14:16

Dezasseis fotografias revelam os animais e as plantas que vivem no futuro Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado, cuja consulta pública terminou a 4 de Agosto.

A classificação desta área marinha protegida com 156 quilómetros quadrados – que inclui a área entre o Farol de Alfanzina, limite oeste, e a marina de Albufeira, nos municípios de Albufeira, Lagoa e Silves – está agora mais próxima.

A 4 de Agosto terminou a Consulta Pública do Acto de Classificação do Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado, coordenada pelo ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas). “Esta consulta revelou uma forte participação, abrangente e heterogénea, com 160 comentários e 86 documentos submetidos”, segundo um comunicado do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve e da Fundação Oceano Azul.

Entre as entidades participantes estão os municípios de Albufeira, Lagoa, Silves, Loulé e Faro, associações de pescadores, indústria hoteleira, agrupamentos escolares, empresas marítimo-turísticas, escolas de mergulho, várias organizações não governamentais e instituições científicas.

“A consulta pública (…) assenta numa proposta construída através de um processo participativo inédito: nascido, promovido e dinamizado pela comunidade, contou com o envolvimento de mais de 70 entidades e é baseado numa sólida fundamentação científica. Passados dois anos sobre a entrega desta proposta ao Governo, durante os quais o envolvimento dos algarvios foi permanente, a resposta da sociedade civil revelou-se forte, em especial por decorrer em pleno verão e típica época de férias.”

A área marinha da costa de Albufeira, Lagoa e Silves é “uma das zonas mais ricas em termos de biodiversidade a nível nacional, sendo um dos maiores recifes rochosos costeiros de Portugal com valores naturais ímpares no contexto da costa portuguesa”, salientou, anteriormente, o Ministério do Ambiente e da Acção Climática.

“As áreas marinhas protegidas, quando devidamente desenhadas e implementadas, produzem mais peixes, peixes maiores e sustentam uma maior diversidade de espécies”, segundo o mesmo comunicado. “Por sua vez, podemos ter uma atividade económica mais valorizada, com maior retorno para a pesca, um turismo mais sustentável, valorizando os territórios, as atividades e os produtos do mar protegendo e valorizando este capital natural e garantindo os interesses e necessidades da comunidade que dele depende.”

Conheça, então, algumas das muitas espécies que vivem nestas águas, através de 16 fotografias da Fundação Oceano Azul.


Saiba mais sobre este Parque Natural Marinho.

Foi em Maio de 2021 que a Fundação Oceano Azul e o CCMAR – Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve entregaram ao Governo a proposta de criação deste Parque Natural Marinho.

No total, os cientistas encontraram 889 espécies na área do futuro parque marinho, incluindo 703 invertebrados, 111 peixes e 75 algas. De todas estas espécies, 19 têm um estatuto de protecção, como é o caso dos cavalos-marinhos e do mero. Há ainda 45 espécies novas para Portugal, entre as quais 12 novas para a ciência, que nunca tinham sido observadas em mais nenhum local.

Na área são conhecidos também seis novos habitats identificados na costa sul do Algarve – incluindo os jardins de gorgónias (corais em forma de leque), protegidos pela convenção OSPAR – Convenção para a Protecção do Meio Marinho do Atlântico Nordeste, e ainda comunidades de algas castanhas e calcárias e de bancos de ofiurídeos (seres aparentados com as estrelas-do-mar). Outro habitat protegido são as pradarias de ervas marinhas (Cymodocea nodosa).

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Investigadores listam 50 espécies ao largo de Viana do Castelo

Por Helena Geraldes — 31 de Julho de 2023, 14:18

Esponjas de profundidade, populações de gorgónias bem conservadas e corais duros foram algumas das descobertas feitas por uma equipa de investigadores da Escola de Ciências da UMinho (ECUM) ao largo da costa de Viana do Castelo.

Os investigadores ficaram surpreendidos por terem encontrado “algumas esponjas de profundidade, populações de gorgónias bem conservadas e mesmo corais duros que geralmente só ocorrem a maiores profundidades”, segundo um comunicado do Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Escola de Ciências da UMinho.

Foto: UMinho

Entre as espécies encontradas há várias que são inéditas no Norte de Portugal e que têm uma distribuição limitada geograficamente.

Ao longo dos últimos três anos e até Setembro de 2023, cientistas do projeto “Atlântida” estão a estudar as zonas marítimas mais profundas, a chamada zona de penumbra, onde a luz muito ténue que atinge o fundo não possibilita a fotossíntese, e sobre a qual ainda há muito para descobrir.

“Estamos a lidar com ecossistemas marinhos vulneráveis, que suportam espécies de conservação prioritária pela União Europeia e são muito importantes para a saúde dos ecossistemas marinhos; temos detetado inclusive espécies nunca antes observadas em Portugal”, comentou Pedro Gomes, investigador do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) e professor do Departamento de Biologia da Escola de Ciências da UMinho (ECUM). 

Foto: UMinho

Alguns dos registos conhecidos neste âmbito ao largo de Viana do Castelo têm mais de um século e resultam de capturas acidentais, logo não estão atualizados nem indicam a distribuição, o estado das populações e a sua importância no ecossistema, nomeadamente como habitat para os recursos pesqueiros, realçou o responsável.

Com o objetivo de conseguir dados de base e desenvolver uma plataforma de monitorização do Oceano Atlântico Norte, os investigadores fazem batimetria (mapas detalhados do fundo do mar) para localizar as zonas desses habitats prioritários e avaliar os respetivos parâmetros e fatores de ameaça.

A pesquisa é complementada com informações recolhidas por ROV (minissubmarino não tripulado, equipado com câmara de vídeo e sensores).

