A oficina esgotou. A sala encheu-se de gente animada e faladora de várias gerações e motivações. Comecei por fazer uma visita guiada à exposição, falando um pouco sobre a génese deste ciclo de trabalho, mas deixando bastante espaço para a inevitável e fascinante interpretação individual dos presentes. As crianças colaram o nariz ao vidro da vitrina que contém algumas pedras e objetos encontrados à beira do Mar, “no meio do caminho”. Comigo tinha uma pedra inventada (cascalho e nylon) que passou de mão em mão enquanto ia falando sobre o tempo da geologia e o aparecimento de novos materiais que a natureza tenta integrar dolorosamente. Sobretudo, deixei que cada um vivesse a exposição à sua maneira.
Depois começou a oficina. Um grupo divertido de alunos de Arte do secundário ocupou uma mesa mais afastada onde foram surgindo desenhos, que começaram pelo tema da pedra e terminaram com vigorosas personagens desenhadas a lápis de cor. As famílias encheram a sala de risadas e a experimentação foi descontraída; os adultos também se fartaram de criar .Uma senhora mais velha que queria aprender mais sobre desenho ficou ao lado de um Pai e uma filha que, serenamente, utilizaram o carvão, usando os dedos e as “borrachas miolo de pão”. Ainda dei uma mãozinha a uma senhora que estava com a filha ( desenhavam bem!); absorveram as minhas sugestões, fazendo surgir desenhos muito bem concebidos. Gosto do ambiente destas oficinas!
A exposição encerra no Sábado, dia 6 de Abril.
No dia 15 de Março, pelas 18horas, inauguro mais uma exposição de desenho do ciclo “Tinha uma pedra” na galeria da Biblioteca Municipal de Torres Vedras. O espaço escolhido é pequeno, intimista, obrigando a uma seleção de trabalhos de pequena dimensão. Será um momento cheio de significado, como se estivesse a expor em casa dos amigos; a minha relação com a Biblioteca Municipal vem de longe, sempre em projetos desafiantes que me têm obrigado a refletir sobre o modo de mediar pela arte, pela literacia e de forma inclusiva. Ainda por cima, o meu novo ateliê e nosso espaço da Laredo Associação Cultural fica em Torres Vedras (sobre esta notícia escreverei depois). Imaginam como estou contente e grato ao Município por esta oportunidade de consolidar a sementeira.
Como sempre, no decorrer das minhas exposições, terá lugar uma oficina de desenho que parte do tema da pedra encontrada para 2 horas de experimentação de diversas técnicas de desenho. Acontecerá no Sábado 23 de Março na Biblioteca Municipal de Torres Vedras e carece de inscrição prévia. Uma oficina aberta a todos a partir dos 8 anos, a pensar, também nos adultos (pais, namorados, seniores, estudantes...) que gostam de desenhar. Levarei os materiais que usei para criar os desenhos da exposição, para que todos possam experimentar
Sobre este conjunto de desenhos executados em 2022/2023
Não existe um modelo, as imagens chegam diretamente do inconsciente, de mão dada com as intenções, essas mais estruturadas, criando uma malha de sustentação para o corpo da obra. Talvez estas pedras tenham adquirido vida própria ao longo do processo que as gerou; às vezes surge uma metáfora e deixo fluir sobre a folha de papel. O desenho continua a ser uma metodologia pessoal para entendimento e explicação do Mundo. O desenho é concreto, preciso, mesmo quando é necessário traçar o indizível. A pintura estrutura-se na teia conceptual do desenho, ganha segurança e rumo de pesquisa. No meu trabalho, o desenho e a pintura sempre conviveram complementando-se, cruzando-se, cada um sabendo bem o seu lugar. O desenho e a escrita, embora de natureza distinta, têm propriedades comuns, juntando-se na reflexão e no plano, numa compatibilidade tão antiga como a própria história do homem.
Mas o desenho tem uma existência autónoma, um dialeto que se expressa de um modo distinto. Neste conjunto de obras, a introdução da ponta seca, a par do lápis, traz uma dimensão táctil às imagens. Os diversos riscadores são numerados de acordo com a sua dureza e tom com que se expressam, distinguindo-se no traço. Assim, temos uma vasta família: 3H HB, 2B, 3B, 8B. Só para citar alguns. E o 0? Pergunto-me. Como é o zero? É o nada? E se o zero for o sulco invisível deixado pela ponta seca? Um lugar onde não é depositada nenhuma matéria deixando que o papel (o suporte) fale. E há tantos desenhos feitos com estes riscadores zero, sobre rochas, metal ou areia ... Perco-me nas diferentes possibilidades geradas por este labor silencioso... A pedra foi o objeto eleito para esta pesquisa, o pretexto para que o lápis vá falando sobre o papel,. É certo que traz a geologia e o universo consigo, mas projeta muito mais, irmanando o público. A atmosfera é o que sinto, vejam como respiro.
