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Antes de ontemBlogue RBE

Liga-te | Literatura e ilustração de Gavião

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O 𝐋𝐈𝐆𝐀-𝐓𝐄 está de regresso para a 2.ª edição com mais atividades, artistas e muitas novidades. De 𝟏𝟓 a 𝟏𝟗 𝐝𝐞 𝐦𝐚𝐫𝐜̧𝐨, 𝐆𝐚𝐯ião vai voltar a celebrar a festa da literatura e da ilustração!

Programa - Liga-te 2024 _ 2.ª Edição_page-0003

Continuamos unidos à palavra, à família, à terra e ao outro. Mas não ficamos por aqui… A programação promete ligar-nos à liberdade, à música e a nós próprios.

Este festival é organizado pela Câmara Municipal do Gavião e Rede Concelhia de Gavião ( Biblioteca Escolar e Biblioteca Municipal).

Do vasto programa destacamos uma oficina para professores com o autor David Machado e o lançamento do livro "As Galochas Vermelhas" de Pedro Seromenho e Rachel Caiano.

Um excelente programa para toda a comunidade, com propostas para todos.


Rede Concelhia de Gavião

 

Redes de Bibliotecas: construir sinergias. Porque juntos podemos mais, sempre!

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A Rede de Bibliotecas do concelho de Guimarães é constituída pela Biblioteca Municipal Raul Brandão, três Polos (Taipas, Pevidém e Lordelo) e cinquenta e três Bibliotecas Escolares.

Guimarães é um dos concelhos do país com o maior número de bibliotecas em estabelecimentos de ensino (integradas na Rede de Bibliotecas Escolares), complementando, assim, o trabalho realizado pela Biblioteca Municipal e os respetivos polos.

 Biblioteca Municipal Raul Brandão (BMRB)

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A Biblioteca Municipal está perfeitamente integrada no seu meio e direcionada para servir os interesses e necessidades dos seus utilizadores, com um quadro de pessoal qualificado (31 colaboradores), dispondo de fundos documentais atualizados e diversificados, em livre acesso e para empréstimo domiciliário. Possui um portal online, em constante atualização, que permite, entre outros aspetos, o acesso ao Catálogo Coletivo Concelhio, e está presente nas redes sociais: Facebook, Instagram, Youtube e Twitter.

Presencialmente, para além do serviço de empréstimo, a Biblioteca oferece diferentes atividades de dinamização e promoção do livro, da leitura e do conhecimento. Em colaboração estreita com as escolas e várias instituições do concelho, disponibiliza serviços permanentes: caixas-biblioteca, exposições itinerantes, bibliocafé e empréstimo domiciliário ao Estabelecimento Prisional de Guimarães.

De forma a promover o património literário, surgiu, em 2017, o Festival Literário de Guimarães – HÚMUS. Paralelamente, está em andamento o Plano Local de Leitura de Guimarães “Ler é Património”.

A BMRB está inserida na Rede Nacional de Leitura Pública e constitui um dos equipamentos mais estruturantes da vida do município. Assume-se, por isso, como um verdadeiro centro cultural, assente num conceito de polivalência, que lhe é dado através da multiplicação de espaços de diferentes funções e, por vezes, com públicos específicos, na aposta na divulgação e animação cultural, assumindo o seu papel de mediação e aproximação a públicos alargados, mediante a proliferação de iniciativas, direta ou indiretamente relacionadas com o livro.

Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE)

A Biblioteca Municipal Raul Brandão tem um serviço de apoio às bibliotecas escolares com o objetivo de proporcionar apoio técnico e recursos de informação às escolas. Como funções do SABE, destacamos:

  • colaboração técnica nas bibliotecas escolares no domínio da organização, gestão e funcionamento;
  • seleção, aquisição e manutenção do equipamento informático, audiovisual e mobiliário específico;
  • formação contínua dos docentes e não docentes no serviço das bibliotecas escolares;
  • fornecimento de recursos informativos através de empréstimos prolongados e empréstimos especiais, nomeadamente recorrendo ao Serviço das Caixas-Biblioteca;
  • renovação periódica do fundo documental;
  • dinamização dos espaços de leitura.

Atividades conjuntas

Com uma programação contínua e conjunta ao nível da animação cultural, desenvolvem-se atividades e projetos destinados a todos os ciclos, dos quais destacamos:

📍 Semana Concelhia da Leitura

A Semana Concelhia da Leitura de Guimarães envolve todos os Agrupamentos de Escola e Escolas não Agrupadas em estreita colaboração com a Biblioteca Municipal. São privilegiadas ações de promoção da leitura tendo por base um tema comum previamente assumido pelos Professores Bibliotecários, Biblioteca Municipal e CIBE.

📍Convence-me!

Convence-me! é uma iniciativa da Rede de Bibliotecas de Guimarães que pretende estimular hábitos de leitura e pôr à prova competências de leitura, expressão escrita e oratória, potenciando os saberes curriculares e intelectuais dos participantes e promovendo o seu gosto pela leitura.

É objetivo primordial desta iniciativa que os alunos, em equipa, sejam capazes de convencer o público para a leitura de um livro à sua escolha, através de argumentos e estratégias originais, que validem a sua recomendação.

 📍 Exposições itinerantes

Serviço gratuito de empréstimo de exposições temáticas, disponível para as escolas, bibliotecas e outras instituições.

 📍 Encontros com escritores

Promoção de encontros com escritores para momentos de partilha sobre os livros que escrevem, as suas ideias, a forma como transformam o seu pensamento em objeto de cultura, de reflexão, de prazer, de aprendizagem e conhecimentos.

 📍 Soletrar C

Concurso dirigido aos alunos do 3.º ciclo, com o objetivo de aumentar o vocabulário, melhorar a pronúncia e a ortografia e aprofundar o conhecimento de conceitos científicos e de cidadania. Desenvolvido em parceria com as bibliotecas escolares e o Centro Ciência Viva de Guimarães.

 📍 Leituras animadas (Hora do Conto, Teatro de Fantoches e Contos on-line)

Programação continuada tendo por base o livro infantil, valorizando a leitura em voz alta, a animação de histórias, potenciando o direito ao imaginário e ao ler por prazer.

 📍 Instantes criativos

Este concurso é uma iniciativa conjunta da Rede de Bibliotecas de Guimarães, que pretende desafiar a capacidade de síntese e a criatividade dos alunos do concelho para criarem microtextos e ilustrações, valorizando, assim, outras formas de expressão literária/artística.

📍 Mapa de um livro

Projeto colaborativo que propõe a criação de um livro para cada um dos patronos das Escolas de Guimarães.

Este projeto, direcionado para o primeiro ciclo, permite criar uma espécie de editora dentro de cada uma das turmas participantes. Assim, emergem pequenos autores, ilustradores, designers, investigadores, paginadores, diretores de conteúdo, revisores e editores. Deste trabalho conjunto, cooperativo e solidário, nasce a obra (um livro sobre o patrono da escola).

 Em síntese

A Biblioteca Municipal Raul Brandão e as Biblioteca Escolares têm conseguido manter, ao longo destes 32 anos, um papel fundamental na promoção das diferentes literacias, desenvolvendo um trabalho de articulação sustentado e profícuo que tem dado os seus frutos. Mas não queremos ficar por aqui e pretendemos abraçar outros desafios, sempre em prol da nossa comunidade, porque juntos podemos mais, sempre!

Juliana Fernandes
Diretora da Biblioteca Municipal Raul Brandão, Guimarães

“Retalhos” que costuram uma manta colorida.

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Mesmo antes de ser professora já era “cliente” das bibliotecas. As bibliotecas e os livros foram sempre espaços onde me sentia confortável, em casa.

Quando assumi responsabilidades na biblioteca escolar, fi-lo com enorme entusiasmo, mas consciente da exigente tarefa que me era pedida.

Embora já estivesse ligada à biblioteca da minha escola (Santa Marta de Penaguião), a odisseia começou com a integração da biblioteca da escola E.B 2,3 na Rede de Bibliotecas Escolares logo em 2000. Foi um tempo de muita descoberta, de muita colaboração entre colegas de outras escolas, de sentimento de partilha de uma missão entusiasmante.

Anos depois, em 2009, com a construção da biblioteca do novo Centro Escolar, também integrada na RBE, alargou-se a manta: desenhar e costurar uma biblioteca de raiz para os mais pequeninos (pré-escolar e 1º ciclo), alargar os serviços da biblioteca escolar a todas as escolas do Agrupamento. Foi uma aventura feliz e uma aprendizagem.

Ao longo dos anos, os espaços, os hábitos, os utilizadores, os recursos, os livros mudaram muito. O papel da biblioteca escolar na escola também mudou, fruto do trabalho dos professores bibliotecários e da RBE.

Com 37 anos de docência e mais de vinte de biblioteca escolar, a minha manta de retalhos tornou-se tão colorida quanto o dia-a-dia de uma biblioteca.

As bibliotecas escuras e com livros fechados em estantes fazem parte do passado, do meu passado de aluna. Ir à biblioteca da escola é hoje sinónimo de realização de atividades criativas, inovadoras e motivadoras, num espaço colorido, confortável, interativo e, sobretudo, acolhedor e inclusivo. E grande parte das atividades e projetos da escola passam pela biblioteca, espaço de projetos de leitura, de artes, de literacia digital, de encontros…

Entrar todos os dias na biblioteca e receber diferentes alunos, com diferentes solicitações, com diferentes interesses e sentir que se sentem acolhidos, confortáveis nesse seu espaço contribui para um sentimento de dever cumprido.

Prazer maior: ver crescer um leitor, conquistar um não-leitor, sugerir, orientar e aprender com eles. Acolher sugestões, descobrir novos livros, ouvir uma aluna entusiasmada que me conta a sua nova descoberta de leitura, assistir ao entusiasmo por um livro que esperavam…

Ao longo dos anos, e de forma mais premente nos últimos anos, com todos os desafios que se têm colocado às escolas e à sociedade em geral, a biblioteca escolar esteve presente e atenta às necessidades das suas comunidades de utilizadores, procurando oferecer um espaço de felicidade e de inspiração, onde se convive e é possível ajudar, partilhar e ensinar, respeitando os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem.

E se as exigências e desafios são por vezes avassaladores, importa salientar que o trabalho do professor bibliotecário é tudo menos solitário. Conta com o suporte de uma estrutura como a RBE, com o apoio de proximidade dos coordenadores interconcelhios e, no caso de Santa Marta de Penaguião, com uma equipa estável de docentes, com assistentes operacionais empenhados e motivados e com docentes que reconhecem, apoiam e solicitam a Biblioteca Escolar.

Filomena Nunes,
Professora Bibliotecária,
Agrupamento de Escolas de Santa Marta de Penaguião

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  1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
  2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
  3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

 

Rede de Bibliotecas de S. João da Madeira: criar oportunidades

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A Rede de Bibliotecas Escolares de S. João da Madeira foi criada em 2007, na sequência de uma Candidatura de Mérito. Este processo teve a coordenação do Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE) criado na Biblioteca Municipal Renato Araújo (BMRA).

O grande objetivo desta rede foi reunir recursos para a criação do catálogo on-line das bibliotecas escolares e que foi possível graças à oferta por parte do Município de licenças do software de gestão documental existente na Biblioteca Municipal, permitindo assim uma racionalização de recursos humanos, técnicos e financeiros, mercê de uma aposta forte no empréstimo interbibliotecário. Foi elaborado um Regulamento comum às Bibliotecas Escolares de S. João da Madeira e um manual de procedimentos, documentos fundamentais para o funcionamento uniformizado da rede que integra todas as escolas do concelho de ensino público.

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Mensalmente, são realizadas reuniões de trabalho onde são abordadas e discutidas questões de interesse comum sobre a política documental, oferta formativa, atividades de promoção da leitura, projetos e candidaturas.

Ao longo destes anos, têm sido desenvolvidos diversos projetos conjuntos, estabelecidos através de um Plano Anual de Atividades, no qual se destaca o trabalho colaborativo em iniciativas de âmbito cultural, tendo como exemplo a “Poesia à Mesa” - uma marca cultural da cidade – que ao longo das suas 22 edições tem vindo a apostar numa participação ativa da comunidade educativa, promovendo e divulgando a poesia, os poetas e as suas obras junto do público escolar, seja através de oficinas de expressão poética, de escrita criativa, como também da realização de um certame que premeia os melhores poemas originais.

Conta-se, igualmente, o desenvolvimento de várias iniciativas no âmbito da Semana da Leitura e do Plano Educativo Municipal:

  • Narrativas Gráficas e Marcar a Leitura – promovem a leitura e a criação de Banda Desenhada, nos vários níveis de ensino;

  • Desenvolvimento e divulgação do Fundo documental de Mandarim comum às várias bibliotecas;

  • Hora do Conto em Mandarim e Português - complementar à oferta do município em matéria de ensino de mandarim, permitindo uma dinâmica colaborativa com uma instituição de Ensino Superior, como o caso do Instituto Confúcio da Universidade de Aveiro;

  • Leitura com Sentidos – iniciativa que procura sensibilizar e consciencializar a comunidade educativa para as questões da inclusão de pessoas com deficiência visual e o contacto com recursos dedicados à cegueira ou baixa visão do centro de Leitura Especial;

  • A celebração do MIBE que tem vindo a proporcionar um intenso programa de atividades, integrando uma Feira do Livro Usado na Biblioteca Municipal, a realização de visitas, sessões do conto, oficinas e espetáculos.

Regularmente, são também propostos novos projetos e parcerias.