Foto: UMinho

“Já fizemos acima de 300 mergulhos com ROV e navegámos mais de 2.000 horas. Vamos obter material que permita avançar para a modelação e delimitação de locais que justifiquem medidas de gestão concretas; temos já ‘instantâneos’ que caracterizam locais específicos e pretendemos alargar esse conhecimento a toda a área de trabalho, que vamos juntar com a topografia submarina”, acrescentou Pedro Gomes. 

Biólogos querem explorar alto mar
 

Nos últimos anos, os cientistas exploraram a zona até cerca de seis quilómetros da costa e numa área de 85 km2, com alguns mergulhos pontuais em zonas situadas a 50 km da costa (a cerca de 200 metros de profundidade). Até ao final do projeto espera-se explorar esse espaço mais afastado, onde já foram detetados recifes de corais de profundidade.

“Infelizmente, os limites do Parque Natural do Litoral Norte terminam a cerca de 1 km dos locais onde começam os recifes de qualidade. Ficou de fora a melhor zona, que não tem qualquer estatuto de proteção”, salientou Pedro Gomes, realçando que aquela zona cumpre as normas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) para ser um espaço protegido. “Vamos ter surpresas, de certeza, e talvez mais espécies novas”, acredita. 

Dendrophilia cornigera. Foto: UMinho

Os investigadores mostram-se preocupados com a destruição do fundo do mar provocada especialmente pela pesca de arrasto. “Precisamos de medidas legais, mas é um problema, porque o ganha-pão dos pescadores está nesta zona. Por indicação da União Europeia somos obrigados a aumentar as áreas protegidas até 30% do território nacional, logo requer-se ações de recuperação e proteção”, defendeu. 

O projeto “Atlântida” é financiado pelo Programa Norte2020 e envolve as universidades do Porto (coordenação), do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro. Em paralelo, o CBMA está a dinamizar o projeto “River2Ocean”, que visa apresentar soluções socioecológicas e biotecnológicas para a conservação e valorização da biodiversidade aquática na região do Minho. 

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Descobertas duas novas espécies no mar da Madeira

Por Inês Sequeira — 26 de Julho de 2023, 12:16

Uma equipa internacional, que incluiu cientistas do centro de investigação MARE, encontrou dois invertebrados novos para a ciência.

A descoberta aconteceu quando os investigadores analisaram amostras de briozoários recolhidas no âmbito de um levantamento de espécies não indígenas, ou seja, com origem fora do arquipélago, anunciou uma nota de imprensa divulgada esta quarta-feira pelo MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.

A Região Autónoma da Madeira é, tal como outras ilhas e arquipélagos, uma “rota de passagem para muitos navios”, o que as torna “zonas férteis e propícias à introdução de espécies não indígenas”, explica o MARE. Muitas espécies ali chegam incrustadas nos cascos de embarcações, passando depois para os substractos artificiais das marinas e também para as unidades de aquacultura ‘offshore’, instaladas no mar. 

No âmbito deste estudo, descrito num artigo publicado a 7 de Julho pela revista científica Marine Biodiversity, a maior parte das espécies analisadas foram recolhidas a partir de painéis feitos de PVC que tinham sido colocados presos a tijolos dentro do mar em diferentes locais da costa sul da ilha da Madeira: quatro marinas recreativas e duas unidades de aquacultura para produção de douradas.

Três meses depois de terem sido colocados os painéis, a equipa retirou-os e analisou detalhadamente as espécies de briozoários que ali se tinham fixado. Foram encontradas 10 espécies diferentes, incluindo quatro registos novos para o arquipélago e duas novas espécies para a ciência. Uma destas últimas foi baptizada pelos cientistas de Crisia noronhai, em honra de Adolfo César de Noronha, “um naturalista entusiasta e ávido promotor do Museu de História Natural do Funchal”, que coleccionou briozoários ao longo de vários anos. A outra espécie ficou a chamar-se Amathia madeirensis.

Pormenor da nova espécie Crisia noronhai. Foto: MARE

Até hoje, estima-se que já estejam registadas no arquipélago 150 espécies diferentes de briozoários, um dos grupo de invertebrados mais diversos, abundantes e complexos que se conhecem. São na sua maioria animais minúsculos que vivem agrupados em colónias, sésseis – ou seja, imóveis e fixos pela sua base a substratos – e que estão presentes por todo o ambiente marinho. Em todo o mundo, existem cerca de 3500 espécies conhecidas.

Os briozoários são também dos invertebrados que mais se incrustam nos cascos de navios usados para o transporte marítimo internacional, apontado como uma das actividades que mais contribuem para a disseminação de espécies não indígenas ou exóticas. Representa, por isso, “uma ameaça significativa à biodiversidade nos ecossistemas costeiros marinhos a nível mundial”, indica o artigo científico publicado. A maioria das espécies marinhas que chegam à Madeira vindas de fora vêm aliás incrustadas em cascos de navios, dispersando-se mais tarde pelas marinas e pelas unidades de aquacultura presentes na costa.

Briozoário da nova espécie Amathia madeirensis. Foto: MARE

Desde 2013 que o MARE-Madeira realiza um programa de monitorização de espécies indígenas, que levou a “avanços significativos” no conhecimento sobre as invasões marinhas no arquipélago, adianta o centro de investigação. 

“Entre outras vantagens, este estudo destaca a importância dos programas de monitorização nos portos para a detecção precoce de espécies não indígenas e recomenda o incentivo a estudos adicionais que investiguem a identidade e distribuição desses organismos, um importante contributo para a expansão do conhecimento sobre a prevalência de briozoários em áreas de grande biodiversidade.”


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Podem as florestas de algas gigantes (kelp) voltar ao mar de Portugal?