Miguel Horta, Verão de 2023
“Um Lugar Silencioso” é um thriller de terror dirigido por John Krasinski que mergulha os espectadores em um mundo pós-apocalíptico onde a sobrevivência depende do silêncio absoluto. Lançado em 2018, o filme conquistou aclamação da crítica e do público, destacando-se não apenas por sua originalidade, mas também pela sua execução habilidosa e pela tensão implacável que mantém do início ao fim.
A trama acompanha uma família lutando para sobreviver em um mundo onde criaturas misteriosas, cegas mas extremamente sensíveis ao som, caçam qualquer ruído para se alimentar. Em meio a esse cenário desolador, a família Abbott, liderada por Evelyn (interpretada por Emily Blunt) e Lee (interpretado por John Krasinski), tenta criar um ambiente seguro para seus filhos, Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e um bebê recém-nascido. Comunicação é feita por meio de sinais e linguagem de sinais, evitando qualquer som que possa atrair as criaturas mortais.
O que torna “Um Lugar Silencioso” tão cativante é a sua capacidade de criar suspense a partir do silêncio. O filme utiliza o som de forma magistral, transformando cada rangido, suspiro ou gota d’água em potenciais ameaças iminentes. A tensão cresce a cada cena, à medida que os personagens enfrentam inúmeras adversidades para permanecerem vivos, incluindo o desafio de proteger um recém-nascido em um mundo onde chorar pode significar a morte.
Além da habilidade técnica, o filme também se destaca pelas performances convincentes do elenco. Emily Blunt entrega uma atuação emocionalmente poderosa como uma mãe determinada a proteger seus filhos a qualquer custo, enquanto John Krasinski traz uma presença tranquila, mas firme, como um pai que luta para manter sua família unida.
“Um Lugar Silencioso” é mais do que apenas um filme de terror; é uma reflexão sobre os laços familiares, a resiliência humana e a força do amor em face do desespero. Com uma atmosfera sufocante e reviravoltas emocionantes, este filme é uma experiência cinematográfica arrebatadora que permanece com o espectador muito depois que os créditos finais rolam.
The post Filme de suspense que foi sucesso absoluto de público e crítica está disponível na Netflix appeared first on CONTI outra.
Documentário - https://cloud.cm-sintra.pt/s/
Publicação Escrita - https://cm-sintra.pt/
O Convento de Santo António possui uma sala para as atividades educativas |
E eis que chega ao fim a exposição depois de uma sequencia de 3 dias intensos com visitas/oficina às minhas “pedras”; cerca de 200 participantes, incluindo técnicos e professores. Foi muito gratificante ver o empenho com que os alunos de artes do secundário de Loulé e Quarteira se aplicaram aos exercícios propostos. Os materiais que usaram para a criação das suas pedras foram os mesmos que usei nos desenhos expostos. Durante esta iniciativa pedagógica, continuo a movimentação entre o Convento de Santo António e a Galeria Alfaia, onde está exposta a obra desenhada de Diogo Pimentão. Não é preciso ser-se adivinho para saber que estamos na presença de um vasto grupo de alunos promissores orientados por professores que favorecem o crescimento estético autónomo. Confirma-se o investimento nas práticas educativas criativas promovido pela Câmara Municipal de Loulé.
Surpreendido por uma prenda da Dária Barshkinova "De uma artista jovem que partilha o mesmo amor por padrões" |
Quem conhece o meu trabalho andarilho de mediação cultural sabe privilégio o trabalho inclusivo e foi isso mesmo que aconteceu ontem com duas estruturas da cidade de Loulé que visitaram a exposição e desenharam as pedras que tinham nos bolsos. É justo destacar o trabalho de qualidade da ASMAL que trouxe um grupo variado (nas suas situações), muito participativo e bem humorado que se prenderam bastante aos conteúdos da exposição opinando e vendo para além do olhar. O primeiro grupo que recebi no Convento era do quarto ano o que insuflou uma energia especial ao meu trabalho – entenderam muito bem o que é o desenho figurativo e foi nisso mesmo que investiram experimentando lápis estranhos, completamente desconhecidos. Falaram muito de sentimentos e atribuíram humores ás peças fazendo analogias com a realidade, ou seja, dominando as metáforas desenhadas. Grande proeza. Este foi o ambiente, profundo nos sentimentos. No final, já a sala estava vazia um menino veio ter comigo e falou de pedras que sentem. A conversa continuou e acabou por falar sobre o Pai que tinha morrido na véspera do Natal. Depois começou a chorar, contando como tinha assistido à degradação rápida da saúde do Pai. Depois demos um abraço e ele secou as lágrimas. Quando saiu da sala e se juntou aos colegas, ia choroso. Perguntaram-lhe o que se tinha passado. Nada, já passou – respondeu. Assim a manhã ficou marcada profundamente, como um traço.