  • O caso da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa que desafiou a rede e as escolas secundárias a trabalharem o conceito de Antologia, partindo da obra “Biblioteca Internacional de Obras Célebres”, que integra o espólio da Biblioteca Municipal e que foi objeto de estudo pela faculdade.

  • O Concurso Interconcelhio de Leitura, que, conjuntamente com as redes dos concelhos de Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, Vale de Cambra e Arouca, dará continuidade ao projeto de promoção da leitura, que, até ao ano letivo de 2022/23, era realizado a nível nacional com o Plano Nacional de Leitura.

O trabalho desenvolvido pela rede tem vindo a potenciar o grande objetivo de reunir recursos, criar oportunidades e impulsionar o concelho em matéria de educação, acesso à informação e promoção da leitura.

Carla Relva
Coordenadora da Biblioteca Municipal Renato Araújo, São João da Madeira

 

 Reforçar dinâmicas colaborativas no 1.º CEB

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É sabido que a melhor forma de contribuir para o uso mais eficaz dos espaços e dos recursos da biblioteca será através do envolvimento de todos os agentes educativos no reconhecimento do papel dessa valência para o sucesso escolar dos alunos.

No caso das bibliotecas do 1.º CEB, em que normalmente não existe um professor bibliotecário em exclusividade, verifica-se que é ainda mais urgente pensar em estratégias práticas, no sentido de reforçar esta dinâmica colaborativa:

Importa, por isso, assegurar a capacitação dos docentes dos vários níveis de ensino para a rentabilização pedagógica da biblioteca escolar – de forma autónoma e/ou em trabalho colaborativo – com vista à melhoria das aprendizagens das crianças e dos alunos, potenciando não só o seu sucesso académico, mas também o seu desenvolvimento holístico, como consignado no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.” [1]

No concelho de Torres Vedras, todos os agrupamentos contam com várias bibliotecas em escolas do 1.º CEB, sendo que há um agrupamento de escolas que conta com onze bibliotecas escolares (AE S. Gonçalo), nove das quais do 1.º CEB, pelo que se torna premente rentabilizar o espaço e os recursos disponibilizados em benefício dos alunos/ crianças e professores titulares/ educadores.

Foi com este objetivo que a Rede de Bibliotecas Escolares, através da Coordenação Interconcelhia, articulou com as professoras bibliotecárias de três agrupamentos de escolas do concelho de Torres Vedras para dinamizar várias Ações de Curta Duração (ACD), de 3 a 6 horas, dirigidas aos professores titulares e educadores dos respetivos agrupamentos, no sentido de lhes dar a conhecer os serviços em linha disponibilizados pela Rede de Bibliotecas do concelho de Torres Vedras, projetos locais e nacionais, as coleções; assim como de lhes apresentar algumas sugestões de atividades possíveis de dinamizar autonomamente, na biblioteca da escola, com os respetivos alunos/ crianças no âmbito da leitura, da escrita ou da pesquisa, tendo por base o Roteiro para uso da biblioteca escolar| Escolas do primeiro ciclo do ensino básico jardins de infância.

Eis algumas das sugestões de atividades, deste Roteiro, partilhadas/exploradas nas sessões:

  • Empréstimo domiciliário: como começar? (pág. 23)
  • Conhecer a coleção (pág. 24)
  • Roda de livros 2 (pág. 26)
  • Barra de crítica (pág.27)
  • Onde mora o livro? (pág. 28)
  • Exploração do título: narrativas (pág. 29)
  • Tão, tão… (pág. 35)
  • Aperitivos de leitura (pág. 36)
  • (...)

Foram, assim, desenhadas 3 ACD e construídos/adaptados os respetivos materiais de apoio (apresentação em Canva, infográfico e desafios com recurso à ferramenta  Mentimeter e em suporte papel).

As Ações de Curta Duração tiveram as seguintes designações:

  1. Rumo ao sucesso: ensinar e aprender com a biblioteca escolar, dirigida aos professores titulares e educadores do AE Henriques Nogueira (3h);
  2. Promover a leitura com a biblioteca escolar, dirigida aos professores titulares e educadores do AE São Gonçalo (3h);
  3. Criar leitores com o apoio da biblioteca escolar, dirigida aos professores titulares e educadores do AE Madeira de Torres (6h).

As sessões decorreram no arranque do presente ano letivo e, no caso do Agrupamento de Escolas São Gonçalo, a ACD integrou as Jornadas Pedagógicas na primeira semana de setembro; no Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira, decorreram antes do início oficial das aulas; no Agrupamento de Escolas Madeira Torres, as sessões repartiram-se por dois dias, em horário pós-laboral, no decorrer do 1.º semestre.

É de evidenciar a disponibilidade dos Professores Titulares e Educadores, assim como o apoio dos Coordenadores de Estabelecimento, Diretores e Diretora do Centro de Formação de Escolas de Torres Vedras e Lourinhã, que contribuíram para a realização destas ações.

Estas ACD decorreram também de uma tentativa da equipa da Rede Bibliotecas do concelho de Torres Vedras de dar resposta aos desafios colocados no âmbito da implementação do Plano Local de Leitura, nomeadamente a formação de docentes, MUDANÇA II - MAIS SOCIALIZAÇÃO PARA A LEITURA EM CONTEXTO ESCOLAR, da qual a RBE é parceira, através da Coordenação Interconcelhia.

 

Referência

[1]- Programa temático da ACD que decorreu no Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira.

Entre histórias e abraços: Ler para (Entre)Ter

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A Rede de Bibliotecas de Tavira dá mais um passo significativo em direção à promoção da leitura e à integração intergeracional com o desenvolvimento do projeto Ler para (Entre)Ter.

ler para entreter 2 - Ana Marta E. Branco da Silva

Esta iniciativa visa criar um espaço onde jovens e idosos compartilham não apenas leituras, mas experiências, conhecimentos e momentos especiais. O grande objetivo que sustenta este projeto é conectar diferentes gerações através da magia da leitura.

As atividades estão a ser desenvolvidas pelos professores bibliotecários e os alunos que frequentam as bibliotecas escolares do concelho de Tavira, com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos, que mensalmente visitam duas instituições da cidade para a realização de atividades de leitura (Hora do Conto adaptada ao Público Sénior; Leituras Encenadas; Leitura de Poemas e Atividades de Expressão Plástica).

O projeto Ler para (Entre)Ter não é apenas mais um projeto de leitura, é uma iniciativa que visa a construção de pontes entre gerações, a partilha de histórias e a criação de memórias duradouras. Ao unir jovens e idosos em torno do amor pela leitura e pelas histórias, Tavira está a construir uma comunidade mais forte, mais sábia e mais conectada. Que o Ler para (Entre)Ter inspire outras comunidades a abraçar a riqueza que a leitura e o diálogo intergeracional podem oferecer.

A biblioteca como pilar da integridade da informação

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Na sequência do lançamento do Resumo de Políticas Information Integrity on Digital Platforms [link do artigo anterior] e, em parceria com a Federação Internacional de Associações e Instituições de Bibliotecas (IFLA), a Biblioteca Dag Hammarskjold da sede das Nações Unidas, Nova Yorque, organizou um encontro com bibliotecários, organizações de apoio às bibliotecas dos 5 continentes e membros da ONU, como a Subsecretária-Geral para Comunicações Globais, Melissa Fleming e a responsável pela integridade da informação, Charlotte Scratton.

O objetivo é “determinar onde e como as mais de 2,8 milhões de bibliotecas do mundo poderiam ajudar a alcançar os objetivos do futuro Código de Conduta para a Integridade da Informação” e reforçar a coerência e ambição [2].

O Relatório Preliminar do encontro, que serve de base a este artigo, apresenta 10 pontos de convergência que destacam “a biblioteca como infraestrutura-chave” para alcançar a integridade da informação pública e apresentam soluções concretas.

1. Ao destacar a importância do “acesso a informações exatas, coerentes e fiáveis” nas sociedades da informação atuais, Information Integrity on Digital Platforms preenche uma lacuna da Agenda 2030. Segundo Melissa Fleming, “um ecossistema de informação saudável não pode ser considerado um dado adquirido, mas precisa de atenção e investimento sustentados” e esta pode ser uma missão fundamental de todas as bibliotecas, ao enfatizarem a importância da informação e “ajudarem os utilizadores a utilizar a informação de forma eficaz e ética”.

2. “Precisamos de uma forte infraestrutura de instituições e pessoas que trabalhem para promover a integridade da informação nas comunidades” e as bibliotecas podem garantir esta oferta de forma personalizada. Intervenções exclusivamente a nível macro, por exemplo, ao nível das plataformas, podem ter efeitos prejudiciais.

3. Confiança na internet: “Não devemos tornar-nos negacionistas da Internet, mas sim procurar enfrentar os desafios que ela traz, de forma responsável e eficaz. Em alguns casos, tecnologias como a inteligência artificial podem ajudar a fornecer soluções […] A credibilidade na Internet exige transparência e regras eficazes, mas também utilizadores com competências e confiança”.

4. Só se pode garantir um ecossistema de informação saudável (healthy information ecosystem) – no qual há oportunidades “de acesso a informação exata, coerente e fiável” e em que estas são efetivamente acedidas pelos cidadãos - promovendo “uma prática científica ética”, o acesso livre e a ciência/educação, que “facilita a verificabilidade” e responde ao direito de cada um à informação.

5. Para promover um currículo completo (full curriculum) junto das crianças e jovens, “as bibliotecas são suportes naturais para os esforços de verificação de factos”, para aproximação à imprensa de qualidade – “bibliotecas e jornalistas são aliados naturais” - e desenvolvimento da argumentação.

6. As pessoas têm um sentido de curiosidade natural e uma necessidade de ter voz no espaço público. Quando têm medo da complexidade e incerteza existentes no mundo e aceitam ideias sem espírito crítico, “a desinformação e o discurso de ódio prosperam”. Ora, “Esta curiosidade é algo que se pode desenvolver através da exposição a um leque mais alargado de ideias e materiais desde tenra idade, por exemplo, através das bibliotecas”. É importante que esta curiosidade seja alimentada pelo “valor do jornalismo de qualidade, da ciência ética e da informação fiável”.

7. A IA (Inteligência Artificial) acrescenta “um novo nível de complexidade ao funcionamento da Internet e à forma como a experimentamos”, pelo que é fundamental a partilha de “experiência e conhecimentos sobre ética da informação na conceção de sistemas de IA” e “o desenvolvimento da literacia em IA entre os utilizadores da Internet de todas as idades - algo que as bibliotecas estão bem posicionadas para apoiar”.

8. As bibliotecas são “os atores de referência na promoção do respeito e do interesse por informação de qualidade”, promovendo “a verificação dos factos, ajudando estudantes, investigadores e profissionais a aprender a encontrar a informação correta e dando às pessoas as ferramentas para se manterem seguras na internet. A nível local, por exemplo, quando os governos municipais estão a tentar desenvolver a inclusão e os direitos digitais, a biblioteca é muitas vezes o principal ator”.

9. O Relatório Preliminar destaca ainda a necessidade de as bibliotecas contribuírem para promover a “compreensão da integridade da Informação e questões conexas em todas as partes do mundo”, o que exige a criação de instrumentos e materiais diversos, que tenham em contam culturas e necessidades diferentes da Europa e América do Norte, geografias nas quais esta investigação tem estado centrada. 

10. A eficácia de um ecossistema de informação saudável que garanta a integridade da Informação pública implica a colaboração de uma variedade de intervenientes e as bibliotecas têm esta capacidade de mobilização. Apoiam ainda o jornalismo e meios de comunicação independentes, criam oportunidades de verificação de factos, proporcionam acesso aberto e publicações científicas abertas e formam utilizadores de Internet confiantes e seguros, valorizando “uma informação exata, coerente e fiável”.

Concluindo, quando se pretendem implementar soluções de baixo para cima (bottom-up) que envolvam o maior número de pessoas, as bibliotecas escolares que trabalham no terreno com as crianças e jovens, têm um papel fundamental no combate à poluição da informação (information pollution) – informações falsas, enganosas, manipuladas [3] - que se dissemina muito mais rapidamente do que a proveniente de fontes fiáveis e corrói a confiança nas instituições democráticas, gera oposição às políticas públicas (climáticas, de inclusão social…) e violações aos direitos humanos e dificulta o alcance da Agenda 2030.

Referências

  1. Fleming, Melissa. (2023). Healing Our Troubled Information Ecosystem. https://melissa-fleming.medium.com/healing-our-troubled-information-ecosystem-cf2e9e8a4bed
  2. (2023). Pillars of Information Integrity. https://repository.ifla.org/handle/123456789/3136
  3. Oslo Governance Centre. (2023). Information Integrity. https://www.undp.org/policy-centre/oslo/information-integrity
  4. 📷 [1.]

 

Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares (RCBE) de Santa Maria da Feira

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A Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares (RCBE) de Santa Maria da Feira, foi criada no ano 2000, após assinatura de um protocolo entre o Ministério da Educação e a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, através da sua Biblioteca Municipal e dos Agrupamentos de Escolas de Santa Maria da Feira.