Por Daniel Veríssimo — 20 de Julho de 2023, 11:32

Daniel Veríssimo, um economista fascinado pela natureza, dá-nos a conhecer estas algas que são a base de uma rica biodiversidade e também de actividades económicas, que hoje sobrevivem em poucos locais da costa portuguesa.

Florestas de algas gigantes, espalhadas por um quarto das zonas costeiras do mundo, são peças chave em ecossistemas marinhos, suportam uma grande diversidade e abundância de vida mas são incrivelmente esquecidas. No mar português existem sete espécies de algas gigantes, que também podem dar pelo nome de laminárias, sargaço, ou ainda limo-correia.

Em águas marinhas portuguesas, existem as seguintes espécies nativas: Laminaria hyperborean, Laminaria ochroleuca, Saccorhiza polyschides, Saccharina latissima, Phyllariopsis brevipes e Phyllariopsis purpurascens. De vários tamanhos, formatos e longevidades, estas algas criam ecossistemas altamente produtivos, ricos e dinâmicos. Já a espécie Undaria pinnatifida é natural do Japão e foi introduzida na Europa, sendo uma alga invasora.

Laminaria-ochroleuca, que tem folha-de-carriola como um dos nomes comuns, fotografada no leito marinho junto à Arrábida. Foto: Ana Santos/Biodiversity4All

No passado, a apanha de sargaço, como são conhecidas estas algas no Norte do país, era a base de uma valiosa indústria. Foi legislada por D. Dinis em 1308 e no século XX recorria-se ao sargaço para fazer agar, uma substância gelatinosa que era exportada para o Japão. Ainda hoje, em partes do Norte e da Galiza, estas algas são usadas como fertilizante para os campos agrícolas.

Contudo, as florestas de laminárias enfrentam várias ameaças: a pesca de arrasto que destrói o fundo marinho, a poluição química, por plásticos, e ainda o aumento de carbono na atmosfera e a consequente acidificação dos oceanos, que altera as condições para as algas se desenvolverem. Além disso, o aumento da temperatura média da água do mar, devido às alterações climáticas, coloca um fator extra de stress nas florestas de kelp.

Algas da espécie Saccorhiza polyschides arrojadas na costa da Ericeira. Foto: Maria Emília Martins/Biodiversity4All

Apesar de ainda haver algumas zonas com algas gigantes na zona de Caminha, que fica a Norte, ao largo de Cascais e no Cabo Espichel, ao longo da Costa Vicentina e ainda no extremo oriental dos Açores, essas são áreas pequenas comparadas com a distribuição histórica ou potencial dessas espécies. Zonas de afloramento costeiro (‘upwhelling systems‘), como a costa portuguesa, têm condições ideais para florestas de algas gigantes. As florestas de laminárias precisam de áreas com alguma luminosidade e que sejam algo rochosas para se fixarem, e também de uma água rica em nutrientes.

É o que acontece nos afloramentos costeiros: quando a água fria das profundezas, onde abundam os nutrientes, encontra a água quente da superfície, desencadeia-se uma explosão de vida. São por isso zonas que oferecem as condições ideais.

Existem várias medidas que podem ser tomadas para recuperar as florestas de algas gigantes em Portugal, incluindo proteger zonas marinhas costeiras e criar mais áreas protegidas marinhas, diminuir as ameaças, como a pesca de arrasto ou as redes de pesca abandonadas, e promover a regeneração de florestas de kelp, por exemplo através da criação de recifes artificiais ou repovoamentos. É urgente restaurar as florestas de algas gigantes no mar português, com escala, de uma maneira duradoura e com participação de comunidades locais, como pescadores e ONGs. Existem bons exemplos práticos em várias partes do mundo, como no caso da Coreia do Sul, dos Estados Unidos ou do Japão, literatura científica desenvolvida, e todos podemos contribuir de alguma forma.

Alga da espécie Phyllariopsis brevipes, fotografada na costa francesa. Foto: Sylvain Le Bris/iNaturalist

O financiamento para o restauro das florestas de algas gigantes pode ser feito através de subsídios para a pesca, uma vez que o restauro de zonas marinhas aumenta o tamanho das pescarias e ajuda a recuperar stocks de peixes, sendo por isso um bom investimento para essa indústria. Florestas de algas gigantes, saudáveis, funcionais e em escala garantem vários benefícios económicos: além do aumento das populações de peixes, são berçários para várias espécies, asseguram o sequestro de carbono, uma vez que as florestas de laminárias armazenam grandes quantidades de carbono, filtram o excesso de nutrientes e ainda oxigenam a água. Estes serviços ecossistémicos representam vários milhares de milhões de euros ao ano.

Mas não se trata apenas de uma espécie, mas sim de um conjunto de espécies, que estão interligadas de várias e surpreendentes maneiras na teia da vida. A este nível, existem várias interações ecológicas perdidas que podem ser recuperadas. Focas-monge a caçar polvos entre algas gigantes na costa portuguesa. Recifes de ostras a criar as condições para as algas gigantes crescerem. Cardumes de peixes a passar entre algas gigantes. Águias-rabalva a pescar na linha de água, no topo de florestas de algas gigantes. Cabras montesas a comer laminárias arrojadas nas praias escarpadas da Arrábida, veados e gamos a alimentarem-se de algas arrojadas nas praias quase desertas do Litoral Norte.

Lobo-marinho (Monachus monachus). Foto: Wanax01/Wiki Commons

Fazer um mergulho guiado, junto à costa, para ver uma floresta de algas gigantes restaurada e ser maravilhado com a complexidade de um ecossistema vivo, vendo um manto verde com cardumes de peixes cintilantes e com lulas e polvos. Quiçá até provar algas gigantes com sabor forte a mar, ricas em nutrientes e vitaminas. No fim, na viagem de regresso ao porto, com o sol a cintilar na ondulação do mar, ouvir histórias de cabras montesas, gamos e veados a deliciarem-se com algas marinhas à noite nas praias.