Fica aqui um recado para Ricardina Inácio: Olha amiga, gostei imenso de trabalhar convosco! A vossa equipa aligeirou imenso o meu trabalho e esteve sempre atenta às sessões. Temos de repetir!
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de
minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no
meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade
O desenho continua a ser uma metodologia pessoal para entendimento e explicação do Mundo. O desenho é concreto, preciso, mesmo quando é necessário traçar o indizível. A pintura estrutura-se na teia conceptual do desenho, ganha segurança e rumo de pesquisa. No meu trabalho, o desenho e a pintura sempre conviveram complementando-se, cruzando-se, cada um sabendo bem o seu lugar. O desenho e a escrita, embora de natureza distinta, têm propriedades comuns, juntando-se na reflexão e no plano, numa compatibilidade tão antiga como a própria história do homem.
Mas o desenho tem uma existência autónoma, um dialeto que se expressa de um modo distinto. Neste conjunto de obras, a introdução da ponta seca, a par do lápis, traz uma dimensão táctil às imagens.
Os diversos riscadores são numerados de acordo com a sua dureza e tom com que se expressam, distinguindo-se no traço. Assim, temos uma vasta família: 3H HB, 2B, 3B, 8B. Só para citar alguns. E o 0? Pergunto-me. Como é o zero? É o nada? E se o zero for o sulco invisível deixado pela ponta seca? Um lugar onde não é depositada nenhuma matéria deixando que o papel (o suporte) fale. E há tantos desenhos feitos com estes riscadores zero, sobre rochas, metal ou areia ... Perco-me nas diferentes possibilidades geradas por este labor silencioso...
A pedra foi o objeto eleito para esta pesquisa, o pretexto para que o lápis vá falando sobre o papel,. É certo que traz a geologia e o universo consigo, mas projeta muito mais, irmanando o público.
A atmosfera é o que sinto, vejam como respiro.
Miguel Horta
Fotografia de António Ventura
Nos dias 25, 26 e 27 de Outubro estarei de volta a Loulé para desenvolver, junto de um público muito variado, um conjunto de oficinas e visitas guiadas à minha exposição de desenho. Trata-se de uma iniciativa da equipa educativa dos museus de Loulé. No sábado 28, dia de encerramento, conto estar também no espaço, da parte da tarde, para receber os amigos que resolverem aparecer.
A inauguração da minha exposição “Tinha uma pedra” no Convento de Santo António em Loulé foi um momento marcante neste ano; insuflou energia no meu trabalho plástico, trouxe mais interrogações e abriu novos campos de pesquisa. É uma boa sensação de ter conseguido erguer a exposição que contou com um grande apoio da Câmara de Loulé. Aproveito para enviar um abraço à Dália Paulo que acompanhou sempre, ao longo de dois anos, o nascimento deste projeto de desenho. O curador é um amigo, Miguel Cheta; foi incansável e sem o olhar estético e a generosidade deste artista as pedras não teriam “brilhado”.
Loulé tem estado no mapa das minhas intervenções enquanto formador/artista como foi o caso do projeto 10x10 (Descobrir/Gulbenkian) e o seu irmão mais novo, ArtexEducação ( proposto localmente pela Câmara Municipal) isto para além da formação que dei aos companheiros dos museus. No dia 22 de Setembro teve lugar a inauguração simultaneamente de duas exposições , a minha no Convento e outra, muito boa, de Diogo Pimentão na Galeria Alfaia. O resultado foi um grande numero de pessoas que circularam entre as dois espaços expositivos de Loulé. Boa energia!A exposição seguirá para o Cine-Teatro de Pombal onde inaugurará a 6 de Janeiro, mais uma vez apoiado por uma boa equipa.
O clima de sexta-feira 13 está no ar e o Halloween se aproxima, e para os amantes do terror, não há maneira melhor de celebrar ese momento do que assistindo a filmes arrepiantes que causam calafrios na espinha.
A Netflix oferece uma seleção variada de filmes de terror para os fãs do gênero, mas dentre todos os títulos disponíveis, os seis que listamos a seguir são quase unanimidades entre os críticos de cinema e o público em geral. Confira:
1. “Corra” (Get Out)
Direção: Jordan Peele
Uma mistura de suspense e horror psicológico, “Corra” mergulha em questões de racismo e desigualdade social. A história segue um homem negro que visita a família de sua namorada branca, mas logo descobre segredos sinistros.