 A RCBE é constituída por 34 Bibliotecas Escolares. Assumindo a sua missão no âmbito da promoção do livro e das literacias alinha com as políticas educativas municipais. É uma estrutura dinâmica de trabalho colaborativo e cooperativo entre a Biblioteca Municipal e as Bibliotecas Escolares, consolidada através da transferência dos catálogos informáticos individuais de cada uma das BE para um catálogo coletivo, pesquisável através da Internet, que encerra em cada registo a relação dos exemplares e a sua localização concreta. Desta forma, a produção de recursos de informação, torna-se uma realidade mais presente, na medida em que existe uma efetiva partilha de registos bibliográficos e a adoção das tabelas de autoridade utilizadas na Biblioteca Municipal. Esta iniciativa tem por base um dos grandes objetivos das Bibliotecas Escolares: fornecer informação organizada a fim de ajudar a alargar o conhecimento de base dos alunos dos diferentes níveis de ensino, transformando-os em adultos críticos, criativos e consumidores de bens culturais diferenciados, com competência para usar plenamente o direito da cidadania.

São objetivos da Biblioteca Municipal, em articulação com a Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares de Santa Maria da Feira:

  • Potenciar as sinergias existentes entre a Biblioteca Municipal e a Rede de Bibliotecas Escolares;

  • Acompanhar e estimular o desenvolvimento das Bibliotecas Escolares;

  • Gerir, de forma normalizada, o catálogo coletivo da Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares;

  • Realizar reuniões regulares com os Professores Bibliotecários e a Coordenadora Interconcelhia da Rede de Bibliotecas Escolares, que têm como finalidade a troca de experiências no âmbito da organização, da gestão e da dinamização de projetos, de acordo com os princípios técnicos e de biblioteconomia;

  • Promover empréstimos de recursos documentais entre a Biblioteca Municipal e as Bibliotecas Escolares;

  • Divulgar as atividades do serviço educativo junto dos coordenadores das BE, com especial destaque para a atividade intitulada “Estafeta de Contos: Conto (com)tigo!” em que contadores andarilhos da biblioteca municipal e das bibliotecas escolares difundem estórias e contos, apresentando o que de melhor se faz na área da promoção da leitura, partindo da Biblioteca Municipal e percorrendo as Bibliotecas Escolares do concelho;

  • Fomentar a partilha de boas práticas e a produção conjunta de recursos, criando condições de implementação, usando como um dos meios, por exemplo, o canal YouTube da RCBE.

Trabalho colaborativo e biblioteca escolar: uma aliança poderosa para o nosso desenvolvimento educativo

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No atual cenário educacional, o trabalho colaborativo desempenha um papel crucial no sucesso dos alunos e no crescimento das instituições de ensino. Mais do que uma simples tendência, o trabalho colaborativo nas escolas é uma necessidade premente para dar resposta às exigências crescentes que se fazem sentir. Quando as estruturas pedagógicas das escolas se unem em colaboração, elas têm o poder de criar experiências de aprendizagem mais ricas e significativas para os alunos.

Consciente dessa realidade, no papel de professora bibliotecária de quatro Bibliotecas, no Agrupamento de Escolas da Corga de Lobão, o meu compromisso é ir além do simples reconhecimento dessas necessidades. Em todas as iniciativas da Biblioteca, busco não apenas implementá-las, mas também criá-las em estreita articulação, valorizando, acima de tudo, o trabalho colaborativo com as equipas educativas de todos os anos de escolaridade. Iniciativas como "10 Minutos a Ler", "Miúdos a Votos", "Já sei ler", "Leitura em vai e vem", "Leitura Orientada com a Biblioteca Escolar", "Cidadania e Biblioteca Escolar", “Dia da Cultura Científica”, entre outras do Plano Anual de Atividades, são exemplos tangíveis dessa colaboração estreita e da parceria da Biblioteca com todos os docentes do Agrupamento. 

Acredito firmemente que é por meio dessa união de esforços que conseguiremos verdadeiramente enriquecer as experiências de aprendizagem dos alunos e promover um ambiente educativo mais dinâmico. Daí que as Candidaturas apresentadas e apoiadas pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) – Bibliotecas Digitais e Leituras com a Biblioteca – desempenham um papel crucial nesse processo, proporcionando oportunidades concretas para a implementação prática dessas ideias. Essas candidaturas não são apenas documentos formais; são expressões concretas do nosso compromisso coletivo com a inovação, a interdisciplinaridade e a promoção de práticas educacionais que transcendem as fronteiras tradicionais. Elas refletem a convicção comum de que o envolvimento conjunto de docentes, alinhados com objetivos comuns, é a chave para alcançar um impacto significativo na jornada educacional dos nossos alunos. Refira-se, ainda, que o sucesso dos projetos associados às Candidaturas, no nosso Agrupamento, não se limita ao período inicial de implementação (estendendo-se no tempo) e extrapola os anos de escolaridade inscritos (alargando-se a outros anos de escolaridade não previstos nos projetos iniciais), o que me deixa muito satisfeita e me motiva a continuar a apostar nesta forma de trabalhar com os meus colegas, que estão sempre recetivos e abertos a colaborar.

Na proposta da Candidatura Bibliotecas Digitais, proporcionamos formação certificada ao corpo docente, uma iniciativa conduzida por mim, professora bibliotecária, e um docente especializado em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) do Agrupamento. O propósito central foi impulsionar a criação de materiais e de recursos educativos em plataformas digitais que incentivassem a aprendizagem colaborativa, mas também fomentassem a interação e a participação ativa dos alunos. No âmbito da Candidatura Leituras com a Biblioteca, a nossa meta foi transcender as fronteiras convencionais das disciplinas, buscando – através da literacia da leitura, da informação e digital – tornar a aprendizagem mais eficaz, mas também mais envolvente. Esta abordagem procurou abraçar uma visão holística do conhecimento, interligando conceitos de diferentes disciplinas para criar uma compreensão mais profunda e contextualizada. Entendemos que ao articular os conteúdos de várias disciplinas, os alunos podem aplicar os seus conhecimentos de maneira mais eficaz e compreender como esses conceitos se relacionam com o mundo real.

Desta forma, as Bibliotecas Escolares que coordeno vão muito além de serem simples depósitos de livros e recursos; elas são centros de aprendizagem dinâmicos, amplamente reconhecidos pelo corpo docente como impulsionadores do trabalho colaborativo e da interdisciplinaridade. São espaços que proporcionam um ambiente propício para a interação entre professores, alunos e recursos, tornando-se locais ideais para a realização de pesquisas, discussões e desenvolvimento de projetos colaborativos.

Considero que, ao promover ativamente o trabalho colaborativo e ao aproveitar os recursos disponíveis na Biblioteca, estamos, na prática, a preparar os alunos para se destacarem num mundo cada vez mais complexo e interligado. Essa abordagem reflete não apenas o meu compromisso, mas sim um compromisso profundamente enraizado, no Agrupamento, de oferecer uma educação de qualidade. 

Ana Paula Couto
Professora Bibliotecária
Agrupamento de Escolas da Corga de Lobão, Santa Maria da Feira

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  1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
  2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
  3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

Celebrado protocolo da Rede de Bibliotecas de Vieira do Minho

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No dia 12 de dezembro, teve lugar a assinatura do protocolo da Rede de Bibliotecas de Vieira do Minho, celebrado entre o município de Vieira do Minho e o Agrupamento de Escolas Vieira de Araújo.

O protocolo foi assinado pelo presidente da Câmara, António Cardoso, e pelo diretor do Agrupamento de Escolas Vieira de Araújo, Fernando Gomes. A cerimónia contou ainda com a presença da coordenadora interconcelhia da Rede de Bibliotecas Escolares, Regina Campos, e da bibliotecária da Biblioteca Municipal Padre Alves Vieira, Susete Calisto.

Informalmente a Rede de Bibliotecas de Vieira do Minho (RBVM) já existia e, por via da assinatura deste protocolo, vê agora reforçados os seus objetivos: criar e dar continuidade à organização e gestão de projetos de intervenção e cooperação na área das bibliotecas, promover e estreitar a ligação entre os responsáveis da comunidade educativa local, entidades públicas e privadas, na prossecução do objetivo comum de promoção do livro e da leitura, promover a troca de experiências, entre os seus membros, no âmbito da organização, gestão, animação e dinamização das bibliotecas da rede concelhia.

Para além destes, a rede vai permitir constituir e manter on-line o Catálogo Coletivo Concelhio de Bibliotecas de Vieira do Minho e servir de suporte à educação, à formação, à investigação e à difusão cultural, mediante a criação de um portal que efetive o acesso à informação e estimule a produção e difusão das ações desenvolvidas, bem como fomentar o empréstimo na biblioteca municipal e escolares e incrementar políticas de aquisições que visem a otimização de recursos e a promoção da leitura e das literacias.

IFLA: Resposta estratégica de biblioteca à Inteligência Artificial

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1. Enquadramento

A 20 de novembro o AI SIG (Artificial Intelligence Special Interest Group/ Grupo Especial de Interesse em Inteligência Artificial) da IFLA publicou um documento de trabalho que pretende “apoiar a tomada de decisões locais sobre IA”, Desenvolvendo uma resposta estratégica de biblioteca à Inteligência Artificial [1], que está aberto a comentários e sugestões feitas no formulário disponível na fonte.

Resultou de um encontro presencial na Escola de Informação da Universidade de Sheffield, Inglaterra, focado na questão: “Inteligência Artificial: Onde é que ela se encaixa na sua estratégia de biblioteca?”. Neste os participantes, incluindo os que aderiram através da internet (até 250), apresentaram os seus pontos de vista [2].

O presente artigo baseia-se nestes dois documentos, sendo que o segundo inclui PowerPoint do encontro [3]. São todos de Andrew Cox, coordenador do IFLA AI SIG e professor na Universidade de Sheffield.

2. Questões de informação e éticas

O documento [1] refere uma série de ameaças de modelos de IA, como o Chat GPT, das quais se destacam cinco:

  • Criação descontrolada de notícias falsas, para manipular e polarizar a opinião pública, espalhar desinformação e minar a democracia, ou mesmo incitar à violência”;

  • Violação de “direitos autorais ao usar texto e dados sem permissão (Dreben, 2023). Poucos provedores de LLM disponibilizaram abertamente detalhes dos dados de treino” (opacidade) - LLM (Large Language Model) corresponde ao uso de técnicas de aprendizagem profunda e de dados de grande dimensão (big data);

  • Violação de dados pessoais (privacidade) e aumento da vigilância das grandes tecnológicas;

  • Impactos ambientais significativos, é o novo petróleo também pela sua pegada ambiental;

  • Agravamento das divisões digitais e sociais.

Quais são os riscos potenciais da IA e como é que a biblioteca – inclusive a sua, local - pode contribuir para mitiga-los é uma das questões do documento [1], que, a partir de uma análise SWOT explora as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças da IA para as bibliotecas.

No âmbito das fraquezas há duas que importa destacar:

  • Ainda não existem ferramentas de IA para bibliotecas;

  • “IA impulsionada pelas Big Tech muitas vezes entram em conflito com os valores fundamentais da biblioteca, como a proteção da privacidade, a remoção de preconceitos, o acesso para todos e o livre acesso” e com as questões do poder político, da democracia ameaçada pelas grandes empresas privadas de tecnologias.

No âmbito das oportunidades, para além das apresentadas infra, colaborar com cientistas de dados.

 3. Qual o impacto de IA nas bibliotecas?

“As bibliotecas adotarão a IA de formas que se alinhem com as funções existentes” e tornando as suas coleções mais acessíveis.

Pode “mudar o trabalho diário de conhecimento, por exemplo, através da tradução, do resumo e da geração de texto” e de “ferramentas como ResearchRabbit, Scite, Elicit e Openread que realizam tarefas de apoio à revisão de literatura”, relacionando artigos de forma personalizada.

Pode mudar o funcionamento da biblioteca através da introdução de sistemas de biblioteca backend que permite ao administrador da biblioteca gerir utilizadores, livros, requisições e devoluções de forma simplificada e à distância – e.g. RPA (Robotic Process Automation) para processar dados bibliográficos. Também ao nível do marketing é possível adaptação de “textos às necessidades de públicos específicos”. Junto aos utilizadores, chatbots podem responder a pedidos de consulta e a dúvidas, recolher e tratar os seus dados e apoia-los em tarefas de rotina, bem como prever padrões do seu comportamento e apoiar decisões do bibliotecário. O artigo refere bibliotecas que já existem em que robôs fazem o inventário e aplicam o Sistema Automatizado de Armazenamento e Recuperação (ASRS) de recursos, através de prateleiras inteligentes e automatizadas - que poderiam existir no subsolo da biblioteca – e que entregam documentos ao utilizador sob pedido.

Estas novas valências melhoram a eficiência da biblioteca ou tornam-na irrelevante?

Na “Tabela 1. Impactos da IA nas operações da biblioteca” e na “Tabela 2. Serviços de IA” é especificada a previsão das principais mudanças na gestão e serviços da biblioteca [1].

4. Que competências são necessárias para interagir com IA?

A apresentação [3] evoca o conceito de Competências de Fusão/ Fusion Skills (Daugherty & Wilson, 2018) que remete para o carater holístico da aprendizagem:

“As competências de fusão combinam [numa mesma aprendizagem] educação, artes, design, tecnologia e negócios, refletindo a forma como a vida é transformada pela fusão destas disciplinas, gerando oportunidades para novas aprendizagens, negócios, produtos e serviços” e é “sobretudo orientada para o processo” (Find Fusion, 2023) [4]. Neste contexto, o importante é trabalhar em colaboração com IA: 1. Treinando-a; 2. Delegando tarefas ou explicando os resultados a atingir; 3. Apoiando a sua utilização responsável para não prejudicar os humanos (Wilson & Daugherty, 2018) [5].