As zonas marinhas são algumas das áreas com maior potencial para restauro ecológico, para recuperar a abundância e variedade de vida, para restabelecer o esplendor da natureza, mas continuam surpreendentemente esquecidas. Numa altura em que o ser humano precisa de aprender a viver dentro dos limites do planeta, o restauro de zonas marinhas não pode continuar esquecido.

As florestas de algas gigantes podem voltar ao mar de Portugal.


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Mineração em mar profundo: Cientistas comprovam que há animais muito afectados nessas zonas

Por Inês Sequeira — 17 de Julho de 2023, 15:53

Um estudo realizado no Japão, após experiências com a mineração oceânica de cobalto, concluiu que tanto no local como à volta houve uma redução da fauna, em especial de peixes e crustáceos.

Uma equipa internacional de cientistas investigou quais foram os efeitos ambientais de uma experiência de extracção de cobalto em mar profundo, realizada em 2020 no Japão, um ano depois. Os resultados, que apontam para impactos muito negativos sobre os animais oceânicos, foram publicados pela revista científica Current Biology.

Os investigadores concluíram que “as áreas directamente exploradas se tornaram menos habitáveis para os animais do oceano”, mas também que “a mineração também criou uma pluma de sedimentos que se pode espalhar na água em redor”, explica uma nota de imprensa sobre o estudo.

Esta foi a primeira experiência bem sucedida de mineração realizada no Japão. O cobalto é um minério utilizado nas baterias dos carros eléctricos e um dos recursos que mais despertam a atenção das companhias que pretendem explorar os recursos do mar profundo, tal como o chumbo e o manganésio.

Travis Washburn, primeiro autor deste estudo e investigador ligado ao Geological Survey of Japan, sublinha que “é muito importante que esta informação seja conhecida”, uma vez que estão em curso negociações para que em breve sejam definidas as regras que se vão aplicar à mineração oceânica, a nível internacional. Esta regulamentação está nas mãos da ISA – International Seabed Authority (em português, Autoridade Internacional para o Leito Marinho), composta por 167 Estados-membros e pela União Europeia.

No último sábado, o ministro português da Economia e do Mar anunciou que Portugal votou contra a mineração em mar profundo, no âmbito das negociações em curso na ISA. “Temos que fazer uma pausa precaucionária e penso que somos acompanhados por múltiplos países no mundo e, portanto, o que exigimos é a clarificação do quadro regulamentar e sobretudo o desenvolvimento de maiores atividades na área da investigação científica, do conhecimento científico, prevendo todas as lacunas, preenchendo todas as lacunas que existem”, adiantou António Costa e Silva, citado pela Lusa.

No estudo científico agora publicado pela revista Current Biology, os quatro cientistas envolvidos analisaram a informação recolhida um mês antes das operações no local onde foi extraído cobalto, um mês depois e um ano depois. Das três vezes, após uma viagem de barco que demorou sete dias depois da saída do porto, um veículo operado remotamente foi lançado pela equipa e fez filmagens em vídeo debaixo de água, no local.

Um ano após os trabalhos de mineração, os investigadores observaram uma quebra de 43% na densidade de peixes e de crustáceos na zona directamente afectada pela poluição provocada pelos sedimentos. Mas mais do que isso, registaram uma descida de 56% da densidade destes dois grupos de animais nas áreas em redor. “Embora existam várias explicações possíveis para esta descida nas populações de peixes, a equipa considera que tal se deve à contaminação das fontes de alimento dos peixes pelo teste de mineração”, adianta a nota de imprensa.

Por outro lado, não foram observadas grandes alterações em animais menos móveis, como esponjas e corais, mas os investigadores acrescentam que o teste em causa durou apenas duas horas, pelo que uma operação mais prolongada poderá afectar igualmente essas espécies.

“Tinha assumido que não veríamos qualquer mudança porque o teste de mineração foi tão pequeno. Utilizaram a máquina durante duas horas e a pluma de sedimentos deslocou-se apenas algumas centenas de metros”, indicou ainda Travis Washburn. “No entanto, isso foi suficiente para mudar as coisas.”

Segundo a equipa, este estudo terá de ser repetido várias vezes para haver um conhecimento mais aprofundado sobre os efeitos das operações de mineração no fundo do oceano. Idealmente, deveriam ser recolhidos dados num local ao longo de vários anos antes que aí fosse realizado um teste de mineração, para os cientistas poderem ter em conta quaisquer alterações que aconteçam naturalmente nas comunidades de animais dessa zona.

“Vamos ainda assim precisar de mais informação, mas este estudo coloca em destaque uma área que precisa de mais atenção”, afirmou ainda o mesmo investigador. “Vamos ter de analisar este assunto num nível mais abrangente, porque estes resultados sugerem que o impacto da mineração no mar profundo podem ser maiores do que pensávamos.”


Saiba mais.

Releia aqui a entrevista dada por Sian Owen, directora da Deep Sea Conservation Coalition, sobre a mineração em mar profundo, realizada aquando da Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa.


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Na praia: Oito espécies fascinantes da zona entre-marés

Por Inês Sequeira — 13 de Julho de 2023, 15:31

Gastrópodes, peixes, crustáceos, algas e muitas outros organismos curiosos fazem parte das praias portuguesas. Da próxima vez que passear à beira-mar procure estas espécies sugeridas pela equipa do bLueTIDE, projecto do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, que explica também porque é que merecem ser descobertas.