2. “Hereditário”
Direção: Ari Aster
Um filme perturbador e cheio de mistério que segue uma família enquanto segredos sombrios e eventos sobrenaturais emergem após a morte da avó. Prepare-se para uma jornada aterrorizante que desafia as expectativas do gênero.
3. “O Homem nas Trevas” (Don’t Breathe)
Direção: Fede Álvarez
Neste suspense intenso, um grupo de jovens planeja roubar a casa de um homem cego. No entanto, o que deveria ser um assalto simples se transforma em um pesadelo quando eles percebem que o homem não é tão indefeso quanto parece.
4. “Um Lugar Silencioso” (A Quiet Place)
Direção: John Krasinski
Em um mundo onde criaturas mortais caçam pela audição, uma família precisa viver em total silêncio para sobreviver. Este filme é uma obra-prima de tensão e suspense, com um toque de sci-fi.
5. “Invasão Zumbi” (Train to Busan)
Direção: Yeon Sang-ho
Prepare-se para uma montanha-russa de emoções neste thriller sul-coreano. Quando um surto de zumbis toma conta de um trem-bala, os passageiros precisam lutar para sobreviver em um ambiente claustrofóbico e cheio de mortos-vivos.
6. “Cam”
Direção: Daniel Goldhaber
Neste filme de terror cibernético, uma camgirl descobre que alguém está se passando por ela na internet. O suspense aumenta à medida que ela tenta descobrir a verdade por trás desse duplo virtual e as implicações sinistras que isso tem em sua vida.
Escolha um ou mais desses filmes e prepare-se para uma noite de sustos e emoções, tornando esta sexta-feira 13 memorável e assustadora. Lembre-se de manter as luzes acesas!
The post Especial Terror: 6 Filmes espetaculares na Netflix que vão te fazer dormir com a luz acesa appeared first on CONTI outra.
O tempo passa e tal é a voragem dos dias que nos esquecemos de falar do que vivemos, de sublinhar momentos importantes fruídos em comunidade. Foi o caso do I Festival de Resistência e Arte Urbana da Charneca da Caparica que contou com a presença de amigos do conto (Thomas Bakk, Adriano Reis e Rosa Gonçalves) para além de outros artistas que se reuniram em torno desta ideia nos dias 3 e 4 de junho (2023) no pavilhão dos Asas Vermelhas. Pelo meu lado, realizei a oficina construindo cidades para as famílias que estiveram connosco naquele fim de semana. A Biblioteca Central das Ideias do Senhor Valentim está de parabéns por continuar o seu labor interventivo numa freguesia de Almada que ainda não tem um espaço de leitura pública. Saravá, Companheiro!
Não tenho escrito muito sobre as minhas andanças. Às vezes é mesmo assim, a vida segue mais silenciosa. Quem me conhece bem sabe da importância que o acto de narrar tem para mim e entenderá bem o sentido desta publicação – aos poucos regresso ao mundo dos contos. Foi isso mesmo que aconteceu na Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, “Fábrica das Palavras”, onde fiz duas sessões de conto, uma para crianças (1º ciclo, a 11 de Maio) e outra para público sénior no dia 23 de Maio. Há muito tempo que não me sentia tão solto.... Soube bem comunicar com aquele público maior, rimos, conversámos e escutaram com gosto. Obrigado ao Sérgio, Mónica e Nuno pelo carinho e profissionalismo com que me receberam. Foi uma bela tarde...
Para se ter uma ideia...
A 14 de janeiro teve lugar uma animada oficina de “Construindo cidades” no Museu de Almada (Casa da Cidade). A turma que apareceu era tida como “complicada” - não dei por nada... Foi bem divertido ver aquela gente pequena e ruidosa numa azáfama criativa, cola e madeirinhas na mão. Estejam atentos à agenda cultural dos museus de Almada, onde apresentarei diversas oficinas ao longo deste ano.
No dia 5 de Janeiro os participantes no Pegar pela Palavra/Contador de Histórias da União de Freguesias de Montelavar, Pêro Pinheiro e Almargem do Bispo voltaram a encontrar-se. Técnicos (mediadores) e seniores almoçaram em D. Maria. O repasto foi acompanhado por poesia, canções, rimas populares, tudo com a habitual boa disposição. Fico a pensar como é importante dar continuidade a toda esta energia criativa que conseguiu vencer a solidão dos mais velhos com a realização desta iniciativa da responsabilidade da Câmara de Sintra (programa “a Cultura sai à rua"), em que a Laredo Associação Cultural se envolveu profundamente. Hoje comecei a fazer um esboço do que poderia dar força e continuidade ao trabalho desenvolvido na União de Freguesias de coração rural, em Sintra.