A “interrogação inteligente - Saber qual a melhor forma de fazer perguntas à IA, em todos os níveis de abstração, para obter as informações de que necessitamos”, tal como a “capacitação baseada em bots” e a “rehumanização do tempo - A capacidade de aumentar o tempo disponível para tarefas claramente humanas, como interações interpessoais, criatividade e tomada de decisões” são algumas das competências de fusão, mencionadas na apresentação (Daugherty & Wilson, 2018) [3].

Esta nova abordagem reformula o quadro de 10 competências para prosperar na Quarta Revolução Industrial proposto, em 2016, pelo Fórum Económico Mundial:

“1. Resolução de problemas complexos; 2. Pensamento crítico; 3. Criatividade; 4. Gestão de pessoas; 5. Coordenação com os outros; 6. Inteligência emocional; 7. Julgamento e tomada de decisões; 8. Orientação para o serviço; 9. Negociação; 10. Flexibilidade cognitiva” [6].

Este quadro resultou da consulta a diretores de recursos humanos e principais empregadores globais e foi publicado no relatório, O Futuro do Emprego apresentado neste Fórum. Dedicado à Quarta Revolução Industrial, vaticinava: “Daqui a cinco anos, mais de um terço das competências (35%) consideradas importantes na força de trabalho atual terão mudado” [6].

Em Portugal, O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória responde às competências exigidas no mundo atual?

5. Literacias de IA

De acordo com as conclusões da apresentação [3], profissionais da informação podem desempenhar as seguintes tarefas:

  • Escrever código (programador);

  • Criar e gerir dados usados no processo de aprendizagem de IA (gestor de IA);

  • Trabalhar com RPA (Robotic Process Automation/ Automação Robótica de Processos), interagindo e resolvendo, na retaguarda, incidentes de tarefas automatizadas com IA (assistente de IA);

  • Criar comunidades de IA e educar com/ para IA, na qualidade de formador, tarefa que pode ser partilhada com a biblioteca [2].

A literacia em IA faz parte da literacia da informação e media e “é a compreensão da IA em qualquer uma das suas manifestações, envolvendo a capacidade de ‘avaliar criticamente as tecnologias de IA; comunicar e colaborar de forma eficaz com IA; e usar a IA como ferramenta online, em casa e no local de trabalho’ (Long e Magerko, 2020)” [1]. Segundo o documento “literacia em IA passou rapidamente para o primeiro plano” [1] e deve estender-se à equipa e funcionários da biblioteca e utilizadores. Complementarmente, também é importante conhecer as perceções e o modo como os utilizadores usam IA, para além de desenvolver estudos sobre boas práticas.

O documento propõe que a IA seja desenvolvida de forma participativa, por todas as partes interessadas, inclusive com a colaboração da biblioteca e dos cidadãos [1].

 6. Modelo de pesquisa

IA generativa, como o Chat GPT, permite, de forma personalizada, redigir textos (ensaio, poema, candidatura de emprego/ projeto) em várias línguas, responder a perguntas, escrever código de um programa informático, criar imagens, resolver problemas de matemática e responde simulando conversas humanas.

Com base nele, Cox inquire se abre “Um novo paradigma de pesquisa?”, por frases ou instruções/ prompts em linguagem natural, diverso do da biblioteca (por palavras-chave: assunto, título, cota, coleção, autor, etc.).

Qual será o modelo de pesquisa da biblioteca inteligente?

Como pode a biblioteca tradicional adaptar-se a este novo modelo?

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 Referências

[1]. Cox, A. (2023, 20 Nov.). Developing a library strategic response to Artificial Intelligence. https://www.ifla.org/developing-a-library-strategic-response-to-artificial-intelligence/

[2]. Cox, A. (2023, Apr.). Library strategy and Artificial Intelligence. https://nationalcentreforai.jiscinvolve.org/wp/2023/06/05/library-strategy-and-artificial-intelligence/

[3]. Cox, A. (2023, Apr.). Artificial Intelligence: Where does it fit into your library strategy? https://drive.google.com/file/d/1uAvlt0Ucdcg8eQqNN5f0OXF1xHGpg_MF/view

[4]. Find Fusion. (2023). Fusion skills essential to success in the 21st century. https://www.culturesummit.com/fusion-skills-essential-to-success-in-the-21st-century/

[5]. Wilson, J. & Daugherty, P.. (2018). Collaborative Intelligence: Humans and AI Are Joining Forces. https://hbr.org/2018/07/collaborative-intelligence-humans-and-ai-are-joining-forces

[6]. World Economic Forum. (2016). The 10 skills you need to thrive in the Fourth Industrial Revolution. https://www.weforum.org/agenda/2016/01/the-10-skills-you-need-to-thrive-in-the-fourth-industri[1]al-revolution/

📷 [5]

De mãos dadas vamos mais longe…

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A 9 e 10 de novembro, do corrente ano, na Biblioteca Nacional e Universitária de Zagreb (Croácia) realizou-se o Segundo Congresso Internacional das Bibliotecas Verdes: Let’s go green!

Esta conferência tem como objetivos: uma mostra e partilha de Boas Práticas, a exploração de programas de bibliotecas desenvolvidos no âmbito da Eco Literacia e, ainda, proporcionar a formação contínua dos profissionais para responderem às questões do Desenvolvimento Sustentável em bibliotecas. A conferência pretende de igual modo promover a partilha entre especialistas e investigadores nesta área para facilitar a criação e desenvolvimento de ações para um ambiente mais saudável para as futuras gerações.

Um painel de especialistas foi convidado para dar conta do que se tem investigado cientificamente nesta área; destacamos:

  • Doutor Harri Sahavirta (key speaker) com a comunicação “Some Accurate Trends in Sustainability in Library Framework”;

  • Doutora Rossana Morriello com “Going green in the intelligent library: promoting sustainability through digital transformation";

  • E ainda a tese apresentada pela Prof. Doutora Naymeh Shaghaei “Library as a Sustainable Leader: Creating sustainable Library and Resilient Communities”.

fotoOlga_1.jpgTambém foram muito interessantes as apresentações da Dr. Maria Cassella e da Dolores Mumellas respetivamente sobre “Citizen Science Support” e 2 Citizen Scienc Kit” (o que costumamos denominar de Maletas Pedagógicas), estas duas comunicações foram fundamentadas pela investigação sobre a importância de divulgar o conhecimento científico para o cidadão comum[1].  Recomendamos a consulta do portal SCISTARTER Science we can do together.

No segundo dia, foi dedicado a apresentação de práticas das diversas tipologias de bibliotecas. Salientamos a comunicação da diretora da British Library, Maja Maričević “ Harnessing the Power of Libraries to Convene for Climate Action” ; a comunicação sobre a experiência de uma bibliotecas de sementes “Seed Library in Slovenian Public Libraries”  e destacamos ainda  a “Eco-BiblioTECH , um projeto de parceria entre biblioteca pública e escolas do 1º ciclo.

Foi neste segundo dia, que a equipa portuguesa partilhou o seu trabalho: «The sustainable lightness of the school library”[2] um exemplo do trabalho colaborativo entre a Biblioteca Pública de Palmela, as bibliotecas escolares e a Agência da Energia e do Ambiente da Arrábida.

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Só foi possível apresentar este trabalho porque no concelho de Palmela trabalhamos efetivamente juntos em prol de uma Terra para todos.

A conferência foi muito profícua na reflexão crítica partilhada através de dois «worshops» em que os participantes, organizados em pequenos grupos, tiveram de discutir/debater os problemas apresentados e apresentar soluções com propostas específicas e planeadas.

As conclusões no final deste congresso são as seguintes (apresenta-se aqui uma tradução livre):

  • Edifícios verdes e serviços verdes são igualmente importantes;

  • Temos de considerar em conjunto as três facetas da sustentabilidade: a ambiental, a económica e a social;

  • A sustentabilidade é um processo, um modo de vida, não é um objetivo a curto prazo;

  • As bibliotecas têm de avaliar e reavaliar as suas ações para atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável;

  • A Agenda 2030 da UN será somente atingida se a incorporarmos no nosso quotidiano.

Por isso em Palmela continuaremos a trabalhar colaborativamente porque só assim conseguiremos uma sociedade mais sustentável e mais feliz!

Olga Cidades
Bibliotecária do SABE de Palmela

Referências

[1] EU através do portal https://eu-citizen.science/ 

[2] A Sustentável leveza da Biblioteca Escolar

Capa📷 Vitor Oliveira from Torres Vedras, PORTUGALCC BY-SA 2.0

(Re)criar a Biblioteca Escolar: EB Frei Manuel Cardoso em festa!

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A Escola Básica Frei Manuel Cardoso, do Agrupamento de Escolas de Fronteira esteve em festa na tarde do dia 26 de outubro: após um processo de requalificação do espaço, o qual contou com o apoio da RBE e investimento do Agrupamento, o espaço foi apresentado à comunidade educativa.

A biblioteca escolar passou a disponibilizar um espaço flexível, moderno e adaptado às necessidades atuais dos alunos. Para isso, foi adquirido mobiliário novo, funcional, permitindo uma utilização e transformação constante do espaço. Uma biblioteca moderna, com um fundo documental atualizado e equipamento atual e atrativo, para toda a comunidade.

A iniciativa contou com a presença da Dra. Fátima Bonzinho, em representação da RBE, Dra. Maria Mário Murteira e Dra. Ana Martins em representação da DGEstE; o Diretor do Agrupamento, Dr. João Pedro Polido; Sub- Diretora do Agrupamento, Dra. Maria do Céu Peças; Vereadora da Educação Dra. Rita Teixeira Rodrigues; Presidente da Freguesia de Fronteira, Sr. António Luís Palrão; para além de outros convidados, Técnica Superior da Biblioteca Municipal; Professores; Alunos; Assistentes Técnicos e Operacionais.

O evento (Re) Criar a Biblioteca foi integrado nas comemorações do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE) e contou com uma animação, dinamizada pelo S’Em Fronteiras, Grupo de Teatro Escolar do Agrupamento, sob a encenação de Maria de Campos, baseada nas seguintes obras:

  • Todos os escritores do mundo têm a cabeça cheia de piolhos de José Luís Peixoto
  • A fada Palavrinha e o Gigante das Bibliotecas, de Luísa Ducla Soares
  • O morcego bibliotecário, de Cármen Zita Ferreira
  • A Biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente, de Mafalda Milhões.

A Professora Bibliotecária, Ana Maria Taveira apresentou o projeto @treve-te +, que o Agrupamento de Escolas de Fronteira e a Biblioteca Escolar viram aprovado e financiado pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) e que permitiu a requalificação do espaço. Este projeto permitiu a criação de um canal digital, onde são disponibilizadas videoaulas de apoio ao desenvolvimento curricular, uma mais-valia para toda a comunidade escolar.

A cerimónia culminou com o descerramento de uma placa onde ficou registado o reconhecimento pelo apoio do Diretor do Agrupamento, Dr. João Pedro Polido.

Uma de mim… a mais

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Viajar pelo paralelo e conseguir estar em dois lugares ao mesmo tempo é coisa que só um professor bibliotecário consegue. Dias vêm e vão em que colegas se cruzam com a frasezinha engraçada do “ Já não te via há uns dias” e a resposta salta sem travão “Tenho estado sempre na… loja”.

Ser professor bibliotecário é chegar mais cedo, criar coisas malucas como as sessões de “Leitura Criminal a que chamamos “Criminal Me”, é estar ao segundo em prontidão como os bombeiros. Mas, acima de tudo, é poder contactar com jovens de diferentes idades, que de uma forma geral querem bem à biblioteca e estão curiosos. Ensinam muito também.

O mago professor bibliotecário explora essa curiosidade, espalhando pó de estrela em forma de títulos de livros, ideias para projetos, momentos de risota e de leitura de jogo e até de crochet e de tricot. Porque a biblioteca é o espaço para tudo. Até para descansar. Por vezes, basta sentar em frente ao aquário e relaxar. Reequilibrar energias.

São muitas as vezes, porém, em que a sensação de que se faz pouco vem, por sermos muito críticos de nós mesmos e, ao mesmo tempo, egoicos ao ponto de pensar que podemos mudar o mundo se multiplicarmos eventos. Precisava de me clonar. É essa a sensação. Para poder assegurar as oito horitas de sono, algumas para comer e outras para me divertir. A biblioteca é uma nave gigante que poucos veem. Leva tudo a todo o lado, assim o queiram.

O melhor que levamos são mesmo os momentos com os alunos e colegas que, ávidos de ver, de ler, de escrever, de apresentar em voz alta, de jogar xadrez, damas, party and company, mikado, superT ou UNO e muito, muito mais.

Este ano, a escola começou tão bem… recebemos 1400 pimpolhos, à vez, no mês de outubro todinho, como nos anos anteriores, de resto. Mas a energia que havia no ar era mais leve. Misturámos horas de conto fantásticas, e houve até quem viesse com os olhitos brilhantes e um sorriso doce dizer, “E quando aprendemos francês?”. Tinha esquecido que, no final do ano letivo passado, em junho, quando todos partem, ficam eles, os do 1º ciclo. Num tempo quente que convida a praia… e foi então que a BE virou palco de músicas e comptines em francês para os do 2ºH. E como eles aprendiam bem… cantando e dançando.

Tenho mesmo que ir para o paralelo e cocriar o meu clone… muitos clones de muitos de nós. Não por ego, mas para chegarmos a todos os jovens e crianças do país.

A biblioteca é o colo da escola onde os abraços se dão, os sorrisos se espalham.