Nos últimos dois anos, o projecto bLueTIDE trabalhou com alunos e professores de 12 escolas do primeiro ciclo para lhes dar a conhecer a diversidade e a riqueza da vida na zona entremarés rochosa, a parte das praias rochosas que fica a descoberto na maré baixa e submersa no resto do tempo.

Fique a conhecer algumas das espécies mais interessantes e o porquê, nas palavras dos investigadores do projecto. E se encontrar algumas, não se esqueça de ter todos os cuidados para que continuem à sua espera, numa próxima ida à praia.

[Este artigo, publicado originalmente na Wilder a 10 de Junho de 2022, inaugura agora uma nova série dedicada à natureza fascinante que podemos encontrar numa simples ida à praia. Basta estar atento e deixar-se surpreender.]

1. Sargacinha-das-lapas ou botelho-preto (Osmundea pinnatifida)

A sargacinha-das-lapas (Osmundea pinnatifida) é usada em várias cozinhas, incluindo nos Açores. Foto: Teresa Moura

Também chamada de erva-malagueta, esta alga vermelha na realidade pode ter cores muito diferentes, desde o amarelo ao quase preto. Destacamos esta espécie por ter uma característica única e bastante curiosa: é uma alga que cheira e sabe a pimenta.

Por ser bastante aromática, é interessante enquanto recurso alimentar, por exemplo como ingrediente num arroz de passas e pinhões com algas. Pode ser usada fresca ou seca. Na Escócia e Irlanda é utilizada por possuir sabor semelhante ao caril e à pimenta e nos Açores é conservada em vinagre, para ser mais tarde incorporada em fritos.

Tal como muitas outras algas, tem potenciais atividades antitumoral, antibacteriana, antifúngica e antioxidante. 

2. Barroeira (Sabellaria alveolata)

A barroeira (Sabellaria alveolata) constrói preciosas estruturas, que são frágeis e que é importante não pisar. Foto: Cláudia Moreira

A Sabellaria alveolata é um anelídeo, ou seja, uma espécie de minhoca muito fininha. Também conhecida por barroeira, vive numas estruturas que se assemelham a casulos.

Cada um desses casulos alberga um destes organismos no interior. Estas estruturas vão sendo construídas pelas Sabellaria através da mistura de uma espécie de muco/ranho que vão libertando com areia e pequenos restos de conchas em suspensão na água, até formarem verdadeiros recifes de areia.

Na maré baixa, a barroeira fica dentro dos casulos para se proteger do sol e da falta de água. Já quando estes ficam submersos, sai do seu casulo, parecendo esparguete. Quando por fim ficam vazios, são por vezes utilizados por outras espécies para refúgio e alimentação.

Atenção: é importante consciencializar as pessoas para a fragilidade e importância destes recifes de areia. Estes recifes são rígidos, e por vezes atingem dimensões tão grandes, que é o suficiente para se confundirem com rochas. É importante que as pessoas os evitem pisar e destruir quando visitam a zona entremarés rochosa.

3. Ouriço-do-mar (Paracentrotus lividus)

Os ouriços-do-mar (Paracentrotus lividus) usam um “chapéu” por causa do sol. Foto: Cláudia Moreira

O ouriço-do-mar é outra espécie destacada pelos investigadores do bLue TIDE, por três motivos.

Primeiro, porque gostamos sempre da reação das crianças e adultos quando dizem que os ouriços-do-mar usam “chapéu”! Na realidade são pedrinhas, conchas ou algas que os ouriços vão buscar para se protegerem do sol, pois tal como as suas parentes, as estrelas-do-mar, os ouriços não possuem olhos, mas têm umas células sensíveis à luz no corpo, como se fossem uns sensores. Então, quando está muito sol usam essas pedrinhas, conchas ou algas para se protegerem da luz, como se se tratasse de um chapéu de sol.

Por outro lado, frequentemente as crianças também se divertem com o nome “pés ambulacrários”, recordam. Esses pés especiais são utilizados pelos ouriços para se moverem.

Além do mais, também os “buracos” onde os ouriços se protegem geram curiosidade: nas poças de maré, estes rodam e rodam na rocha, raspando os seus cinco dentes e os espinhos, fazendo um círculo profundo onde se encaixam para se protegerem. 

4. Lebre do mar ou vinagreira (Aplysia sp.)

A intrigante lebre do mar (Aplysia sp.) parece que voa quando se desloca na água. Vídeo: Cláudia Moreira

Este curioso animal é conhecido como lebre do mar ou vinagreira porque, em stress, liberta um líquido roxo que faz lembrar vinagre tinto.

Existem três espécies de lebres do mar em Portugal. Por serem moluscos, têm o corpo mole, tal como a lapa (gastrópode), o mexilhão (bivalve) ou o polvo (cefalópode). Os moluscos podem ter uma concha, duas conchas, ou mesmo nenhuma a proteger o seu corpo. No caso da lebre do mar, que é um molusco gastrópode, tem uma concha vestigial, que por vezes pode ser vista quando ela se desloca. Ao deslocar-se parece também que voa, devido aos seus parapódios que parecem asas.

A lebre do mar vive à base de algas e tem um ciclo anual, ou seja, nasce, cresce, reproduz-se e morre em pouco menos de um ano, mais ou menos entre Fevereiro e Setembro. Coloca as suas posturas – ou seja, liberta os seus “ovos” – nas rochas das poças de marés. As posturas podem apresentar diversas cores, como o amarelo, verde, rosa e castanho, assemelhando-se a um emaranhado de fios ou esparguete, e essas cores estão relacionadas com a fase de desenvolvimento (estado de maturação dos ovos).