Em dia de futebol, a última presença da nossa seleção no Mundial, precisamente à mesma hora, um pequeno grupo de gente que gosta dos Museus foi até ao núcleo “Covas do Pão” (Museu de Almada) para experimentar a “Máquina da poesia” partindo do universo daquele acervo. Boa gente, participativa, arrojada nas palavras e … comunicativa. A minha companheira dos contos Rosa Gonçalves apareceu, dando alento e inspiração. A colega Eurídice Santos, da “Casa da Cidade” (Museu de Almada) fez-nos uma interessante visita às covas/silos de cereais deste lugar de património em Almada Velha. Para além do surpreendente conjunto, intacto, posto a descoberto, há um conjunto de peças que acompanha o discurso expositivo, tendo sido achadas no interior destes grandes receptáculos. Vale mesmo a pena conhecer este núcleo museológico.
Fizemos uma bela coleção de palavras e começámos a experimentar a “máquina”; o resultado foi muito interessante e sensível, crianças e adultos esmeraram-se na escrita. Já depois de terminada a oficina, a Eurídice enviou uma ilustração feita a partir do poema coletivo “Vento” que começa com um verso de António Torrado e continua com os versos escritos pelos participantes. Aqui fica a partilha.
Como descrever a totalidade do que foi vivido durante o “Pegar pela Palavra”? Ao longo destes 6 meses, em encontros periódicos com dois grupos de seniores, um da Tapada das Mercês e outro da União das Freguesias de Montelavar Pero Pinheiro e Almargem do Bispo; um projeto inserido no programa “A cultura sai à rua” , muito bem pensado por Tânia Tobias (abraço grande!) Mexeu com uma mão cheia de profissionais de Teatro e um narrador mobilizando os mais velhos de diferentes instituições e , também aqueles que pelo próprio pé se foram juntando, no nosso caso, em torno da Palavra. Depois de muitos ensaios, o nosso grupo do “Contador de Histórias” como ficou conhecido, apresentou, com as demais companhias, os seus textos, dizeres, cantos...enfim palavras, no espetáculo que teve lugar no dia 30 do Olga Cadaval em Sintra. Foi uma festa! Acabei por viver profundamente estes dias e sentir a solidariedade dos participantes e dei por mim, estava à velocidade do coração. Ao longo dos meses fui fazendo uma espécie de diário das sessões que pode ser lido aqui no Miguelhorta.pt através da pesquisa, “Pegar pela Palavra” Como já vos disse anteriormente, esta iniciativa levantou um grande número de questões em torno do envelhecimento ativo e a comunidade que vale a pena levar em conta. A vontade de dar continuidade é muita! Obrigado Ana Cláudia. Obrigado Marlene! Gostei muito de conhecer as companhias de teatro envolvidas nesta proposta criativa da Câmara de Sintra que nos desinquietou a todos de um modo muito positivo.
O tempo vai passando e estamos todos cada vez mais soltos no “Pegar pela Palavra” (“Cultura sai à rua”). Na Tapada das Mercês, vamos afinando os textos e a participação coletiva. Aproveitei o final da última sessão para oferecer ao Sr. Malane um desenho a esferográfica do Lubu (hiena) feito por um artista popular de Beja (Vilas). O Lubu ocupa o lugar da raposa na tradição oral Mandinga. Esta oferta simboliza o momento de partilha mais profundo no grupo, para além das histórias de vida surgem os contos da infância, neste caso, da Guiné-Bissau.
Antes do trabalho mais a fundo, a Tânia Tobias (grande impulsionadora deste projeto) da Câmara de Sintra, entrevistou alguns participantes prosseguindo o esforço de registo das diferentes vertentes do trabalho de “A cultura sai à rua” (Câmara Municipal de Sintra). Depois sentámo-nos em volta da mesa do auditório e começámos a ensaiar a “saudação”, bem à maneira da Guiné-Bissau, batendo palmas, conduzidos pelo Senhor Malan Sane: “Grupo Tapada é na Tapada” (...) Dá sempre bastante risada pois é algo completamente diferente da cultura da maioria dos participantes – mas vamos em frente! A boa disposição tem sido o mote destas sessões do Pegar pela Palavra. Depois cantámos a canção do “João Pestana”, proposta pela Senhora Maria, com que vamos encerrar a participação da Tapada no espetáculo do Olga Cadaval. Trata-se de uma canção para adormecer crianças, neste caso cantada a um neto; gesto pequeno que representa um elo fundamental entre os maiores e as suas famílias. Às vezes só temos mesmo uma pequena canção para vencer a solidão. A maior riqueza deste grupo é a sua diversidade, povoada por personalidades fortes em plena comunicação; por vezes é necessário moderar habilmente as sessões para que os equilíbrios se mantenham. Muito tenho aprendido ao longo destes dias...