Cristina Rocha,
professora bibliotecária do AE da Boa Água, Sesimbra
Novembro 2023

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  1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
  2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
  3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

 

MIBE 2023: A Rede de Bibliotecas de Loulé Transforma Livros em Capas Vivas

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A Rede de Bibliotecas do Concelho de Loulé comemorou o MIBE 2023 (Mês Internacional das Bibliotecas Escolares) com uma atividade inspiradora: "Capas Vivas". Sob o lema "Biblioteca escolar: o meu lugar preferido para criar e imaginar", os utilizadores das bibliotecas do concelho foram convidados a dar asas à sua criatividade e transformar os seus livros favoritos em verdadeiras “obras de arte”. Deram vida às personagens, cenários e histórias que mais os marcaram. O resultado foi uma profusão de criatividade, que abrangeu os utilizadores de todas as idades.

Sendo o Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE) um evento global que visa destacar a importância das bibliotecas nas escolas, incentivando a leitura e a criatividade entre os alunos, esta iniciativa foi uma oportunidade para promover a diversidade literária, a imaginação e a colaboração.

A fim de partilhar esta expressão incrível de criatividade com um público mais amplo, a Rede de Bibliotecas de Loulé organizou uma exposição virtual. Neste espaço em linha, é possível admirar as "Capas Vivas" criadas pelos jovens artistas.


Ver grande

Rede de bibliotecas de Oliveira de Azeméis: um trabalho partilhado

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O Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE) da Biblioteca Municipal Ferreira de Castro (BMFC) funciona desde 2008, com protocolo celebrado entre a autarquia e o Ministério da Educação, apoiando diretamente a Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares de Oliveira de Azeméis.

Esta rede foi formalmente criada no âmbito da Candidatura Ideias com Mérito que envolveu todas as bibliotecas escolares do concelho de Oliveira de Azeméis e a BMFC, aprovada pela RBE, tendo nesse contexto sido criado o catálogo coletivo que integra as coleções das diferentes Bibliotecas Escolares e da Biblioteca Municipal. Visa-se, assim, estimular o empréstimo entre escolas e entre estas e a Biblioteca Municipal, promover e facilitar a circulação da informação documental existente, desenvolver uma política racional das aquisições para as coleções das bibliotecas e incrementar práticas colaborativas entre escolas, instituições e comunidade em geral, passando a política de desenvolvimento das coleções a ser pensada em conjunto.

O SABE da BMFC tem a particularidade de congregar uma rede de parcerias e de trabalho colaborativo que envolve todas as bibliotecas escolares do Município, bem como o Centro de Formação de Associação de Escolas dos Concelhos de Arouca, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis (AVCOA) cujo papel é crucial na formação e na concretização de múltiplas atividades. Os diversos parceiros reúnem quinzenalmente para planificar em conjunto, discutir e analisar soluções para problemas comuns, fazer formação conjunta quer na vertente mais técnica do tratamento documental, quer, por exemplo, na mediação da leitura, assim como para pôr projetos no terreno…

Imagem1.pngEsta rede tem um plano de atividades concelhio, concebido e desenvolvido de forma colaborativa, destacando-se o Chá literário, atividade integrada na Semana da Leitura, destinado a docentes e convidados locais que partilham experiências de leitura e leituras durante uma tarde, o Campeonato de Pesquisa na Internet, PesquisOAz, inicialmente destinado apenas aos alunos dos 2.º, 3.º CEB e Ensino Secundário do Município, tendo, desde o ano letivo 2021/2022, alargado aos alunos dos agrupamentos de escolas de sete concelhos de Entre Douro e Vouga. Na sua versão atual, já convidou outros concelhos e terá uma versão também para docentes.

As colaborações desta rede não se esgotam no âmbito do SABE, embora sejam sempre discutidas e planificadas nesse contexto, dada a tradição de reunir amiúde todos os parceiros para trabalho conjunto. Assim, temos, por exemplo, a colaboração anual recorrente das Bibliotecas Escolares com o município e a BMFC na Semana da Criança ou a colaboração anual destas com o CFAE AVCOA na Maratona Bibliotecária (anteriormente 24 horas das Bibliotecas Escolares), acabando por o trabalho colaborativo desta rede estar espelhado a diferentes níveis. Na verdade, a tónica desta rede e o que a destaca é o ambiente de apoio, interajuda e colaboração.

SABE

Configurar as bibliotecas para serem o melhor espaço na escola

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Demos uma espreitadela a bibliotecas escolares por toda a América para ver de que forma os bibliotecários estão a reestruturar o espaço para apoiar o crescimento social, emocional e criativo dos alunos, dando ao mesmo tempo prioridade a excelentes leituras.

Todos os dias, mais de 500 alunos visitam a biblioteca da Campbell High School em Smyrna, Geórgia - muitas vezes antes do início do dia escolar ou durante o período de almoço. Por outras palavras, os alunos optam por passar "o pouco tempo não estruturado que têm" na biblioteca, diz Andy Spinks, um dos dois especialistas em bibliotecas da escola.

A biblioteca recentemente renovada - agora conhecida como Learning Commons - é um centro polivalente espaçoso e luminoso dentro da escola. Há mesas de café onde as crianças podem trabalhar em conjunto; assentos confortáveis e flexíveis; um espaço de criação onde os alunos podem explorar atividades como costura e joalharia; um estúdio de gravação e produção de áudio; e um estúdio de produção de vídeo onde as crianças podem criar TikToks ou vídeos do YouTube utilizando os seus telemóveis ou computadores portáteis fornecidos pela escola. Está muito longe do espaço que costumava ser (uma folha de presenças de 2008 registou apenas 21 alunos a entrar na biblioteca num dia).

"É um local onde os alunos se juntam, interagem e constroem uma comunidade", afirma Spinks. Ouço frequentemente os adultos queixarem-se de que os adolescentes estão "sempre a olhar para o telemóvel" e não conseguem interagir com as pessoas cara a cara, mas não é isso que vejo. Vejo-os a conversar, a trabalhar em projetos de grupo, a jogar xadrez e Uno e a exercitar a sua criatividade de forma colaborativa. Até o tempo que passam no ecrã - a jogar jogos de vídeo, a fazer vídeos e a gravar música - é colaborativo".

Spinks e outros bibliotecários com ideias semelhantes em toda a América estão a transformar as bibliotecas escolares de repositórios silenciosos e sóbrios de conhecimento em espaços vibrantes que acolhem as crianças e encorajam "a exploração, a criação e a colaboração", escreve a investigadora e antiga professora Beth Holland. Através de uma planificação cuidadosa e com a ajuda do contributo dos alunos, a biblioteca da Escola Secundária Campbell, e outras semelhantes, oferecem um refúgio indispensável para escapar à agitação do dia a dia, servindo de núcleo de apoio a todo o tipo de necessidades sociais, emocionais e criativas - ao mesmo tempo que proporcionam acesso a bons livros.

Para termos uma ideia de como as escolas estão a repensar as bibliotecas, falámos com bibliotecários e especialistas em bibliotecas de todo o país sobre as soluções criativas que estão a utilizar para transformarem as bibliotecas nos melhores locais para estar na escola.

Colocando as crianças no centro

Na A. P. Giannini Middle School em São Francisco, quase metade dos livros trazidos para a coleção da escola provêm de pedidos dos alunos, diz a professora bibliotecária Shannon Engelbrecht. Se um miúdo chega e pergunta: "Tem este livro?" e eu respondo: "Não tenho; preencha a folha de requisição", recebemo-lo numa semana através do sistema de encomendas rápidas". O mesmo acontece com o espaço de criação, maioritariamente abastecido com artigos que os miúdos pedem, comprados a partir de um orçamento fornecido pela Associação de Pais.

"Vou ao Dollar Tree e vejo se têm máquinas de fazer pompons para que o que temos no centro de criação seja o que os alunos pediram", diz Engelbrecht. Assim, é muito mais provável que queiram ler um livro ou recomendá-lo aos amigos e dizer: "Escolhi este livro para a biblioteca. Devias experimentar". Ou 'Já experimentaste uma máquina de fazer pompons?'".

Depois de ter concluído uma avaliação das necessidades dos alunos, o bibliotecário Christopher Stewart, de Washington, D.C., começou a fazer pequenas alterações na biblioteca da escola, exibindo, por exemplo, tecidos e arte relacionados com as várias culturas dos alunos. "Quero que eles façam parte dela", diz Stewart. "Encomendar tecido afro-americano [para expor nos moldes de vestuário], encomendar arte do México que represente os alunos. Não basta ter uma coleção de livros que seja representativa. Queria garantir que os alunos se vissem não só nas páginas dos livros, mas também no mobiliário e na arte."

Stewart também contrata estudantes para agirem como "embaixadores da marca da biblioteca", funcionando como uma espécie de painel de pesquisa de mercado com informações sobre a coleção de livros da biblioteca, tipos de programação que gostariam de ver e seleções para o clube de leitura, entre outras coisas. "É bonito porque eles são os ouvidos dos seus pares", diz. "Está a mostrar intencionalidade da parte da biblioteca. Porque não quero dar-vos o que acho que devem ter; quero dar-vos o que querem e precisam."

Reestruturação para a criatividade e até algum barulho

As bibliotecas do Herricks Union Free School District em Long Island, Nova Iorque, nem sempre são silenciosas - e isso é intencional, diz Michael Imondi, diretor de ELA, Leitura e Serviços de Biblioteca do ensino básico e secundário. Os dias de sussurros entre as prateleiras já lá vão e quando o distrito decidiu renovar as suas bibliotecas, as prioridades de design centraram-se nos quatro Cs - comunicação, colaboração, criatividade e pensamento crítico. "Este não é um espaço calmo", diz ele. "É um espaço de trabalho, um espaço de colaboração".

Existem mesas grandes para incentivar a colaboração dos alunos, bem como salas de estudo silenciosas onde as crianças podem trabalhar de forma independente. Na biblioteca da escola secundária, alguns tampos de mesa são quadros brancos nos quais se pode escrever diretamente quando se planificam projetos de grupo ou se traça um mapa de ideias. Um pequeno ajuste no nome - de biblioteca para Library Learning Suite - ajudou a enfatizar o novo foco. "As palavras são importantes", diz Imondi. Ter a palavra "aprendizagem" é importante porque é isso que está a acontecer agora. Quer venha ler um romance da prateleira ou utilize a nossa impressora 3D para construir algo para a sua aula de ciências, é um espaço de aprendizagem."

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Na biblioteca da Escola Secundária de Campbell, Spinks diz que uma das grandes mudanças nos últimos anos diz respeito ao papel fundamental das bibliotecas como espaços "principalmente preocupados com a informação que os alunos recebem". Agora, estão "a concentrar-se mais em fazer coisas, produzir informação e meios de comunicação". Uma dessas áreas é a das artes criativas: Spinks ficou surpreendido com o talento que os estudantes demonstraram nos estúdios de áudio e produção da biblioteca.

"Estes miúdos são tão talentosos, tão criativos", diz Spinks. Inicialmente, pensou que o estúdio poderia não ser muito utilizado durante o dia de escola, porque os alunos precisariam de uma ou duas horas para fazer qualquer coisa. Mas eles continuam a surpreendê-lo com o que são capazes de fazer em curtos períodos de tempo: "Eles chegam e, durante um bloco de almoço de 25 minutos, podem carregar a música, fazer um vídeo e ter algo para partilhar com os amigos."

Bibliotecas onde as crianças descontraem

Depois de se aperceber de que os alunos precisavam de um "espaço que fosse só deles" onde pudessem processar as suas emoções em segurança, Stewart criou uma sala de paz, amor e meditação dentro da biblioteca. "É o centro", diz ele. "Um lugar para não se sentirem julgados, para sentirem muito amor e para se sentirem aconchegados." Uma pausa bem-vinda e necessária do stress do mundo exterior, com música relaxante e uma fonte de água, também funciona como um local para sessões de educação para a justiça, bem como uma sala aberta que os conselheiros e terapeutas utilizam para atender às necessidades da comunidade escolar.

Criar uma zona livre de preconceitos no interior da biblioteca é também uma prioridade para Engelbrecht. Precisa de utilizar um dos computadores de secretária para terminar os trabalhos de casa antes da aula? Isso não é um problema. Está a ter dificuldade em manter os olhos abertos? A Engelbrecht não se importa que os alunos adormeçam ocasionalmente no grande sofá em forma de U no centro da sala - tem capacidade para cerca de sete crianças sentadas, e ela não lhe diz para manter os pés no chão. "Nunca se pode fazer isso na escola porque não é suposto pôr os pés em cima da mobília", diz ela. "Mas nós temos três peças de mobiliário especificamente para pôr os pés em cima".

Ainda assim, livre de preconceitos não significa sem regras, diz ela. Engelbrecht vai a todas as turmas de inglês uma vez por mês e dá diferentes lições sobre media, tecnologia, literacia digital e cidadania. O seu lema é "Assumir a melhor intenção, equidade de espaço, coração bondoso". As conversas que tem com os alunos sobre tudo, desde o cyberbullying a como reagir quando alguém nos faz sentir desconfortáveis, são cruciais para criar relações de confiança e estabelecer a biblioteca como um porto seguro.

Entretanto, nos estados onde as proibições de livros estão em vigor, falámos com bibliotecários que estão a encontrar formas de manter os seus espaços acolhedores e inclusivos - através, por exemplo, de exposições de livros que realçam diferentes culturas, valores e identidades.