5. Tomate-do-mar e morango-do-mar (Actinia spp.)

Na maré baixa, os tentáculos retraem-se/encolhem e a anémona fica com este aspeto de bolinha. Foto: Cláudia Moreira

Existem diversas espécies de anémonas ao longo da nossa costa. Para percebermos melhor o que são, podemos pensar nas anémonas do famoso filme “À Procura de Nemo”, uma vez que o Nemo vivia numa. Escolhemos as anémonas porque muitos alunos ficam surpreendidos quando descobrem que também são animais, embora não tenham as características que visualmente as crianças estão habituadas a atribuir aos animais.

Estes organismos são “primos” das medusas, também conhecidas por alforrecas. Mas enquanto que as anémonas vivem fixas a um substrato quando são adultas, por exemplo agarradas às rochas, as medusas vivem livremente na água. 

O corpo das anémonas está dividido em três partes: os tentáculos, a coluna do corpo e a base, esta última contendo o pé pelo qual a anémona se liga a uma superfície sólida (rocha). Na maré baixa, os tentáculos retraem-se/encolhem e a anémona fica com este aspeto de bolinha. Isto acontece para evitar que percam água.

Alguns destes animais podem apresentar uma cor vermelha, verde ou castanha, o que os torna parecidos com um tomate – daí essas anémonas serem chamadas de tomate-do-mar. Outras são conhecidas como morango-do-mar, porque quando retraem os tentáculos na maré baixa apresentam uma coloração vermelha com diversos pontos verdes, parecendo um morango.

6. Caranguejo Carcinus maenas

O caranguejo da espécie Carcinus maenas necessita de fazer a muda à medida que cresce. Foto: Luis Miguel Bugallo Sánchez/Wiki Commons

Os caranguejos são animais algo cómicos e os alunos divertem-se sempre quando os vêem, daí que é sempre uma espécie que vale a pena recordar. Além disso, há duas curiosidades que os tornam ainda mais interessantes:

Primeiro, os machos e fêmeas são facilmente distinguíveis, pois o abdómen do macho é retangular e bicudo e o da fêmea é arredondado.

Em segundo lugar, esta espécie de caranguejo (Carcinus maenas) necessita de fazer a muda, isto é, para crescer precisa de se libertar do seu exoesqueleto rígido, a carapaça. Depois, gradualmente, a epiderme vai segregando um novo exoesqueleto. Assim, muitas das carapaças que encontramos na areia não são na realidade de caranguejos que morreram, mas sim o resultado da muda.

7. Cracas (Chthamalus montagui)

As cracas (Chthamalus montagui) são animais muito curiosos para quem as fica a conhecer melhor. Foto: Cláudia Moreira

As crianças ficam frequentemente surpreendidas quando descobrem que este organismo, com uma forma cónica que lembra um vulcão, é afinal um crustáceo, tal como o caranguejo ou os camarões, apesar de não parecer nada disso à primeira vista.

A parte externa das cracas é formada por camadas de placas calcárias que protegem os órgãos internos. Estes crustáceos têm também placas na parte superior que fecham durante a maré baixa para evitar a perda de água. Pelo contrário, quando ficam submersos, as placas abrem e parte das cracas sai para fora, expondo os seus cirros – apêndices pelos quais filtram a água e assim se conseguem alimentar.

Estes crustáceos existem agregados às rochas das poças de marés, mas também se podem ver nos cascos de navios e na pele das baleias. Parecidos com as cracas, uma vez que também são crustáceos cirrípede, temos também os famosos percebes.

8. Cabelo-de-velha (Gracilaria gracilis)

Cabelo-de-velha (Gracilaria gracilis). Foto: Cláudia Moreira

Frequentemente basta mencionar o nome comum desta espécie para captar a atenção das crianças e adultos, daí ser uma das que mais gostamos de mencionar nas visitas. O nome – cabelo-de-velha – vem do facto de ser uma alga com um talo geralmente vermelho-acastanhado e de consistência cartilaginosa, que pode atingir 60 centímetros, e que por isso se assemelha a longos cabelos.

Outra curiosidade é o seu odor. Quando fresca, possui um odor marinho e terroso que lembra levemente cogumelos. Já quando seca tem um aroma muito pouco agradável, semelhante a peixe em decomposição. No entanto, com bom ou mau cheiro, fresca ou seca, esta alga é utilizada em saladas ou vinagretes e a sua farinha é empregue no preparo de pão e bolachas.

Desta alga podemos também extrair o agar. O agar é um substituto de gelatina, ou seja, é uma gelatina vegetal, e é muito utilizado no sector alimentar em gelatinas, gelados, salsichas e outros produtos, mas também na produção de medicamentos e de produtos de cosmética.

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Projecto bLueTIDE levou os oceanos às salas de aula e trouxe escolas à praia

Por Inês Sequeira — 13 de Julho de 2023, 15:08

Agora concluído, este projecto de educação e comunicação de ciência do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente teve a duração de dois anos, ao longo dos quais chegou a 1500 pessoas, anunciou a equipa.

O objectivo principal do bLueTIDE (“maré azul”, traduzido para português”) foi  juntar escolas ligadas ao mar com outras mais distantes, contagiando alunos e professores sobre a importância de proteger a vida na zona entremarés rochosa. Em causa está a zona que fica a descoberto na maré baixa e submersa no resto do tempo, onde há partes de rocha em muitas praias.

Assim, a equipa do MARE ligada a este projecto trabalhou com uma selecção de escolas localizadas no Litoral, que contavam com o galardão Escola Azul, e também com escolas sem galardão, que ficavam muito mais longe do mar. Os alunos da Escola Básica EB1 Cruz da Picada, em Évora, por exemplo, demoravam mais de uma hora para chegarem perto do oceano.

Antes de tudo, a falta de conhecimento sobre a zona entremarés rochosa é transversal a todo o país, incluindo entre quem vive junto à costa. Por isso, “o caminho evidente era o de transmitir o que a ciência conhece sobre estes habitats e motivar para uma mudança de comportamentos que promovam a sua conservação”, explicou há cerca de um ano Zara Teixeira, coordenadora do projecto, num artigo sobre o bLueTIDE.