Fotografias, por cortesia da Câmara Municipal de Sintra.
Boa disposição! |
A nossa sessão de 26 de Outubro do “Pegar pela palavra”, no edifício da Junta de Freguesia de Montelavar, foi bem produtiva e divertida. Passámos em revista todas as necessidades logísticas para a apresentação no Centro Cultural Olga Cadaval e trabalhámos conteúdos. A sessão foi quase toda ocupada com a apresentação da Dona Milu e do João Leal sobre “As lavadeira e carroceiros” desta zona saloia. Cada vez que o Sr. João fala, aprendo sempre qualquer coisa. Acho que este momento da apresentação vai ser bem interessante. Estes amigos mais velhos apropriam-se da sua cultura local e divulgam-na com um detalhe impressionante.
Quando a Dona Alice de Camarões (Dona Maria) sentiu que era o momento, propôs uma brincadeira/desfio a todos quanto estavam na sala. Mostrou um saquito de pano vermelho fechado com umas fitas, coma data da sua execução (1958) e disse: “Quem conseguir abrir este saco fica com os 10 Euros que lá estão dentro! Mas vai ter de descobrir o segredo das fitas, para o abrir. Ora eu bem tentei abrir saco, dando voltas para cá, tentando desfazer as fitas, mas nada. Depois foi a Ana Varanda a tentar afincadamente mas com o mesmo resultado, comentando. “Este é que é um exercício mental prático para fazer com os mais velhos, bem melhor do que as atividades de computador.” (Concordo) Entretanto a Sr. Alice ria, bem divertida. Depois foi a vez do Poeta João Mota igualmente sem sucesso. A nossa amiga ensinou-nos o segredo daquela simples brincadeira, que vem de longe, muito longe quando os serões eram longos e não havia televisão. A sessão terminou com algumas brejeiradas divertidas – a oralidade popular está cheia destas coisas...
Tentando resolver o quebra-cabeças da Dona Alice |
Regressei à rua do Matadouro, à sede do projeto Somos Comunidade no dia 21 de Outubro; uma parceria generosa com a associação Memóriamedia envolvendo a Laredo. A sala estava bem composta e acabei por conhecer umas vizinhas que se juntaram ao grupo inicial com quem tenho desenvolvido as minhas propostas criativas, a pensar naquele lugar. Propus um “trabalho de casa” aos participantes: fazerem uma adivinha sonora, captando um som simples de uma a situação/ação, ambiente ou um animal ou ainda um objeto. Não poderiam revelar a nenhum dos outros companheiros a gravação feita com o telemóvel. Foi este o mote para a oficina Dos sons nascem histórias que pretende promover a escuta ativa do meio que nos rodeia, entendendo o que se passa no nosso cérebro à chegada de um novo som. Ora eu levei a gravação do momento em que começo a fazer a sopa para o pessoal cá de casa. Também conhecemos um relógio de pêndulo já com uma longa história; um cão, em dia de chuva, que logo identificámos pelo ladrar como o chato do nosso vizinho canídeo; uma montagem muito abstrata de um passarinho (que já esqueci o nome), umas obras na rua e o som de uma banda (“muito à frente”); o matraquear raivoso de um teclado de computador; umas botas que caminhavam pelo chão (...) A maior parte da sessão foi ocupada com estas adivinhas e com a conversa que cada registo suscitou. Depois passei algumas histórias sonoras (sem palavras em português) para que cada um construísse a narrativa sugerida pelo trecho apresentado. Pelo caminho fui contextualizando e desmontando o processo de construção da proposta para que todos possam usar a ferramenta no futuro, em dinâmicas de grupo semelhantes à nossa. Esta sessão serviu como aquecimento para outra, que gostaria de fazer, em que sairemos para as ruas do bairro, registando a paisagem sonora do lugar, uma outra forma de conhecer o bairro onde se vive.
A temporada de caça às texturas deste ano terminou em Tomar. A oficina Caça Texturas passou pela praça da Republica reunindo um grupo de pequenos artistas onde sobressaiu a Carolina, uma menina muito criativa e persistente, com grande apuro cromático que trabalhou comigo até ao fim, já quando todos os outros miúdos tinham dispersado. Fizemos tantos desenhos em conjunto! Assim foi a tarde de Sábado dia 15 de Outubro.
Fotografia de Neide Martinho |
"Uma memória das lavadeiras, cosida num pano:
Marcas para apontar roupa e pôr sinais".