"Todas as crianças merecem ir à biblioteca e encontrar um livro com alguém que se pareça com elas, ou que aja como elas, ou que tenha alguma semelhança com elas", diz Jamie Gregory, bibliotecária numa escola privada na Carolina do Sul. "Penso que é importante que a coleção da nossa biblioteca reflita a nossa comunidade, mas deve continuar a ser diversificada, para que os alunos possam aprender que não há pessoas de quem devam ter medo ou que os querem apanhar. Todos os tipos de comunidades merecem uma representação justa".

"A literatura é a prioridade. A coleção de livros impressos e eletrónicos é a prioridade", afirma Boyd. "A segunda prioridade é o acesso à tecnologia, para que os alunos estejam em igualdade de circunstâncias com outros alunos de todo o distrito e de todo o país. Quero certificar-me de que as crianças têm um acesso claro aos materiais, para que possam aprender e descobrir a independência, e não apenas através de uma tarefa na sala de aula."

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Manter um olhar atento sobre os livros para que sejam relevantes, interessantes e populares continua a ser uma prioridade para todos os bibliotecários com quem falámos. Apesar de reduzir frequentemente a coleção, nenhum livro é desperdiçado na biblioteca da escola secundária de Stacy Nockowitz em Columbus, Ohio. Tudo o que é eliminado é oferecido aos alunos como parte de uma oferta de livros. A oferta deste ano deveria ter durado uma semana, mas as provisões só duraram dois dias porque os miúdos "ficaram loucos pelos livros", diz ela. Há alguns anos, falou-se muito sobre "Será que as bibliotecas vão deixar de ter livros? Vão passar a ser totalmente digitais? Esse tipo de coisas. Tomámos uma decisão muito consciente de não o fazer. Nunca pensámos nisso, porque os nossos filhos adoram ter livros físicos nas mãos."

O texto deste artigo foi traduzido com a autorização da Edutopia:

Tutt, P. (2023, 8 de agosto). Setting Up Libraries to Be the Best Space in School. Edutopia. https://www.edutopia.org/article/setting-up-libraries-to-be-the-best-space-in-school

Sobre Paige Tutt

Sou uma jornalista sediada em Nova Iorque que se tornou editora, designer de bolos personalizados, diretora de redes sociais/comunicações e que voltou a ser jornalista.

Tenho um mestrado do Emerson College em Escrita, Literatura e Edição, com especialização em Edição de Revistas Online. Obtive o meu bacharelato na Universidade de Binghamton em Inglês, Literatura Geral e Retórica.

As questões da diversidade, equidade, interseccionalidade e inclusão na educação são-me extremamente caras e próximas. Estou empenhada em tornar visíveis os desafios que os estudantes das comunidades marginalizadas - especialmente as crianças negras - enfrentam diariamente, criando e participando no discurso e, em última análise, trabalhando para erradicar estas questões.

São Brás de Alportel celebra a Magia da Leitura com o (En)leio das Histórias

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O evento (En)leio das Histórias esteve de volta às bibliotecas de São Brás de Alportel, entre os dias 25 e 27 de outubro e marcou a comemoração do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE). Os alunos do ensino pré-escolar e do 1.º Ciclo foram convidados a explorar as diferentes atividades lúdico-pedagógicas (Nós) relacionadas com a leitura e os livros:

NÓ DO CONTO- Era uma vez…

NÓ DA SURPRESA – Visita a… escola antes de Abril

NÓ DA ESCRITA- Enleia as palavras!

NÓ DA TROCA – Toma lá, dá cá!

NÓ DA ILUSTRAÇÃO – Títulos às avessas.

NÓ DA LEITURA – As aventuras de Cuscas!

NÓ DA TRANSMEDIA- As aventuras do Snoopy

cartaz_enleio_das_historias2023 - Ana Marta E. Bra

O (En)Leio das Histórias é uma iniciativa anual, promovida pela Rede de Bibliotecas do Concelho de São Brás de Alportel, com o apoio da Câmara Municipal de São Brás de Alportel e do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas.

Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - ecos de liberdade e transformação

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Na sequência do Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação, que teve lugar no dia 24 de outubro, nas instalações da Fundação Calouste Gulbenkian, ocorre refletir um pouco sobre a diversidade e a riqueza de ideias (e ideais) que foram, inevitavelmente, contagiando quem ali se encontrava. Essa riqueza e diversidade (transversalidade), essa liberdade e transformação serão, efetivamente, as pistas certas para o caminho que as bibliotecas escolares devem (continuar a) perseguir nos dias de hoje?

Diremos que sim, sem qualquer hesitação.

Como um ilustre orador confirmou, a biblioteca é (deve ser), o coração da escola. Que responsabilidade esta! É, porém, um coração especial, que pulsa livre, aberto, recetivo, pleno de recursos, ávido de partilha, diálogo e entrega.

Ser criança ou jovem no mundo atual é, à primeira vista, algo fascinante, repleto de maravilhas tecnológicas e barreiras derrubadas, muito para lá do alcance do visível. Mas, como quase sempre acontece, esse fascínio acarreta uma outra face, menos luminosa, na qual, nem tudo o que parece, é…

Como tão bem transmitiram alguns alunos convidados para o painel de partilha de ideias (e ideais), ao serem desafiados a identificar em si mesmos uma qualidade e um defeito, a dualidade dos conceitos e o “verso e o reverso” são uma realidade constante. Duas faces da mesma moeda, dilema, uma questão de perspetiva…

E a leitura, como vai? Como está a nossa relação com a palavra escrita? Sabemos que não é assunto pacífico, nem sequer consensual. Ir ou não ir à biblioteca escolar, eis a questão… O que tem para oferecer? Como são olhados os utilizadores? Que imagem passam para os seus pares? A questão da aceitação tem muito peso no meio juvenil.

O ato da leitura é solitário e o mundo chama-nos lá fora. Recolhimento e ruído não combinam. Em que ficamos? A contemporaneidade contém mais desafios do que podemos humanamente suportar. Como decidir se queremos apenas viver a nossa vida, no prazo que a natureza nos concedeu, ou se estamos tentados a experienciar memória de milhares de anos, desde que há registo gráfico, ou a alargar as nossas vivências através da imaginação dos escritores e dos conhecimentos que nos podem transmitir?

A leitura leva ao pensamento estruturado, estende os horizontes e facilita a competência escrita e a oralidade. Durante toda a nossa vida estas aptidões são essenciais para o exercício da nossa quota de cidadania, de forma independente, distintiva e única, contribuindo para o bem comum, a coesão e o desenvolvimento da sociedade, precisamente o contrário da tendência para a polaridade e o extremismo a que assistimos todos os dias.

Hoje, vendem-se ideias ao desbarato, porque são apenas opiniões pouco ou nada fundadas e fazem-se afirmações como se de verdades se tratasse, a um ritmo alucinante, à beira da náusea. Até para os mais avisados (e aqui a idade não conta) é necessário cautela e uma dose generosa de bom senso. Como fazer a triagem no enredado da teia (web) da sociedade da informação e da comunicação? Como distinguir o trigo do joio?

Cada vez mais, neste campo, a quantidade de conteúdos e a ineficácia da sua regulação, constituem fatores que dificultam exponencialmente a procura da qualidade, do que é fidedigno, correto, verdadeiro.

Os 15 minutos de fama de que falava Warhol, a que todos teríamos direito, um dia, foram completamente ultrapassados, a partir do momento em que todos podemos produzir conteúdos e publicá-los direta e gratuitamente. Uma fama perene, sem prazo, oferecida pela globalização, sem quaisquer custos…, mas os custos existem e são altos.

A pressa e a leveza dos dias que se sucedem tendem a precipitar-nos para atitudes irrefletidas e crédulas, e não combinam com o pensamento crítico e a capacidade analítica que tanta falta nos faz, enquanto sociedade. A Biblioteca Escolar assume uma responsabilidade acrescida, diríamos mesmo, basilar e inclui-se no conjunto de entidades cujos valores de “verdade e confiança”, validado por diversos estudos que colocam as bibliotecas e os museus em patamares iguais). Deste modo, a informação que a biblioteca escolar presta é digna de confiança, por ser credível – objetiva, rigorosa e equilibrada.

Foi tocante, em particular, a criatividade de alguns momentos.

Quem não gosta de uma boa história? E se, para além das palavras que escrevem a história, as personagens ganharem vida e contarem a história, emprestando o seu corpo e a sua voz, movimentando-se e encarnando seres outros, mágicos e enigmáticos, caricatos ou dramáticos, alimentando o nosso imaginário? Os elefantes dão boas histórias… e não se esquecem delas… por terem memória de elefante!

E não é que Arte e Ciência, afinal, andam de mãos dadas, tão próximas como velhas amigas? É algo comum um “artista” ser multifacetado, que a criação não conhece fronteiras. Um pintor que também é escritor… Uma compositora que também é performer… Um bailarino que também é cantor… Uma atriz que também é “graffiter”… Mas um(a) artista cientista ou um(a) cientista artista?!...  facto mais raro, capaz de surpreender…

Um orador confirmou-nos que sim, que têm existido pessoas de grande valor que combinam estes saberes. Têm de ser muito curiosas, estas pessoas extraordinárias. Querer saber, investigar, compreender, associar, criar, inventar, elaborar. São pessoas tais, que não esperam receitas, criam-nas, novinhas, sem precisar de instruções. Fogem à regra, pois então! Preferem estar do lado de fora da “caixa” e são maravilhosamente avessos a formatações… Talvez o termo “genial” seja o que melhor as caracteriza.

Estes seres notáveis contribuem para tornar o nosso mundo muito mais interessante, rico e emocionante. Até descobrem padrões ocultos na natureza e desvendam mistérios quiçá insondáveis para a maioria…

São seres livres e transformadores, capazes de nos inspirar.

Com um coração do tamanho do mundo, capaz de acolher todos em igualdade de acesso e oportunidades, queremos e cremos que assim sejam as nossas bibliotecas escolares, também elas capazes de nos inspirar.

IFLA: Declaração sobre bibliotecas e IA

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Potencial

Os sistemas de IA (Inteligência Artificial) têm potencial para transformar o modo como aprendemos/trabalhamos e vivemos e a gestão e serviços das bibliotecas na criação, classificação e pesquisa de conteúdo; assistência à aprendizagem e aprendizagem personalizada; realidade aumentada por IA; OCD (Optical Character Recognition/Reconhecimento Ótico de Caracteres); tradução automática e serviços mais acessíveis para todos.

Questões

No âmbito do uso de sistemas de IA em contexto de biblioteca escolar, há questões que se levantam:

  • Como é que os professores bibliotecários estão a comunicar aos alunos as potencialidades e os impactos de IA?
  • Estão a ensaiar novas formas de aprender baseada em investigação de IA, da qual os alunos são cobaias?
  • Ao familiarizarem-se precocemente com sistemas IA, criados para gerar/melhorar automaticamente conteúdos (texto, imagens, dados, códigos de programação…), os alunos poderão julgar, à primeira vista, que trabalhar não exige esforço?
  • Que competências de literacia de informação é que os professores bibliotecários ensinam aos alunos?
  • Incentivam a criação de informação/dados/História(s) sobre a comunidade local não contemplada na IA generalista e dominante?
  • Como é que os alunos estão a iniciar o seu próprio envolvimento intelectual (leitura/discussão/expressão) para que tenham pensamento crítico antes de utilizarem IA?
  • Como é que leem, escrevem e discutem factos e notícias, de modo a desenvolver o raciocínio e o espírito crítico?
  • Como é que podem procurar informação aprofundada, rigorosa e evitar resultados iguais e limitados?

Considerações

A declaração política da IFLA sobre Bibliotecas e IA estabelece considerações para a sua utilização com alunos e outros utilizadores:

  • “Deve estar sujeita a normas éticas claras (…), seguras [privacidade] e legais”;
  • Deve ser usada “significativamente”, no contexto de atividades relevantes para a vida diária dos jovens;
  • Deve ser acessível a todos e inclusiva, proporcionando “oportunidades equitativas de aprendizagem ao longo da vida, particularmente para as populações vulneráveis”.

Qual é o papel das bibliotecas e do professor bibliotecário?

A declaração política da IFLA sobre Bibliotecas e IA define o papel que os bibliotecários – e o professor bibliotecário - podem desempenhar no setor da IA.

1.

É necessário reforçar a MIL (Media and Information Literacy/Literacia Mediática e da Informação), de que faz parte a “literacia em IA” e, segundo a IFLA, esta inclui a compreensão de:

  • Como funciona/Qual é a lógica e limitações de IA e ML (machine learning/ aprendizagem automática) e dos algoritmos (“literacia algorítmica”, conforme documento) na forma como os utilizadores acedem e recebem informação;
  • Potenciais impactos sociais da IA, especialmente em direitos humanos;
  • Competências de gestão e proteção de dados pessoais – privacidade e ética;
  • Literacia mediática e da informação.

Neste contexto, os bibliotecários podem alargar as parcerias na área das tecnologias e da literacia algorítmica e digital e participar em “debates políticos sobre o que significa a IA ser utilizada ‘para o bem’”.

Para saberem ajustar os seus serviços à evolução das necessidades da sociedade, do mercado de trabalho e dos seus utilizadores, é importante que os bibliotecários reforcem a sua formação no setor.

2.

É fundamental que as iniciativas de literacia em IA sejam acessíveis, para que todos possam beneficiar - e não ser prejudicados – e fazer escolhas significativas de aplicações de IA, designadamente os grupos mais vulneráveis. Porquê?