E agora que chegou ao final, “o programa superou as expectativas”, afirmam os responsáveis da equipa, num balanço agora divulgado. Envolvidas estiveram 1500 pessoas, incluindo mais de 500 jovens alunos ligados a 12 escolas do primeiro ciclo, metade com morada no Litoral e perto da praia, e outra metade bem mais distantes, no Interior. Assim, foram formados quatro núcleos distintos: Figueira da Foz/Sardoal, Peniche/Vila Nova da Barquinha, Setúbal/Benavente e Sines/Évora.

No total, feitas as contas, o bLueTIDE envolveu 27 turmas e organizou também acções de formação com 140 professores, acrescenta também a equipa do projecto, numa nota de imprensa enviada à Wilder.

Para os próximos meses, a equipa promete lançar ainda “duas ferramentas úteis que poderão continuar a acompanhar todos os que participaram nas nossas ações, a par de tantos outros que se possam interessar pela causa”, acrescenta Zara Teixeira, que é também investigadora do MARE. Em causa estão um manual de formação para professores e um livro de curiosidades para todos os interessados. “Muito em breve, vão estar ambos disponíveis online e poderão ser descarregados e usados livremente por todos os que procuram ensinar ou ficar a saber mais sobre estes temas.”

Neste programa, que foi financiado pelas EEA Grants, trabalharam 26 investigadores membros da equipa, ligados a quatro núcleos do MARE, incluindo a Universidade de Coimbra, o Politécnico de Leiria, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a Universidade de Évora.

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Uma espaçonave alienígena caiu no oceano? Cientista de Harvard diz que sim

Por Flavia Correia — 3 de Julho de 2023, 17:00

Conforme noticiado pelo Olhar Digital no ano passado, algo atingiu a Terra em 2014 e caiu no Oceano Pacífico. Suspeita-se que o objeto, denominado CNEOS 2014-01-8, tenha origens interestelares. Para um famoso cientista de Harvard, inclusive, pode se tratar de uma espaçonave alienígena ou algo do tipo.

Vamos entender esta história:

  • CNEOS 2014-01-08, também chamado de meteorito interestelar 1 (IM1), é um objeto supostamente vindo de outro sistema solar, que foi relatado em junho de 2019 pelos astrônomos Amir Siraj e Abraham (Avi) Loeb, pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA;
  • Segundo os cientistas, em 8 de janeiro de 2014 esse objeto caiu no Oceano Pacífico perto da costa nordeste da Papua-Nova Guiné, o que foi confirmado em 2022 pelo Comando Espacial dos EUA;
  • Os descobridores do fenômeno revelaram que usariam uma técnica conhecida como “pesca magnética” na busca pelos destroços;
  • Na época, em entrevista ao site Universe Today, Loeb declarou que duas possibilidades são consideradas: ou o objeto trata-se de uma relíquia natural, como um pedaço de rocha espacial, ou seria uma tecnologia artificial desenvolvida por seres alienígenas de inteligência avançada;
  • Os primeiros resultados das buscas encontraram pedaços de arame, pequenos fragmentos de alumínio e cinzas vulcânicas;
  • Agora, Loeb relatou que minúsculas esférulas metálicas foram encontradas na última semana de junho – e que sua cuja composição sugere uma origem sobrenatural;
  • Mesmo que isso não seja confirmado, e se conclua que o objeto é realmente um pedaço de rocha espacial, ainda assim é uma descoberta extraordinária;
  • Isso porque, se for comprovado se tratar de um meteorito interestelar, esse será o terceiro objeto conhecido desse tipo – junto com o Oumuamua e o Borisov – e o primeiro a ter caído na Terra.

In 2014, an interstellar meteor crashed into the Pacific Ocean. Now, on a search to find fragments from that object, Harvard astronomer Avi Loeb has found tiny metallic spherules with a seemingly unearthly composition.
Learn more: https://t.co/TOQoD454ai

📸 Avi Loeb pic.twitter.com/iK6QSuMcnK

— EarthSky (@earthskyscience) June 23, 2023
“Em 2014, um meteoro interestelar caiu no Oceano Pacífico. Agora, em uma busca para encontrar fragmentos desse objeto, o astrônomo de Harvard Avi Loeb descobriu minúsculas esférulas metálicas com uma composição aparentemente sobrenatural”

Avi Loeb é mundialmente conhecido por sua ideia de que o Oumuamua e outros objetos de origem interestelar podem ser artificiais, ou seja, produzidos por civilizações alienígenas.

Cientistas usam trenó magnético nas buscas

Depois que ele e Siraj detectaram o IM1, e a entrada do objeto na atmosfera terrestre foi confirmada pelo Comando Espacial dos EUA, a equipe embarcou em um navio de expedição chamado Silver Star para procurar vestígios deste que pode ser o primeiro detrito de outro sistema estelar a atingir a Terra e cruzar nossos céus como um meteoro (de acordo com os cálculos de sua trajetória feitos pelos cientistas).

De acordo com o guia de astronomia EarthSky, a busca de Loeb pelos restos do objeto começou em 14 de junho. No processo, a equipe está usando um trenó magnético de águas profundas, arrastando um guincho de espinhel pelo fundo do oceano.

Equipe de pesquisadores junto com o trenó magnético usado nas buscas por destroços do provável primeiro objeto interestelar reconhecido a cair na Terra, o IM1. Avi Loeb é o de chapéu e óculos escuros, posicionado mais à frente. Crédito: Avi Loeb

Até agora, a equipe encontrou 11 esférulas metálicas embutidas nas cinzas vulcânicas. Elas são minúsculas, com a maioria tendo cerca de 0,3 milímetros de diâmetro e algumas ligeiramente menores. 