Aprendo sempre alguma coisa a cada sessão do “Pegar pela Palavra” (“A Cultura sai à rua) na União das Freguesias de Montelavar, Pêro Pinheiro e Almargem do Bispo . No dia 11 de Outubro, no edifício da junta em Montelavar, no final da sessão, o Sr. João mostra-me um pano com uns sinais cosidos que era, nem mais nem menos do que um mini dicionário das marcas que as lavadeiras locais faziam nas sacas e trouxas da roupa que vinha de Lisboa para ser lavada, isto para identificarem as clientes que as enviavam e assim puderem remeter tudo limpinho, sem receio de se trocarem.
Esta e outras particularidades (curiosidades) têm sido apresentadas pelo Sr. João e pela Dona Milú, à medida em
que vão preparando connosco a sua apresentação a dois, para o encontro de 30 de Novembro no Centro Cultural Olga Cadaval. No meio
do nosso trabalho, onde não faltou um fadinho cantado pelo Sr
Albino, confessou-nos o Sr Mateus: “Isto é quase um vício,
farto-me de escrever!” E o que lá estava escrito?...Reflexões, pensamentos... Durante a sessão, todos apresentaram as suas
intervenções, que foram cronometradas, pois dispomos de pouco tempo
para a apresentação. Ah, de vez em quando surge uma anedota vinda
de um participante – ninguém se aborrece neste grupo…O Sr. Mateus folheando
o seu caderno de preciosidades
Sr, Albino (com outro caderno de preciosidades) e o Sr. João. Treinando a leitura |
13 de Outubro 2022
O Senhor Malane Sané regressou às sessões, trazendo uma proposta para o grupo: uma saudação cantada de apresentação do coletivo da Tapada das Mercês, a ser executada no espetáculo do projeto “A cultura sai à rua” no Olga Cadaval. Uma toada bem ao jeito da Guiné-Bissau; ensaiamos divertidos! Vamos ver o que isto dará....Para já estamos a contar os tempos de cada poema, cada canção ou cada história de vida. O ambiente é muito descontraído mas importa ensaiar a preceito!
Mais sobre o projeto, aqui.
Lubu, a hiena das histórias do Sr. Malane (Guiné-Bissau) (ilustração a esferográfica de Vilas, artista popular de Beja) |
Sessões de 8, 14 e 28 de Setembro em diversas localidades do Concelho de Sintra
Bem que posso inventar nomes para o projeto, como “Pegar pela palavra”, mas os mais velhos, que nele participam, chamam-lhe “O Contador de Histórias”. Segue tudo tão depressa, que não consigo fazer publicações no ritmo que gostaria, sobre o trabalho que estamos a desenvolver. Ao longo do tempo, ficou mais visível a diferença entre os dois grupos de seniores participantes, um na Tapada das Mercês e o outro na União das Freguesias de Montelavar, Pêro Pinheiro e Almargem do Bispo”. O grupo das Mercês com grande profundidade na relação entrepares e uma criatividade mais urbana, embora o Sr Malane traga os contos da ruralidade Mandinga para o grupo. Temos ensaiado a leitura dos textos, poesia e histórias de vida, com grande autonomia dos participantes, o que me deixa bem contente. Nas aldeias, como me costumo referir à UFMPPAB, estamos em plena erupção criativa, dos fados aos cantos com letras originais, à poesia (de qualidade), quadras populares e histórias locais. Entretanto surgiu uma participação bastante interessante: o trabalho simultâneo da Dona Milú e o Sr João. A partir das bonecas criadas com grande esmero e detalhe pela Dona Milú, que retratam as antigas profissões de Vale de Lobos/Almargem, o Sr João, sem dúvida um sábio local, vai falando da história desta zona da região saloia. Estão os dois a trabalhar em conjunto e tenho muita curiosidade em ver o resultado final. O nosso trabalho não se esgota na meia hora que dispomos para partilhar a nossa criatividade, na apresentação pública que terá lugar no Auditório Olga Cadaval na manhã de dia 30 de Novembro. A vontade de seguir em frente é grande. O apoio dos técnicos locais, impar! Pela minha parte, gostaria de continuar a apoiar estes dois grupos de gente tão bonita e a fazer crescer novas ideias.