Para:

  • “Promover a participação informada do público no diálogo político e na tomada de decisões em matéria de IA”
  • “Incentivar a transparência”, a qual deve prever “a capacidade de contestar”/reclamar o uso indevido de IA.

3.

Para além destas recomendações, a declaração da IFLA sobre Bibliotecas e IA define condições para a utilização e a aquisição de tecnologias de IA em contexto de biblioteca:

  • “Deve estar sujeita a normas éticas claras e salvaguardar os direitos dos seus utilizadores”;
  • Deve cumprir “os requisitos legais e éticos em matéria de privacidade e acessibilidade”.

Qual é o papel de associações de bibliotecas, formadores e governos?

1. Apresenta recomendações às associações de bibliotecas e formadores, das quais se destaca:

  • Defender a intervenção das bibliotecas na adaptação dos sistemas educativos às novas exigências no mercado de trabalho que a IA pode trazer;
  • “Colaborar com investigadores e programadores de IA para criar aplicações para uso das bibliotecas, que cumpram as normas éticas e de privacidade e respondam especificamente às necessidades das bibliotecas e dos seus utilizadores”;
  • Promover fóruns de partilha e “intercâmbio de boas práticas sobre a utilização ética das tecnologias de IA nas bibliotecas”.

A formação e a experiência destes profissionais em qualidade dos dados, curadoria, privacidade e uso ético de informação e literacia MIL habilita-os para esta intervenção.

2. E apresenta aos governos recomendações sobre IA:

  • Negociar com os criadores e empresas de ferramentas de IA, para que incluam exceções aos direitos de autor, para que possam ser usadas para fins de educação e investigação;
  • Dotar as “bibliotecas das infraestruturas e tecnologias necessárias” para uso de IA;
  • Assegurar que a regulamentação/legislação em IA “proteja os princípios da privacidade ou da equidade”, salvaguardando o interesse público/social da IA.

O SIG (Special Interest Group/Grupo de Interesse Especial) de IA da IFLA trabalha no sentido de implementar as recomendações para a utilização de tecnologias de IA no setor das bibliotecas, conforme constam da Declaração sobre Bibliotecas e IA da IFLA, acrescentando-lhe valor e impacto.

Publicou, a 30 de junho, um recurso não técnico sobre IA que pode ser útil aos professores bibliotecários. Apresenta um conjunto de tópicos simples, com bibliografia atual e um glossário, que pode ajudar a estruturar atividades com alunos [3].

A dinamização destas atividades é importante porque permite conhecer as perceções e utilizações dos jovens e permitem que eles saibam como foi construída, funciona, quais as melhores ferramentas, para o que se deve – e não deve – usá-la, que desafios éticos levanta, entre muitos outros aspetos. 

Referências

  1. (2020). IFLA Statement on Libraries and Artificial Intelligence. International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.facebook.com/photo/?fbid=4003466199682295&set=a.598622580166691
  2. (2020). IFLA Statement on Libraries and Artificial Intelligence. International. Federation of Library Associations and Institutions. https://repository.ifla.org/handle/123456789/1646
  3. IA generativa para profissionais de bibliotecas e informação (rascunho). International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.ifla.org/generative-ai/
  4. 📷 [1]

 

Biblioteca escolar: 18 anos de desafios e aprendizagem

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Há precisamente 18 anos, quando a então Presidente do Conselho Executivo me convidou para desempenhar o cargo de Coordenadora da Biblioteca Escolar no Agrupamento de Escolas de Monchique, aceitei, entusiasmada, sem quaisquer reservas. Era professora de Português, os livros fascinavam-me, desenvolvia, com os meus alunos, algumas atividades de leitura interessantes e tudo me parecia exequível e motivador. Estava longe de imaginar a odisseia que me aguardava!

Duas das bibliotecas do agrupamento acabavam de ser integradas na Rede de Bibliotecas Escolares e, mal comecei, percebi imediatamente que o cargo que assumira era muito mais complexo e exigente do que eu julgava. Questionei, então, a minha decisão, mas esmorecer nunca foi uma opção.

Começou por ser um trabalho físico, musculado, de reestruturação dos espaços e de reorganização do fundo documental. Não houve um livro (e eram muitos!) que tivesse ficado no mesmo lugar. As listagens sintetizadas da CDU foram, então, preciosíssimas. Dávamos, ao mesmo tempo, os primeiros passos nas tarefas de etiquetagem e catalogação.

Paralelamente, as ideias fervilhavam e iam surgindo atividades, novas atividades, que procuravam corresponder aos pressupostos dos normativos curriculares e aos interesses e expectativas dos alunos.

Surge, entretanto, o Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar. Que desafio! Por essa altura, a ação da biblioteca escolar já era reconhecida e valorizada na escola e na comunidade, graças, essencialmente, a um conjunto diversificado de atividades de leitura, que davam corpo ao Projeto aLer+ e que ultrapassavam os limites físicos do espaço escolar, conquistando adeptos. Não obstante, uma apreciação detalhada dos fatores críticos de sucesso, dos impactos nas aprendizagens e dos níveis de desempenho de cada domínio do MABE fizeram-me perceber que estávamos muito aquém de um bom desempenho. Senti-me, então, numa estrada sinuosa, semeada de obstáculos e com tantas etapas por cumprir.  Adivinhava-se, no entanto, lá ao fundo, um mar de oportunidades. O MABE era, inquestionavelmente, um instrumento pedagógico de referência e de melhoria contínua: orientava, apontava caminhos, incentivava ao trabalho colaborativo, fomentava parcerias, promovia a criatividade, incutia a vontade de fazer mais e melhor.

Também o referencial «Aprender com a Biblioteca Escolar» se revelou um guia fundamental para o desenvolvimento das literacias da leitura, da informação e dos media, enfatizando o contributo da biblioteca escolar para a aquisição de habilidades essenciais no século XXI.

Progressivamente, a biblioteca afirmava-se na escola como um polo dinamizador do saber, ao serviço da aprendizagem e do desenvolvimento das múltiplas literacias, com particular destaque para o domínio da leitura. Algumas das atividades desenvolvidas eram replicadas noutras escolas e consideradas boas práticas por entidades externas. Os relatórios da IGEC apresentavam considerações muito favoráveis em relação à dinâmica da BE, e os novos professores (que todos os anos chegam à escola) estranhavam, no início, mas, paulatinamente, iam-se tornando cúmplices, assumiam as propostas como suas e, muitas vezes, elevavam-nas a um patamar surpreendente.

Pessoalmente, tenho de admitir que o cargo de professora bibliotecária me dotou de saberes, competências e capacidades que dificilmente teria adquirido noutras funções. O trabalho em rede, quer localmente quer a nível nacional, desempenhou um papel crucial na minha capacitação profissional, proporcionando uma consistente e sistemática partilha de experiências, de recursos educativos e de estratégias pedagógicas e garantindo o acesso regular a formação contínua diversificada e de qualidade, antecipando, muitas vezes, os desafios que uma sociedade em constante mudança impõe à escola. Facultou-me ainda a oportunidade extraordinária de trabalhar colaborativamente com dezenas e dezenas de colegas de diferentes áreas e departamentos, em prol das aprendizagens, do bem-estar e do sucesso pessoal e escolar dos nossos alunos.

Por agora, já na reta final do meu percurso profissional, a biblioteca escolar, tal como a conhecemos nos últimos dezoito anos, está prestes a encerrar portas. A escola vai, finalmente, para obras. É tempo de desfazer dossiês, rasgar papéis, esvaziar gavetas e armários, encaixotar livros… preparar a saída da biblioteca para um espaço provisório. As memórias (boas memórias) cruzam-se com o movimento diário de alunos e professores, indiferentes à desorganização da mudança. Estão certos! Afinal, a biblioteca escolar é muito mais do que um espaço físico. É, acima de tudo, uma vontade, uma atitude.

Ana Paula Gervásio de Almeida,
Professora bibliotecária no Agrupamento de Escolas de Monchique, desde setembro de 2005.

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1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.

2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.

3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

 

Agradecimento [1]

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Em primeiro lugar, uma palavra de felicitação à Isabel e ao Jorge. Tenho que vos dizer que me sinto muito orgulhosa por partilhar esta lista de finalistas convosco, porque conheço a excelência do vosso trabalho.

Um agradecimento especial ao nosso júri que, com tanta dedicação e paciência, analisou as nossas candidaturas e que, pelo percurso profissional de cada um dos seus elementos, confere um enorme prestígio a este prémio.

Um agradecimento muito especial à Rede de Bibliotecas Escolares. Não pela criação deste prémio, mas por muito mais do que isso: pela genialidade com que alimenta todos os dias o trabalho das bibliotecas escolares; porque sonhou, em 1997, com bibliotecas escolares que fossem o coração da escola, transformador de práticas educativas, e conseguiu levar a cabo de forma tão espantosa esse desígnio que hoje as bibliotecas escolares portuguesas são reconhecidas como exemplos de inovação e criatividade.

Quando, em 2007, comecei a trabalhar em bibliotecas escolares percebi de imediato que estas eram lugares de luz, de sonho e de magia…, provavelmente já o sabia porque também como utilizadora me tinham encantado as histórias e o conhecimento contido nos livros…

Porém, não podia imaginar que, colaborativamente e em rede, construiríamos bibliotecas que são espaços flexíveis e multifuncionais, que nos permitem trabalhar múltiplas competências; que são também espaços inclusivos, porque a escola é agora de todos e esse todo significa a diversidade, diferentes percursos de aprendizagem, diferentes vivências, diferentes nacionalidades.

Não poderia também, nesse tempo, saber que viveríamos uma pandemia e que, mesmo nos momentos mais difíceis, as bibliotecas escolares não deixaram de estar presentes na vida dos seus utilizadores. Apostámos, então, numa presença digital sem precedentes, sendo que hoje oferecemos um serviço em linha de elevadíssima qualidade que nos permite chegar aos nossos utilizadores a qualquer hora e em qualquer lugar.

Testemunhar tudo isto e fazer parte deste processo de evolução, ser peça integrante desta rede que inspira, forma, constrói, desafia, estabelece parcerias, cria programas inovadores… dizia eu, testemunhar tudo isto e fazer parte deste processo de evolução é motivo de muito orgulho.

Agradeço e dedico este prémio a todos os alunos, professores, assistentes operacionais e parceiros externos do meu agrupamento que comigo têm colaborado e me têm feito crescer como profissional. Sendo impossível nomeá-los, porque são muitos, nomeio aqui algumas pessoas que me têm incentivado e inspirado ao longo deste meu percurso:

Um agradecimento à professora Sílvia Vidinha, diretora do meu agrupamento, uma entusiasta das bibliotecas escolares e de todas as propostas que tragam inovação à escola. Se não fosse a Sílvia, eu não estaria aqui, pois foi ela que me inscreveu neste prémio, apesar da minha relutância. Antes da Sílvia, ao professor Benjamim Moreira, ex-diretor do nosso agrupamento, com quem trabalhei em profícua colaboração durante 13 anos.

À minha coordenadora interconcelhia, Raquel Ramos, pelo exemplo de dedicação às bibliotecas escolares, pelas ideias criativas que me tem dado para os meus projetos, pelas palavras de incentivo quando a “espuma dos dias” nos traz pensamentos de desistência, pela exigência, porque é o querer sempre melhor que nos faz crescer enquanto professores bibliotecários.

Aos colegas bibliotecários do concelho de Viana do Castelo, exemplar comunidade de prática e grupo de colaboração e partilha.

À professora bibliotecária Nelma Nunes, minha colega e companheira de todos os dias nesta aventura que é fazer crescer as bibliotecas do Agrupamento de Escolas de Santa Maria Maior! Obrigada pela tua paciência, dedicação e inesgotável criatividade. Como tantas vezes dissemos uma à outra: O que seria de mim sem ti!

Por fim, mas estes são os mais importantes, agradeço à minha família pelo apoio, compreensão e carinho, porque quando a biblioteca ganha são eles que perdem. Perdem uns bocadinhos do tempo que poderia passar com eles, mas também sabem que, para mim, isso é ganhar. Ganhar a certeza de que ser professora bibliotecária significa deixarmos marcas nas vidas dos nossos alunos…

Na vida daquela aluna que, de saída para a universidade, vem à biblioteca dar-nos um abraço e dizer-nos como foi importante participar no projeto “TV na Maior” porque a ajudou a ultrapassar a sua timidez e falta de autoestima.

Mas também na vida daquele aluno que, aos 16 anos, nunca tinha lido um livro e um dia, já depois de ter vindo com a turma escolher um livro para os “10 minutos a ler” nos chega à biblioteca, muito orgulhoso, trazendo um livro debaixo do braço como quem traz um objeto precioso, e nos diz: “Professora, já li este, ajuda-me a escolher outro?”. E nunca mais deixou de frequentar a biblioteca!

Dra. Manuela Silva, permita-me dirigir-lhe agora algumas palavras, porque sei que coordena esta rede com a mesma paixão com que eu coordeno a minha biblioteca:

Dra. Teresa Calçada, dirijo-me também a si, com as mesmas palavras, porque é da sua responsabilidade a criação da Rede de Bibliotecas Escolares:

Tenho visitado muitas escolas europeias no âmbito do projeto Erasmus+ e nunca encontrei bibliotecas escolares com padrões de excelência que se comparem aos nossos. País nenhum soube ainda construir uma rede que espalhe por todas as escolas desígnio tão elevado e tão exigente.