“É difícil identificar visualmente ou separar com pinças esférulas menores que 0,25 milímetro, e por isso estamos usando um filtro com esse tamanho de malha. Além disso, esférulas menores são inundadas pela grande abundância de minúsculas partículas em cinzas vulcânicas”, explicou Loeb em seu blog. “Há, portanto, um ponto ideal em torno de um tamanho de 0,25 milímetro para encontrar esférulas metálicas que são visíveis em nossas imagens de microscópio, fáceis de manusear com nossas pinças e não tão raras quanto suas contrapartes maiores”.

Composição das esférulas aponta para tecnologia alienígena 

Loeb estima que o rompimento do meteoro produziu pelo menos milhares de esférulas maiores que um quarto de milímetro. “Dado que a largura em escala de metro do trenó é cerca de mil vezes menor do que a largura do campo espalhado IM1 esperado, estimei que IM1 deve ter produzido cerca de dez mil esférulas maiores que 0,25 milímetro”, disse o cientista, afirmando que esse número está de acordo com o valor esperado do modelo teórico detalhado no estudo publicado por ele e Siraj no ano passado.

Esférulas semelhantes foram encontradas antes após impactos de asteroides. O mais interessante em relação às que foram descobertas agora, no entanto, é a composição, segundo Loeb. “Encontramos uma composição de ferro, principalmente, com um pouco de magnésio e titânio, mas sem níquel. Tal composição é anômala em comparação com ligas feitas pelo homem, asteroides conhecidos e fontes astrofísicas familiares”.

Mais de 95% de todos os meteoritos contêm metal ferro-níquel (FeNi). Como consequência, os meteoritos têm concentrações de níquel muito maiores do que as de quase qualquer rocha terrestre – no entanto, como dito por Loeb, esse elemento não foi detectado nas esférulas pertencentes ao IM1 encontradas até agora, o que reforça sua ideia de que se trata de algo construído artificialmente. 

Em conjunto, as descobertas notáveis de esférulas IM1 por nossa equipe abrem uma nova fronteira de descoberta para a composição material de meteoros interestelares. Essa fronteira poderia lançar uma nova luz sobre a evolução dos sistemas exoplanetários, bem como sobre a possível existência de objetos espaciais tecnológicos de outras civilizações

Abraham (Avi) Loeb, pesquisador da Universidade de Harvard

Em entrevista à revista Vice, Loeb disse que esta foi a experiência mais emocionante de sua carreira científica. “É uma oportunidade única de aprender sobre outras civilizações tecnológicas no cosmos estudando o Oceano Pacífico”.

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Animação da NASA ilustra aumento do nível do mar em 30 anos

Por Flavia Correia — 22 de Junho de 2023, 20:48

Em 30 anos, o nível médio do mar da Terra subiu 9,85 centímetros, segundo a NASA. Embora pareça pouco, a agência diz que é um aumento “sem precedentes nos últimos 2.500 anos”. 

Já que pode não ser tão fácil imaginar como a elevação do nível do mar já está remodelando o planeta em que vivemos, o Estúdio de Visualização Científica da NASA desenvolveu uma animação para ilustrar isso em escala.

Na segunda-feira (19), o climatologista Zack Lab, cientista da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), compartilhou o vídeo no Twitter. No material, pode-se ver claramente como o nível da água dos oceanos do mundo aumentou significativamente nas últimas décadas – sem nenhuma perspectiva de que possa parar tão cedo.

"Sea Level Through a Porthole" – new animation by @NASAViz at https://t.co/YADfJXlaq7

Learn more from @NASAClimate at https://t.co/kAiasdwZGl #ClimateChange pic.twitter.com/4X0c7ibKXa

— Zack Labe (@ZLabe) June 19, 2023

A animação mostra o ponto de vista da vigia de um barco. Conforme os anos passam, o nível da água sobe um pouco mais.

O clipe documenta a mudança no nível global do mar a partir de 1993, quando os satélites começaram a fazer um registro confiável da mudança, até 2022. Os dados são alimentados em modelos climáticos globais que tentam conciliar diversos elementos das condições da superfície do nosso planeta. 

Leia mais:

O que provoca o aumento do nível do mar

Para analisar o aumento do nível do mar, essas três décadas de observações por satélite são acompanhadas de medições de marégrafos costeiros, dados sobre massas de gelo e, claro, o aumento das emissões de gases de efeito estufa – algo diretamente relacionado com as mudanças climáticas impulsionadas pelo homem, especialmente pela queima de combustíveis fósseis, que retém o calor.

Sintetizar esses dados e deixar bem claro o que tudo isso significa para as pessoas em todo o mundo tem sido um dos maiores problemas no centro da crise climática.

Embora a atmosfera tenha sido por muito tempo o cobertor aconchegante da Terra, o planeta agora está sufocando sob o peso das emissões de dióxido de carbono. E são os oceanos que absorvem 90% do calor que nós, seres humanos, adicionamos ao sistema.

Grandes quantidades de água procedentes das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida estão derretendo a uma taxa alarmante, o que também é um fator determinante para o aumento dos oceanos. Por último, mas não menos importante, o derretimento das geleiras de montanha também está contribuindo consideravelmente.

Segundo a NASA, o impacto dessas mudanças será profundo. As regiões costeiras e as áreas baixas assumirão grande parte do fardo inicial, mas o aumento do nível do mar também tem o potencial de permitir que tempestades e inundações cheguem mais para dentro no continente. Isso será devastador para um grande número de assentamentos humanos em todo o mundo, além da destruição dos ambientes naturais.

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