Um encontro memorável
No dia 28 de Setembro teve lugar um encontro entre os seniores das duas localizações, na Associação de Pensionistas e Reformados de Dona Maria. O grupo da Tapada das Mercês foi muito bem recebido. Durante quase duas horas, os participantes partilharam parte do que têm estado a criar – foi um encontro alegre. Para além do nosso grupo de participantes, assistiram ao encontro alguns idosos de Dona Maria que seguiram com atenção tudo o que foi acontecendo. Fica aqui um pequeno apontamento em vídeo de um momento da tarde. A Sra. Alice com os seus ditos e quadras populares, servindo-se de uma pequena “cábula” escrita na sua língua privada. Acontece que a nossa amiga é analfabeta, então inventou uma escrita própria que a apoia no seu quotidiano; sabemos que uma das suas amigas sabe decifrar aqueles hieróglifos, que mostramos em detalhe. Se tivesse mais tempo para dedicar à Sra. Alice, estou certo que facilmente surgiriam belos contos da nossa tradição oral. Para estes projetos precisamos de tempo; saber regar e esperar pelos resultados, facilitados por uma relação de continuidade e verdadeira.
A Dona Alice, de Camarões, diz as suas quadras populares com ajuda de uma escrita que inventou para lhe avivar a memória - Que Senhora! |
Foram realizadas 15 sessões junto dois grupos de seniores em duas localizações distintas do Concelho de Sintra, um Tapada das Mercês e outro em diversas coordenadas da com na União das Freguesias de Montelavar, Pêro Pinheiro e Almargem do Bispo. Todas as sessões tiveram o precioso apoio dos técnicos locais, quer da UFMPPAB, da Câmara Municipal de Sintra ou da Fundação Aga Khan Portugal, parceira do “Pegar pela Palavra”, designação criada para identificar este segmento do projeto “A Cultura sai à rua” da responsabilidade do Município de Sintra. Miguel Horta (Laredo Associação Cultural), mediador cultural/contador de histórias associado à iniciativa, tem promovido o trabalho colaborativo, sendo o rumo do projeto construido a várias vozes, sobretudo a dos idosos que dele beneficiam. Depois de um conjunto de sessões iniciais que promoveram o conhecimento mutuo e a partilha dos objetivos pensados para o projeto, começámos, de imediato, a escuta crescente do contributo dos seniores que um a um foram contando histórias pessoais, locais ou da tradição oral, lendo poemas, proferindo pensamentos e adivinhas e ainda, recordando canções. Aos poucos os grupos foram-se consolidando nas duas localizações geográficas, a velocidades diferentes, assumindo cada um uma personalidade própria; uma caraterística mais rural na UFMPPAB e mais urbana na Tapada das Mercês. Face à proposta de apresentação coletiva do trabalho dos diferentes grupos prevista para o Centro Cultural Olga Cadaval, os idosos participantes têm vindo a combinar a melhor forma de partilhar o que têm produzido e selecionando os textos /palavras com que se sentem mais à vontade para apresentar em público no dia 30 de Novembro do projeto. Os técnicos presentes têm feito o registo iconográfico das sessões bem como pequenos vídeos que expressam bem o ambiente positivo das sessões.
10 e 11 de Setembro 2022
No Sabugal a “caça” às texturas foi pouco concorrida. Os dois grupos de participantes eram pequenos mas as sessões foram muito agradáveis, quase familiares. Gostei de conhecer a equipa da cultura do Município. Seria bom aproveitar a minha próxima itinerância pelo alto Alentejo para regressar a estes lugares mais interiores do Médio Tejo.
Tapada das Mercês, 8 de Setembro de 2022
Terminada a pausa de Agosto, as histórias regressaram ao “Pegar pela palavra” ( “Cultura sai à Rua”) na Tapada das Mercês. Foi uma sessão muito agradável, profunda nos pensamentos e na comunicação, à medida que íamos lendo histórias e combinando a forma de as apresentar no dia 30 de Novembro no Centro Cultural Olga Cadaval. Ontem gostei muito de escutar a história de vida do Sr. José Abrantes; cada vez tenho mais respeito pelas batalhas individuais ao longo da vida. Também o Sr. Conde, para além de ter escrito uma história de vida, tem vindo a ilustrar os textos dos colegas de projeto – estamos a pensar na possibilidade de projetar estas imagens na apresentação pública. A minha colega mediadora da Fundação Aga Khan, Marlene Vaz, tem vindo a passar para o computador os textos dos nossos autores; com outra apresentação, a leitura é mais fácil e corrigem-se vírgulas e uma ou outra palavra que ande por lá à solta. Todos escutam, propõem e opinam. Começámos o treino de leitura...estamos no bom caminho. Começaram a circular livros entre nós, começou com um livro meu, depois de lido passou a outro companheiro. Ontem ofereci à biblioteca do grupo outro livro. Vamos introduzir na roda de leitura “o Beijo da Palavrinha” por sugestão da Sr.ª Maria, que pela sua mão escreveu um reconto do belo texto de Mia Couto. E ainda há muito para ensaiar...
Foi assim a última Sessão