As nossas escolas precisam muito das bibliotecas escolares e dos professores bibliotecários, porque são eles que ajudam a desenvolver o capital humano de que o nosso país tanto precisa.

Para mim, este prémio significa o reconhecimento do meu trabalho, de que muito me orgulho, é certo. No entanto, ele não me fará tomar como garantido o que fiz até agora. O meu compromisso é de continuidade e de melhoria.

Nunca tenhamos também as bibliotecas escolares como garantidas. Há sempre margem para fazermos mais e melhor.

E enquanto eu puder fazer parte desta rede, podem contar comigo.

Obrigada.

24 de outubro de 2023
Cláudia Santos

[1] Este texto corresponde ao discurso proferido por Cláudia Santos, no dia 24/10/2023, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, ao receber o Prémio Professor Bibliotecário 2023.

Prémio professor Bibliotecário: Conheça os vencedores

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São cerca de 1400, os professores bibliotecários que, em todo o país, trabalham diariamente para que a biblioteca seja o coração da escola. Para que seja um lugar de descoberta, de exploração, mas também de partilha, de entreajuda, de criação de laços; um lugar que a todos os alunos e alunas deve acolher, apoiar na construção da sua autonomia e incentivar na reflexão aprofundada, na interrogação criativa e no conhecimento de si e do mundo.

O Prémio Professor Bibliotecário, instituído pela primeira vez em 2023, foi criado com o intuito de distinguir o trabalho de excelência nesta área profissional.

Nesta primeira edição, foi contemplada com o Prémio Professor Bibliotecário, Cláudia Vieira Santos, do Agrupamento de Escolas de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo. As duas Menções Honrosas, foram entregues a Isabel Rodrigues Bernardo, do Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria, em Cantanhede e Jorge Soares de Carvalho, do Agrupamento de Escolas de Amares.

O júri deste Prémio, que realçou a enorme qualidade de todas as candidaturas apresentadas, foi constituído por Guilherme d’Oliveira Martins, que presidiu, Isabel Alçada, Teresa Calçada, Isabel Mendinhos e Sandy Gageiro.

Este Prémio só existe graças aos parceiros que, desde a primeira hora, abraçaram esta ideia.

O Grupo Leya, cuja Presidente, Dra. Ana Rita Bessa, aderiu entusiasticamente a esta iniciativa, ofereceu um valor monetário de 5.000,00 € ao Professor Bibliotecário premiado e de 2.000,00 € a cada um dos Professores Bibliotecários obsequiados com uma Menção Honrosa.

A Fundação Calouste Gulbenkian e, em particular, o Professor Doutor Guilherme d’Oliveira Martins, que apadrinhou a criação da Rede de Bibliotecas Escolares e tem acompanhado o seu desenvolvimento nos últimos 27 anos, concederam-nos o privilégio de poder atribuir este Prémio na Fundação, no âmbito do Fórum RBE 2023 – Liberdade e Transformação, que ontem se realizou.

A Universidade Aberta, representada pela Professor Doutora Glória Bastos, também se associou à iniciativa, oferendo a cada um dos finalistas uma Formação, na modalidade escolhida pelo próprio.

A Rede de Bibliotecas Escolares atribui um valor de 2.500,00 € às bibliotecas do Agrupamento de Escolas em que professor vencedor desempenha funções; e de 1.000,00 € às bibliotecas de cada um dos agrupamentos dos professores agraciados com menções honrosas.

A entrega deste Prémio, ondem realizada no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, foi particularmente emocionante, representando uma distinção que se estende a todos os Professores Bibliotecários, profissionais especialmente qualificados, que desempenham esta exigente função de forma comprometida e inovadora.

Veja uma síntese resultante dos portefólios dos professores premiados:

 

Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação

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Hoje, no Fórum RBE 2023: Bibliotecas Escolares - Liberdade e transformação, teremos oportunidade de, juntos, celebrarmos o presente e o futuro da nossa Rede de Bibliotecas.

Imagem 1.pngSendo inúmeros os desafios que a humanidade atualmente enfrenta é imperioso à condição humana ser mais exigente sobre o seu papel no mundo, sendo para isso fundamental aprofundar o conhecimento, exercitar o diálogo e o sentido crítico.

A procura da felicidade, que é um desígnio sobre o qual todos estaremos de acordo, está ela própria relegada para uma espécie de segundo plano, substituída pela procura da sobrevivência.

O enorme feito da inteligência humana que é a inteligência artificial apresenta-nos tantas oportunidades como riscos.

Neste cenário, o saber, mas também a adaptação, a resiliência, a flexibilidade, a solidariedade e a empatia tornam-se essenciais às pessoas no sentido de as capacitar para encontrar as respostas mais consentâneas às circunstâncias específicas, conscientes de que as questões são cada vez mais globais, multidimensionais e complexas, o tempo cada vez mais acelerado e a realidade cada vez mais instável.

Para isso a biblioteca, na escola, tem por missão “acolher, apoiar, colaborar, desafiar, transformar e empoderar”[1] o que significa criar, para as crianças e os jovens, um ambiente inclusivo e seguro, um lugar onde os mais frágeis recebam alento e todos se sintam acolhidos, onde todos trabalhem em conjunto por objetivos comuns, onde a inteligência de cada um se sinta desafiada a pensar, a interrogar-se, a refletir sobre problemas, a procurar soluções e, sempre que possível, a pô-las em prática. Assim, a biblioteca será capaz de manter vivo o gosto por aprender, promovendo, de forma colaborativa, estratégias que preparem as crianças e jovens para lidarem com a incerteza, para serem mais empáticas, para seguirem caminhos individuais e coletivos de construção do saber, interligando conhecimentos, conhecendo diferentes perspetivas e pontos de vista, como base para uma melhor compreensão de si próprios e do seu lugar no mundo.

Tenho consciência de que a missão que a RBE definiu para si própria é muito exigente. Mas só o é, porque pode ser. Porque somos uma rede e temos a força de ser uma rede. Uma rede de pessoas, que abrange quem está mais diretamente implicado no desenho e na operacionalização dos programas e dos projetos, quem quotidianamente desenvolve a ação, os nossos professores bibliotecários e os assistentes de biblioteca, passando pela indispensável coordenação intermédia e dedicação dos nossos coordenadores interconcelhios e, por fim, pelo Gabinete RBE que define e gere os fios condutores desta rede.

A diferentes níveis, local, regional, nacional e internacional, a RBE conta com muitos parceiros que enriquecem a sua ação.

E tudo isto, tendo em vista aqueles que queremos que sejam os atores principais, os nossos alunos, para quem trabalhamos no sentido de que desenvolvam "saberes e competências indispensáveis numa sociedade cada vez mais dinâmica, imprevisível, digital e global." [2]

O Fórum RBE, estou certa, trará pensamento e novos contributos sobre as questões mais emergentes da atualidade, ajudando-nos a refletir sobre as alterações necessárias à escola e à educação, com tradução na biblioteca escolar enquanto lugar de leitura, de desenvolvimento de literacias, de acesso à cultura e conhecimento do mundo, de encontro, de interação, de co construção e enriquecimento do património da humanidade, garante que é de valores civilizacionais essenciais à condição humana como a liberdade e a democracia.

[1] Bibliotecas Escolares: Presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro Estratégico 2021-2027. Lisboa, p. 27.

[2] Idem.

Porque é que o nosso futuro depende das bibliotecas, da leitura e de sonharmos acordados.

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O Que Se Vê da Última Fila é um livro sobre paixões. Num tom intimista e pessoal o leitor ficará a conhecer discursos, ensaios e introduções de livros do próprio Neil Gaiman[1] ou de outros autores que admira, mas também algumas pessoas e escritores que influenciaram reflexões significativas para o autor. 

No mês em que se festeja, por esse mundo fora, a relevância das Bibliotecas Escolares e no Dia da Biblioteca Escolar em Portugal, fica o convite para (re)ler um dos capítulos deste livro - Porque é que o nosso futuro depende das bibliotecas, da leitura e de sonharmos acordados.  Trata-se do discurso feito, em Londres, em 2013, na Palestra da Reading Agency[2], cujo tema principal é o ato de ler e os efeitos da leitura e das mudanças que se ocorrem em nós, mas não só. Esclarece-nos sobre o poder da imaginação, o valor inestimável da palavra, de como a leitura de ficção ajuda a criar empatia e de como a descoberta da leitura é, por si só, um prazer.

Partilhamos da ideia de que todos nós temos a obrigação de falar de leitura e de livros, afinal, segundo nos dizem, “tudo muda quando lemos.” Naquela noite, na palestra, Neil Gaiman proclamou uma verdadeira ode à leitura, às bibliotecas e aos bibliotecários. 

Falou dos bibliotecários da sua vida, homens bons, que “gostavam de livros e que os livros fossem lidos”, uns verdadeiros ilusionistas, fazendo aparecer os mais incríveis livros sobre fantasmas, foguetões, vampiros, bruxas, prodígios, aventuras ou outros. Não eram snobs em relação às escolhas e preferências dos leitores, verdadeiros divulgadores das novidades editoriais, pedagogos na arte de requisitar livros em qualquer biblioteca, e na literacia da informação. Conseguiam a preciosidade de tratar os leitores com respeito.

As bibliotecas têm que ver com liberdade.”

Liberdade de aceder.
Liberdade de ler.
Liberdade de perguntar.
Liberdade de criar e imaginar.
Liberdade de refletir, descobrir e pesquisar.
Liberdade de comunicar.
...

Uma biblioteca é um lugar que serve de repositório da informação e permite a todos terem igual acesso à informação. […] é um espaço comunitário. “

As bibliotecas são espaços democráticos. Inclusivos.
Lugares de aprendizagem, de colaboração e cooperação.
Lugares de acessibilidade e conhecimento.
Lugares de imaginação e criatividade.
Lugares do “público, antes de ser o das coleções[3].
Lugares de descontentamento. Só os insatisfeitos “podem mudar e melhorar os seus mundos, deixá-los melhor do que os encontraram, torná-los diferentes.”
Lugares de conforto.
Lugares seguros, acolhedores e verdadeiros refúgios do mundo.
Lugares de leitura.
Lugares onde se cruzam a literatura, a arte e a ciência, o impresso e o digital, o áudio e o silêncio.
Lugares onde todos cabem.

Temos a obrigação de ler em voz alta aos nossos filhos. De lhes lermos coisas de que eles gostem. (…) De fazermos vozes, de as tornarmos interessantes e de não deixar de lhes ler só porque eles já sabem ler sozinhos. Temos a obrigação de usar esse tempo de leitura em voz alta como forma de fortalecer os laços que nos unem, um tempo em que não estamos a olhar para o telemóvel, em que pomos de parte as distrações do mundo.

As crianças e jovens que escutam o som das palavras ou que leem em voz alta com os pais, educadores, familiares ou amigos ampliam o sentido do texto, aguçam a curiosidade, esboçam os lugares mais inimagináveis e melhoram a sua relação com o mundo e com os outros.

A leitura pode não salvar, mas poderá ser prazerosa e isso é bom, muito bom. Devemos mostrar ao mundo que ler é uma coisa boa, inspiradora.

Deveremos dar a ler, abraçando diferentes géneros literários, e não esquecendo que a leitura de ficção é um ato de fuga. Oferece-nos o sabor da conquista de “lugares e mundos que de outra maneira nunca conheceríamos”, possibilita-nos o exercício da imaginação. Liberta-nos da realidade.

 Precisamos de bibliotecas. Precisamos de livros. Precisamos de cidadãos letrados.”

Nós, leitores, pais e educadores, cidadãos do mundo, temos o dever de apoiar as bibliotecas e “incentivar os outros a frequentá-las, de protestar contra o encerramento de bibliotecas.” Frequentar bibliotecas é valorizar a literatura, as artes e as ciências, as literacias, mas também dar voz a muitas vozes. É acreditar no futuro e não esquecer o passado.

Por último, ecoam, em nós, as palavras de Neil Gaiman:

Temo que, no século XXI, as pessoas não percebam o que são as bibliotecas e para que servem. Se pensarmos nas bibliotecas como sendo estantes de livros, a ideia poderá parecer-nos antiquada ou ultrapassada, especialmente numa época em que a maioria dos livros, embora não todos, estão disponíveis digitalmente. Mas pensar assim é falhar o essencial.”

Acreditemos no poder das bibliotecas, do livro e da leitura, mas também da palavra e da informação.

Acreditamos que ler poderá fazer a diferença.

Notas

[1] Neil Gaiman é autor de vários bestsellers, tais como Coraline e a Porta Secreta, Deuses Americanos, Mitologia Nórdica, O Oceano no Fim do Caminho, entre outros. Muitos são os títulos publicados em Portugal. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com importantes prémios, entre os quais Newbery, Carnegie, Hugo, Nebula, World Fantasy, Will Eisner.  Neil Gaiman é romancista, dramaturgo, guionista para cinema e televisão, criador de novelas gráficas e BD.  Nasceu em Inglaterra, mas atualmente vive nos Estados Unidos da América, onde é professor na Bard College.

[2]  Reading Agency – uma” instituição de beneficência cuja missão é a de conferir oportunidades de vida idênticas a toda a gente, ajudando-as a tornarem-se leitores convictos e entusiastas. Uma instituição de beneficência que apoia programas de literacia, bibliotecas e indivíduos, e que, de forma pura e desinteressada, incentiva o ato da leitura. “Saiba mais em: https://readingagency.org.uk/

[3] Expressão usada por Michèle Petit, no livro Ler o Mundo.

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