Foi com muito gosto que aceitei, em nome da Laredo Associação Cultural, o convite para participar no projeto A Cultura sai à Rua, uma parceria da Câmara Municipal de Sintra com a Fundação Aga Khan Portugal, inscrita no Plano Municipal para o Envelhecimento Ativo, Saudável e Inclusivo, que tem como eixo prioritário o combate ao isolamento através de respostas sociais.1
No dia 12 de Abril, teve lugar um primeiro encontro no edifício da Junta (União das Freguesias de Almargem do Bispo, Pêro Pinheiro e Montelavar) – e que belo encontro! Escutámos poemas, histórias locais onde não faltaram personagens marcantes, lugares de reis e mouras encantadas, anedotas do Alentejo (…). Foi uma bela conversa. Fiquei a conhecer a equipa local e os participantes, cada um com a sua individualidade criativa bem marcada. Rapidamente se constatou que faltavam ali alguns narradores locais, mais reservados e, já agora, poderíamos ter um maior equilíbrio de género? Esperamos a todo o momento a chegada de muitas outras histórias deste interior Saloio. O próximo encontro terá lugar em Vale de Lobos, estando agendado outro para Tapada das Mercês (Junta de Freguesia de Algueirão -Mem Martins). De repente lembrei-me do belo trabalho de Cristina Taquelim junto das mais velhas em Santa Vitória, da metodologia de recoleção de contos tantas vezes pacientemente explicada por António Fontinha, do recente trabalho do projeto “De Boca em Boca” ou a comovente intervenção de Jorge Serafim junto dos seniores da Mouraria de Beja – “Candeia que vai à frente ilumina duas vezes”... Por aqui vos darei conta deste caminho clareado.
1 “O projeto “A Cultura sai à Rua” surge através da candidatura Cultura para Todos, entretanto integrada na Ação 11 da operação Lisboa-06-4538-FSE-000016 - Idade Mais - Estratégia Municipal para o Envelhecimento Ativo e Saudável, cofinanciada pelo Fundo Social Europeu. O presente projeto vem contribuir para o combate/ redução da exclusão social, nomeadamente da população sénior do concelho, na medida em que visa dar mais voz aos seniores, melhorar a sua qualidade de vida e promover uma maior igualdade de oportunidades (perspetiva etária, diferentes características/perfis, diferentes territórios, nomeadamente de maioria vulnerabilidade social e económica).”
Com esta fotografia (já com 19 anos) relembro Lurdes de Castro Fotografia captada no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian também lugar de crescimento como Mediador |
De repente, o surgimento de um código que é atribuído ao nosso labor criativo atribui-nos visibilidade, reconhecendo a existência de um espaço, um “mercado”, um lugar profissional. Sou Mediador Cultural há 47 anos (com berço no Centro de Apoio às Organizações de Base – finais dos anos setenta), tantos quanto tenho de artista, dupla condição partilhada com tantos colegas de trabalho. A nossa intervenção estende-se a Museus, Bibliotecas (Públicas, escolares ou comunitárias), Teatros e Centros Culturais, lugares de Património, Escolas, Hospitais, Lares e outras instituições, Juntas de Freguesia, Associações, Bairros e tantos outros lugares em constante comunicação direta, tão diversa do trabalho em gabinete. Plural é a nossa expressão e diverso o nosso conjunto de ferramentas para a expressão afirmativa. Trabalhamos com pessoas, transmitindo, acordando ou “ativando pessoas”, como afirmou Francisco Sena Santos numa crónica transmitida esta semana na Antena 1 (RDP). Sabemos que a qualidade de vida passa por aqui, pelo que fazemos, em todas as idades e, como sempre, estamos presentes com este trabalho profundamente humano. Somos a linha que une a produção cultural ao público, a voz que questiona, aqueles que devolvem a palavra e a descoberta para que o outro se vá construindo em autonomia, fortalecendo a sua capacidade de mudar o mundo em que vivemos. Somos atentos ao meio que nos rodeia aprendendo a ler os sinais da transformação permanente; sabemos que os tempos nos têm levado a um “Retorno ao Privado”(citando Orlando Garcia), migração pessoal e inconsciente acentuada pela pandemia, de braço dado com a prodigiosa velocidade dos meios de comunicação digital. Somos essa conta-corrente que une, que se questiona continuamente numa produção reflexiva, incluímos sem intrusão tendo consciência do tempo próprio dos processos humanos. De certa forma, a Mediação vai trabalhando a ecologia do Ser ou, para os crentes, também uma ecologia da Alma.
No momento em que escrevo estas linhas, tenho sempre presentes os meus mestres da Mediação, Madeira Luís (que já nos deixou), Esaú Dinis e tantos outros que contribuíram decisivamente para a minha formação em intervenção cultural e social. Daqui envio um abraço ao meu colega Carlos Carrilho por ter acordado (de novo) o espírito de combate pelo nosso estatuto e naturais direitos.
(1) E, ainda, Conservador-restaurador.
Foto, por cortesia do projeto "De Boca em Boca" |
Nos dias 3, 4 e 5 de dezembro (2021) estive em Mértola a convite do projeto “De boca em boca” e da Biblioteca Municipal, dinamizando oficinas, participando na Feira do Livro. Acorreu à oficina Máquina da Poesia um grupo de “alunos” da Universidade Sénior que passou um bom momento criando versos soltos a partir do desafio de escrita. Quem não sabia escrever, mas conhecia bem as palavras, formou um par cooperante com outro participante que escutou e escreveu o que dizia. Também no meio do grupo havia quem já trabalhasse as palavras por dentro, não me espantei quando começaram a surgir os primeiros versos, cheios de significado.
A nossa obra coletiva |